Sunday, May 20, 2012

O Wine Tour da Interfood - Segunda parte

   Fechando os comentários sobre a Wine Tour, depois da metade do evento cheguei aos italianos. Hão de pensar "tonto, por que não foi logo aos Barolos e Brunellos?", mas convenhamos: não são meus vinhos de dia-a-dia, não são vinhos que eu conheça tanto - embora conheça bem a fama - e os preços dos exemplares mais simples só entram em degustação quando divididos em confraria. Assim, entre entusiasmado (menos) e curioso (mais), cheguei na ala italiana acompanhado dos amigos Endrigo e Vânia. Combinamos de ficar por ali, e cada um atirou-se para o canto que achou mais interessante.

O vinho da Barbi(e)?

   Já ouvi bons comentários sobre os vinhos da Fattoria dei Barbi e sempre me perguntei o que vinho tinha a ver com boneca. Tudo não passava de uma confusão sem tamanho! Aliás, estes Rosso e Brunellos (2) são pra Barbie nenhuma botar defeito. O Barbi Rosso Di Montalcino 2009, aliás, foi o que melhor pude apreciar. Como a competição sobre os irmãos mais velhos era acirrada, os exemplares de Rosso até sobreviviam um pouco mais, podendo respirar um tantinho antes do final da garrafa. De aroma agradável, na boca apresentou-se bom do início ao fim (bom retrogosto, inclusive). E, depois, o desencanto: tanto o Barbi Brunello Di Montalcino 2006 quanto seu irmão maior, o Brunello Di Montalcino Riserva 2005, estavam sendo servidos em temperatura ambiente e tão logo eram abertos. Quero dizer: imaginando uma certa "saída" para vinhos em qualquer evento, os organizadores deveriam abrir as garrafas com alguma antecedência e garantir o serviço de um vinho no mínimo fresco. Não era bem o que acontecia. Uma (supostamente) enóloga com cara de poucos amigos servia de ambos, e parecia se perguntar o tempo todo o que estava fazendo ali. Talvez se amaldiçoando em abrir seus vinhos para tantos bárbaros que esticavam taças ávidas em direção às garrafas recém-abertas... mas então por que não tratou melhor dos próprios vinhos antes de servi-los? Bem, o resultado é que não vi nada demais tanto em um como em outro. Claro, fora de temperatura, sem um tempo mínimo de serviço... não sou o tipo de conhecedor que sente um buquê e diz que dentro de cinco anos o vinho estará maravilhoso (rs), e o resultado da experiência foi um noves-fora-nada. O produtor perdeu uma boa oportunidade de apresentar seu produto para possíveis compradores, ainda que em confraria, pois a versão mas simples do Brunello já custa quase duzentos reais.

O Amarone... o Amarone...

   Também já ouvi falar muito de Amarone, e estava lá o Amarone Clássico, do produtor Tommasi Viticoltori. Segundo o guia, um vinho composto por 50% Corvina Veronese, 30% Rondinella, 15% Corvinone e 5% Molinara... e para mim isso faz tanto sentido quanto para o leitor desavisado que chegou até aqui! Mas se as uvas são completamente desconhecidas para o bebedor de nível mediano para baixo, o esforço necessário para reconhecer ali um bom vinho é exatamente nenhum! Elegante, complexo, agradável. Um vinhaço, embora fuja do buquê e do sabor tradicional dos argentinos e chilenos. E estava mais ou menos no ponto. Explico: já havia passado pela bancada justamente quando a garrafa anterior estava acabando. A expositora disse que poderia abrir somente quatro garrafas naquele dia, e ela estava abrindo uma naquele momento mas o vinho precisaria respirar. Depois de passar por outras bancadas, voltei para aquele canto e encontrei a garrafa ali, aberta e quase cheia, sozinha e aguardando este imberbe bebedor para provar de seu conteúdo. E valeu muito a pena. Para quem está acostumado com os vinhos sul-americanos, é uma experiência diferente e bastante interessante.

Pelos poderes de Grayskull!

