Introito: da pobreza do povo brasileiro ao Paradoxo de Tostines
Como era mesmo o paradoxo daquela marca de bolachas? Vendia mais porque era fresquinha ou era fresquinha por vender mais? Enquanto bebo - logo existo! - o Landau guitarreia e fede a gasolina em sua live de aniversário. Cá do meu lado, experimento uma fase difícil - e, claro, um vinho. Primeiro a fase. E ela diz respeito ao povo brasileiro.Empobrecemos. Uma Libra vale R$ 6,76. Até aí, poderia valer R$ 10,00 se tivéssemos os empregos 'em caixa'. Mas nem isso. Assim, milhões de pessoas estão vivendo com menos de £100,00, com um desejo do governo central de que a benesse fosse de... £30,00! Mesmo para quem tem condição um pouco melhor - e a bênção de continuar trabalhando - viajar ou mesmo 'acessar' produtos estrangeiros ficou muito mais difícil.
Este Enochato é insignificante demais para pensar em escrever uma carta destinada a qualquer energúmeno de plantão. Mas... onde está a inteliguência (sic)? De preferência, alguém terrivelmente evangélico (onde foi que ouvi isso?) para dizer o que é preciso. Não há niguém? Em frente a uma sociedade calada, acomodada e com o rabo escondido entre as pernas, na falta de mais atitude, no momento em que a coragem parece se esvair, sem melhor opção do que a clara mediocridade desta postagem, vamos de Enochato mesmo! - ouviram, 'pensadores' do meu Brasil?
- Seu governo acabou! Vá embora. No popular, peça para ca... para ca... para catar coquinho!
- OUVIU, covas?
- OUVIU, dória?
E o que dizer do Energúmeno Mor, cuja alcunha poderia ser Obscurantista, Escuridão, ou mesmo Trevas? O que dizer do 'dono' da camarilha que se apossou do palácio presidencial?
Trilhamos tempos ruins. Tempos de temer o pesadelo do futuro, de comer o pão amargo da angústia, de beber o vinho passado do desespero. Vejamos se podemos aprender alguma coisa observando o mundo ao nosso redor. E esteja certo, leitor: isso não acabou aqui!
O vinho na África do Sul
A África do Sul figura entre os produtores do Novo Mundo, e passa um pouco desapercebida aqui no Brasil. Mas seus vinhos não são desprezíveis. Aliás, desprezível é quem os despreza (risos). E não apenas pela qualidade; também pela sua 'política'. Vamos devagar. Vamos por partes. Vamos torturar o inexistente leitor.O país tem proximadamente 110.00 hectares plantados (dados de 2003...), contra 860.000 hectares na França (dados de 2007) e meros 5.000 hectares no Brasil (dados de 2003, e somente para Vitis vinifera; o total seria de 80.000 hectares, contando 'uva pra chupar'). Para melhorar a comparação, o Chile planta 214.000 hectares.
Exitem várias regiões vitivinícolas (Constantia, Paarl e Stellenbosch), cada qual com distritos, mais ou menos aclamados, produzindo brancos (principalmente), tintos, rosês, espumantes pelo método tradicional e fortificados. Veja mais no vínculo acima (e neste, rs).
O Vale do Franschhoek
O Vale do Franschhoek foi incorporado à macro região de Stellenbosch no princípio dos anos 2000. De maneira geral, o vinho é produzido na África do Sul há... meros... 360 anos... (!) Um pouco mais nova, a cidade de Franschhoek foi fundada por huguenotes em 1688, que ali estabeleceram uma cooperativa que leva o nome da cidade: a Franschhoek Cellar.Mas... o que diferencia o vinho sul-africano do vinho brasileiro? Além de ser bom (e do volume), os sul-africanos souberam fazer a lição de casa: eles nos ensinam que difundir a cultura do vinho também passa por vendê-lo a preço acessível... vejamos um exemplo.
The Old Museum Merlot (2014), Franschhoek Cellar
Quer um vinhozinho simples mas agradável, 'descompromissado', para beber no almoço e acompanhar uma macarronada à bolonhesa, ou uma pizza à noite? Um vinho com fruta bem presente no nariz, madeira discreta, corpo médio, um amargor final que antes de incomodar, marca presença? Acidez um pouco baixa, é verdade, mas... a perfeição se procura em outro lugar... aqui é lugar de um vinhozinho 'maneiro', bem melhor que a média brasileira. Bem, se essas características o agradam, The Old Museum Merlot poderia ser sua opção. Só que não...Outro dia estava conferindo o preço de vinhos por aqui. Um Country Wine, vi de R$ 15,00 por R$ 12,00. Um Sangue de Boi, entre R$ 12,00 e R$ 20,00. Bem, digamos que uma média destes é R$ 15,00. Suaves, adocicados - com todo respeito ao produto e a seus consumidores - isso só é 'vinho' no rótulo. Entendamos por 'vinho' como uma bebida feita de uva que equilibra álcool, taninos, açúcar e acidez, para ficar nessa definição bem simples. Então não falamos de vinho nesses exemplos, já que o açúcar está em franco desequilíbrio são 'vinhos' suaves!
A Franschhoek Cellar nos brinda um Old Museum Merlot a 450 Rands a caixa com 6 garrafas. Vamos converter.. e nos divertir... Repetindo: nossa moeda desvalorizou-se mais de 30% nos últimos tempos. Empobrecemos. Nosso dinheiro compra, lá fora, ... o que? Vento. E as contas abaixo são feitas com nossa moeda desvalorizada, o que só compromete tudo ainda mais.
A caixa com 6 garrafas de Old Museum Merlot custa no sítio do produtor R$142,60 (dá R$ 23,77 por garrafa - e ficou 30% mais caro, com a crise. Sem ela, o preço seria menor.). Percebe a diferença? Imagine na sua mesa do almoço uma garrafa de vinho inferior - mas vinho - pelos mesmos R$ 20,00 - afinal, é inferior... No dia em que o vinho tinto brasileiro melhorar bastante e custar R$ 20,00, o cidadão poderá colocá-lo em sua mesa. E teremos uma cultura de consumo. Será que pensar em R$ 20,00 o custo final desse hipotético produto é sonho de uma noite de verão? Eu sei que, o dia em que isso acontecer, valerá o dilema proposto na postagem: o vinho venderá mais por estar baratinho, ou por estar baratinho venderá mais?
Sonho de outra noite de verão
Fiquei pensando: o produtor vende a caixa por esse preço, R$ 24,00 a unidade. Faz o manuseio (separa, empacota), o despacho, a cobrança, e sabe-se mais o que exista nessa logística. Se o sujeito chegar lá com uma carroça e mandar:- Coloca mil caixas aí em cima...
Será que o preço fica mais em conta? Deve ficar, não? Aqui custa, com desconto, cerca de R$ 130,00. Façamos a conta de 100% de imposto em cima do preço do sítio (R$ 24,00) e agora vamos suportar o insuportável, aceitar o inaceitável, e... explicar o inexplicável... ou, quem quiser, que tente...