Introito
Não fico olhando colunas sociais, nem sigo Sinistros em suas páginas eletrônicas - se eles as têm. Arrisco estarem nas Európias, e não é para menos: como qualquer cidadão decente desta baderna, seguramente adoram flanar na Piazza del Popolo, ou na Champs-Élysées ou ainda na West End londrina, tirando um merecido descanso do Brasio. Pelos impostos excessivos pagos por cá em qualquer viagenzinha interna que se faça, de onde tirei meu conhecido bordão Não tiro férias no Brazio, mas do Brasio, aposto na inteligência dos Sinistros em dar melhor destinação aos seus suados - suadíssimos - Cruzeiros. Só precisa avisar Xandê Xandão: Donald, que não é pato nem nada, assume dia 20. E seu amigo é um molusco - lá também tem! - mas aquele é do gênero Elonus, espécie muskinensis, conhecido pela grande sagacidade, memória elefantina e pujante senso de despique! Deve haver alguma lei norte-americana para enquadrar quem promova prejuízos injustificados a empresas ianques. Então ninguém se assuste se no mesmo dia 20 alguém for levado pelo FBI feito José Maria Marin - quem lembra-se dele? - para conhecer Uóxintown. A característica de estadistas é fazer o necessário, duela a quien le duela. E se é urgente fazer uma faxina no quintal, não se duvide: ela será feita. Portanto...
Oh! Xandê Xandão,
Volte onde (sic) quer que você se encontre,
Volte para o seio de sua amada.
Ela espera ver aquele caminhão voltando
De faróis baixos, e para-choque duro...
Natal
A Débora passaria para uma bebericada e uma saudação de feliz Natal, segundo ela mesma. Precisei caprichar... Xisto Cru Branco 2017 é um corte de Rabigato (principalmente), com partes de Codega, Gouveio, Viosinho e outras cepas nativas de Portugal. Tem um nariz bem pegado à cítricos diversos, difícil de separar para um pobre deficiente nasal, mas seguramente toques de lima/limão. A Débora falou e falou da mineralidade em boca, mas eu não estava pegando. Tentei prestar atenção e a impressão simplesmente não veio. Tinha sim fruta, bom corpo e acidez bem marcada, ótima. Boa permanência, bom final, está fresco e pronto para ser consumido, mas pode ser guardado por mais tempo. Em três ou quatro anos ele terá uma expressão um pouco diferente desta, e cabe ao bebedor escolher quando aproveitar. Quem me dera ter comprado mais algumas garrafas. Mas na época estava centrando força$ no Xistro Cru tinto, também bastante atraente e do qual comprei em maior quantidade. Vejamos se neste início de ano tem alguma queima... só não estou certo da disponibilidade do produto na importadora, a Clarets. Mas vale a pena ficar de olho. No preço cheio, fica difícil...
Meus australianinhos estão acabando... Esse Shiraz 9 2005, da Marquis Philips, é turbinado a 16,5(!) de álcool e encerra uma estória algo triste. Fruto da sociedade do investidor e distribuidor americano Dan Philips e do casal Sarah e Sparky Marquis, a Marquis Philips era uma marca celebrada por seus vinhos de bom preço e alta qualidade. A parceria acabou justamente em 2005, com cada parte processando a outra; enquanto Philips tantava tocar o negócio com outros associados, o casal Marquis afastou-se para fundar a Mollydooker, conhecida por seus rótulos tão lúdicos quanto vibrantes, com personagens carnavalescos que evocam a alegria que deve envolver o ato de compartilhar um bom vinho. Um resumo do imbróglio está aqui. Shiraz 9 abriu nervosão - aerei por meia hora antes de Débora chegar, e ainda bebemos do branco antes dele. Estava rico, encorpado, mas o álcool pegando. Dia 25 fiz um bate e volta para minha terra natal, e não bebi, voltando a ele no dia 26. Temi ter passado um pouco, mas bastou aproximar a taça do nariz para ter certeza do contrário: uma mistura incrível de frutas, chocolate que era chocolate (ao leite), fumo que era fumo e por trás um toque menor de café. Creia, leitor, tinha tudo isso muito bem marcado. Escrevi sobre vinhos de alta classe, certa vez: É fácil descrever um vinho desses, as qualidades estão saltando em nossa frente, a despeito da dificuldade em separá-las adequadamente (aqui). A boca estava potente mas sem excessos, sem o dulçor característicos dos Mollydooker, com taninos muito redondos, acidez elegante, tudo muito encaixado. Nem o álcool assolava os sentidos e muito menos a cor denunciava a idade, veja a foto. Seu rótulo mostra um gracioso grifo australiano: enquanto o original da mitologia médio-oriental apresentava um animal com corpo de leão e cabeça e asas de águia, este é mostrado com o corpo de canguru...
Abaixo, duas garrafas da Mollydoocker, retirados daqui. Bebi o Carnival of Love há bastante tempo, provavelmente em momento quando o blog andava parado, e não foi postado. Lembro de alguém (Flavitxo?) ter apontado o dulçor mais destacado. Australianos faziam mais minha predileção pela sua extração gerando buquê sempre muito evidente, e ajudava sobremaneira se meu nariz estivesse em dias de greve. Depois da septoplastia minha condição mudou bastante, mas o prazer em degustar um vinho desses, ou um Torbreck, um Kilikanoon e outros mais sempre me chamarão para experimentar um pouco mais desses vinhos tão subrepresentados por aqui.