Saturday, June 26, 2021

Tinha uma Champa no meio de caminha a Pompéia

Introito

   No último domingo foi aniversário da Sra. N. Para quem lembra-se das coisas - não é o forte da maioria do eleitorado, infelizmente - Dona Neusa estreou no blog como missivista de uma desesperada correspondência à procura de orientação, no que foi imediatamente atendida. Naquela data ela faria uma confraternização muito restrita com a família, e ainda tinha em mente um evento com um muito petit comité (rs) em data específica. Acontece que Enoeventos marcara uma degustação harmonizada para o dia 23 de junho, e após experimentar a degustação anterior, ela estava deveras disposta a mais uma experiência enogastronômica. É uma daquelas ocasiões em que se juntam a sede e a vontade de comer (sic!).

Os últimos dias de Pompeia: A vinicultura aos pés do Vesúvio

   Assim foi batizada a proposta dessa pequena mas honesta importadora carioca comandada pelo gaúcho Oscar Daudt. Apresentou vinhos da região da Campania, que com seus solos vulcânicos oferecem grande mineralidade. Aliás, haja coincidência: o vinho que sugeri à Dona Neusa naquele primeiro contato - o Terra Di Lavoro - também tinha origem nessa região. Parece que não está sendo importado, e é um vinhão. Alô, alô, Oscar...
 
Combinei com o chef Gustavo uma surpresa como entrada, e levei um Champa Piper-Heidsieck Cuvée Brut (non-vintage), acompanhado de uma proposta de degustação composta por uma bruschetta de lagosta e lagostim no pão de brioche, salada coleslaw (sic), queijo brie, tomate seco, lagosta, lagostim e picles de cebola roxa com erva doce. O Champagne estava já um tanto oxidado, mas muito agradável; notas de abacaxi, com boa acidez e boa permanência. Combinou bem. Na sequência vieram o Coda di Volpe Irpina DOC 2020 da desconhecida casta Coda di Volpe, com toques bem herbáceos, abacaxi (na verdade era pera...) boca com mineralidade presente e baixa acidez, mas sem comprometer o conjunto - particularmente aprecio a acidez, e tendo a não curtir sua falta. Ele foi seguido por um Corte del Golfo Falanghina Irpinia 2020, da cepa (igualmente desconhecida para mim) Falanghina. Nariz com toques florais e bem cítricos, boca melhor - para mim - pela acidez mais presente e boa persistência. Eles foram armonizados, respectivamente, com um sorpresine bicolori (açafrão e espinafre) com manteiga de sálvia e lascas de amêndoas tostadas, e com fagottini com recheio de creme de cogumelos; molho fonduta de queijo e pangratatto de Panko e ervas. Autêntico capiau do asfalto (rs), este Enochato misturou ambas as massas no mesmo prato (😂) e foi brincando com um vinho e outro, alternando as massas. Para mim não funcionou muito bem, em comparação com experiências anteriores. Mas o melhor chegaria logo. Na sequência, experimentamos uma polenta cremosa de queijo com ragu de linguiça artesanal pareado com o Nativ Bicento Irpinia Campi Taurasini 2017, um vinho que, como diz o nome, é feito a partir de vinhas bicentenárias (😨), da cepa Aglianico di Taurasi, e que portanto sobreviveram à praga da filoxera. Buquê com um doce algo carregado, boa fruta, boca algo doce, mas com ótima combinação com a polenta. Comentei sobre a combinação de vinho de travo mais doce com comida, o que, surpreendentemente, justifica (sic) a existência até de vinhos meio secos. Algo para o que o leitor deve estar atento e não fechar-se às possibilidades. Essa harmonização funcionou muito bem. A sobremesa foi composta de cannoli di ricotta al pistacchio acompanhada do passito Baronazzo Amafi Zibbibo 2016. Um vinho 100% Zibibbo (ou Moscatel de Alexandria), notas notadamente cítricas, boa acidez a contrabalançar o dulçor, 14% de álcool que não aparece, muito equilibrado e também casou bastante bem com os cannoli. Também foi muito divertido, nota 10. A aposta da D. Neusa foi que o Nativ Bicento diminuiria o açúcar no dia seguinte. Fui agraciado com a garrafa, e provei no dia seguinte (ontem). Não, não diminui muito, continuou com aquele doce. Não é um defeito, mas acho que é um vinho para harmonização; não arriscaria abrir uma garrafa sem acompanhamento. 

A transmissão do evento via Youtube teve momentos divertidos, mas estávamos em seis pessoas inicialmente atrás de um celular perdido tentando localizá-lo via mandracarias de GPS, e em um ambiente mais festivo, de forma que o evento não foi acompanhado com muita ênfase. De qualquer maneira, Enoeventos vem produzindo encontros virtuais muito bem harmonizados e que valem a pena participarmos. Por aqui o amigo Ricardo, Noiva de Baco de primeira hora (rs!) também acompanhou a degustação e enviou-me a foto ao lado. Disse-me que esteve tudo muito bom e apreciou bastante a oportunidade. Mais uma opinião que atesta tanto a qualidade dos vinhos quanto da harmonização, e reforça o quanto essa abordagem merece nossa atenção. Fique atento. Oscar promete que vem mais por aí...

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