Tuesday, May 2, 2023

Espanholeto vinhas velhas

Introito


   Há uma semana recebi uma não requisitada mas muito bem vinda avaliação jurídica de minhas manifestações políticas no blog. Amigo desde os anos 2000 - e portanto de confiabilidade acima de mais comentários -, ele ponderou sob o risco corrido por este articulista ao manifestar-se incisivamente sobre aquele presidente que trafegou pelos corredores da justiça contra a vontade e cujo processo andou para trás devido a uma suspeitíssima suspeição (sic) do julgador, baseada - até onde recordo-me - em supostas mensagens 'hackeadas' e impossíveis de se auditar como absolutamente verdadeiras. Face ao risco de um processo - desacredito um tanto da possibilidade, vide a baixíssima visibilidade do blog - com grandes custas, ainda se comprovando alguma verdade nas afirmações, há de se avaliar a aceitação dessas causas por alguns juízes, levando a discussão a instâncias mais altas e com mais custos. Assim, passei a semana revisando muitas postagens e reeditando alguns textos para torná-los críticos sem contudo invocar qualificações mais fortes. Não tenho um 'esquema' (sabemos quem o tem!) de proteção judicial para enfrentar processos. Talvez esse orador o tenha:


O link está está aqui, e pertence à seção de 'Cortes' do vereador por São Paulo Rubinho Nunes. Ele é explícito acerca de uma manifestação acontecida em Portugal:

...lugar de Lula é na prisão podia ser também, porque Lula e Ladrão são sinônimos...

...talvez a gente precise de uma intervenção mundial para as pessoas (daqui) entenderem que Lula é um bandido.

   O vereador é advogado. E, claro, não pretendo fazer um enfrentamento entre a opinião de meu amigo e a de Rubinho. Ele somente alertou-me para eventual processo e suas custas, capaz de gerar uma situação falimentar não apenas em mim mas em talvez 90% do brasileiros. Sobre nossa justiça - e também a respeito Ali Lulá - vem da Espanha uma matéria no mínimo controversa. Está em espanhol, mas traduzo um parágrafo para o leitor:

Para saber quem é Lula, é preciso saber o que é o Brasil hoje e como funciona o regime que rege os destinos dos brasileiros. O Brasil de hoje não vive em democracia, mas sim sob um sistema que pode ser chamado de ditadura da "corrupção". Esse sistema é regido por um triângulo formado por: a) a esquerda de Lula, seu "Partido dos Trabalhadores" e satélites; b) o Grande Centro ou Centrão, por sua vez constituído por diferentes grupos políticos; e c) o Supremo Tribunal Federal, que se tornou o órgão decisório máximo do país e atua como instituição política e não judicial. O que hoje se chama comumente de “democracia” no Brasil é o jogo de poder entre esses três atores, e de forma alguma o exercício da vontade popular.

   Os negritos são da própria publicação, os destaques em vermelho são meus. Note na reportagem quem é o autor... Assim seguimos, sem esmorecer e sem deixar de ser crítico das cafajestagens perpetradas contra o consumidor-eleitor destas plagas.

Loucos por promoções se trumbicam

   Conversava com alguém - quem? - sobre o comportamento desinformado do brasileiro. Poderia ser acerca de política, mas o assunto era vinho. A pessoa defendia a inclinação do consumidor-eleitor em aproveitar-se de 'promos' a qualquer preço, mesmo se a 'promo' não fosse 'promo'. Ontem mesmo recebi uma exatamente nessa direção, por isso compartilho com o leitor-eleitor-consumidor (rs):

    De R$ 947,90 por R$ 568,74 (desconto de 40%!) o consumidor pode levar... pode levar... pode levar um Fonseca Porto Vintage Quinta do Panascal 2008.


   #Sóquenão (sic! rs!)... é 'promo'! Veja,
   Na loja Garrafeira Nacional, em Portugal, o vinho custa R$ 280,00, exatamente a metade do valor aqui! Ora, a margem defendida por este Enochato como valor final razoável para um vinho no brasio é algo como 2x vezes o valor do produto 'lá'. A 'promo', com desconto de 40%, recai justamente nessa margem! Certo, o quase exato (sic! rs!) 2x é uma bela coincidência, mas mostra ao leitor-consumidor-eleitor o mantra incansavelmente repetido nestas páginas. Importadoras mais honestas preocupadas com o bolso do cliente praticam essa margem (às vezes menos!), enquanto outras trabalham com 3, 6, 9 vezes o valor original. Essa informação precisa circular - the spice must flow! - tanto quanto a de quem vota 'sim' no PL das fake news!

