Monday, November 25, 2024

🤗 60 anos de vinhos

Introito

As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira 
do que numa mentirinha.
Adolf Hitler

A mentira resolve um momento e estraga uma vida inteira.
Ditado popular



 


É impressionante a quantidade de trapalhadas em um mês, protagonizadas tanto pela situação quanto pela oposição: Janjapaluza - o nome diz tudo; novo ataque à democracia em plena Praça dos Três Poderes; Ali Lulá como um tonto tomando passada de mão do Macron enquanto este portavozeava (sic) a discordância com acordo comercial UE-Mercosul cuja costura vinha de longa data, deixando aquele falando sozinho acerca dos países pobres; Andrada enfiando o pacote fiscal no meio de sua ideia do que venha a ser gestão econômica... Sobre o pacote, vejamos se agora vai. Porque se não for, o próximo ano não será apenas difícil como possivelmente iniciará uma espiral de descontrole grave o bastante para comprometer nossa economia pela próxima década. Nada diferente do esperado sob a gestão do Posto Ipiranga - se eu fizer muita besteira, o dóla vai a R$ 5,00 - e o seu paspalho-patrocinador. Tirar essa turma do comando - assim como fizemos com a Dilma - seria um favor à nação. Claro, não há a menor esperança disso acontecer. A esperança - embora não devêssemos tratar a questão nesses termos - deve recair sobre quem quer ocupar o posto de maior herói da Nação desde Caxias. Eles estão vindo aí, para desespero dos esquerdopatas e regozijo dos patriotas de verdade. Torcendo para não ser atropelado pelo bonde da história, e vendo seu projeto de país, eu apenas os aceito de bom grado. Os completos idiotas, reclamem à vontade.

Na casa do Ghidelli

Depois de encontrar-se com Nagibin na minha humilde adega, em uma noite repleta de risadas e recordações dos tempos de graduação, acompanhados pelo Paduquento Duílio e de D. Neusa, Don Flavitxo propôs um vinhozinho de sua nobre despensa. Don Ghidellito, por acaso ouvindo a conversa, ofereceu uma garrafa de sua parte, e a acolhida; fiquei com o encargo de um branquelo. Acreditei ter algo à altura do momento. Tolinho... A literatura ensina sobre os Grand Crus de Chablis: maturação de 10 anos, para bons exemplares. Claro, cada garrafa é uma garrafa, e algumas podem miar no meio do caminho. Não estou certo se foi uma miada ou um pouco a mais de guarda... vejamos...

Rescaldo

Esse encontro foi um rescaldo do meu níver de 60 anos, acontecido no último 31. E em grande estilo, diga-se. Levei um Chablis Grand Cru Les Preuses 2008, do Willian Fevre. Grande produtor, boa safra e cujo buquê surpreendeu a (quase) todos pelas notas de pêssego - Ghidelli e Márcia sugeriram outras mais - ótima acidez - como a boca salivava... - e boa permanência. D. Flavitxo rebaixou nossas expectativas para o rés do chão: Na descente, disse. Nós três nos olhamos surpresos, talvez algo tristes. Afinal, se aquilo era uma descente, como teria sido em seu auge? Já provara de um exemplar desse vinhedo no início de '21 (aqui), mas não consegui fazer uma conexão entre as obras. Sei que sim, ambos estavam ricos e foi um prazer degustá-los, mas não veria o William Fevre como declinante; ah, quanto por aprender... Minha memória ainda definitivamente ruim, se não anotar as notas no momento fica difícil recordar-se posteriormente, e não consigo oferecer melhor descrição dele. Às cegas, Ghidelli serviu seu escolhido. Vi-me remetido aos dias de australianos potentes - esse não tinha tanta extração - e, embora com um pouco menos de força, ele ganhava pela elegância, um vinho de camadas no nariz: fruta, madeira, aquela combinação café-chocolate-couro que nunca distingo corretamente (rs) e mais. Boca pegada, taninos prometendo arredondar-se em breve (alguns anos), em nível bem acima de seus similares que classificaríamos como bons(!), ótima permanência, final longo... Instado a opinar, senti-me seguro para ir direto na região: Rioja. Don Flavitxo deu umas 10 explicações de porque seria Ribera del Duero... Hacienta Monasterio 2018 era dessa região... Claro, o Enochato contra Don Flavitxo é o mesmo que Goytacaz contra Vasco da Gama... 😑 sabemos que sempre dará Goytacaz... 😂🤣.  Em tempo: o Flávio é vascaíno... 

