Saturday, March 6, 2021

Chile e França

Introito

Há muito, muito tempo, em uma galáxia distante... não! Nos dias atuais, aqui mesmo nesta galáxia, Sistema Solar, planeta Terra: um presidente mais energúmeno do que importadores de vinho mantém uma guerra civil invisível. Seus soldados, mandados para o sacrifício como o foram os combatentes da Batalha de Somme - aos milhares! -, são seus pobres concidadãos desavisados e crentes de que seu presidente governa para o bem da pátria, e não pela conveniência de livrar da Lei seus filhos criminosos - além de si mesmo. O pior dia dessa batalha contabilizou quase 20.000 mortos. Aqui estamos perdendo quase 10% disso todo dia, e nem estamos em guerra. Enquanto isso, nossa elite intelectual continua dormindo em berço esplêndido. Por que continua acovardada? E, sendo covarde, para que serve, então? E não, a História não vai cobrar-lhes isso, o que é uma pena!

A Sra. N, Côte-Rôtie e o Antiyal

Já comentei que Dona Neusa, a sra. N., debutou no blog em 2016 com uma missiva pedindo socorro a este enochato. Chegamos em 2021 com uma sólida amizade carinhosamente alimentada durante esse tempo. Por ocasião de uma viagem ao Chile, ela e o Wilson me trouxeram de presente um... um... um Antiyal! É um ícone chileno desde... sempre! Quer dizer, desde quando o Alvaro Espinoza começou a plantar suas vinhas, em 1996. Don Flavitxo o conhece bem. Arregalei os olhos porque sabia o preço desse vinho no Chile, à época (lá por '17). Era caro 😱... Jamais julguei-me merecedor de tamanha consideração por parte do casal... De outra feita, indo para 'lá', justo na capital do mundo, Noviorki, e dispondo de mão-de-obra escrava para trazer uma caixa de vinho - colocaram o genro para carregar as malas -, mandaram que eu coordenasse a compra, a ser rateada entre eles, o Akira e eu. Orgulhoso e satisfeito com mais essa prova de confiança, lá fui procurar as melhores opções que pudessem ser concentradas em uma ou duas lojas. Veio o Côte-Rôtie Ampodium. Não é barato não, mas afinal... é um Côte-Rôtie... Eis que chegou o dia de uma reunião, apenas a segunda em um ano, e ponderei que seria um evento regado a vinhobão. Ôpa, isso é nome de blog! 

O USD 80,00 Antiyal vs. o USD 79,99 Ampodium

Pois é, revelei os preços logo de cara. Acho - quase certeza - que os preços variaram de quando D. Neusa comprou essa garrafa. Para mim era um vinho de uns USD 130,00. O Chile viveu uma crise cambial - muito menor do que a nossa - e creio que Antiyal manteve seu preço em Pesos, sendo 'reposicionado' em termos de 'mercado'. Atualmente custa 80tinha. Ampodium custa um pouco mais, mas consegui uma oferta em 'promo' lá em Noviorki, a 79,99.  Assim, em termos de preço atual, temos uma comparação 'justa'. Servi duas taças para a sra. Neusa às cegas. Antiyal primeiro. Ela cafungou... - Tempranillo. Não sei porque, é um insight. - disse-me. Logo chegou a segunda taça. Ela cafungou. Cafungou e cafungou. Olhou para mim: - Tem aquele toque animal... Syrah? 
Fomos conversando mais um pouco, enquanto os vinhos abriam mais um tanto (aeração prévia de uma hora em garrafa. Tirei um dedinho logo que abri). Provoquei: - A senhora não sente um ligeiro tabasco no primeiro? Ela voltou a cafungar. Cafungou e cafungou. Olhou-me entre rindo e surpresa: - Não pode ser um Carménère... você não compra mais vinho chileno... 
Sorri e decidi passar à tortura. Perguntei qual parecia-lhe o melhor. O segundo, foi a resposta. - Mas o primeiro vale a dobro do segundo?, perguntei. Ela não vacilou para dizer: - Não, o dobro não vale. Foi quando passei ao último grau da tortura: - E se o primeiro custar a metade do segundo? Ela riu: - Aí não dá... 

Bem, Antiyal não custou o dobro de Ampodium, nem em seus dias de glória (sic! rs!). Mas custou bem mais caro, no Chile. No mercado mundial, pode ter mantido o valor. Só é desesperador que um produto chileno custe (ou tenha custado) USD 130,00 no Chile - ou mesmo os USD 80,00 atuais -, e tenha um preço médio worldwide de USD 52,00! E aí, saiu do Chile por quanto?! Tá parecendo um certo presidente de república bananeira que não respeita sua própria população!
Ampodium 2014, 100%  Syrah, bem notado pela Neusa, apresentou toque 'animal' e violetas. Para mim, muita fruta, esse mesmo toque animal, couro, café? Boca em boa composição de madeira, tanino e álcool muito bem integrados, acidez média, boa persistência. Antiyal 2012, 49% Carménère, 35% Cabernet Sauvignon, 16 Syrah, é um vinho onde a Carménère, embora quase majoritária, não fede à Carménère. Pelo contrário: ante vinhos com menos de 15% dessa cepa (varietais onde abaixo de 15% o corte não precisa ser mencionado) que ficam completamente impregnados por ela, em Antiyal a Carménère quase não aparece. Tá, depois que você percebe fica difícil cafungá-lo sem notar a presença - palavras da Neusa, que endosso. Mas se não estiver atento, quase passa desapercebido. Isso proporciona um nariz rico com frutas e toques do tabasco típico da Carménère também presentes. Portanto, muita especiaria bem 'camuflada'. Está em ótimo momento para ser consumido: boca com tudo muito equilibrado, a menos da tal da acidez. Ela falta. Torna o final um pouco ligeiro, a persistência deixa um pouco a desejar. Se tivesse esses componentes, poderia competir em melhores condições. De qualquer maneira, é preciso registrar que Antiyal não fez feio onde muitos ícones chilenos cairiam de joelhos. A pergunta que não quer calar é: custando em torno de 50 dóla worldwide, por que pedem tanto por ele no Chile? Mas por 50 dóla ele come o mercado pelas bordas. Cuidado com ele! (sic! risos!).

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