Tuesday, May 12, 2020

Vinho 'velho'

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Introito

   O dito popular diz que quanto mais velho, melhor o vinho. Respeito a sabedoria popular, mas neste caso nada poderia estar mais errado. Acontece que a maior parte dos vinhos não sobrevive muito mais do que cinco, sete anos. Vinhos sem estrutura não conseguem 'envelhecer' bem. E, no caso deles, envelhecer limita-se a meia década, não mais. Já outros, com maior estrutura, podem durar cinquenta, sessenta anos. O leitor que duvidar, olhe aqui, quando Don Flávitxo relata a degustação de um Petrus 1953. Então com 61 anos, estava excelente.
   Às vezes tropeço com postagens falando da longevidade de vinhos sul-americanos - chilenos e até brasileiros - com 10, 15 anos, e que estariam bons. Abrimos há algum tempo um Dal Pizzol 2001. Eu tinha a garrafa como "estimação", mas alguém sugeriu sua abertura, 'só de sarro'. Para uns, estava passado mas bebível. Para outros, estava apenas passado mesmo. Cheirava à metacrilato. Sabe assim (rs), quando lembra esmalte? (de unha). Exatamente... Bom, não sei onde foi parar a foto da parte da frente do rótulo (rs), mas está aí o registro.
      Voltando, o que dá então estrutura para certos vinhos envelhecerem (tão) mais tempo do que outros? Não tenho tanta certeza, e se alguém puder ajudar, só diminuirá meu desconhecimento. Claro que a combinação de acidez e tanino são importantes. O álcool, por incrível que pareça, não. Vemos exemplares antigos de Borgonha com 12% de álcool que são disputados a tapas nos leilões...
   Combinado à acidez e ao tanino, creio que a vinificação, com menor importância do que os dois primeiros. Mas esse é um assunto sobre o qual sei menos ainda. O importante é saber quais são as características de um 'vinho velho'. E, para a devida correção na linguagem, observemos que ao dizer 'vinho velho' estamos invocando, na verdade, o vinho oxidado que não desceu ao vinagre. Alguns aromas imediatos vão na direção de compota. Mas um vinho envelhecido pode mostrar compota e não chegado ao estágio de oxidado. Um estágio além da compota chegam os aromas de frutas secas, mais notadamente - parece-me - o de amêndoa.
   Um vinho mais fácil de encontrarmos envelhecido, oxidado, sobrevivente à oxidação e quase sempre exibindo amêndoa, é o vinho do Porto, de qualidade 'razoável'. Os de baixa qualidade, claro, não... Visualmente, o tinto envelhecido é fácil de reconhecer: sua cor tende a ficar atijolada, ou alaranjada.
   O mais impressionante é que um vinho que sobreviveu à oxidação pode estar planamente bebível - dentro de suas características, muito diferentes do vinho 'novo'. A fruta foi embora. O tanino arredonda-se até transformar-se em bolinhas de gude (risos!). Não, não, nem tanto. Continua lá, só que mais suave. Não me pergunte por que. Um vinho oxidado é um vinho sutil. O degustador iniciante seguramente o achará 'sem graça'. O primeiro que experimentei foi um Porto meu mesmo, um 6 anos que guardara por outros 20. Não gostei. O Akira o consumiu quase sozinho ao longo de meses, à medida que passava para uma conversa e um vinho nos finais de semana e às vezes dava um incerta no Porto. Às vezes eu bebia, sem gostar. Só lá pelo final da garrafa é que nos entendemos um ao outro (risos!), e percebi o que perdera. O Akira conta a estória em tom de chacota até hoje. Só o perdoo porque ele generosamente proporcionou-me diversas outras experiências similares depois dessa. E não com Portos...
   Vinhos oxidados costumam custar pequenas fortunas. Vá ver no wine-searcher o preço de vinhos com 40, 50 anos. E no caso de diversos Bordeaux eles sequer oxidaram...
   Um Biondi Santi dos anos 50 é avaliado em uns USD 4.000,00. Um Petrus com 100 anos, pode custar USD 20.000,00. Com 70 anos, uns USD 5.000,00. Bordeaux menos cotados podem ser encontrados por USD 1.000,00. Felizmente nem tudo é desespero...

