Saturday, May 23, 2020

A Carol, o camarão, o Borgonha... e eu!

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Introito

   Outro dia estava no uatizapi reclamando com a Carol que não bebia um vinho bom há algum tempo. Mentira, claro 🤣😂, que tenho (sic) bebido algo melhor para compensar o isolamento, mas precisava de uma abordagem convincente.
   - Eu cozinho - ofereceu-se ela.
   Estava feita a armadilha. Ela é uma boa moça... mas tão ingênua...
   - Quero camarão. Claro, eu compro. E tenho um vinho para combinar.
   - Imagino... - mas ela não imaginava nada 😂🤣😂🤣.
   Não precisei descer na adega para escolher. Da última vez já olhara aquele par de garrafas e decretara que uma iria para o sacrifício. Escolhido o dia e hora, só restou esperar por mais uma ligeira pulada de cerca sobre as medidas de isolamento em tempos de pandemia. Ninguém é de ferro. Andamos ambos suficiente isolados: eu em home office desde sempre, ela atendendo pacientes pela internet. Não é sequer um risco calculado, porque para tal é preciso haver risco...

O Domaine des Comtes Lafon e os vinhos da Borgonha

   Este produtor estabeleceu-se nos idos de '64. Não 1964, cara pálida! Foi em 1864...
   Para um produtor importante que planta em metade da Borgonha - na verdade, em toda ela! - e tem em sua carta alguns dos vinhos mais valorizados da região, seu sítio é chinfrim. Na verdadeira acepção da palavra... E, de um produtor desse calibre, a este pobre enochato só resta a oportunidade de provar seus exemplares mais modestos.
   A classificação dos vinhos da Borgonha é um tanto confusa, ao menos para mim. Parece, em primeira aproximação, que é mais ou menos assim (qualquer reparo será mais do que bem-vindo!):
   De maneira geral, o tipo de terreno e sua orientação contam muito na classificação dos vinhedos. Se ele está inclinado para o norte, sul, leste, oeste, se é plano, se está em um encosta (no começo, no meio, no topo), tudo isso é levado em conta e define (além de outras qualidades) um determinado climat. Quanto à qualidade, os vinhos dividem-se assim:
   1. No nível mais básico estão os Bourgogne Blanc e Ruge (Borgonha Branco e Tinto). São vinhos genéricos, regionais, o mais simples que a região oferece.
   2. Village são vinhos cujo rótulo indica apenas o nome da comuna onde é feito. E aí é preciso conhecer as comunas... Fica mais complicado logo adiante (rs).
   3. Premier Cru: é um passo acima dos Village, e já imperam regulamentações específicas. E tais regulamentações parecem variar de região para região... daí também é necessário conhecer as regiões e suas regras...
   4. Grand Cru: representa a elite dos terrenos borgonheses. Os mínimos detalhes são levados em conta. Simplesmente não existem Grand Crus voltados para certas direções. As regulamentações são mais específicas. Podem abranger descarte mínimo de uvas, de acordo com a safra, por exemplo. Parece que Grand Crus, quando nas encostas, ocupam-nas do meio para cima. Abaixo, ficam os Premier Crus. Motivo: quando chove, o sopé da encosta recebe muito mais água. Se a chuva acontece na hora errada (próxima à colheita), isso pode fazer muita diferença na qualidade final das uvas. Daí que a drenagem do terreno também é muito importante. Wow! Esse negócio é detalhado mesmo...

   Voltando ao Comte Lafon: produz principalmente vinhos brancos (Chardonnay, claro...) distribuídos em... 16 hectares(!), incluindo no Le Montrachet, considerado o terreno mais nobre do mundo para plantio da Chardonnay. Não é à toa que o custo dos vinhos da Borgonha são altos... as regiões são minúsculas. Seus vinhos mais simples, comprados em queimas nos tempos de 'dóla' a valor razoável (menor do que R$ 4,00), saíam a R$ 180,00. Com 'dóla' a R$ 6,00 e sem promoção, custam R$ 400,00... 😖 não dá... Claro, será necessário aguardarmos o 'dóla' voltar a patamares razoáveis para aventar outra compra, mesmo que arriscando um Premier Cru no exterior. Com um pouco de fé, acredito que até 2060 será possível considerar uma viagem e consequentemente a compra de uma garrafa melhor. Até lá, resta-nos aguardar algum amigo generoso convidar-nos para algum aniversário, batizado, crisma, primeira comunhão ou, com alguma sorte (sic), 'descasamento'...

Mâcon-Villages Les Héritiers du Comte Lafon Récolte 2011

   Bom... nesses preços fica tudo chique... tão chique que até 'safra' vira Récolte...
   Uma boa combinação com Borgonhas brancos, principalmente com Mâcons, é o camarão. E a Carol se esmerou... apesar de eu ter oferecido os camarões em troca de seus préstimos culinários, ela ainda foi atrás do mesmo ingrediente para fazer um pirão a acompanhar o arroz. Quanto ao vinho: bem floral, boa acidez e um fundo de manteiga não foram suficientes para fazer de Les Héritiers um vinho marcante, mas... claro, é apenas um Village... Comte Lafon é um grande produtor, e se comparado taça a taça, deverá bater exemplares similares. Mas esta é uma declaração um tanto 'aberta', dadas minhas poucas experiências. Fico em dúvida se, mesmo na 'promo', acaba sendo uma compra tão boa. Existem opções de vinhos um tanto simples mas mais 'frescos', mais novos e - aí sim - bem mais em conta. Uma safra mais nova de Les Héritiers faria diferença?  Não sou um conhecedor de Borgonha para afirmar, mas no final acho que sim... De qualquer maneira, valeu experimentar; foi uma boa experiência. Só não sei se compraria novamente safras relativamente antigas desse vinho simples.

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