   Encerrando os tintos, também às cegas, o segundo exemplar não estava abaixo, embora a pegada fosse bem outra: tinha a elegância discreta dos grandes vinhos, pântano onde este deficiente nasal costuma afundar sem deixar a menor ondulação de sua passagem na superfície da água. Na vez de opinar, precisei ligar todos os sentidos e tirar pó dos neurônios para não fazer feio. Tinha boa fruta, mas não era só, e custava-me distinguir o que fosse; não eram aquelas notas claras de café e similares. Estava tudo nas entrelinhas, inclusive algo de herbáceo. Em boca, uma live picada à Cabernet remetiam a Bordeaux como o Montrose ou o Langoa Barton. O especialista dirá: má (sic) você tá confundindo tudo! São regiões diferentes! Claro, são. Mas a pegada é similar; são vinhos calcados na elegância sobre a potência, um quê apontando para uma macrorregião mais ou menos reconhecível: boca com aquela pimenta muito discreta, taninos macios, corpo médio, boa acidez e permanência... A cor - sempre uma incógnita, pois vinhos antigos podem tê-la brilhante - denunciava alguma idade. Sugeri abaixo de 2010. Enquanto isso, ao meu lado, Ghidelli repetia como um papagaio: Parece francês, mas não vou por esse caminho não... Ele sem saber exatamente o que mais dizer, ficou por aí. Fui direto na opinião de um Bordeaux de alto nível 😃... e errei bisonhamente... 😥 Le Macchiole Paleo 2004 é um Bolgheri, toscano 100% Cabernet Franc que mostra como a Itália pode produzir vinhos de alta qualidade mesmo com cepas importadas. É indiscutível o quanto espécies autóctones são fontes de excelentes vinhos, mas é igualmente inegável: quem sabe de vinho são os maravilhosos e loucos italianos em suas ousadas fantasias de gerar grandes exemplares de vinho a partir de castas bordalesas - ou de outras regiões - e não críticos de araque reclamando ser um desperdício de terroir a Bota render-se a modismos ou quetais para competir com a França valendo-se das linhagens nativas da concorrente. Ora, a Itália o faz bem(!), e (rindo muito!) queria ver a França meter-se a fazer o inverso!, produzindo bons vinhos com Nebbiolo, Sangiovese, Cannonau, Nero d'Avola, Bovale e outras! Franceses, venham! Será como em Agincourt! Quem já experimentou um Migliara (Syrah) sabe...

Chave de ouro

   O anfitrião estava preocupado em como harmonizar seu manjar de coco com calda de ameixas e abriu seu arsenal atômico, de onde retirou um Jerez das Bodegas Lustau, o Vors 30 anos Pedro Ximenez - PX é a cepa. Nos dias de comemoração fiz uma brincadeira da qual todas as confrarias participaram, um painel com colheita tardia sul-americano (bom), Sauternes reba (rs), Moscatel de Setúbal (médio), Ice Wine (médio), Tokaji (bom) e 'Sauternes bom'. Decidira - de caso pensado - deixar os Jerez de fora: pretendia uma competição honesta (rs), e minha impressão era de que um mero Jerez razoável já levaria todos no peito. Então um Vors no meio deles seria como um Fenemê arremeter sobre uma barricada de espantalhos: quanta intensidade - nariz e boca! -, riqueza e equilíbrio. Um balanceado em alto nível, nariz muito proeminente com notas lembrando frutas secas diversas - precisa de nariz para separar, mas é claro como estão lá, juntas e misturadas 😂 - o indefectível figo também dá as caras, e tem mais notas saindo pelo ladrão. Boca com acidez quase pegajosa (rs), firme, com mais frutas secas, profundo com a intimidadora cor de petróleo e um final espetacularmente largo. Ainda bem que Jerez não fica em Sauternes; um vinho como esse tranquilamente custaria mais do que um Château d'Yquem. Bebi a primeira taça, a segunda, e, quando o anfitrião não estava olhando, a terceira! 😅 Felicidade engarrafa como não experimentava há muito tempo. E veio coisa boa nesses últimos tempos... mas serão outras estórias...

   Não falei da comida... estava ótima... a foto comprova...