Atteca Garnacha Old Vines 2017

Havia bebido dele em 2021, por obra e graça do Ghidelli. E desta vez não havia um Percalo no meio do caminho - pela Madona! A fruta vermelha vem com tudo e preenche o olfato com gosto, a ponto de acobertar - para este Enochato - maior complexidade claramente presente. Tem algo dentro daquele trio café-chocolate-fumo muitas vezes difícil de discernir para este prejudicado escriba. Mas está lá, quem experimentar confirmará... A acidez tem destaque, os taninos encontram-se arredondados, nada rascante, um toque herbáceo com um pouco de especiaria - proveniente da madeira, creio. Tem boa permanência, provavelmente por culpa (rs) da acidez, e retrogosto presente, mas não identifiquei alguma particularidade. Portanto só posso confirmar a boa percepção inicial da primeira degustação, e passar à comparação de valores. A safra disponível atualmente em Enoeventos é a 2019, ao preço de R$ 195,00 (Enoclube) e R$ 230,00 (reles mortais). O valor médio lá fora (EUA) é de USD 16,00, o que dá, digamos, R$ 80tinha. Seu preço esperado (desejado...) aqui seria então R$ 160,00. O patamar de R$ 195,0 está, como dizíamos em confraria, 'no limite da compra', e R$ 230,00 (quase 3x!) dá as mãos para a tubaronice. Enoeventos tem compras melhores (próximas do 2x), e pergunto-me se acontece com ela algo similar ao 'fenômeno' Chez France, cujas críticas encheram algumas postagens passadas. Fica a impressão de que, entre preocupados com 'promos' chamativas e contabilidade - além de alguma tubaronice - estão perdendo a mão, Chez e Enoeventos. As 'promos' de Chez apenas trazem os vinhos para valores antes praticados normalmente (menores de 2x), enquanto Enoeventos, apesar de vinhos dentro do patamar 2x, tem escorregado consistentemente. E 'consistentemente' nesse caso pega muito mal. Por comentário final, pergunto se essa estória de clube ao final não divide Sua Majestade O Consumidor entre cidadãos de primeira e segunda classe. Isso soa terrível! Cada loja/importadora - e veja, todas têm! Diga-me uma que não! - procura cativar seu feudinho de felizes enganados com algum desconto como o Flautista de Hamelin encantou os ratos da cidade para dar-lhes fim na curva do rio. Você, leitor, é um rato de Hamelin? Se for, está bem, aproveite suas 'promos'. não sendo, que tal praticar meu esporte predileto, um bom pontapé nos fundilhos dos 'clubistas'? Se alguns insistem em manter um sorriso idiota, durmam com essa: nenhum dos conhecedores de vinho com quem converso e muitas vezes me influenciaram jamais assinou qualquer clube. Groucho nunca esteve tão certo...

