Sunday, August 18, 2024

O segundo dia do Mouchão 2012

Introito - está aberta a temporada de caça aos otários

Não há nada de errado com aqueles que não gostam 
de política; eles simplesmente serão governados 
por aqueles que gostam.
Platão

Com o debate iniciado pela rede Comerciantes - ou algo assim - está oficialmente aberta a temporada de caça aos otários. Pelas estimativas, o número de televisores ligados no estado - contando com a transmissão oficial via internet - mal chegou a um milhão. Em comparação com os 35 milhões de eleitores no estado, apenas 3% deles interessam-se pela disputada da capital, o terceiro maior PIB do país (perde para o da União e o do Estado de São Paulo, sendo superior ao de todos os outros estados inteiros); o número fica um pouco melhor, quase 10%, para os 9.5 milhões de eleitores da capital. Pergunto do que adianta incentivar uma pivetada de 16 anos a tirar seus títulos de eleitores num país com tão baixo interesse por eleições. Consequência direta da falta de engajamento é o cidadão tornar-se presa fácil dos ouvi dizer, desculpa para alienar-se mantendo algum ar de responsabilidade. Assistir ao debate serviu como ótima reflexão acerca dos candidatos: para o atual mandatário a cidade está uma maravilha, e vai melhorar. Para todos os demais, está uma porcaria - mas em suas gestões ela se transformará em um lugar deslumbrante. Há muito não vou para São Paulo, mas acompanho muitas lives transmitidas de lá. Vezes sem conta, em qualquer horário, notei o sinal caindo por falta de energia elétrica pela queda de galhos ou árvores inteiras - segundo comentavam os apresentadores tão logo havia normalização do serviço - em diversos pontos da cidade, principalmente em épocas de chuva. Isso já diz muito sobre a gestão da cidade. A conversa mole dos demais candidatos ficou longe de convencer. Com 90% de alienados soltos por aí, essa turma vai se esfalfar em vender sonhos. O que quase todos eles fazem cotidianamente, aliás. Em S. Carlos não estamos melhor: apenas três candidatos, e dois não merecem a menor confiança. Por acaso são os que, num aborto da Natureza, já sacrificaram suas vidas para servir ao Honorável Cidadão. Sim, Idiota acabou de mudar de nome.

O segundo dia do Mouchão

Para recuperar alguns vinhos interessantes degustados no período de falha da plataforma, a publicação desta postagem não sairá no domingo, quando degusto o final do Mouchão. O buquê abriu bem, ele realmente precisa de algumas horas de aeração em garrafa para ser degustado no mesmo dia. Pode-se fazer a aeração em garrafa abrindo-a e retirando-se uma lasquinha, 30 mL que seja, fazendo o nível da bebida baixar um pouco e aumentando sua área superficial. Vai por mim, retirar esse porquinho faz diferença, e brinda o degustador com a sensação inicial do vinho. No dia seguinte, guardado na geladeira, ele voltou à temperatura de serviço bem vivo, com nariz regado a fruta e especiaria. O herbáceo apareceu na boca, com um toque terroso também. A fruta também estava lá, com uma pontada doce. Acidez bem presente, e o tanino um tanto verde, amarrando a boca um pouco além da conta. Não há o que fazer contra taninos verdes senão deixar o tempo em garrafa atuar; só um maior tempo de envelhecimento pode suavizá-lo e integrá-lo ao conjunto da obra. Wine Searcher dá-lhe uma longevidade que estende-se a 2035(!), mas seu amadurecimento sugerido, 2018, parece-me inadequado. Ele estava um tanto verde quando o bebi com o Renê, como mencionado. Não foi ruim, mas percebia-se quão nervosão (rs) ele era. Infelizmente naquela época o blog estava um pouco em baixa, e a experiência perdeu-se. Hoje está mais claro: Mouchão bate de frente com um Noval Reserva. Quem é melhor? Ainda aposto no Noval, por meia cabeça. Mas é a impressão de um deficiente nasal cujas habilidades de atentar para sutilezas - sempre tão importantes - está aquém do desejado. Nada como uma comparação taça a taça. Será? Meus Novais são significativamente mais jovens... a menas (sic! rs!) de uma garrafa 2007 que mantenho escondida num canto perdido da adega... Sei mesmo que este segundo dia brindou-me com um vinho melhor, mais complexo e completo. Desta vez não é que teve bão, porque ainda o tenho na taça... está bom, e melhor ao som da Roberta Flack.

