Sunday, April 3, 2022

O ‘Prestígio’ de Doria

Introito

Todo  truque  de  mágica  consiste  em  três partes ou atos. A primeira parte chama-se ‘A Promessa’. O mágico mostra algo comum. Um maço de cartas, um pássaro ou um homem. Ele mostra um objeto. Talvez  peça que o inspecionem  e  vejam  que  é de verdade. Mas,  é claro, provavelmente não é. O segundo ato chama-se ‘A Virada’. O mágico pega  o  objeto  comum  e  o  transforma  em  algo  extraordinário.  Você  está procurando  o  segredo,  mas  não  vai  encontrar.  Porque  não  está  realmente olhando.  Você  não  quer  saber,  na  verdade.  Você  quer  ser  enganado.  Mas ainda não  aplaude porque  fazer algo  desaparecer não  é o  suficiente. É preciso trazê-lo de volta.  Por  isso,  todo truque de  mágica tem um terceiro ato. A parte mais difícil. A parte que chamamos de ‘O Prestígio’. Locução introdutória do filme O Grande Truque (The Prestige), 2006.
   Ainda: quem já assistiu algumas partidas de futebol americano talvez tenha notado uma tática muito sutil. Quando um time está com a posse da oval (não chame aquilo de bola! - rs), precisa dar a saída e está em um aperto tático, os jogadores fazem toda aquela cena para a saída, provocam grande tensão e, a dado momento, a sugestão do recuo da oval - sua mera sugestão! - leva todo o time adversário a precipitar-se na saída de sua posição queimando a jogada. O preparo da jogada que precede a burla é a parte mais difícil. É ‘Prestígio’ como citado acima. Doria fez exatamente o mesmo nestes últimos dias. Com seu jogo de cena não apenas desarticulou Moro, como fê-lo embananar-se de vez. Lembro-me de quando era criança e nos reuníamos para jogar futebol. Sempre tinha um menino mimado na turma: reclamava de tudo, não aceitava as regras e ainda queria apitar o jogo. Se era o dono da bola e sentia-se contrariado em seus desejos, levava-a embora na frente de todos - o que bastava (e precisaria mais?!) para que o chamássemos de viadinho (sic). Assim ficamos na disputa eleitoral: além dos dois principais candidatos sobraram um tolo, um viadinho e um energúmeno. E o energúmeno está em terceiro, agora! Percebeu o tamanho do buraco? Lula tem a senha certa para eleger-se: basta dizer que vai colocar bolsonésio na cadeia pela sua atuação criminosa na pandemia. E sequer precisará procurar outros motivos; esse já bastará. 

Corton

Enquanto recupero-me dos sintomas mais graves de uma Covid longa - o que quer que seja isso - abusarei da indulgência do leitor e recobrarei outra degustação passada. Aconteceu no mesmo aniversário do Mon Aieul - foi uma ótima noite... e ainda teve outros. 

Corton é uma AoC em  Côte de Beaune, na Borgonha, erguida em torno da montanha do mesmo nome. Parece que inicialmente plantavam-se apenas uvas tintas, mas por ordem e graça de Carlos Magno - o Charlemagne - uma colina foi coberta com uvas brancas para que o vinho produzido ali não manchasse de vermelho suas barbas igualmente brancas. Esse trecho ficou conhecido como Corton-Charlemagne. Os tintos são bastante tânicos, como também o são aqueles de Pommard, região de onde já bebi um ótimo, o Clos des Epeneaux Monopole, Domaine du Comte Armand 2005, que destroçou um Sassicaia. Teve detrator insinuando que o Sassicaia estivesse estragado. Não leu a postagem, claro, pois descrevi este último assim: É um bom vinho: equilibrado, acidez média, bons taninos... Impressionou pela qualidade, porque é bom, e decepcionou pelo preço... Recobrando, talvez pudesse dizer que Sassicaia é um tanto delicado para brigar com um Borgonha, mas acho que a declaração não se aplica bem. Vinhões brigam com vinhões. Se Sassicaia não brigou, é porque falta-lhe. De Conton bebi mais recentemente o Grand Cru "Le Gognet" 1999 do Bertrand Ambroise. Airei por umas 5 horas - tinha quase 20 anos... - e faltou ar... Isso dá ao leitor uma ideia da potência desses vinhos.

Corton 'Clos des Cortons' Faiveley 2012


O que o Akira trouxe para meu aniversário de 2018 foi o Corton 'Clos des Cortons' Faiveley 2012, um monopólio do grande produtor Faiveley. Olhei para ele surpreso, perguntando se não era um tanto novo - naquele momento ninguém imaginava o quanto! - e recebi a resposta: Nunca bebemos um Borgonha novo... alguma hora teríamos que experimentar... Ele havia erado o vinho por umas 4 horas, e quando chegou deixamos para o final. Foram cerca de 7 horas de aeração, portanto. Achei pouco comunicável; boca onde o carvalho ainda não se afinara com os taninos misturados a uma massa de frutas a fazer os olhos arregalarem. Não tinha a graça de um Borgonha em seu bom momento, embora a acidez fosse muito presente. Mesmo com boa persistência, o conjunto da obra destoava um tanto. Acho que o Akira surpreendeu-se também. Vários outros Borgonhas - mesmo Grand Crus - podem estar mais prontos para degustação ainda jovens. Lembrando-se, claro, de que Borgonhas são tidos como vinhos de três idades, por envelhecerem bem, e suas características vão-se alterando com o passar do tempo. Experimentar um Borgonha de boa qualidade em sua juventude é uma experiência interessante sim. Fizemos certa vez, com comentários por Don Flavitxo, e está aqui. Mas não dá prazer isso um Corton...

4 comments:

  1. Cuidado com homofobia heim!
    Seu candidato já desistiu? De onde você tirou que o Bolsonaro será preso pela atuação que você diz ser "criminosa" na pandemia? Você já o julgou e condenou? Isso não é atribuição do judiciário? A propósito, veja hoje nos jornais que as pesquisas mostram que a população está diminuindo a reprovação pela atuação dele em relação à pandemia.

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    1. Não sei onde o utente viu homofobia... possivelmente porque, ele mesmo homofóbico, procure aliados algures. Inclua-me fora dessa...

      Ainda, não lê nada ou não sabe de nada ou despreza a informação que não lhe agrada. Esqueceu-se do relatório da CPI, que algum canalha mantém embaixo do braço, ou enrolado dentro do c... c... cacifo que lhe convém? Portanto, não é pré-julgamento, é pós! Estou baseando minha opinião em relatório oficial: Lula pode prender bolsonésio simplesmente deixando a lei correr - sem projegê-lo. Os trâmites são sim os jurídicos - embora não seja o que bolsonésio defenda, não é mesmo?

      População diminuindo a reprovação pela atuação dele? Mas responda então, idiota: por que é que houve desaprovação?

      NÃO BASTASSE, CAIU DE 54% PARA 46%. CANALHA! VEJA O QUE TENTA ESCONDER! SÓ TONTO PARA ACREDITAR NESSE DISCURSO!

      Bem, é isso. Falemos de vinho.
      Obrigado pela leitura, por mais que ela em nada tenha-lhe contribuído para melhorar...

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  2. O blogger já foi comunicado.

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    1. É o máximo que um pulha anônimo consegue, não é mesmo? Criança...

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