Saturday, November 21, 2020

Quando as coisas ficam Graves

Introito

   Não é sempre que acontece, mas às vezes as coisas ficam Graves. A gravidade (sic) sempre traz algum risco, mas este faz parte da brincadeira. O degustador que tem suas curiosidades também gosta de forçar os limites.

Graves e Château Magence

   Graves é uma denominação da margem esquerda de Bordeaux, onde as uvas são eminentemente Cabernet Sauvignon e Merlot, e com alguma participação de Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot. Tá vendo? Petit Verdot - principalmente - é coadjuvante. Normalmente entra com 2% ou 3% do corte. É uma uva de amargor marcado - pelo menos aqui na sulamérica (sic). Por isso ninguém por lá faz vinhos 100% Petit Verdot. Quem é esperto e bebe sulamericanos (sic! - difícil esse binômio andar junto) já sabe que deve ficar atento...

Graves... uma das primeiras regiões do que seria a França a receber vinhas plantadas pelos romanos. Moedas do Século I Antes Cristo(!), encontradas em um poço do próprio Château Magence, atestam os fatos. Daí que a própria moeda ilustra o rótulo dos vinhos da propriedade, como a alertar o bebedor da antiguidade da região. Dizem que ela foi a primeira a produzir vinhos de qualidade em Bordeaux. Consequência direta, foi a primeira região a exportar vinhos para a Inglaterra, ainda na Idade Média(!). Como se não bastasse 😱, Graves é também o lar do clarete. Clairet para os franceses, e Claret para os britânicos, esse estilo de vinho é menos concentrado que um tinto, e mais potente do que um rosé. Para quem prestou atenção - mas não entendeu (risos!) - é citado por lady Mary Crawley no seriado Downton Abbey, ambientado a partir da segunda década do Século XX. Ela cita que o clarete estava servido - antes da refeição - sugerindo um vinho para abrir o apetite. Fontes pouco suspeitas me afirmam que bons claretes são vinhos de personalidade; podem ser usados como aperitivos ou mesmo acompanhamento para certas refeições. Algum dia tento encontrar um...

   Château Magence foi fundado em 1761 por Jean de Majence (assim, com "j"), e hoje é administrada pela sétima geração da família. A próxima está pronta para continuar o trabalho de seus antepassados.

Château Magence 2001


Comprei minha garrafa do Château Magence 2001 há muitos anos, enquanto conversava com o Daniel, então gerente da de la Croix. Tinha pego por escolhas próprias o bom Carinator (que levara anteriormente por indicação dele), umas garrafinhas da safra 2009 do borgoinha (sic) Premier Cru do Comte Armand - depois de, também por indicação, experimentar os bons Domaine Clotilde Davenne -  e então virei-me para ele: - Daniel, o que é que estou deixando passar? Que gema escondida você tem aqui e eu não conheço? O Daniel riu e não hesitou em apontar para o Château Magence 2001: - Tem 15 anos, está pronto para beber, mas pode guardar por mais cinco ou seis, tranquilamente. Lá fui eu para casa todo feliz, levando também um Magencinho (sic), que agora degusto, no limite de sua boa idade. Nesta safra, é um corte 50% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot e 20% Cabernet Franc. Notemos que a safra 2001 não foi exatamente uma grande safra. Foi 'boa', mas não 'grande'. A 2005 foi 'grande', parece. Falemos desta, a 2001. Frutas ainda sobrevivem. Negras? Vermelhas? Ambas? Então, não consegui distinguir. Tabaco (café?). Algo mais, não consegui perceber. Tento dizer que ainda é um vinho de boa complexidade no nariz. A Cabernet está presente na boca pela picância, mas precisa estar atento. É uma picância leve - não lembra exemplares mais rústicos da CS. Os taninos estão resolvidos; harmonizados com o álcool e a madeira. Corpo médio, acidez viva! Foi um belo par para o bifão ao molho gorgo (única especialidade da casa). Para 19 anos, uma surpresa! Taí mais uma daquelas classificações de 'felicidade engarrafada'. Bebi poucos Graves na vida. Mas arrisco dizer que quando sua vida ficar Graves, será sinal de bons momentos pela frente. A safra 2010 estava à venda (esgotou recentemente) por R$ 210,00. Uma pechincha. Quem teve a sorte... parabéns... Sobrou um pouco. Acho que deixarei para entrada do jantar de amanhã...

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