Tuesday, June 4, 2024

Uma surpresa surpreendente (sic! rs!)

Introito

A taxação é para os tolos.
Oenochato

   Sobre a estória da cobrança de impostos para importações até 50 dólas, a Miss-Brasil Primeira Drama, sem qualquer vitimismo, alerta, enfática: A taxação é para as empresas e não para o consumidor. Não sei bem o significado, mas abaixo de sua postagem no Tuíter apareceu uma contestação.


   Corriam os anos dourados do dóla a R$ 1,60. Eu faturava muitos dólas... e arrisquei comprar alguns filminhos da Amazon. Seriam taxados em 50%, eu sabia. Não estava ciente - e fiquei PuTo - quando ela incidiu inclusive sobre o frete declarado no envio. Isso tem nome: desfaçatez. Alguém acha que essa regra foi deixada de lado, em algum momento? De outra maneira: imposto pode diminuir, não importa o governo? Com subsídio - sempre para os grandes, como indústria automotiva, branca, etc. -, pode. Quando começarem a subsidiar o Fiel Contribuinte me avisem... desde sempre ele é o idiota a bancar toda a farra. Só falta explicar direito um detalhe: por qual motivo o governo dos pobres taxa justamente as compras pequenas, sabidamente realizadas pelas pessoas de menor renda? As próprias empresas informam isso: trata-se de itens de consumo muito pouco sofisticados, como peças de vestuário ou maquiagem simples, sem marca conhecida. São produtos de classes C e D, mesmo - note que nossa classe B aqui seria pobre 'lá'. Enquanto isso os bacanas podem viajar para o exterior 12 vezes por ano e trazer na faixa a mórbida (sic) quantia de 1000 dólas cada vez, absolutamente isentos. Houvesse um mínimo de honestidade intelectual por parte dessa turma, e os mais abonados seriam os primeiros a entrar na faca. O caminho a tomar está dado pelos cidadãos brasileiros da mais alta capacidade, idoneidade e sensibilidade social. Não são necessários retoques, basta ouvi-los:


   Ao final de tanta conversa mole, tanta picaretice e tanta desinformação, fie-se n'Oenochato; ele não o engana: a taxação é para os tolos! Porque apenas tolos permitem governos como os últimos que vimos - desde Martim Afonso de Sousa - prosperarem.

Uma quarta-feira preguiçosa

Feriado de quinta-feira... sugere uma quarta algo preguiçosa, à noite. A confraria #émuitovinho reuniu-se com convidadas especiais, e a sentida ausência da D. Neusa. Ela mandou lembranças do Canadá, enquanto embalava Kenzo, seu mais novo netinho. Lutando cá (risos!) começamos nossa reunião com o Chablis Vielles Vignes 2022 do Domaine de la Motte. Fresco com toques cítricos evidentes, boca com acidez presente - indo a média, não impressiona muito - bem equilibrado, com um salgadinho ligeiro denunciando a mineralidade típica da região. Mesmo essa acidez não tão alta propicia boa permanência em boca, e se comprado a bom valor vale quanto pesa. O produtor vende a 17,00€, dá quase 100zão; comprá-lo aqui por R$ 180,00 mostra como dá para trazer vinhos de fora, em pleno 2024, com margem satisfatória para o importador e boa para o consumidor. Sim, a detratoria logo dirá que logo a importadora vai falir, e toda a sorte de bobagens na qual quer acreditar. Estou comprando deles desde o ano passado, e continuam firmes... Enoeventos segurou a onda por uns bons cinco ou seis anos; sua virada, creio, foi uma opção de mercado. A Chez France prosperou e ainda comprou a Sociedade da Mesa antes de começar a subir seus preços para oferecer descontos de até 70%(!). Cada um com sua escolha... eu com as minhas, comprando nas melhores ofertas. Quer um vinho decente a preço condizente nos dias de hoje? de la Motte...

Nem só de branquinhos se vive a vida...

