Ontem cumpri um acordo firmado há dois meses com o sr. Inidir Janduzzo, da Mercearia 3M: visitar a Expovinis na qualidade de enviado da empresa para procurar novidades tanto entre os tradicionais como também entre possíveis novos fornecedores. Armado do meu indefectível caderninho preto, fui à luta logo às 8:30 da manhã com o intuito de chegar na abertura do primeiro dia da feira.
A primeira passada foi na Hannover, representada na 3M pelos vinhos da chilena Viu Manent, dentre outros. E justamente dela confesso que estava algo curioso para conhecer o Vibo, um Malbec produzido pelo braço Argentino da vinícola. Fez jus aos comentários que já tinha lido a respeito: combina elegância com potência e é, segundo os próprios produtores, a "versão feminina" do Viu One. Com um em cada taça para tirar a prova, fui obrigado a concordar. O Vibo tem notas de frutas vermelhas no nariz, e na boca aparece um fundo de café. O retrogosto é largo e agradabilíssimo. O Viu One é mais intenso, encorpado, com taninos evidentes mas absolutamente domados. A surpresa ficou por conta do El Incidente, majoritariamente Carmenérè com um pouco de Petit Verdot e Malbec. A pimenta, tão típica em versões mais grosseiras dessa uva, aparece bastante melhor integrada ao vinho e torna El Incidente um bom representante do que alguns enólogos estão chamando de "renascimento" da variedade no Chile. Para quem gosta de Pinots, a linha Secreto aparece com mais esta surpresa. É um vinho equilibrado, mais na faixa de poder aquisitivo do cidadão comum (risos) e que, para mim, perpetua o mistério acerca dessa variedade: conhecedor de uns poucos Pinots argentinos e chilenos, nunca bebi dois iguais. Quando estamos acostumados com Cabernets e Malbecs, principalmente, conseguimos ter uma ideia de um vinho como sendo de uma ou de outra uva. Para mim, cada Pinot é diferente do outro, a ponto de ser impossível termos qualquer "memória olfativa" ou "degustativa" dessa variedade. Mas, assim como o Pinot da Ventisqueiro, este da Viu Manent também agrada. É delicado como todo Pinot, macio e com retrogosto agradável.
Ainda na Hannover, a Serrera trouxe sua linha completa, desde o básico Serrera del Pecado, um Malbec/Cabernet Sauvignon com 14% de álcool bem integrados, a baunilha devidamente contida - acho que a baunilha em excesso tem estragado - ou escondido deficiências(?) - de vários vinhos que aportam por aqui. No caso, como dito, a baunilha encontra-se contida, e na prova apareceram notas de chocolate, o que mostra a boa integração entre nariz e boca. Para uma linha básica, de entrada mesmo, um bom vinho. Na versão Reserva, chamou atenção o Bonarda, que pode ser uma boa alternativa ao também bom Crios, da Suzana Balbo. Acima dos Reserva, o Gran Corte também chama atenção pela faixa de preço. Pelos ibéricos, destaque para o Mural Reserva, do Douro, uma combinação de Tinta Roriz e Touriga Nacional que pode competir com os Crasto e Esporão em igualde de condições na faixa de preço. O Quinta do Além Tanha Vinhas Velhas é um belo vinho, para bater de frente com o Crasto Reserva Vinhas Velhas. O custo, porém, deixa boa vantagem para o Crasto que, a meu ver, é quase imbatível na faixa de preço. Da Península de Setúbal comparecem o Soberana (4 castas portuguesas) e o S de Soberanas (este sim, com "s" no final, com 2 castas), ambos com longos estágios em barrica e preços à altura de tanto cuidado. Da Espanha, a Bodega Páramo de Corcos compareceu com dois Tempranillos agradáveis, de boa complexidade e para bolsos igualmente complexos. O leitor percebeu que deixei de comentar mais atentamente os vinhos ibéricos, e dou dois motivos: as castas portuguesas (Tinta Roriz, Trincadeira, Alicante Bouschet, Alfrocheiro, Tinta Caiada e outras) não remetem-me a qualquer lembrança mais sólida, diferente de um vinho à base de Cabernet ou Malbec. Depois, tendo passado por boa parte da Viu Manent e por toda a linha da Serrara, o paladar começou a ficar um pouco comprometido e uma pausa nas atividades teria sido bem-vinda. Infelizmente o show precisava continuar...
No estande da Zahil a prioridade estava de fato concentrada nos negócios: uma pequena área externa servia alguns vinhos mais simples para os visitantes "mais simples" (vinhos como Trumpeter e o Salentein reserva, por exemplo: bons vinhos mais ainda assim simples se comparados ao catálogo completo), enquanto numa área fechada, com acesso restrito, os representantes da empresa se esforçavam para servir seus distribuidores. Uma nota: se eu fosse um cliente mediano da loja virtual da Zahil e pagasse o valor do ingresso esperando conhecer um pouco mais do catálogo da importadora, teria me frustrado completamente. Conquanto a Zahil esteja certa em querer dar atenção especial a seus distribuidores, o cuidado com o consumidor individual não deve ser menor, justamente sob pena de frustrar esse consumidor, tão essencial para a divulgação boa-a-boca de qualquer vinho. Recebi da Simone Puglieri, representante da Zahil que atende a Mercearia, a devida atenção em meio a algumas dezenas de clientes que eram atendidos naquele momento da feira. Provei primeiro um toscano bem encorpado, o Trefonti, da Tenuta Valdipiatta. Corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Canaiolo, é um legítimo representante do lado "potência e força" italianos. A despeito disso, os taninos apresentam-se macios. Um ótimo vinho que, pelo preço (R$ 120,00), faz gemer muito supertoscano de preços bastante superiores. Da Alsácia, o F.E. Trimbach Riesling é um vinho para se amar (e beber, claro). Não foi à toa que ficou entre os "top ten" da feira. Pelo preço (R$ 112,00), não é para o dia-a-dia de pobres mortais, mas vale a pena que passe pelas nossas taças ao menos para tomarmos conhecimento de como a vida pode ser boa... e notem que vinhos brancos não estão, ainda, no conjunto que aprecio mais. Fechei com o Quinta dos Carvalhais Colheita (R$ 103,00 no sítio da importadora), um português que mistura Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro e também mostra bom corpo e bom final.
Termino esta primeira parte das impressões registrando o encontro com o amigo Marcelo Deliza, da Casa Deliza, de Araraquara, que além de me reconhecer no meio da multidão (os óculos fizeram falta a partir de certo horário, se me entendem...) parou para uma conversa rápida mas agradável, e o sempre bonachão Homero, da Adega Paratodos, de Botucatu, que encontrou-me na Zahil, por mais que eu tentasse me esconder debaixo do vasto catálogo da empresa.
Mandou ver, hein Carlão! Que beleza! Eu estou curioso para experimentar o Vibo.
ReplyDeleteEste ano não pude ir à Expovinis. Tive que optar por um evento antes. Meu fígado não aguentaría!
Abração,
Flavio
Pois é, estou vendo se consigo uma garrafa para os próximos dias. Nada garante, mas uma prece a vc-sabe-quem pode ajudar. Baco é generoso (às vezes...).
ReplyDeletePena não ter ido. Tivesse ou "figo" reserva...
[]s.