Saturday, February 19, 2022

Degustação surpreendente e uma tragédia mais que anunciada

Introito

   Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, já dizia o indefectível Walter Barelli. Mas, a bem da verdade, no brasio tudo se resume à mesma coisa: ineficiência secular, não é comigo e por último, mas não menos importante, o povinho fêla-da-putxa que Deus colocou aqui, como descrito naquela célebre piada onde o Todo-Poderoso vai narrando a seu Filho a distribuição de catástrofes pelo continente sul-americano: vulcões aqui, frio extremo ali, terremotos lá, e numa vasta porção de terra com bom tempo, estabilidade geológica e sem vulcões, mas ocupada pelo tal povinho. Um microcosmo desse imenso país é o Rio de Janeiro. Acho que a população de lá é mais estúpida. Deve ser o calor. Einstein disse isso sobre o brasio, mas ele só visitou o Rio. Feynman também não teve tão boas impressões de lá. Escrevi um conto tendo-o como personagem (o do Einstein nunca foi para frente), e narrei seu encontro com Vinícius e sua influência em algumas linhas da segunda parte de A Bomba Atômica. Voltando ao Rio. Alguém está lembrado de uma entrevista que Moreira Franco concedeu a Marília Grabiela quando ele era governador (1987–1991)? Acusou São Paulo de arquitetar a falência carioca. Saiu enxotado pelo Brizola, e na sequência vieram, dentre os mais notáveis, Anthony Garotinho, sucedido pela Benedita da Silva em mandato tampão devido à candidatura presidencial do primeiro, Benedita que tentou a reeleição e com a máquina estadual na mão levou uma coça da... Rosinha Garotinho, eleita com o dobro de votos da ex-governadora. Depois chegaram o presidiário Sérgio Cabral, Pezão e Witzel... do qual contam que o assunto predileto no início do primeiro mandato de governador era... seu segundo mandato... na presidência da república! Toda essa fila de capazes e desinteressados homens (e mulheres) públicos(as) sempre conviveu com as tragédias que querem fazer parecer novas, mas não são:
  • Deslizamento soterra e mata 6 no Rio (Folha, 1996)
  • Petrópolis ainda tem 28 desaparecidos (Folha, 2001)
  • Número de mortos em Petrópolis já chega a 16 (Estadão, 2003)
  • Situação de Itaipava é a pior desde 1988, avalia Cruz Vermelha (Portal G1, 2008)
  • Número de mortos por deslizamentos em Angra chega a 35, mas pode dobrar (BBC News Brasil, 2010)
  • A longa noite em Petrópolis: cidade conta 16 mortos e busca desaparecidos (Veja, 2013)
   Precisa mais?! Porque tem! A de ontem é apenas o mais recente episódio da tragédia que repete-se vezes sem fim. Os fatos que acompanhamos em 2022 são mais que anunciados... assolam-nos há 25 anos - há mais tempo, claro, 25 anos apenas conforme registrado aqui - E as desculpas são sempre as mesmas. É assim que caminhamos para nosso próximo pleito: com mais do mesmo ou tentando alguma saída. Qualquer saída. Não voto em incompetência comprovada. Em corrupção comprovada, menos ainda.

Vinho e Turismo: Argentina e França

O pessoal do Vinho e Turismo, parceria entre a empresa Caminhos do Turismo e o Shot Café/Vinho e Ponto São Carlos, reuniu-se em seu encontro mensal. Conforme decidido anteriormente, seria feita uma comparação entre Malbecs, um de Cahors, na França, e um Argentino. A degustação foi realizada às cegas, mas comentarei direto as impressões sobre cada vinho. Mission de Picpus Malbec 2016, francês, nariz fraco e um pouco doce, baixa acidez, com boca simples e final um tanto curto. Orfila Malbec Roble 2016 mostrou-se bem vivo, boa fruta, chocolate (café?) que repetiu-se na boca; taninos mais marcados e acidez bem mais presente, melhores permanência e final. E foi opinião foi geral, não apenas minha. Como a degustação aconteceu às cegas, creditei a melhor acidez ao francês, e... enterrei os chifres no chão... 😣 Mas não estava sozinho; parte considerável dos participantes atribuiu ao francês a melhor apresentação. Aqui um comentário: na falta de melhor avaliador, calço-me em algumas expectativas. Sem muito nariz para distinguir melhor as características de cada vinho, segui o caminho natural da acidez. E, para minha completa surpresa, ela estava bem melhor em Orfila. Então vamos a mais pesquisas. Curiosamente em português, o comentário mais recente no Cellartracker diz que é um bom vinho, embora caro por aqui, com acidez marcante(!) e bons taninos. Outras opiniões são igualmente favoráveis. Então não sei se nossa garrafa é que estava gorada e demos azar ou se o vinho é quem deixa a desejar. Pelas outras opiniões... De qualquer maneira, é um vinho de USD 16,00 'lá', em safra antiga (dóla = R$ 4,00; USD 16 x R$ 4 = R$ 64), vendida a algo como R$ 220,00. Aí é assim: ah, tá; dóla subiu, empresa remarcou. Certo. Mas muitas importadoras não remarcaram. Até onde acompanho, essa é uma característica das tubaronas. Orfila é um vinho de USD 11,00 'lá' (EUA/Inglaterra). Pergunta que não quer calar: saiu por quanto, da Argentina? Nosso frete deveria ser mais barato 🙄. Bem, o imposto não é 😣. Mas é Mercosul!😮 Uma confusão. A premissa do blog é comprar o preço 'cá' versus o preço 'lá', então comparação por comparação (uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa), no preço 'lá', o valor cobrado pela Vinho e Ponto (R$ 99,00, acho; é menor que R$ 100,00), está bem adequado. Orfila faz boa figura entre sul-americanos recentes que tenho bebido, principalmente pela acidez. Pergunto-me se resiste aos portugueses que tenho experimentado (Cedro do Noval, MOB3), mas isso é assunto para uma competição taça a taça.
   Como comentário final, a estória da franquia e seus vinhos exclusivos. Já comentei isso. Encontrei Orfila Malbec em outra loja, possivelmente em safra diferente. A franquia não tem bala para manter uma carteira exclusiva de fato? Que pare com a viadagem de um marketing enganador e acerte-se dentro da camisa. Mentir e ser desmascarado assim, de maneira tão fácil, pega mal.

