Saturday, May 8, 2021

O vinho, a coragem e a cautela

Introito

   Sempre recomendo que, chegado de uma viagem, deixe-se o vinho descansar. Às vezes você ficou em casa, e só ele viajou, porque a compra foi realizada pela internet; outras, o leitor trouxe seus 12 litros de bebidas na mala, carregando seu objeto do desejo como um autêntico muambeiro. [Só que não é muamba, uma vez que 12 litros é o limite legal para um viajante trazer na bagagem, ao contrário do que propagam alguns energúmenos pagos pelo sistema para transmitir qualquer ideia ou conceito que justifique os altos preços dos vinhos nestas plagas. Sim, li em algum lugar onde, para o pseudo-articulista, o fato dos turistas trazerem vinhos 'de contrabando' na mala era danoso para as importadoras, uma vez que a prática inibia a venda do produto em escala... Ah, tá... temos que aceitar pagar os tubos para uma caterva de mentirosos que inventam custos e mais custos para justificar o preço cobrado por aqui. Quem lê os comentários do blog deve se recordar de um estúpido que, enumerando os fatores do custo do vinho, enunciou a despesa com 'movimentação do vinho para restaurantes'. Então é assim: distribuir o vinho nos restaurantes representa um custo, que... é pago por todos os clientes dessa importadora, mesmo que eles não o consumam em restaurantes! 😕 Ah, sim: na maior parte deles o preço do vinho ainda é o dobro do que pagamos em lojas... Vai ser picareta assim na casa do chapéu...] Parêntese longo, notou? Fechando o assunto: a recomendação do vinho descansar. É necessário. O problema é que, às vezes, acabamos perdendo boas oportunidades enquanto nossa paciência é exercitada e o vinho que compramos duas garrafas acaba esgotando... é quando a cautela não dá lá muito certo...

O vinho e o preço... ou o preço e o vinho... cá e lá... qualquer coisa assim

   Felizmente nem tudo é tristeza nesta terra de bolsonésios. Existem os importadores que trabalham com margens decentes. Atualmente venho encontrando boas ofertas na Uvavinhos e na Chez Francelojas onde nunca comprei!, mas onde tenho comparado os preços cá e lá via wine-searcher. Não comprei por detalhes, o que apenas significa um manancial de alternativas ainda não exploradas. Embora perdendo um pouco a mão, a Cellar continua sendo uma opção, enquanto os mineiros possuem os ótimos preços do grupo supermercadista Verdemar e da Casa do Vinho. Claro, o leitor deve sempre ter em mente que consultar o wine-searcher a cada compra e comparar a margem de cada exemplar é um ato de cidadania e de proteção ao bolso. É melhor que fazer seguro, já que nenhum tem cobertura para o roubo do dinheiro dentro da sua carteira, ainda mais quando a prática é levada a cabo com um sorriso no rosto e muita simpatia por parte do estelionatário vendedor que o atende em certas lojas. A loja onde mais comprei nos últimos anos (mais comprei; não a única) é a Enoeventos. Ela sempre conta com produtores não tão conhecidos do grande público, mas escolhidos com bom gosto e seriedade pela equipe da casa. Não ficam espalhando por aí conversas moles de que são loucos por vinhos e viajaram o mundo inteiro - sete vezes (custou caro! Ah, tá no preço do vinho!) para trazer-lhe os maiores achados dos sete mares e quantos continentes sejam. Voltando... Enoeventos aproveita bem algumas oportunidades do mercado e oferece ao consumidor boas opções. É preciso ter coragem para apostar nelas. Venho tendo alguma... e tenho me dado bastante bem...

Donatella Cinelli Colombini

   Donatella Cinelli Colombini é uma produtora da Toscana. Tem vinhedos distribuídos em Montalcino e em Chianti, principalmente. Não sabia de sua importância até que Don Flavitxo contou-me ser bem respeitada naquelas paragens. Enoeventos trouxera diversos rótulos de sua lavra, e fui mandando ver uma garrafa aqui, outra ali. A certa altura, o Brunello e o Cenerentola estavam com preços incríveis. Uma de um, duas de outra... Andei beliscando mais uma coisa aqui, outra ali, mas não experimentei coisa alguma, tentando dar um tempo para o vinho recompor-se após o trajeto. Grave erro...

