Sunday, January 17, 2021

As Noivas de Baco

Introito

   Formou-se uma confraria em S. Carlos, auto-denominada Noivas de Baco. Este Enochato, conhecido e reconhecido pelas suas conexões diretas com a entidade divina, foi convocado para assumir o posto de Prelato da irmandade - o que muito nos envaidece. As Noivas de Baco (😂) são Eduardo, Evaldo, Gustavo e Ricardo, e o templo tem por vestais Dayane, Isa, Renata e Riana. Outros adoradores parecem estar professando seus votos justamente enquanto escrevo. A conferir...

Mentiras, blefes, falácias

Este Enochato é volta e meia acusado de mentir em suas postagens. Isso é obviamente a tentativa vil dos detratores deste espaço em desacreditar o articulista. Vamos lá: em praticamente todas as postagens onde denuncio o preço abusivo cobrado por algumas importadoras ou comento o bom preço ofertado por outras, as telas do sítio do vendedor nacional são apresentadas, bem como a comparação com ofertas do produto fora do país, notadamente nos EUA. A honestidade intelectual do blog não pode ser contestada. Os detratores podem gralhar, mas - já notaram? - nunca apresentam um único argumento para desqualificar os meus. Para confirmar que a confraria existe e este que vos escreve narra nada além da mais pura verdade, sendo efetivamente o fiel representante dos confrades junto à Entidade, segue a foto do primeiro culto onde todos erguem suas taças à representação de Baco imortalizado por Caravaggio. Calem-se os infiéis e os detratores que dizem-me mentiroso. Tudo o que se fala aqui é verdade, a mais pura verdade, com seu devido suporte.

Os trabalhos

Seguindo minhas recomendações enquanto ainda mundano - antes da Anunciação da posição deste que escreve como Prelato da Confraria - de promover uma iluminadora comparação de estilos, compramos, já na bléqui fraidi do ano passado, 4 garrafas. Muita covid rolou, contratempos, desencontros, e a degustação ficou para 2021. Como sinal de boas vindas, servi o já comentado Bacio della Luna Spumante Blanc de Blancs. O Ricardo apareceu com o Prosecco Valdorella, espumante com aroma de abacaxi, boa acidez, bom frescor e que, junto de Bacio, foi apreciado por todos. Walew, Ricaaaardo... prova de que a confraria vem se fortalecendo e os bacantes não vacilam em ofertar aos irmãos e irmãs provas de entrega e compartilhamento daquilo que vão amelhando em suas andanças por outras plagas.


Os astros principais do encontro foram dois tintos, comprados à guiza de comparação entre o estilo sul-americano e europeu. Caliterra Tributo Cabernet Sauvignon Single Vineyard 2016 é um produto da chinela Caliterra. Mostrou fruta (pareceu goiaba) e uma pimentinha sem-vergonha que a ficha técnica tentava dizer não advir da Carmenère. Sem sucesso; é aquela pimenta que lembra tabasco e denuncia essa malfadada uva em qualquer proporção acima de 0,2% (risos). Não, nem tanto. Até uns 2% seria suportável. Tem mais. Pode escrever (rs). Corpo médio, a falta de acidez deixa a boca ligeira. Não é ruim. Apenas não é bom... Pelo preço (qual seria?) é só mais um exemplo (o n-ésimo aqui comentado...) de que os vinhos chilenos estão demasiadamente caros, e continuar a consumi-los é perpetuar um erro que só a falta de informação - ou o obscurantismo absoluto - explicam. O segundo rótulo foi o Château Peyrabon 2015, bordôzinho (sic) do Huat-Médoc composto por 60% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot, 6,5% Cabernet Franc, 3,5% Petit Verdot. Peyrabon é um Cru Bourgeois Supérieur. Nariz com boa fruta, algo como chocolate (café?) ou couro, taninos presentes e álcool aparecendo um pouco. Corpo médio, acidez presente, final não muito longo mas muito melhor do que Tributo, foi melhor na opinião unânime dos presentes. Pensei que teria de explicar um pouco o que seria a acidez e levar o grupo a refletir sobre ela, comparando ambos os vinhos, mas qual! Estão maduros o suficiente para, nesse nível de comparação, conseguir perceber com clareza a diferença qualitativa entre um vinho e outro. Baco gostou... 😊
 

Cru Bourgeois

   Nem cheguei a comentar com os discípulos o fato de Peyrabon ser um Cru Bourgeois. Essa classificação foi criada em 1932. Alguma brasilidade infestou os primeiros passos da iniciativa. O que deveria ser um júri independente que ordenaria os Châteaux que não foram incluídos na famosa classificação de 1855 logo estava contaminada por filhos, pais ou irmãos de produtores, quando não outras pessoas com interesses diretos neste ou naquele produtor. Assim, a tentativa de classificar cerca de 440 produtores foi por água abaixo, em meio a processos judiciais e outras brigas. Nova tentativa foi feita em 2003, listando 247 châteaux, e também acabou em pancadaria (risos), sendo anulada em 2007. Ela dividiu as propriedades em Crus Bourgeois Exceptionnels, Crus Bourgeois Supérieur e Crus Bourgeois. Em 2020, em ritmo de agora vai (rs), nova lista foi lançada. Peyrabon continua lá como Cru Bourgeois Supérieur. Sim, continua lá porque, ao contrário da classifiação de 1855, que é praticamente estática, a classificação dos Cru Bourgeois é dinâmica: sendo reavaliada periodicamente, os produtores não podem deixar o caximbo cair, sob pena de perderem importância ou mesmo deixarem a lista. Talvez haja momento que os Cru Bourgeois possam ameaçar a posição de alguns produtores da classificação de 1855. Se sim ou não pode motivar discussões apaixonadas, mas quem ganhará será o consumidor.

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