Conclusão

Orfila revelou-se um ótimo representante argentino, enquanto Picpus apresentou-se como péssimo desafiante francófilo - pelo menos garrafa a garrafa. Não é possível que Cahors esteja limitado a um vinho tão simples como esse. Estou lendo um livro sobre culinária francesa, e há o registro de que algum Papa da época de Avignon era dessa região, e estando no Rhône, foi para Cahors com sua Carroça Papal (🤣) e falou - Sobe! para os viticultores de lá, levando-os para o que viria a ser Châteauneuf-du-Pape. Mas não é possível que Cahors nunca tenha se recuperado... isso aconteceu lá pelos idos de 1300 e bolinha... Por outro lado, como comentado, o problema pode ter sido da garrafa. Pelo preço (R$ 220,00), não sinto-me convencido a tirar a prova dos nove. Tentemos o próximo vinho!

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Esta postagem foi alimentada pelo final do Quinta da Alorna, que havia bebido nos dias 16 (postado) e 17 (não postado). No dia 17 estava um pouco mais azeitado, mas encontrou sua melhor forma hoje. Sinal de que minha percepção anterior, de que o vinho precisaria de alguns anos para amaciar, e que apenas o processo de oxigenação lenta seria capaz de fazê-lo, mostrou-se errada, para mais uma surpresa deste Enochato. Ele arredondou bem, mostrou-se com boa fruta no nariz e boca bem melhor, com boa acidez e persistência. O final médio coloca-o a nível próximo do já pronto Cedro, do qual tenho gostado. Mas acho perigoso abrir um vinho e deixá-lo esperando três dias para beber...


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🐭 Rata!
Alertado pelo Jairo, proprietário da Vinho e Ponto São Carlos, o vinho argentino é o Orfila Malbec Roble, uma linha específica da Orfila, que também conta com a versão Roble de Cabernet Sauvignon. Comenta ainda que provavelmente a Imigrantes Bebidas comprou o vinho mais simples de alguma loja da V&P e o vende a R$ 109,99 contra os R$ 68,00 praticados pela franquia. Não sei se alguma loja poderia abastecer a concorrência com vinhos da franquia - é uma questão contratual - e espero que a franquia em si não tenha feito isso, também. Senão, como fica sua já combalida propaganda de vinhos exclusivos? Observe-se ainda o erro deste Enochato ao tomar o vinho errado na comparação de preços.

Os vinhos degustados, preço 'lá'.



Orfila na loja concorrente. Mentir deveria ser pecado (sic) punível na forma da lei 😣.


Registro das reportagens citadas. O Enochato não mente... 😌









4 comments:

  1. Carlos, bom dia ! Seu leitor da madrugada já está à postos e precisa fazer uma correção. O argentino degustado foi um Orfila Malbec "Roble". Uma linha específica da Orfila, que também conta com o Orfila Roble Cabernet Sauvignon. O rótulo da Imigrantes, apresentado na fotografia, é o Orfila Malbec, uma linha abaixo do Roble, uma linha de entrada (Torrontés, Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Malbec), mais simples, vendido na V&P por R$68,00 contra os R$109,99 da Imigrantes. Muito provavelmente, nesse caso, a Imigrantes comprou esse vinho de alguma loja da V&P e o está revendendo pelo site. 🍷🍷🍷

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    1. Jairo, obrigado pela leitura e pelos comentários. Publiquei uma errata, o que justifica a revisão do texto também, acrescentando "Roble" ao nome do vinho.

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    2. Qualquer pessoa pode chegar na referida franquia e comprar vinhos. O que vai fazer com eles, penso que não compete à franquia. Se isso fere alguma lei (não sei dizer), também é problema de ambos, não dos consumidores, que podem comprar onde quiserem.
      Desejo-lhe saúde e bons vinhos.

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    3. Sim, qualquer pessoa física pode comprar vinho na franquia. E sair com uma nota de consumidor final. Tenho dúvida de que essa nota sirva para dar entrada de mercadoria na empresa (Imigrantes, no caso), mas a impressão é que não! Daí minha impressão de que tem algo estranho no ar.

      Obrigado! Saúde para todos, e mais vinhos!

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