Wednesday, February 20, 2013

Mais um "teste" Folha

   O jornal A Folha de São Paulo brinda-nos com mais um "teste" Folha. Poucos se lembrarão da "avaliação" produzida pelo jornal nos anos 90, analisando o desempenho acadêmico dos professores da Universidade de São Paulo e taxando alguns de improdutivos. Começou assim: acreditando ser suficiente para que todos os interessados tomassem conhecimento do evento, ela... publicou em suas páginas que faria o levantamento...
   Note o leitor que estou puxando fatos de vinte anos pela memória, dispensando qualquer outra consulta. Algo aqui pode estar impreciso. O que eu tenho certeza é que entrou nessa lista um professor meu que... no período acadêmico analisado - quando verificou-se o número de publicações de cada docente - fazia seu doutorado na Inglaterra... (ele não poderia publicar dados de sua tese naquele momento). É por situações como essa que o indivíduo começa a perder a fé na humanidade.
   Agora a Folha traveste-se de "analista" de Rosés e produz uma série de matérias em sua coluna "comida" de hoje, quarta-feira, 20 de fevereiro. Está bem, a Folha contratou uma banca para fazer o teste às cegas, e ela foi composta por Jorge Lucki (dispensa apresentações), Gabriela Monteleone (sommelière do restaurante paulistano D.O.M.), Gianni Tartari, sommelier do restaurante Emiliano, Mário Telles Jr., presidente da Associação Brasileira de Sommeliers, e Suzana Barelli, diretora de Redação da revista Menu. O que decepciona, e motivou esta postagem, são os pontos que descrevo a seguir:

   * Uma das chamadas da matéria diz "Testamos os vinhos rosés mais consumidos em São Paulo, e o resultado decepciona: só 2 das 8 marcas foram bem avaliadas pelos especialistas". Lendo todo o texto, encontramos as sugestões de Alexandra Corvo (colunista da Folha e coordenadora do teste):

  • Janeil Rosé De Syrah 2011
  • Clos La Neuve Cuvée Passion 2011
  • Modello Venezie Rosé 2010
  • Quinta Do Vallado Touriga Nacional Rosé 2010
   Os textos citam o rosé da Villa Francioni, "o único vinho que não sofreu nenhuma crítica no teste promovido pela Folha, com média de 4,2 pontos, num total de 5" e, ainda, os seguintes:
  • Lancers
  • Quinta da Romaneira 2011
  • Club des Sommeliers
  • Los Vascos 2012
Ei, isso dá nove vinhos! A menos que algum dos oito tenha sido veiculado na matéria como o produto do Club des Sommeliers, marca do Pão de Açúcar. Mas não fica claro no texto qual deles é o vinho do Club des Sommeliers (aliás, a variação da escrita, sommelier/sommelière consta na série de reportagens).

Outros pontos surpreendem (negativamente) na "reportagem"

   Uma das matérias traz como título "O melhor vem de Santa Catarina". Fala sobre o Villa Francioni, produto que não está entre os escolhidos da Colunista da Folha. Então tem algo errado, ou com os jurados ou com a colunista. Como o melhor vinho segundo os jurados não merece figurar entre as sugestões da colunista - sugestões que, afinal, possuem o valor de "chancela" aos produtos?

   Ademais, do Villa Francioni, com média 4,2 de 5,0 (lembrem-se, "O melhor vem de Santa Catarina"), 
"Não chega a empolgar", sugerem os jurados durante o teste. "É um vinho que eu tomaria em uma festa", diz Jorge Lucki."
   Mas os próprios jurados deram 4,2 de média... E para piorar lemos, nessa matéria, sobre o Villa Francioni, que ele é "o único vinho que não sofreu nenhuma crítica no teste" - a despeito dos comentários acima...
   Eu entenderia se o vinho tivesse por média algo como 3,0: ficaria acima da média, mas não empolgaria. Estaria justificada a nota. Mas obter 4,2 e ainda assim ser um fiasco (afinal, não empolga)... alguém faz um desenho para me explicar? Depois sobra a pecha de que "de cabeça de sommelière e de bundinha de bebê pode sair qualquer coisa" - não exatamente "qualquer coisa" - e aí os sommelières vão querer o direito de ficar "bravos". Algum dia eu entendo tudo isso.

6 comments:

  1. Carlão,
    Essa trapalhada da matéria da degustação da Folha só vem acrescer à triste sina dos rosés.
    Pobres vinhos tão vilipendiados (rs).
    Brincadeira. Gosto dos rosés.
    Mas são de fato contraditórias as avaliações que referiste da prova dos "experts".
    PS: imagina o RP dizendo, "não empolga, mas leva 95+" (rs).
    Abraço!

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  2. Alexandre, você está certo, a matéria, como saiu, presta um desserviço aos Rosés. Eles são mesmo vilipendiados sem razão - a reportagem arrisca uma: o público está acostumado com produto ruim, e isso faz com que a maioria dos produtores sirva Rosé ruim. Infelizmente caímos em uma "espiral descendente" de qualidade.

    Sobre o RP, você matou a questão!
    []s,

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  3. Oi Carlão,
    Três pessoas já me disseram não ter gostado dessa última safra do Rosé Villa Francioni.
    Eu bebi o Quinta da Romaneira 2009, e estava uma delícia. Estranhei a nota baixa do 2011 no painel, pois é um vinho muito elogiado em Portugal.
    Abraços,
    Flavio

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    1. Eu ainda precisarei escrever um posfácio a esta postagem terminando assim: "Até tu, Lucki?!" - risos!
      Ao contrário do Alexandre, só bebo Rosés quando alguém leva (gargalhadas). Portanto, preciso ficar à margem dessas considerações, que, é claro, são sempre bem vindas.

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  4. Bela análise, Carlão!
    Linkei num grupo do Facebook de que participo.
    Abs.

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