Outra degustação

Cuidar do Lemão, meu pastorzinho operado na quarta, consumiu tempo e a postagem atrasou. Vamos a uma recente. Sem Ghidelli e Márcia, em vias de viajar, a confra #émuitovinho reuniu-se na quinta. Iniciamos os trabalhos com um Xisto Cru Branco 2017 - ótima safra, dizem... - duriense no incomum corte Códega de Larinho, Gouveio, Rabigato, Verdelho e Viosinho... entendeu? 🤣😂 D. Neusa chamou atenção para um querosene (sic) ao estilo Riesling da  Alsácia. Na verdade, ligamos esse estilo mais ao Óleo Singer - não qualquer óleo, o Singer, aquele usado por nossas mães nas máquinas de costura, para quem se lembra... Depois da sugestão, notamos sua presença. Mais evidentes, o cítrico à limão (laranja?) com toque floral; boca mineral, ótima acidez suportando meros 12,5% de álcool, untuoso, bastante seco e com final longo. Comprei apenas duas garrafas numa 'promo' onde privilegiei a versão tinta, degustada ao longo dos anos, nem todas postadas. Don Flavitxo bem que avisou à época sobre sua qualidade, mas a fome pelo tinto falou mais alto. Se arrependimento matasse... 😆. 

Depois teve um Crasto Superior 2020, que eu toquei o terror pra cima das confrarias (rs) e compramos muitas garrafas em 'promo' a R$ 130,00, ou algo assim. Deu até confusão, mas a galera vai me agradecer quando experimentar. Nesse preço, é ótimo! Já o degustei diversas vezes, mas logo após seu lançamento no Brasil os vinhos da Qualimpor ficaram muito caros - há uma reclamação minha perdida no blog onde comento estarem aumentando seus preços em dóla, uma interpretação não tão precisa. Estavam sim aumentando a margem, entrando na tubaronice deslavada com o alegre consentimento dos representantes locais, e acabei parando de comprar deles. São bons, mas estão caros, e preciso invocar uma das máximas d'Oenochato: posso comprar vinhos caros, mas não pago caro por vinho! E o Castrinho (sic! rs!) entrou nessa, infelizmente. Na safra 2020 é um corte Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Souzão; com quase uma hora de aeração chegou entregando um pouco de baunilha e muita fruta vermelha com madeira bem discreta. Seus 14% de álcool não aparecem, e a boca é rica em frutas, especiaria, tabaco (chocolate?), acidez indo a média, taninos já arredondados, pronto para beber. Tem bom final, e combina bem com lombo canadense e melhor com o presunto defumado tipo alemão do frigorífico Hans. Passando da segunda hora de aeração e junto do carré e outro pedação de cordeiro, o La Tourtine 2014, do Domaine Tempier, arrancou um sorriso aberto da Elvira logo de cara. É produzido em Bandol, considerada a denominação de tintos mais séria da Provença, no sudeste francês, e um corte Mourvèdre (85%) com variação de Grenache e Cinsault. Mourvèdre e Grenache são cepas quentes, produzem vinhos estruturados com ótimo corpo. Em Châteauneuf du Pape chegam a compor 100% de alguns exemplares, a despeito da denominação permitir o corte com mais de uma dezena de cepas. Exemplos 100% Grenache são o Château Rayas e o Domaine de la Janasse Cuveé Chaupin, degustado aqui, e o Clos Saint Michel (100% Mourvèdre). Voltemos ao La Tourtine... ficou na geladeira junto do Xisto, e experimento agora, sábado, suas derradeiras gotas. O nariz continua explosivo, frutas vivas em deliciosa complexidade muito além do que o nariz torto deste Enochato pode desvendar. Dessa mesma região, já provei o Château Pradeaux 2007, e La Tourtine repete um de seus principais competidores: mineral e parrudo, este com taninos ainda um pouco pegados - se arredondam em mais cinco anos, mostrando seu enorme potencial de guarda - e acidez pedindo comida: foi ótimo com o cordeiro na quinta e igualmente bom com o filé ao molho gorgo de hoje, com seus 14% de álcool integrados e madeira fechando um ótimo conjunto, harmoniosamente superlativo. Fiquei me perguntando se a quase ausência de borra apenas confirma o quão novos estão os taninos... Aposto que sim! Costumo dizer em reuniões de confraria: viajar para Bordeaux pode ser legal, mas é difícil experimentar os melhores produtores, por custosos. Na Borgonha, então, é impossível. Não entrarei na questão exclusividade desses vinhos porque tem pouco a ver: eles nos são vedados, de qualquer maneira. No Loire, no Rhône e no Languedoc/Provence pode-se beber dos melhores vinhos por até USD 100,00, e esse valor entra no bolso de boa parte dos enoturistas. Sim, dá pra beber muita coisa boa por menos, mas enfatizo: por até USD 100 bebe-se dos melhores! La Tourtine está na casa dos USD 80,00, e alegro-me por não ter representante por aqui; chega de passar raiva... (risos!). Recuperar a experiência de um Bandol foi gratificante, e recomento fortemente a quem não conhece. O único problema é comprar safras novas... nesse caso a paciência será recompensada. Caso contrário, pague um pouco a mais por safras antigas.
   Por sobremesa, tivemos uma torta paulista trazida pela Celinha, neófita que tem curtido as experiências proporcionadas pela confraria. Foi degustado com um Aurora Colheita Tardia 2021 e dois Sauterninhos Doisy-Védrines 2016, um aberto há algum tempo e mantido em geladeira e um 'zero'. Ele oxidado fica bem melhor...