Resenha de livro

Li há muito tempo O Incrível Congresso de Futurologia (Congresso Futurológico pela Editora Caminho, Portugal, denunciando um 'Incrível' por conta da edição brazileira), do Stanislaw Lem. O autor merece uma nota à parte. Muito mais respeitado como filósofo tanto quanto como futurólogo, produziu obras seminais dentro da ficção científica com qualidade realmente literária. Talvez seja o maior escritor de ficção científica desde sempre. Evitando polemizar, direi estar entre os dois maiores, e seguramente não em segundo...  Solaris (1961) é tido como sua obra-prima, embora muitos desconheçam a resposta tecnológica à obra eminentemente sociológica dada pelo próprio autor em A Nave Invencível, de 1964 (publicado na Coleção Argonauta - portuguesa - no número 264). Uma das abordagens icônicas do romance, reviver a memória de um cadáver pelo uso de... nanobôs! foi roubada na cara dura em algum filmeco classe "E" dos anos '90. Tem ainda o excepcional A Voz do Dono (1968) onde o autor trata do recebimento de uma mensagem de rádio alienígena pela espécie humana - alô, alô, fãs cegos do Sagan! Em O Congresso... temos o caboclo a participar de um evento acadêmico onde encontra um capiau também pesquisador que conta-lhe da quimiocracia, forma pela qual os governos mantêm os cidadãos crentes de pertencerem a um presente brilhante e destinados a um futuro glorioso e dignificante da espécie humana. É tudo uma ilusão turbinada à base de substâncias químicas - daí a quimiocracia... - induzindo a felicidade na população. O capiau tem um antídoto, e uma vez ingerido pelo caboclo revela-lhe um mundo diferente do conhecido por ele. Em outra rodada, o capiau volta e comenta sobre problemas com o antídoto: a realidade desnudada seria apenas parcial... Publicado em 1971, antecipou em uns 20 anos, pelo menos, o uso maciço de antidepressivos pela sociedade ocidental. Entendeu porque Lem é mais respeitado como futurólogo? Na verdade... esse nem foi um dos grandes acertos dele... leia para conhecer mais.

Voltando ao vinho,

10 comments:

  1. As importadoras citadas não estão virando tubaronas. Simplesmente, cairam na realidade. No final do mês as contas chegam. É fornecedor, funcionários, aluguel, impostos, água, luz, internet, marketing etc. Além disso, elas têm que cobrir perdas, ter capital de giro etc. Empresa é assim. Não é uma brincadeirinha. Ainda mais no Brasil. Toda importadora pequena começa com bons preços. Depois, cai na real. Ou fecha as portas. Simples assim.

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    1. Não, e absolutamente não! É conversa de quem nada entende de brasio, e menos de economia.
      É mais do que sabido: quem mais pena com o custo do país são as pequenas empresas e indústrias, porque é difícil atingir a escala. Depois disso, trabalhar em nosso mercado fica apenas 'suportável', mas não 'quase impossível' como é para os pequenos. Portanto cai por terra a argumentação do utente. Na dúvida, veja aqui!, https://www.youtube.com/watch?v=zpb5irmQe0o&ab_channel=MBLiveTV-LivesdoMBL ali pelo minuto 16 e seguintes. A Zeina Latif não é qualquer economista de esquina, ou o leitor tem algum argumento factual?

      Ademais, se o negócio fosse tão mal tocado a falência viria no primeiro ano! Ou o sujeito ficaria colocando dinheiro para cobrir as contas durante 9 anos (Enoeventos) ou 11 anos (Chez), sem perceber que está indo para o buraco?
      Não bastasse, mês passado Chez France comprou a Sociedade da Mesa! Deve estar faturando pouco...

      Portanto: como já sugerido, saia do lado dos bandidos e junte-se aos mocinhos. Deixe de ser problema e passe a ser solução. Simples assim.

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    2. Nossa! Tá nervoso? Vai pescar.
      Não discutirei economia com você, pois você não tem formação na área e não gosto de dar pérolas aos porcos.
      A propósito, quão grande é a Sociedade da Mesa? Qual seu valor de mercado? Não sabe, né? Ou seja, novamente chuta.
      E qual é o lado dos mocinhos? Onde compro vinho a preços que você acha justos?

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    3. Não, não vai discutir economia comigo. Vai discutir com a Zeina Latif! Oferece conversa mole, mas argumentação zero, como de hábito...

      A questão de quão grande é a Sociedade da Mesa importa? Claro que não! Importa uma empresa (Chez) que cresceu sob uma política de preços considerada 'honesta' não apenas sobreviveu - segundo você, não sobreviveria - como fez a aquisição de outra empresa do setor por menor que ela seja. E onde está escrito que eu chutei seu valor?! Que besteirol!

      Ao final, o caboclo sequer suspeita qual seja o lado dos mocinhos. Está bem na foto...

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    4. Sempre se escorando em google, YouTube e similares. Já que não tem background no tema, terceiriza. Muito bem.
      Mas você mesmo tem dito que a Chez France mudou. Que não pratica mais as margens que praticava. Até terminou um parágrafo de forma irônica, dizendo que ela deve estar faturando pouco. E cita as inúmeras críticas que fez a ela. Mudou de opinião?
      Aliás, não me falou onde comprar vinhos a bons preços.