Il Drago e le Otto Colombe 2016

Este sábado peguei uma garrafa do Il Drago... nome que homenageia o marido de Donatella (Il Drago - o dragão!) que convive com outras oito mulheres (as Otto Colombe) que dirigem a vinícola. Olhaí (sic) a força feminina marcando presença num dos corações (sic) da produção vitivinícola italiana. É um IGT, corte não convencional de 65% Sangiovese, 20% Merlot e 20% Sagrantino. A Sagrantino é uma cepa típica da Úmbria. Foi de enxerida para a Toscana fazer não sei o quê (😂). Já experimentei alguns Sagrantinos. Na média, são vinhos um tanto rústicos. O 25 Anni do Arnaldo Caprai é tido como sua expressão máxima e ele de fato 'domou' essa cepa. Mas a 100 dóla ('lá'), não considero uma boa compra. Contudo ela saiu-se bem com a modesta participação de 20% no corte de Il Drago. Aos 10 minutos de abertura, apresentou-se surpreendentemente bom. Escrevo passada a segunda hora da abertura, e mantém a fruta negra. Tem ainda algum couro, ou defumado. O nariz é rico; este Enochato é quem é pobre na descrição. Boca mineral, bons taninos, acidez correta, encorpado. Alguma especiaria pica na ponta da língua, mas não e aquela pimenta da Cabert Sauvignon. Não sei se poderia ligar com a Sagrantino ou mesmo a Sangiovese... não é uma característica que tenha guardado desta última, da qual consumi vários Chiantis... Il Drago é um vinho dos seus 30 dóla, à venda aqui por R$ 180,00, mas com desconto para o clube do vinho saía a módicos R$ 153,00. Conta de padeiro, USD 30,00 x R$ 4,00 (o dóla não está R$ 4,00...) = R$ 120,00. Estava 'cá' praticamente o preço 'lá'. Nem precisa fazer conta. Nesse dóla (R$ 4,00), uma verdadeira pechincha. Se atualizar para o dóla 'real', aí que a coisa despiroca... Bem, acabou... e faz um tempo... daí que lamentei não ter comprado uma caixa - e ir bebendo uma garrafa a cada seis meses, ir mostrando para um confrade aqui, outro ali. Agora só tenho uma. Quem experimentar comigo pode se considerar premiado. Ah, mas tem outros vinhos da Donella por lá. Aproveite...


Post scriptum

   Sobrou meia garrafa, que bebi no dia seguinte. A fruta estava presente, firme. A boca mantinha as boas acidez e persistência. O final continuou bom e longo. O conjunto caiu muito pouco, já que a oxidação apagou um pouco do ataque - primeira impressão na boca - inicial. Não escrevi ontem por mero esquecimento, mas a experiência de hoje confirma: felicidade engarrafa. Principalmente ao preço a que estava sendo vendido. Tanto que voltei no site da Enoeventos para documentar o valor, enquanto ainda consta lá, vide abaixo.


   Curioso mesmo é o comentário do detrator-mor deste blog, um anônimo energúmeno. Ultrapassou as raias da argumentação, e terá a devida resposta em breve. Novamente terei de gastar uma postagem com isso, uma vez que, para responder, preciso inserir imagens e isso não é possível na janela de comentários do blog. Mas a resposta será deliciosamente constrangedora... 😈. Não para mim, claro...

5 comments:

  1. Pergunto-me de onde vem seu ódio pelos importadores brasileiros, que depois dos EUA, são os que proporcionam a maior variedade de vinhos para os consumidores. Se não conseguimos praticar melhores preços, os motivos são muitos. Há algo chamado livre comércio e outro chamado livre arbítrio. O senhor tem toda a liberdade de escolher onde e o que quer comprar. A propósito, todas as vezes que trouxe vinho do exterior respeitou a cota de 500 dólares? Aposto que não. E se não o fez, não tem moral para atacar ninguém. É a velha máxima do "faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço".

    ReplyDelete
    Replies
    1. A resposta adequada precisa exibir alguns documentos. Será feito oportunamente, até porque preciso juntá-los. Basta aguardar.

      Delete
    2. A resposta está aqui https://oenochato.blogspot.com/2021/05/uma-grande-mudanca-de-energumeno-canalha.html

      Delete
  2. Carlão, mais um post com provas que a CPI das importadoras deveria ser implantada rsrs, já que estamos nessa seara dos descalabros nacionais da saúde e etc.. Sem querer tomar partido (sic) acredito que o principal motivo de alguns importadores e seus defensores diretos e indiretos, seja a incompetência do empresariado nacional (pelo menos alguns que nos dão provas cabais) em encontrar rotas de importação via aduaneira e suas possibilidades de porto etc, ou pesquisar novos rótulos que tenham custo /benefício interessantes e agradáveis aos clientes. Talvez essa segunda opção também não seja a mais adequada devido aos motivos óbvios. Bom, mais um episódio da série "me ferrei". 7 x 1. Tem mais um Il Drago?
    Luigi

    ReplyDelete
    Replies
    1. Bem dito, Luidgi: uma CPI das importadoras. Já tem até trilha sonora para tal, "Se gritar pega ladrão...". Claro que não se aplica a todos os importadores, mas alguns iriam sim queimar no inferno.

      Acho que muitos vinhos mais 'famosos' já estão nas cartas das importadoras tubaronas. E é justamente o grupo de pequenos e bons empresários do ramo que corre atrás de rótulos alternativos e faz a dita 'lição de casa'. Algo para discutirmos à beira de uma taça.

      O Il Drago acabou na importadora, infelizmente. Teria comprado mais umas garrafas... 😫
      []s!

      Delete