Wednesday, October 7, 2020

Importadores são energúmenos

File failed to load: https://cdnjs.cloudflare.com/ajax/libs/mathjax/2.7.2/extensions/MathMenu.js

Introito

   Corria o ano da Graça de Nosso Senhor de 2019. Seu governo já andava muito em baixa quando Bolsonaro Bolsinha no Bolso (explica os cheques da esposa, vai) chamou Paulo Freire de energúmeno. Sisqueceu? Refresque sua memória. Vejamos... sinônimos para energúmeno são:

imbecilignoranteidiotapatetatontoboçalineptoestúpidotapadobestaburroestultoabestado

   Parece é uma ótima auto-descrição. Sem entrar no mérito, claro. Sem fugir ao debate e entrando no mérito, é difícil para mim acreditar - não sou da área de ensino - que os conceitos defendidos por Paulo Feire estejam atuais. Ele fez seu trabalho antes do mundo saber o que era internet. E depois vieram computadores pessoais, smartphones, tablets, e sabe-se lá quais bugigangas mais modernas. O aluno de hoje está imerso em tantas tecnologias que parece difícil aquelas ideias continuarem válidas. Mas é muito mais difícil de acreditar que Bolsonaro Bolsinha no Bolso (explica os cheques da esposa, vai) tenha noção das ideias que discuto aqui quando proferiu suas palavras. Ademais, os novos tempos em hipótese alguma tiram o mérito do trabalho de Paulo Freire que tornam merecido - merecidíssimo - seu título de Patrono da Educação Brasileira. José Bonifácio foi e continua sendo o Patrono da Independência. Duque de Caxias foi e continua sendo o Patrono do Exército. Luís Gama foi e continua sendo o Patrono da Abolição da Escravidão. Gente de respeito. Os Patronos são o nosso tesouro. Ninguém fala mal de um Patrono sem atacar todos os outros. Bolsonaro Bolsinha no Bolso (explica os cheques da esposa, vai) acatou um Patrono. Danação eterna a esse ser desprezível que desfaz de maneira leviana o que temos de mais caro.

Paulo Laureano

   Paulo Laureano não é o Patrono do Vinho de Portugal. Calma lá (rs), ele é bom, mas a tradição vitivinícola portuguesa é muito antiga... Paulo Laureano começou a produzir vinhos em 1999, no Alentejo. Sua característica principal é valer-se apenas de cepas portuguesas em seus projetos. No sítio do produtor estão explicadas sua trajetória, filosofia e motivação para seguir nessa proposta.

 Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2009

Tinta Grossa era uma casta à beira da extinção no final dos anos 1990. Exclusividade de Vidigueira DOC, micro-região do Alentejo, teve em Paulo Laureano seu Patrono - aí sim! - a restagá-la da obscuridade para ganhar atenção dos amantes do vinho. É uma cepa algo austera. Tem nariz com boa fruta. Negra? Vermelha? Uma mistura delas? Precisa-se de nariz melhor... Na boca, um vinho pegado. Digo que é austero porque não apresenta aquele travo um pouco doce dos vinhos portugueses. Os taninos estão bem presentes, marcantes. Álcool atômico (sic! rs!): 16%, não aparece, tão bem integrado ao conjunto da obra. Especiaria aparece no meio da língua. Acostumado à Cabernet, que marca mais na ponta, fiquei surpreso com a sensação. Esta garrafa 2009 está em ponto de ser consumida. Não guarde mais. Pode durar, mas como diz Don Flavitxo, melhor um ano antes do que um dia depois...

Não lembro quanto paguei pela garrafa. Foi há vários anos, e a compra foi por impulso. Experimentara vários outros exemplares de Paulo Laureano em uma degustação de vinhos portugueses. Tinha mesmo me encontrado com ele em pessoa. Estava na faixa de preço de outros tantos vinhos dele, algo como R$ 100,00. Seu preço hoje está muito alto - entre R$ 300,00 e R$ 500,00. Não é possível... tem preço médio de USD 30,00 em Portugal...

Fecho comentando com pesar que estes são tempos de mediocridade absoluta. Tempos de mal gosto. Tempos que nos afetam sem que percebamos. Isso explica meu desejo em decorar a adega com algo diferente. Abaixo a pôsteres, mapas, caixas de vinho de madeira, cesto de rolhas, barricas, etc. Procuro - por mal gosto, e até que encontre ou passe o desejo - uma placa de bronze em alto (ou baixo, mas prefiro alto!) relevo com a inscrição mencionada no título: Importadores são energúmenos. Claro que é mal gosto. Vinho serve para celebrar a vida, e suas alegrias. São momentos de escapismo, de felicidade. Não precisamos ficar ligados à realidade, nem à verdade. Por hoje, se encontrar a placa, juro que compro. O vinho foi bom. O dia é que nem tanto. Amanhã o Carneiro de Augsburg voltará a saltitar todo feliz entre as vinhas, banhado à luz do mais belo sol, iluminando um céu bem azulado. Brindarei a tudo isso.

No comments:

Post a Comment