Apresentei inicialmente dois vinhos às cegas para um doelo (sic - é entre dois...). Após alguma discussão mais solta, os confrades - Celinha, Elvira, Liu, Salete e Ghidelli - se emendaram. Palpite de francês para o primeiro - apenas pelo buquê elegante a sugerir sua procedência, disseram alguns, mesmo antes de levá-lo à boca. Depois também continuaram no palpite. Tem sim um nariz rico em frutas, principalmente, e o pessoal apontou mais algumas notas conforme opinavam. Apreciaram a boca, com bom corpo sim, e opinaram estar muito boa - e isso não entendi. O segundo foi classificado como nariz inferior, não tão pronunciado, embora com boa fruta, e a boca pareceu deixar a desejar para mais de uma pessoa. O primeiro, para surpresa surpreendente (sic! rs!) foi o Casa Valduga Terroir Exclusivo Arinarnoa 2020, com 14% de álcool até bem equilibrados, mas cuja boca não me surpreendeu. Preconceito de minha parte? Concordei imediatamente com o buquê - surpreendeu mesmo. Mas na boca não, achei ligeiro, apesar dos taninos maduros - ele tem boa extração sim, mas não vai além disso. A falta de acidez pareceu não incomodar tanto os bebedores. Por sua vez a acidez do segundo vinho, o Cedro do Noval 2016, 13,5% de álcool, tampouco fez-se sentir. Estranhei uma turma tão habituada à acidez não perceber a diferença entre os vinhos. Depois fiquei matutando comigo mesmo - 😵 - o que poderia ter acontecido. A reflexão levou-me a recordações antigas, distantes, de quanto o próprio Cosmos era uma massa amorfa...

Degustação de priscas eras

Corria ali pelo ano da Graça de Nosso Senhor de 2015, ou 2016... o blog andava às mínguas, ao contrário de minhas aventuras etílicas. De repente nos reuníamos Isabela, Bete, Akira e este Enochato para nossas experiências. Numa delas aparece a Bete com seu vinho às cegas. Serve-nos com um sorrisinho artimanhoso... Akira e eu cafungamos, olhamos um para o outro e fomos direto ao ponto: Chianti. Era o melhor buquê de Chianti que provara. Já a boca... não lembro-me se o Akira reformou a posição para acertar a procedência, eu simplesmente achei estranha, não batia. Era um vinho chileno! No contrarrótulo, enfatizava-se a presença de... toques mediterrâneos(!). Alguém já ouviu essa descrição? É rara. E em um vinho chileno? Como pode? Óbvio... aromatizantes artificiais! (o grifo na imagem abaixo é meu).


   E o leitor pensa ser um produto exclusivo? Necas! Veja um concorrente,


   As páginas estão aqui e aqui. Não consigo ver outra explicação para um buquê tão... tão... tão francês(!), perfeito demais, na garrafa de um vinho brasileiro. Milagres existem, eu acredito neles... mas não, não estava diante de um nesse caso! Ele estava perfeito demais para remeter a um vinho do Velho Mundo... lamento se parto corações ou fero susceptibilidades. Há mais um ponto importantíssimo para prestarmos atenção: como a cepa Arinarnoa, absolutamente desconhecida para nós(!) pode nos remeter com tamanha força para a lembrança de um vinho francês? Não há algo soando errado? Ai émi véri sóri...

De volta ao encontro...

Por fim, servi o Quinta do Noval Reserva 2018. Estava sim fechadão, exibindo nariz com pouca fruta, boca com taninos ainda duros e só alguma acidez fazendo-lhe as honras na taça. Comecei a servi-lo já com três para quatro horas de aeração, e ele permaneceu irredutível. Na opinião geral, deve-se aguardar mais uns cinco anos. Relatei experiência similar com outro português, o Apontador, da Quinta da Romaneira, aqui. A diferença é que desta vez tínhamos outros vinhos, e então outra máxima deste Enochato fez-se valer - mais uma vez sem os confrades notarem:

Deixado livre, o melhor vinho sempre encontra as taças primeiro!

   Sim, ninguém notou mas... ao final da noite o Noval Reserva estava bem mais seco, e adivinhe de qual vinho sobrou mais? Exatamente... do Valduga. Não é má estima deste Enochato, é apenas o depoimento de como ficaram as garrafas. Convido os confrades a ficarem atentos a esse detalhe da próxima vez... Então não entendo como ele foi considerado o melhor - ainda que apenas melhor do que o Cedro. O pessoal não é boca torta... bem, o Ghidelli é - 🤣 - mas confesso: nesse dia ele estava inspirado e foi o primeiro a sugerir francês para o Valduga. Vai saber...