Preços

O Crasto Superior custa R$ 102,00 no Garrafeira Nacional, um sítio reconhecidamente caro - mas onde o comprador encontra os melhores vinhos portugueses. Seu preço aqui andava entre R$ 250,00 a R$ 260,00 (2.5x), mas com a crise pode ser encontrado por até R$ 170,00. Na faixa de R$ 130,00 estava um preção!




Xisto Cru anda esgotado na importadora, faz algum tempo. Paguei R$ 340,00 na 'promo', não lembro qual era o preço normal. É um vinho de mais de 30 Euros em Portugal - o Garrafeira mostra eu preço - esgotado - em reais: R$ 178,00. Aqui, a R$ 340,00, deu praticamente 2x, o que chamo de o limite da compra.




Sunday, August 11, 2024

Meu Caro vinho me perdoe por favor...

Introito

Bem aventurados os que creem sem ver.
Jó 20, 29 ditador N. Maduro


Parte desta postagem estava escrita quando a plataforma Blogger enfrentou alguns problemas, impedindo a edição de várias colunas, dicas e alertas. Nesse meio tempo,o sinistro Taxad, pau mandado de Ali Lulá, mandou ver sua política de tributações desmedidas, obedecendo cega e disciplinadamente seu mentor. O governo tem objetivo claro: continuar a gastança e bancar seu carro chefe, a transferência de renda da classe média para a pobre. Parece desprezar o final iminente desse ciclo: os beneficiários do Bolsa Família já superam o número de trabalhadores com carteira assinada em 13 estados - 13. Um número sugestivo por vários ângulos, todos igualmente agourentos. O estudo é do Poder360 de onde retirei esse mapa, e números são números, não há o que contestar - menos se estiverem errados. Nada indica. As perguntas no ar são: até quando a população produtiva conseguirá suportar essa carga? Estará ela disposta a continuar esse esforço sem vislumbrar uma luz no fim do túnel? Por último, e não menos importante: Onde está a tal porta de saída para os beneficiados? Por quais ações governamentais esse número poderá diminuir em qualquer futuro, próximo ou distante? Ao contrário do que pensam os inocentes, o governo não começou há um ano e tanto. Ele começou há 15 anos e oito meses, nada menos. Seu fracasso só não está evidente não para os cegos, mas para os estúpidos. Enquanto isso o tonto do Nicolás - não o Catena, o Maduro - pinta de amarelo-cremoso a já desgastada estima pela esquerda mundo afora. Fraudou - claramente - as eleições em seu país, e conta  a indulgência de nossos diplomatas, presidente, políticos, influenciadores e artistas para agarrar-se a uma derradeira virada de mesa. Lembro-me de um período negro de nossa História quando os artistas estavam a serviço de causas populares e ao lado da classe média. Nossos heróis de então punham-se inegociável e terminantemente contra a ditadura e a censura em meio a métricas e rimas onde imperava a metáfora para discorrer sobre um país sob o mais torpe autoritarismo. Hoje em dia apoiam a censura, pouco metrificam e menos rimam; e o que dizer de lutar contra a censura... PL 2630 logo ali...

A Paduca quase falha

Deveria ser uma reunião regular da Paduca. Pela manhã, ânimo no grupo de uátizápi... à tarde, mal abrira um vinho para seu respiro, chega uma desistência. Às 19:35, como quatro minutos de atraso, envio o alerta (ao lado). Duílio chega às 20:00, com a pizza nas mãos. Paulão não atende ao telefone... olhamos um para o outro e fomos às taças... Caro Malbec Cabernet Sauvignon 2014, produzido pelas Bodegas Caro, é um empreendimento conjunto da argentina Catena Zapata e do francês Château Lafite-Rothschild, cujo primeiro exemplar veio à luz em 2000. Este 2014 mostrava um pouco da idade pela borda da taça ligeiramente atijolada, como o Duílio notou logo de início. Mas o buquê era rico, com fruta viva, madeira e mais notas. Um toque de couro/chocolate dava o ar da graça. Tinha um tantinho do quê tridimensional ao qual me refiro às vezes, mas numa escala não tão marcada. Mesmo assim, tal característica em um sul-americano surpreendeu. Os taninos estavam muito macios, sedosos... álcool bem integrado, baixo dulçor, e pecou pela acidez. Estava lá, mas sem tanta força a ponto de obrigar-nos a colocá-lo como um vinho de primeiro time... faltava... O final estava próximo ao conjunto da obra, bom. 

