Sunday, July 18, 2021

Noivas de Baco 2 - A vingança

Introito

   Róliúdi já nos soterrou em milhares de toneladas de fétido material orgânico disfarçado de suas sequências que danificam nossa inteligência com sequelas graves. Títulos como 'o retorno', 'a vingança', 'agora é pessoal' e assim vai ad nauseam, sobram na programação de tv (suadamente) paga com nossa labuta diária. Que as pessoas acordem desse torpor é, reconheço, sonho de uma noite de verão. O ser humano gosta de famosa lei do menor esforço. E não falo do brasileiro não, falo do Homo sapiens. É triste, mas é a verdade. A parte boa de escrever sobre vinho no brasio é que esse público tende a ser mais crítico, colocando o cérebro a funcionar com maior frequência.  Então, se não podemos sonhar com usuários abandonando em massa os canais pagos, ouso imaginar que os bebedores brasileiros algum dia darão um via il culo aos importadores energúmenos e começarão a racionalizar suas compras. Estamos na Era da Informação. Ela se propaga... volto ao assunto.

A vingança

   De vingança, essa postagem nada tem. Aconteceu apenas que, no meio da degustação dos burge, a vestal Dayane propôs apresentar um vinho na quinta-feira. Foi a deixa para a Noiva de Baco Eduardo Viagens (sic!) imediatamente sugerir outra reunião, dessa vez em minha casa, local oficial dos cultos da confraria. A Noiva de Baco Gustavo ficou de pensar o cardápio, e não demorou para sugerir um Fetuccinne Alfredo com Bisteca Fiorentina. Entre adesões e algumas pessoas impossibilitadas, a adesão do grupo ficou clara e o encontro estava viabilizado.

Noivas de Baco e Vestais do Templo juntos deste Prelado. Da esquerda: Gustavo, Dirlene, Riana, este Prelado, Luciana, Tatiane e o Eduardo tentado operar o celular sem cortar nossas cabeças. Isabela, Dayane, Renata e Ricardo, participantes mais frequentes dos Cultos, não puderam comparecer, o que foi uma pena. Esperamos ainda que outros participantes juntem-se a nós tão logo professem sua fé. Anunciado o cardápio, lembrei providencialmente que sua procedência - Florença - situa-se na região de Chianti, e outras DOCs próximas seriam Brunello di Montalcino e Vino Nobile di Montepulciano. Nunca se perde a esperança de que alguém traga um Brunello, não é mesmo? 😝 Ainda que dificilmente alguém levasse... 😔

A bisteca e os vinhos

Alguém ofereceu entrada com salame e presunto, e claro ninguém recusou. Começamos com um tinto, enquanto o Eduardo não aprecia com o prometido espumante. Também não ouve reclamações. Em dado tempo, o Gustavo apareceu com seu prato, e também não houve quem se fizesse de rogado. Nota-se sem a menor dificuldade um fervor religioso profundamente arraigado em todos... Baco gostou... A maior parte dos devotos acabou comparecendo com Chiantis. A esperança é a última que morre... mas morreu mesmo (rs); ninguém levou um Brunello. Contudo, antecipando o fato, este Enochato guardara algo diverso para contrapor às demais oferendas.

Começamos as orações embalados no I Colombi Chianti Classico 2015 ofertado por este escriba tão logo o Gustavo chegou para iniciar os trabalhos. Fruta vermelha muito evidente, taninos e álcool harmonizados, corpo e acidez médias, embalou nossas primeiras conversas enquanto as pessoas iam chegando aos poucos. O clima de confraria não permitiu-me prestar maior atenção às características de cada vinho. O mais importante foi que nenhum decepcionou. Depois dele veio o Freixenet, um Cava muito conhecido e de bom equilíbrio, mostrando que não, o espumante brasileiro não é o segundo melhor do mundo, perdendo apenas para os de Champagne. Na frente dele estão - além dos Cava - os Cremant da Borgonha e Alsácia, os espumantes do Loire, os portugueses de Bairrada e Douro, os americanos, sul-africanos, australianos, argentinos, chilenos (até eles!), ingleses, suecos, dinamarqueses, suíços, finlandeses, suecos (eles entraram de novo na fila com sua segunda linha e ficaram na nossa frente! 😫) e noruegueses. Só pra citar alguns, claro. Saibam disso e sejam menos ignorantes; nosso espumante é um embuste. Bem, a Luciana chegou com um Chianti Clássico Malaspina 2018. Já experimentei da safra 2015, duas vezes uma está aqui. É um vinho que gosto, e destaca-se na faixa de preço. A Dirlene compareceu com um Chianti Podere Primo também 2018 e - olha lá! - pertencente ao catálogo da mesma importadora do Malaspina, a Cia Bel, mantenedora da loja de internet  Lovino - sucessora do Empório Festval (era assim mesmo, com "t" mudo). Este enochato apresentou um Gattavecchi Vino Nobile di Montepulciano Riserva 2013. Foi importado pelo Verdemar e esta à venda no Savegnago Passeio pela bagatela de R$ 200,00. É importado também pela... Lovino!, mas o preço lá está mais alto (R$ 350,00). Lá fora é um vinho de USD 20,00 (pelo menos R$ 100,00!), o que mostra que a Lovino dá um pulo fora da casinha pelo menos nesse vinho. Esse tentei reparar um pouco mais, afinal era meu vinho. Marcou pelas notas terrosas e fruta evidente no nariz, com boca marcada por boa acidez, mineral, taninos mais firmes aliados a 30 meses em barrica francesa. Está pronto e muito bem acabado para consumir. Um bom vinho que, acredito, arrancou suspiros das vestais e deixou arregalados os olhos das Noivas. Como sobremesa, brindei os convivas com um Sauternes do Château Doisy-Védrines 2016 acompahado de um roquefort francês. Apresentei finalmete um dedal  para cada do Adriano Reserva Particular sem vintage (mas engarrafado em 2001), que abri em fevereiro deste ano, e estava na geladeira.
   Como último registro, cito conversas com as vestais vindas de S. Paulo. Elas reclamam do preço dos vinhos por aqui, no umbigo do estado. O Akira, vindo da cidade grande para fazer doutorado por aqui nos idos de 2001, já dizia o mesmo em sua época. E pouco tem mudado desde então e até o momento, com a diferença de muitos e muitos compradores locais migraram para a internet como ponto preferencial de compras. Recuperando o dito, a informação se propaga... as pessos chegam de fora com suas impressões, os locais também percebem a diferença de preços cá e lá. Os lojistas, todos eles, parecem conformar-se com a situação. Não é o caminho.

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