Thursday, August 20, 2015

Maipo vs. Ribera: um confronto desigual

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Introito

   O Vale do Maipo está localizado na região central do Chile, próximo a Santiago. Tem uma longa tradição na produção de vinhos de reconhecida qualidade para o padrão chileno, especialmente quando falamos em Cabernet Sauvignon. Dentre os produtores, destacam-se De Martino, Haras de Pirque, Cousino Macul, Chadwick, Undurraga, Aquitania, Concha y Toro e outros tantos. A prevalência da CS é tamanha que alguns chamam a região de "Bordaux Sul Americana".
   Ribera del Duero é uma Denominação de Origem (ou DO, o equivalente a uma DOC francesa) de Castilla y León, no Reino de España. Fica no noroeste do país, mais ou menos equidistante das fronteiras de Portugal e da França, é cortada pelo rio Duero e tem na cepa Tinta del País seu carro chefe. Essa cepa também é conhecida por outros nomes: Tinta de Toro, Tinto Fino, Aragones, Cencibel e... Tempranillo!
   E mandou o destino que o Roger, adorador de Carmenères e Riojas, viesse me visitar. Só não pergunte o eventual leitor o que Carmenère tem a ver com Maipo, nem Rioja com Ribeira. É claro, ao rever um amigo de tanto tempo, minha intenção foi a melhor possível...

Os contendedores

Viña El Principal - Memórias 2009. 74% Cabernet Sauvignon, 13% Carmènere, 8% Petit Verdot e 5% Cabernet Franc, com envelhecimento de 15 meses em carvalho francês. Seu buquê revela pimenta em demasia quando aberto, e ela não amansa com o passar das horas. Na boca, a pimenta também está presente (em quantidade menor) e sobra um pouco de álcool, e isso não colabora para termos um vinho redondo. Ainda assim, bons taninos e bom final, com retrogosto algo doce. No dia seguinte a pimenta foi devidamente domada; havia aparecido um buquê mais floral, e algo como chocolate (café? - rs!). Foi guardado em vácuo, e mesmo alguns dias depois continuou agradável e arredondou mais. Mas para beber "na hora" a pimenta torna o menino um pouco descalibrado.

Bodegas Aalto - Aalto 2008. 100% Tinto Fino (ou Tempranillo...), envelhecido por 23 meses em barricas de carvalho francês. No nariz, ótima fruta e algo torrado no fundo, que não pude discernir. Na boca, integração excelente entre tanino e madeira, álcool não aparecendo, e boa acidez. Uma boa combinação de potência e maciez deixam seu final e persistência realmente longos. Se AAlto tivesse um nome do meio (rs), ele seria Elegante. Eu já havia experimentado o Aalto PS, que é superlativo (veja aqui). Este irmão menor não pode ser comparado com aquele, mas justifica a fama de seu criador, Mariano García, enólogo chefe da Vega Sicilia por 30 anos (1968-1998), que deixou o emprego para fundar a Bodegas Aalto em 1999.

Os preços

   Lembro-me de ter pago meros USD 45,00 pelo Aalto, há alguns anos. Hoje custa por volta de USD 60,00. Memórias custou-me 21 "Luca" no Chile, o que dá cerca de USD 42,00. Aí não dá. Se você só tem 42,00 no bolso, e quer beber um vinho, e quer gastar tudo e tem poucas opções (está no Chile, por exemplo), então pode ficar com Memórias. Por outro lado, se você tem opções e está disposto a comprar um vinho legal, e pensa em gastar 40 dólares, então vale a velha máxima: quem tem 40,00 pode gastar 60,00. A diferença em moeda pode ser de 50%, mas em qualidade ela é des-pro-por-cio-nal. Assim mesmo, soletranto sílaba a sílaba. Infelizmente, é mais uma constatação de que os vinhos chilenos estão sobreprecificados, tanto lá (no Chile) quanto cá.
   No Brasil, o Aalto custa na faixa de R$ 390,00, e o Memórias cerca de R$ 190,00. Aí não dá de novo! Bem, a importadora do Aalto não está nas melhores posições naquela tabelinha clássica do Enoeventos (ocupa o décimo quinto lugar). Por outro lado, Memórias está com a Decanter, e esta sim ocupa bom lugar na referida tabela (quarto lugar!). Como está, comprar Aalto é difícil, e para gastar R$ 190,00 em um chileno... temos opções bem melhores, inclusive na própria Decanter, como o Kilikanoon Medley. E ainda tem tolo por aí pensando que a importadora não faz diferença.

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