   Um pouco depois do Amarone chegaram a Vânia e o Endrigo de algum canto e me apontaram o estande da Podere Roche Dei Manzoni. Avisaram que o expositor só falava inglês, mas, ora, àquela hora poderia falar apenas javanês! Aproxime-me e conheci Giuseppe Albertino, o extremamente simpático enólogo que foi logo entornando uma garrafa sobre minha taça e falando rapidamente sobre o vinho.
Quatr Nas: um belo vinho, com preço a altura...
   
   Prova daqui, prova dali, chegamos ao Quatr Nas: majoritariamente Nebiollo, com 20% de Barbera, já traduz a expressão dos irmãos maiores, os Barolos. Muito elegante: corpo, estrutura, final e retrogosto memoráveis. E pior, o melhor estava por vir (sic). Estava ali uma garrafa do Barolo Big D'Big 2000, devidamente climatizada, embora com pouco tempo para respirar, segundo o próprio Giuseppe. E, se o Quatr Nas já estava bom, o que dizer deste irmão mais velho! Virei-me para o cartaz que estava logo atrás de nós e inocentemente perguntei se "Podere" significava poder. Quando Giuseppe confirmou, de resposta engatilhada, apenas completei: E você o tem! Ele riu bonachão, carregou a minha taça mais uma vez e agradeceu. Leitor, para mim esse foi o vinho da noite: estruturado, balanceado, fino, e, na falta de melhores termos técnicos para classificá-lo, tudo de bom! (rs)
   Convenhamos: para chamar atenção depois de muito bebermos, o vinho precisa ser diferenciado. E esse o era. Se fizer qualquer brincadeira semântica do tipo "Podere é de Fodere", estará acertando em cheio. Depois fui checar: com 95 pontos WS, não é de estranhar que encantou quem experimentou. Depois veio um Rocche Dei Manzoni Barolo Rocche 2005. O Giuseppe antecipou: estava novo, mas era o que eles tinham para mostrar. Depois de um Big D'Big, realmente não foi a mesma sensação.
Com Giuseppe Albertino, enólogo da Podere Roche Dei Manzoni.

Muito pouco dos franceses

   O gongo estava quase soando quando olhei um estande de Haut-Médoc, com três garrafas enfileiradas. Pela sugestão da representante, comecei pelo mais simples - surpreso com a safra (1999), para um vinho "simples". Era um Châteaux Potensac, e já apresentava boa presença: aroma agradável, paladar idem. O único problema - o de sempre, aliás - estava no preço, na casa dos duzentos reais. Os outros dois eram melhores - mesmo àquela hora a percepção de qualidade era evidente, com preços subindo ao passo de centenas de reais de um para outro. O Château Lagrange 2006 Grand Cru Classé também apresentou-se muito redondo, aroma alinhado com paladar, final longo. Por quase quatrocentos reais, é bom, mas é muito caro. Mas é bom (rs). O terceiro, infelizmente, não me recordo. O custo também estava bem acima do segundo e... bem, não poderia comprá-lo, de qualquer maneira... (rs amarelos).

   A breve passada pelo estande da Espanha serviu para registrar os conhecidos Marquês de Riscal, cuja linha estava bem representada. Contudo, àquela hora, e com uma viagem de volta pela frente, resolvi passar. Mas o Endrigo e a Vânia já tinham deitado suas taças por lá, e aprovaram todos; taí uma boa referência.

Conclusão

   Com uma recepção generosa, apesar de algumas falhas (impossível não ocorrerem em um evento de tal magnitude), a Interfood conseguiu apresentar a seus representantes e possíveis clientes uma ótima mostra de sua linha de vinhos, que é bastante variada conforme notou o leitor que conseguiu arrastar-se até estas derradeiras linhas. Os vinhos comentados abrangem preços para todos os bolsos e gostos, dos mais rasos (bolsos) e simples (gostos) aos mais profundos (bolsos) e sofisticados (gostos). Quem se interessar por algum certamente fará ótimos brindes. E eu terei cumprido minha missão. Agora, rumo ao próximo gole.

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