Tungas!

O leitor já cansou de ler minhas reclamações acerca do preço elevado cobrado pelos vinhos sul-americanos em geral, e chilenos em particular. Tomemos esta comparação: a Vingardevalise volta e meia apresenta boas ofertas. Esta, do Dom Maximiano Founder's Reserve está boa, principalmente comparando com seu preço lá no Chile. Veja só: ele estava sendo vendido aqui por R$ 550,00, enquanto no frixópi chileno - livre de impostos, portanto - saía pela bagatela de... USD 115.00... praticamente o mesmo valor! E coincidentemente é a mesma safra!

    

   Como é, então?! Um vinho cujo custo no frixópi chileno é igual ao seu valor de venda aqui, com todos os impostos, taxas, etc.? Eles são da ordem de 60%, talvez um pouco mais. Já comprei dessa loja diversas vezes. Os pedidos sempre chegam com nota, e no contrarrótulo o importador está devidamente identificado. Não é contrabando. Não há picaretice nessa loja. Então fica a pergunta: saiu do Chile por quanto?! Bem, eu não pagaria R$ 550,00 por um vinho chileno - e o Founder's foi o vinho que mais gostei, quando comprava praticamente só chilenos. Ele custava USD 50,00, até 2007. R$ 200,00, eu pago. Seria um bom vinho nessa faixa de preço. Por R$ 500,00 já entramos em Xatenêfis, Barolos e Brunellos bem razoáveis - só para falar nesses.

   Pela bagatela de R$ 498,00 por R$ 239,90 pode-se comprar um maravilhoso Francis Coppola Diamond Collection Zinfandel.


   O Wine Searcher coloca seu preço aqui entre USD 76,00 e USD 94,00.


   Quanto ele custa nos EUA?


   A partir de 11,00 Dolas! (contei inclusive o imposto americano, pois como de hábito o WS apresenta o valor sem taxas). Então temos algo como R$ 60,00 'lá' contra R$ 498,00 (sem o desconto), uma margem de... 8,3x! Onde estão aqueles idiotas de pai e mãe, os detratores do blog, para justificar uma margem dessas? Queriam explicar com argumentos toscos as margens de 3,5x a 4x, mas agora ela está em 8,3x! Detratores, apresentem-se! Ah, sim: o vinho é importado pela Ravin.



Rata! 🙈

   O escriba deixou passar um palpite certeiro do confrade Ghidelli. Está registrado no comentário.

11 comments:

  1. Realmente noite de surpresas boas, dentre mesa farta de gostosuras que harmonizaram com os deliciosos vinhos, sendo o “brasileiro” no “sic” escolhido pela maioria, fechando a a noite com deliciosa torta de chocolate e balinhas de coco de Floripa degustadas com vinho Porto impecável, então I’m sorry nesta noite todos ganharam, até os bocas tortas kkkk

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  2. Numa noite gostosa de degustação às cegas, segredos em garrafas envoltas, just for the records (acompanhando o relator no ingreis) houve um boca torta que acertou o vinho encapuzado - o Cedro do Noval. Que fique regsitrado nos anais do blog!

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    1. Pô, Ghidelli! Não fez muito em acertar o Cedro… O Carlão abre ele toda vez… rsrs. Deve ter comprado 2 caixas (de 12), e está desovando… 🤣🤣🤣

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    2. 😥 parece que meus Cedrinhos não estão agradando a plateia... Tentarei melhores, logo...

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  3. Pois é; pode ser sim, acho que foi a segunda vez que tomei lá o Cedro. E deve ter algumas safras bem antigas lá. O problema é que quando acerto um ele não posta..😂😂😂. Mas o que vale é que acertei!! Se colocar de novo, acerto!

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    1. Sejamos honestos... até coloquei uma errata reconhecendo o esquecimento... E sim, aceito o desafio: colocarei novamente. Ou 'desovarei', conforme o comentário anterior...

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    2. Não sei porque meu cometário anterior não foi publicado... Não, não tenho safras antigas... tá acabando, se é que não acabou de fato...

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  4. Isso aí!!! Mas vai demorar até que ele acabe com as duas caixas… rsrsrs

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