Desde o início do blog fiquei me perguntando quando eu começaria a misturar as coisas. Até que resisti bem, mas chegou a hora de juntar minhas duas maiores paixões mundanas: vinhos e livros. Antes, preciso mencionar: para minha surpresa(!), a lista de seguidores vem aumentando. Havia notado anteriormente, mas principalmente a última postagem não era aquela onde gostaria de ter tocado no assunto. Assim, bem-vindos Vitor, Hernani, Ariane e Paulo. Olhem, o blog é feito para minha diversão (risos!), mas para a de vocês também. O Vitor já deixou comentários, e estão todos convidados a tentar (gargalhadas), já que esta ferramenta às vezes complica a vida do internauta. E olhem que deixo tudo "aberto", qualquer comentário é publicado na hora. Se não quiserem escrever, divirtam-se da mesma maneira.
Assim, esta postagem será dedicada à mais importante fonte de informação de que dispomos, principalmente pela sua confiabilidade. Aliás, muita "gente boa" da internet deveria ler um pouco antes de postar bobagens - em todos os assuntos, não apenas sobre vinhos. Ler recicla. E reciclar é preciso (continuamente!). E é nessa toada (reciclar é preciso) que acabei por consultar outros livros além do que comentarei aqui, para... poder escrever com conhecimento de causa! Tudo a seu tempo.
O Vinho: Uma Paixão Para Todos, de Paulo Augusto Almeida Seemann, com tradução e adaptação de Alfredo Terzano e Mariana Gil Juncal. Editora Senac, 266 páginas, 2010.
Foi assim que presentou-me o Flávio
Vinhobão Henrique Silva, com um livro sobre o qual já havia lido boas referências. E pude confirmar outras resenhas: divertido, bem humorado e ricamente ilustrado,
O Vinho, pela leveza e forma interessante de abordar cada assunto, é uma obra dirigida mais aos iniciantes do que aos iniciados. E, pelo bom humor, a diversão pode ser saboreada também pelos mais conhecedores, sem perda de paciência (rs). Vai então que sua indicação para um público de maior espectro tem sua razão de ser.
Com a leitura desse livro e minha própria experiência em conversar com pessoas em degustações, acabei com a seguinte reflexão: mesmo quem bebe muito - mais no sentido de "sempre" do que de "litragem" - por si só não torna-se um conhecedor de vinho. Mesmo que seja uma turma. Fechada em si mesma, sem troca de ideias com pessoas mais "experientes" (no final, mais lidas!), é sempre difícil progredir. O leitor - ou a turma - poderá frequentar degustações assistidas (realizadas por um sommelier que realmente conheça, não esses que fazem cursos de 20 horas e recebem um diploma) e progredir de algum tanto. Mas, considerando que esse tipo de situação é bem eventual, a progressão acabará sendo lenta. Contra a ignorância, ler ainda é o melhor remédio.
A leitura de
O Vinho fez-me lembrar de situações que nós bebedores vivemos no dia-a-dia. Por exemplo, volta e meia em nossas degustações reaparece a questão: qual vinho beber primeiro, o "melhor" ou o "pior"? Como esse debate já foi levantado por mais de uma pessoa, inclusive, parti para uma leitura à vista armada sobre diversos detalhes do serviço do vinho. Cá para nós: como minha escola é a chilena, onde os melhores vinhos dos principais produtores são cada vez mais "pegados", sempre esteve claro que começar pelo "melhor" vinho teria o efeito de inibir a presença dos mais simples. Algumas pessoas também comentam, com alguma propriedade (assim eles pensam! - risos!) que após degustar alguma quantidade (e que pode variar de 200 mL a 350 mL - e então eu pergunto: por que não 1 L?), perde-se o paladar para degustar um vinho muito melhor do que os demais, daí ser melhor começar pelo melhor e depois os não tão melhores. Ok, esse é um argumento, embora eu sempre acredite que o pessoal é fraco de copo e queira ir logo para o melhor. Então vamos chamar os livros (e seus respectivos especialistas).
Em
O Vinho, p. 244, lemos: "A ordem do serviço dos vinhos: uma
regra de ouro do serviço é que
os vinhos sempre devem ser servidos por ordem crescente de importância". E continua: "Um grande vinho nunca é servido sozinho em uma refeição... ele precisa de coprotagonistas, ou seja, outros vinhos".
Manuel Beato, no
Guia de Vinhos Larousse (ei, lembram a estória de se reciclar? Pois, vamos às outras fontes), é claro: "A sequência do serviço: Em geral, vinho seco antes do vinho doce.
Vinhos fracos, antes dos fortes. Na maioria das vezes, brancos antes dos tintos" (p. 32).
Já em
Vinhos do Mundo Todo - Guia Ilustrado Zahar, encontramos: "Ordem do serviço:
tintos leves antes de encorpados - os mais leves parecem ralos após um mais encorpado;
vinhos de menor qualidade antes dos mais nobres", (p. 646).
É assim que, amparado por boas referências, até um mané como eu pode pegar o boné e enunciar sua própria lei, para combater certos vícios dos colegas ao lado:
Vinho não é para fracos! (rs)
Eu tenho certeza de que cada amante de vinho tem suas dúvidas, e encontrará nos livros alguma resposta que se aproxime das questões. Dentro desse contexto,
O Vinho: Uma Paixão Para Todos, pode ser um bom ponto de partida. A conversa sobre vinho acaba aqui, mas se quiser uma dica, continue lendo.
Uma obra-prima em 130 páginas
O Ladrão e os Cães, de Naguib Mahfuz, L&PM. Abreviarei todos os elogios que a obra merece neste: o autor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1988. Ok, você pode dizer que às vezes o pessoal do Nobel pisa na bola, e eu sequer posso retrucar. Mas não é o caso, creia-me. Embora seja considerada um livro de ruptura dentro da produção de Mahfuz (não li as demais), o estilo é de uma simplicidade e ao mesmo tempo de uma riqueza que assustam o leitor mais atento (aquele que sabe apreciar tais detalhes). Não há comparação possível com um vinho, infelizmente, já que um vinho não pode ser simples e complexo ao mesmo tempo. Mas é um livro que merece o acompanhamento de goles esporádicos de um bom Barolo, ou de um Napa Valley bem típico enquanto acompanhamos a descida do protagonista, Said, ao seu inferno particular. Um romance psicológico de primeira linha associado a um
thriller onde Said (o ladrão) procura vingança junto àqueles que o traíram (os cães). Como contei o enredo que é apresentado nas primeiras cinco páginas, o leitor ainda terá outras 125 para degustar. Boa leitura.