Um pouco mais de acidez para promovê-lo e ele seria o melhor vinho que já provei nestas paragens. OK, não bebi muitos ícones recentemente, a menos do Gran Enemigo. Sobre esse, que é apenas um bom vinho, Caro tem ampla vantagem. Pode ser considerado excelente para o padrão sul-americano, mas não levaria uma disputa preço a preço com similares europeus. Acreditava ser uma exclusividade da Mistral, cuja safra 2018 está pela bagatela de R$ 745,67 - se disser que foi indicado pelo Enochato, R$ 745,60 -, mas também é vendido pela Vivavinho, na mesma safra '18, a R$ 599,90. Enquanto isso seu preço lá na Argentina surpreende: o Carrefour, sem dó, dá uma mistralada (sic) no consumidor tirando-lhe o couro e aliviando-o em mórbidos 182 mil pesos argentinos (R$ 1.080,00!). Outras lojas oferecem-no com desconto, por 120 mil a 130 mil pesos (R$ 711,00 a R$ 770,00). Seu valor mais baixo está pelos 100 dólas. Fico pensando quantas mãos consigo encher pensando em vinhos melhores a preço similar - ou inferior. Muitas, e isso basta para encerrar a conversa assim: meu Caro vinho me perdoe por favor... mas seu preço anda arisco... Tinha aberto um Sordo Nebbiolo D'Alba 2017 para acompanhar a postagem do Caro quando experimentei os problemas com o blog pela primeira vez. Ele estava um pouco desacertado, insosso. Seu Barbaresco é bem melhor... acho que a garrafa estava miada, e não vale a pena comentar.

Esta postagem foi tocada a meia garrafa do alentejano Mouchão 2012, um corte acima de 70% Alicante Bouschet e Trindadeira, segundo o produtor. Nariz com fruta generosa, um toque herbáceo e mais complexidade pela frente, rico. Boca com taninos pegados - não arredondaram ainda - fruta, pimenta, um pouco de álcool e madeira discreta, boa acidez, final persistente. Eu acreditava que seu preço aqui tinha despirocado (rs), mas fiquei em dúvida se não foi por 'lá' também. Até algum tempo encontrava em 'promos' por R$ 400,00"menos" - paguei R$ 200,00 há algum tempo, e bebi a primeira garrafa com o Renê e o Akira, há alguns anos. Atualmente chega a R$ 800,00 aqui(!), embora encontre-se a R$ 570,00. A mesma safra 2012 em Portugal custa entre 40,00€ e 60,00€. Não sei se sempre foi um vinho caro e não tinha essa noção... fiquei pensando se Mouchão vale quanto pesa. Recentemente provei um Quinta do Noval Reserva 2018. Fechadão sim, mas com ótima estrutura escondida pela tenra idade. Custa seus 50,00€, igual a um Mouchão em safra igualmente nova. Embora seja um bom vinho, não parece-me que Mouchão leva o Noval Reserva. E o Noval ainda pode ser encontrado por aqui a cerca de R$ 250,00, um preção para a qualidade e na comparação do preço 'lá'. Aqui temos uma desproporção que não consigo explicar...

Aberta a temporada de caça aos otários

Com a proximidade das eleições entre agosto e setembro, as ratazanas saem de seus bueiros à caça de votos e abre-se automaticamente a temporada de caça aos otários. As importadoras, que de otárias pouco têm, embarcam na onda: descontos de 60%(!). Sessenta por cento! Não é para um pequeno número de garrafas por conta de queima de estoque, mas por alguma desculpa esfarrapada qualquer: vinho do mês, aniversário da importadora, cepa da moda, desconto prá vocêêêê... Nossa sociedade, composta por desinformados de carteirinha, inocentes de nascença e tontos em geral aceita tudo resignada. QI médio de 85, polarização entre o ruim e o pior, justificativas pelo político de estimação em detrimento da mais óbvia lógica... tudo se emparelha. Mais do que nunca, resistir é preciso. Pesquise e compare. Vinhos, candidatos...


   


O Mouchã, 'lá'.


 
O Mouchão por aqui...