Thursday, April 2, 2020

Comprovado: a promoção da metade do dobro

File failed to load: https://cdnjs.cloudflare.com/ajax/libs/mathjax/2.7.2/extensions/MathMenu.js

Introito

   A falsa promoção de preços da metade do dobro começou com as Black Friday's, cujo apelido rapidamente degringolou para Black Frald, Bréqui Fraid e outras transliterações menos oportunas. No mercado do vinho - seguramente o mais 'pornograficalizado' (sic) do país, não foi diferente. O efeito geral resultou em vários dos jogadores mais sérios abandonando o evento de uma vez por todas e para nunca mais voltar, deixando uns poucos agentes honestos brigando com os tubarões de sempre. O problema é que os tubarões detêm boa parte os rótulos disponíveis (em número absoluto) e, devido a seu marketing, detêm uma proporção muito maior de rótulos conhecidos.
   Explicando melhor: muitas importadoras pequenas, com portfólios modestos mas nem por isso inferiores, são desconhecidas do consumidor médio. E o fato de seus produtos serem desconhecidos, pouco comentados, desestimula nosso consumidor a tentar. Outro dia mesmo bateu à porta deste blog um leitor de S. Paulo que desconhecia a de la Croix e a Cellar. Segundo ele, tornou-se freguês de ambas, o que muito empertigou este colunista: saber que as pessoas estão refletindo sobre minhas ideias, e aparentemente concordando com elas, dá-me a sensação de estar na direção certa e travando o bom combate. Por mais que meus detratores achem que o meu Sassicaia, que ele não experimentou, estava estragado. Isso é deliciosamente medíocre...

O fato

   Comentei em postagem recente que, puxando de memória, sabia ter comprado, em queima do ano passado, um vinho por R$ 49,00. Neste ano, estava R$ 75,00. A postagem está aqui, e apenas não tive paciência de ir procurar mais dados e confirmar o que se passava. Mas após uma sequência ad nauseam de "promoções", acabei reparando em uma dada mensagem e resolvi cavocar mais fundo, recobrando o passado e checando a promo em si.
   O Prélat de Pape Clément 2007 foi ofertado a singelos R$ 628,29. Seu preço típico na Europa é 50,00 Euros (pesquisa básica de wine-searcher feita em abril de 2020). Na cotação de hoje,  1  = R$ 5,70. Bom, só um idiota - ou alguém que precise muito - faz uma despesa em moeda estrangeira na nossa atual situação econômica. O consumidor - o cidadão que consome(!), não o consumista! - faz uma conta de euro a R$ 4,50, e nota que o valor do vinho lá fora, se ele tiver paciência de aguardar um pouco para viajar, é R$ 225,00. E nota que na "oferta" o preço é 2.8 vezes o preço de lá fora.
   Vejamos a "comprovação" da oferta - como se fosse necessário... afinal, assume-se a boa fé de todos como ponto de partida. Mas vamos lá:

   Bem... comprei esse vinho em 2018, em condições muito melhores: R$ 360,93. O preço de hoje está 70% maior!

   Existem várias possibilidades de explicar essa diferença. Uma delas, é a de que o importador "jogou o preço lá embaixo" em 2018 para "introduzir" o vinho, e agora tenta igualmente introduzir algo (o vinho com preço maior?) no consumidor. Em mim, não, Juvenal 😂.

   O que acontece é assim: o sujeito participa uma confraria. Todos combinam de levar um vinho de valor "X". Por mais que o pobre participante tente "caprichar", os vinhos dele são sempre os que menos agradam. Também pudera: ele compra de importadoras que possuem margens muito grandes no preço final do produto. Então ele está comprando, pela mesma quantidade de Reais, um vinho que lá fora custa "Y",  enquanto seus confrades compram vinhos que, também lá fora, custam "2Y". Às cegas, se preço tem conexão direta com a qualidade, qual vinho o leitor espera que seja melhor: o que tem um certo preço, ou aquele que vale o dobro?
   O leitor sinta-se convidado a suar um pouco mais a camisa pelo vinho que compra (ama?). Tente não repetir vinho. Consequência direta: experimentando mais, você poderá comprar coisas ruins ou boas, e isso vai depender unicamente de alguma pesquisa. Consulte blogs. Veja quem é o blogueiro, qual é a vibe do colunista, se inspira confiança ou se é um mero propagandista disfarçado. Parece que o exercício de um certo posicionamento crítico está em voga nesses dias de clima político tão distendido em que vivemos... e faz-se muito mais necessário no que deveria ser apenas um gesto corriqueiro de comprar uma garrafa de vinho. Teje (sic) alerta! Teje (sic) avisado!

2 comments:

  1. Pois é, Carlão! A famosa "metade do dobro". Eu não caio nessas mais. Nessas "promocinhas" de começo de ano peguei pouco coisa, que além de, em promoção, estarem no preço normal para Brasil, eram vinhos que eu queria beber. Peguei mais pela raridade que pelo preço. Atualmente estão rolando algumas "promocinhas" por aí, no mesmo estilo. Não dá para cair mais nessa história para boi dormir.
    Abraços,
    Flavio

    ReplyDelete
  2. Pois é, Flávio, quem tem algum conhecimento desse mercado fica vacinado. Por isso mesmo acho que nossa "missão" é avisar os consumidores sobre esse tipo de prática. À carga...

    ReplyDelete