Saturday, April 21, 2012

Direto de Jumilla para o ralo

   Jumilla é uma pequena cidade da província de Múrcia, no sudeste da Espanha. Jumilla DO (Denominación de Origen) abarca outras seis cidades e pertence à comunidade de Castilla-La Mancha, tendo na Monastrell sua principal uva. Aliás, a Monastrell é mais conhecida no Brasil pelo nome da sua versão francesa: a Mourvèdre. Por sua vez, a  Mourvèdre é o "M" nos badalados cortes australianos GSM (Grenache, Shiraz e Mourvèdre) que, por meio de representantes como o Stump Jump, tem conseguido indicações importantes em listas "top" 100 e quetais. Mas voltemos para a Espanha...

   A DO Jumilla cultiva 42.000 ha de vinhedos, e a cidade de Jumilla é responsável por 22.000 ha de plantações. A Monastrell costuma originar vinhos frutados e leves, fáceis de apreciar.

   Panarroz, ele também um corte GMS onde a Monastrell é a uva predominante, andou frequentando a lista de melhores compras em diversas lojas virtuais dos Estados Unidos. Afinal, um vinho 90 pontos abaixo de US$ 10,00 é ou não é uma boa compra? Com um pouco de sorte e por volta de R$ 30,00 na mão, você compra um Panarroz e concorre a uma boa experiência dos vinhos produzidos nessa região.
   Mas... com um pouco de sorte? Agora também precisamos de sorte para provar um bom vinho? A rigor sempre corremos o risco de encontrar uma garrafa passada no meio de nossas compras, mas no presente caso recomendo uma oração a Baco com duplo empenho e fervor. A GrandCru importou o Panarroz há algum tempo, e apenas em sua safra 2004. Até o final do ano passado o vinho custava por volta de R$ 50,00, quando surpreendentemente entrou em promoção por pouco mais de R$ 20,00 - momento em que o esperto aqui aproveitou e comprou 6 garrafas. Abri duas delas na noite da virada do ano, e estavam ótimas: no nariz, fruta vermelha (nunca consigo identificar bem qual...) e na boca um pouco de pimenta complementava o prato com carne quase à perfeição. Infelizmente o mesmo não se repetiu com as duas garrafas seguintes: em noitadas regadas a vários vinhos com outros amigos, Panarroz foi o que sobrou. Já é sintomático, em nossas noitadas, uma garrafa que fica sozinha no final; o normal é todas irem baixando e acabarem quase juntas. Mas se o vinho sobrou... bem, então é porque ele já perdera a graça mesmo.

   Abri a quinta garrafa neste final de semana, e o que posso dizer? Está claro que, se por um lado esta ainda não atravessou o Aqueronte, por outro já sacou sua moeda e sinalizou firme para o triste barqueiro. Ainda tenho a última garrafa, e se ela estiver boa quando abrir voltarei a comentar. Mas é fato: o amigo bebedor deve ficar alerta com este rótulo. É uma pena que a GrandCru tenha trazido apenas esta safra; Panarroz é um vinho frequentemente bem avaliado pelos degustadores profissionais e o público ganharia com sua presença - a preços na casa dos R$ 30,00 - no nosso mercado, já que chilenos e argentinos do mesmo preço teriam extrema dificuldade em competir com ele. Eu ainda não reclamei do preço dos vinhos dos nossos vizinhos? Não? Fica para uma próxima crônica.

8 comments:

  1. Não é por nada não Carlão, mas acho que você deveria deixar a última para marinar uma carne...rsrs. Com cuidado para não estragá-la...rs. Este vinho nunca me convenceu. Falta-lhe equilibrio e aquelas notas de farmácia incomodam. Nem mesmo o irmãozinho maior dele, o Altos de La Joya convence. O melhorzinho é o Olivares Crianza, mas no preço tem um monte melhor.
    Grande abraço,
    Flavio

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  2. Então, Flávio, e esse vinho está sempre bem nas listas com pelo menos 88 pontinhos, para quase qualquer safra... ou os degustadores estão sendo muito generosos com vinhos do Velho Mundo ou algo estranho acontece. Um vinho chileno precisa suar muita barrica (rs) para conseguir 88 pontos...

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  3. Carlão, aí tenho que discordar de você: Os avaliadores são muito generosos é com vinho do novo mundo, não com aqueles do velho mundo. Por exemplo, o número de vinhos argentinos por aí com 90 pontos é fantasioso! Se compararmos vinhos franceses de 90 pontos, com argentinos da mesma pontuação, não tem nem graça... Mas no caso deste que comentamos, é um vinho que não merece 88, de jeito nenhum!
    Abração,
    Flavio

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    1. Olá, Flávio! Acho que estamos tratando de coisas um pouco diferentes. Afinal, como eu comentei, esse é um daqueles vinhos espanhóis pontuados que a GrandCru trouxe para o país a preços interessantes. Você mesmo comentou o Milcampos, se não me engano, e também não apreciou tanto, discordando da nota dele (92!). Eu mesmo experimentei outros e não achei as notas exageradas (não em um ou outro caso, mas em diversos outros, sim). Então está acontecendo alguma coisa estranha e nós não estamos pegando. Agora, a questão dos argetinos pode apontar para outra interpretação, que devemos procurar. Será que essas pontuações estão se curvando a alguma tendência de mercado. Seria uma tendência ou uma mera $tendência$? A debater...

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  4. Carlão, o Panarroz não veio junto com aquela leva de espanhóis da Grand Cru. Ele já está no mercado faz tempo, desde o tempo que a Mercovino vendia os vinhos da Grand Cru. Mas no caso destes desta última leva, o negócio piora. Nenhum deles que bebi merece mais que uns 88 pontos... (mas quem sou eu para pontuar??? kkk). Aliás, são 92 pontos do Parker, que eu respeito apenas quando avalia vinhos de Bordeaux, pois de outros locais ele não avalia. E vide o escandalo Jay Miller... De qualquer forma, sempre fui do pensamento que para quebrar a barreira dos 90 pontos tem que ser vinho bão! O que acontece é que acabaram banalizando esta barreira, e qualquer vinhozinho meia boca já está ultrapassando, não pela qualidade, mas pela benécia dos avaliadores... Mas temos que debater! Regados a um vinhão, claro! Abração!

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    1. Bem, como digo no Editorial, desculpe pelo fora (rs!). Eu não conhecia o Panarroz do tempo da Mercovino, e pensei que tivesse chegado com a mesma leva. A safra em questão é 90 RP, segundo a própria GrandCru. E a que eu tinha visto nos EUA também era 90, mas não recordo qual safra. Eu esperava mais deles, mas pelos R$ 22,00, as garrafas que estavam boas foram um bom negócio. Pelas demais... bem, vc já sabe.

      Aliás, falando em quem é vc para pontuar... vc é tão bom quanto eles. Basta pegar a caneta e ficar num canto treinando enquanto os demais conversam animadamente. Vc fará isso? Eu acho que não... até porque será expulso se tentar (rs).

      Mas falou bem. É bom para debatermos, regado a vinhobão. Marque algo, e abraço.

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    2. Falou e disse: Não vou ficar anotando pontos enquanto vocês entornam taças! De jeito nenhum!
      Abração,
      Flavio

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    3. Ok, mas... precisamos pelo menos nos colocar em posição de "entorna-taças"...

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