Um exemplo 'barato'

Alguns vinhos portugueses têm a fama de envelhecer bem. "Mas quais?", perguntará o leitor mais entusiasmado. "Eu não sei quais" - respondo - "Mas sei que esses envelhecem bem: os da Caves Frei João". A informação veio em meio a uma conversa com o Flavitxo, e por obra do acaso o Akira conseguiu algumas garrafas de vinhos 'antigos' de Portugal. Tinha um Frei João no meio.
Freio João é um vinho da Bairrada. Em sua safra 1975 o teor de álcool foi 12,5% (eh! lembra o que falei de Borgonhas antigos nessa graduação alcoólica? Pois é, chupa - risos!). A ilustração do rótulo, comparando com a safra de 2011, não mudou. A apresentação, um pouco. Mas só. A safra 1975 custo algo como 60,00 Euros. É uma fração dos preços comentados acima. A safra 2011 paguei cerca de R$ 100,00 em alguma queima. Poder experimentar o mesmo vinho, em safras separadas por 36 anos, a mais velha então com cerca de 42 ou 43 anos, foi arrebatador. Uma taça com a compota, a amêndoa. Outra, com a fruta, o tanino vivo. Nada a ver com os vinhos nacionais descritos em minha postagem O dia em que a noite não foi boa (sic), de 2012...
   Conseguir esse tipo de vinho é difícil. Mas o leitor que tiver a oportunidade, não deve desprezar esse vinho levianamente. Esteja certo de que, na dúvida, entre não gostar e não 'entender' o vinho, você não o terá entendido.

2 comments:

  1. Grande Carlão!
    Legal (e controverso) o tema... Esse Dal Pizzol 2001 voce pegou pesado, hein? Tenho um Maximo Boschi Merlot 2005 e vou conferir dia desses como está. Papeando um dia com o enólogo Jorge Serôdio Borges (Wine and Soul) e ele me disse que são vários os fatores que contribuem para a longevidade de um vinho, incluindo taninos e acidez. Mas disse que esta última é a determinante. Isso explica por que vinhos menos tânicos e pouco alcóolicos, feitos com a Pinot Noir, por exemplo, conseguem ser tão longevos.
    Quanto aos vinhos da Caves São João, são mesmo muito longevos, principalmente os Bairradinos, provavelmente, por causa da Baga. Mas o bom deles é que mantém a fruta. Para mim, se o vinho perdeu a fruta totalmente, deixa de ser vinho, e não me apetece mais. Sinto que muitos vinhos quando envelhecem ficam com o mesmo gosto: Aquele gosto de licor de cereja meio cozido. Também não me apetecem...
    Abraços,
    Flavio

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    1. Olá, Flávio.
      Se necessário, façamos uma penitência: O Dal Pizzol é um vinho simples, não se poderia esperar muito dele. Da mesma maneira que não podemos esperar muito de exemplares europeus "simples". Mesmo guardando a proporcionalidade entre simples e "simples"; o "simples" europeu ainda é melhor do que o simples sul-americano. Mas, na média, o vinho simples é para consumir logo mesmo.
      Pois é, então uma opinião, dessa vez de expert, dizendo que a acidez é o fator principal mesmo. Bom saber.
      E olha, há algum tempo o Akira abriu um Porta dos Cavaleiros 1980. Levamos a taça ao nariz e nos olhamos um para o outro ao mesmo tempo, comentando em uníssono:
      - Está na fruta!
      Foi até com certa decepção, confesso. E sobre a ausência ou presença de fruta... experimentei poucos onde a fruta tinha ido. Ainda não posso formar uma opinião. Se tivesse oportunidade, experimentaria mais um pouco...
      Walew!

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