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Introito
O inexistente leitor vai me chamar de picareta. Mas verti um tanto de vinho na taça depois de deixá-lo descansar por uma hora, olhei a cor e pensei comigo: - Bem escuro... parece Syrah. Já degustando o vinho, fui olhar a ficha técnica - vinhos portugueses normalmente são cortes complexos que podem ou não mesclar suas uvas nativas com outras, principalmente as bordalesas CS e Merlot. Não deu outra... Aragonez, Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet... Já havia bebido uma garrafa dessas tempos atrás, nas no meio de outras. Na algazarra, passou despercebida - o clima era mais festivo e menos meditativo. Enfrentando esses tempos de clausura com a calma que só os anos provêm, vamos a uma análise mais técnica.O Alentejo
Dizer que há cinquenta anos o Alentejo não tinha muito o que comemorar em termos vitivinícolas é uma verdade. Só não faz jus a uma região que produz vinhos há 2.000 anos... Com uvas trazidas pelos romanos nos tempos de Cristo, o vinho alentejano já era respeitado antes de Portugal de Portugal, e até o século XVII. O surgimento do Douro como a primeira região de vinhos demarcada do mundo, em 1756, jogou o Alentejo - e todo restante de Portugal - em uma espécie de limbo. Esforços para reerguer a região começaram a ser empreendidos com mais seriedade no final dos 1980. A partir dessa data foi criada a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (1989), e nos anos 1990 a Syrah foi introduzida na região, por seu uma casta que adapta-se bem aos solos pobres típicos de lá. Hoje, praticamente todas as grande vinícolas alentejanas usam a cepa, inclusive em seus melhores vinhos. Esforço daqui, esforço dali, muita gente boa trabalhando com afinco e, vinte anos depois, os resultados começaram a aparecer. O vinho alentejano voltou a ser celebrado não apenas em Portugal, mas no mundo todo. É com tal perspectiva que daremos mais um passo rumo ao Pêra Grave.Évora
O Alentejo é dividido em oito regiões. Sem demérito para as demais, Évora é a mais conhecida pelos brasileiros - o Pêra Manca, um de seus vinhos mais icônicos, é citado em crônicas do século XVI, ainda no primeiro apogeu da região. É ali onde se abriga a Quinta São José Peramanca. Depois de mais de um século afastada, a família Graves retomou as terras em 2003 e, em 2005, é engarrado o primeiro Pêra-Grave. A estória está contada no sítio do produtor.O Pêra-Grave tinto, 2016. Após descansar uma hora antes de ser resfriado e daí para a taça, o Pêra-Grave mostrou boa fruta, ótimo equilíbrio entre acidez, tanino e álcool. Na boca tem boa persistência, muito macio, diria que dá um baile em sul americanos na mesma faixa de preço. Sinal que os sul americanos estão caros - algo que tenho comentado invariavelmente nestas páginas e à boca solta por onde o assunto seja vinho 😂...
É um vinho de 12 Euros em Portugal, valor que o coloca acima da categoria de vinhos de consumo diário. Fácil de beber, está bem pronto, e o produtor indica que ainda pode ser guardado por mais 10 anos.
Em tempos de Real curto, se você pegar uma promoção,aproveite. Será uma ótima compra.