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    5. Releia as últimas postagens e veja onde comprar a bons preços. Releia as respostas de hoje.
      Uso Youtube para corroborar o que já falei, e ouço que não tenho argumentos... é muita desinteligência... e o já comentado deserto de ideias.

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  2. Senhores, permitam-me entrar no diálogo. Normalmente os impostos de importação (II) estão na faixa de 60% independente do governo e sua filosofia social ( vou entrar nessa estória de não mencionar presidentes, partidos, etc kkkk). Isso, coloca uma margem diferente da política de margem das empresas do Brasi. Além disso como o anônimo falou tem outros custos ( logística, depósito, funcionários, etc). É uma equação difícil de resolver. Mas todos até hoje estão no mercado não é por motivos outros que não o financeiro... Mas o mercado é livre, inclusive para procurar novos fornecedores e aí vem de graça rótulos diferentes.. Viva.
    Luigi.

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    1. Olá, Luidgi.
      Há um ponto importante já mencionado inúmeras vezes para detratores energúmenos e talvez suas leituras das postagens somente não tenham pago a devida atenção:
      Custos como logística, depósito, funcionários e outros mais como promoção do produto e são inerentes aos importadores e lojistas de todos os países!

      Ademais, o imposto aqui é 60% contra 10% dos EUA, dá uma diferença de 50%. Ora, no meu entender, você compra um produto importado, digamos, $10, e paga 50%, o custo vai a $15. Não é porque vende-se a $20 que o imposto é $10! Considerando que o importador paga um preço inferior ao que vemos nas lojas do país produtor, e não me surpreenderia se num produto de $10 ele pagasse $7, então os 60% incidem sobre esses $7, o que traria o preço a $11,2. Para pagarmos $20 aqui, dá uma boa margem para o importador. Sim, desse valor ele tira todos os custos. A questão é se ele está preocupado em 'valorizar' os vinhos comuns, deixando-os na prateleira ou se tem 'atitude comercial' para dar-lhe vazão rapidamente (1 ano? Menos, preferencialmente) praticando uma margem mais convidativa.

      Os vinhos não saem nessa velocidade? Talvez tenhamos muitas importadoras no país. Mas isso é outro assunto. Já comentei: internamente compro por importadora. Por produtor, deixo para comprar lá fora. E nutro a paciência de aguardar os corpos dos maiores inimigos passarem boiando no meio do rio daqui dos fundos de casa.

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    2. Você se engana em relação ao que coloca em negrito. Não é tudo igual. O custo Brasil, não apenas em impostos, mas em maquinaria, pessoal, teansporte etc, é muito maior. Além disso, a logística é muito mais complicada, desde a importação, até o tamanho do país. Por fim, o consumidor brasileiro é diferente do estrangeiro. Ganha menos e consequentemente, consome menos. Ainda tem o aspecto cultural. O consumo anual per capita no Brasil é muito pequeno comparado com outros países. Isso faz tudo virar um ciclo vicioso.

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    3. O trecho mencionado - do qual o leitor discorda - diz que Custos como logística, depósito, funcionários e outros mais como promoção do produto e são inerentes aos importadores e lojistas de todos os países!Os impostos são mais altos sim. Nos EUA: 10%. No Brasil, 60%. Diferença: 50%. Um pelo outro não justifica os valores discreparem 300%.
      Mas espere aí: estamos comparando com os EUA. O vinho entra por algum oceano e precisa chegar ao meio do país. Aqui, grande parte da população está concentrada na região costeira, numa casca de uns 350 km entre o oceano e o interior. Complicada é a lojística , e não aqui.
      Concordamos: o consumidor brasileiro é diferente do estrangeiro. Pudera: o preço do vinho aqui é proibitivo, a começar pelo vinho nacional - é esse que fará o consumidor mudar de hábito, não o importado! Mas o preço do nosso vinho é ridículo. Ademais, invoca-se círculo vicioso para explicar as margens desonestas cobradas por muitas importadoras, mas despreza-se aquelas que trabalham com margens justas. Nada nessa conversa se encaixa direito. Lamento.

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