Introito
Teoria é quando tudo se sabe mas nada funciona.
Prática é quando tudo funciona mas ninguém sabe o porquê.
Neste blog, associamos prática à teoria:
Nada funciona, e ninguém sabe o porquê...
Châteauneuf-du-Pape
Não tenho certeza se já comentei... Châteauneuf-du-Pape é parte do Rhône, ficando na parte sul dessa apelação. Tem um enorme número de cepas permitidas que podem entrar em seu corte (Tintas: Cinsault, Counoise, Grenache, Mourvèdre, Muscardin, Piquepoul, Syrah, Terret e Vaccarèse. Brancas: Bourboulenc, Clairette, Clairette Rose, Grenache Blanc, Grenache Gris, Picardan, Piquepoul Blanc, Piquepoul Gris e Roussanne), embora raríssimos produtores cultivem todas elas. E, ao fim e ao cabo, a Grenache é quem dá o tom. Experimentei poucos, e alguns eram muito bons, inclusive um branco, excepcional. Bons Xatenêfis podem ser vinhos mais leves e delicados ou potentes e encorpados, a depender da vinificação; é preciso conhecer os produtores e seus estilos, que às vezes estão misturados. Mais ou menos como a epígrafe desta postagem...
Domaine du Pégau
O Domaine du Pégau tem estória que remonta a 1670. Produz uma gama de Xatenêfis, alguns Côtes-du-Rhône/Côtes-du-Rhône Villages e vinhos mais simples. Com seu nome todo pomposo, Domaine du Pégau Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée parece ser o Xatenêfi mais simples da linhagem... bem, foi o que deu para pagar... 😔
Domaine du Pégau Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée 2001
Disse que o Cuvée Réservée é o mais simples? É mesmo, e ainda assim andou frequentando a lista dos 100+ da Wine Spectator de 2004, nessa safra de 2001. Corte 85% Grenache, 9% Syrah, 4% Mourvèdre e 2% outras variedades, foi muito bem avaliado pela crítica especializada, mas o surpreendente são suas notas pelo sítio amador Cellar Tracker, conhecido por renormalizar as pontuações em excesso concedidas pelos profissionais menos pés no chão ao estilo James Sucks e outros. Abri às 17:30 e estou provando com mais atenção agora, às 22:00. Ele parece estar volátil... 😕 sirvo pequenas porções para não perder a temperatura - tirando e voltando a garrafa ao balde como um bom vinho merece, tentando manter a temperatura mais ou menos constante - e quando dou conta o conteúdo da taça foi-se... 😂 Casa muito bem com um bife ancho. O nariz está naquele estilo que costumo dizer tridimensional: tem notas sobre notas, é realmente complexo; fruta madura, café/couro, terroso, mais toques que não consigo distinguir. Boca muito bem elaborada, demonstrando que está em seu auge, e arrisco que com estrutura para manter-se assim por mais tempo. Os taninos são suaves, há um dulçor agradável misturado aos 13,5% de álcool, recheado de fruta e algo na direção de couro. Madeira presente e harmoniosa, acidez verdadeiramente elegante - a boca saliva à vontade - complementa o sabor da carne com ótima permanência e final muito marcado e longo. É fácil descrever um vinho desses, as qualidades estão saltando em nossa frente, a despeito da dificuldade em separá-las adequadamente... acho que daqui pra frente só vou beber vinho assim... 😝; descrever vinhos médios é-me complicado e às vezes maçante... Veja, não é um vinho pegado. É um daqueles Xatenêfis que vai mais o lado da elegância, mas nem por isso deixa de ter presença. Às vezes classifico vinhos bem mais simples como felicidade engarrafa porque de fato o são, em sua faixa de preço - é uma classificação minha, onde o preço conta. Não conheço tanto de vinho, e meu limite (vinhos comprados quando eu era rico) está em USD 230,00 lá fora. Até essa faixa de preço, Domaine du Pégau Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée 2001 é uma verdadeira felicidade engarrafada. Digo, em seu sentido mais amplo. Não sei o que vem depois... Deixarei meia garrafa para amanhã à noite. Contando com o impossível, convido os dois primeiros leitores que se manifestem em meu uatizápi ou no blog (vou conferir os horários!) a juntarem-se a mim para terminar com o vinho. Mas lembrem-se de Peter Ustinov em seu impagável papel como Batiatus em Spartacus (1960): Vinho de primeira, taças pequenas...
Sensacional
ReplyDeleteSensacional! Onde posso adquirir este vinho no Brasil? Sabe o preço dele? 2001 foi uma boa safra no Vale do Rhone?
ReplyDeleteSds,
Eduardo
Olá, Eduardo, obrigado pela leitura.
DeleteA safra de 2001 talvez não tenha sido excepcional, mas foi pelo menos 'boa'. A garrafa foi adquirida há alguns anos, por uns USD 90, quando um dóla ainda estava cerca de R$ 2,80. Não sei se tem representante no Brasil, mas safras velhas assim só encontramos fora. A 'brincadeira' foi uma comprovação da longevidade dos vinhos europeus, o que não acontece com os sul-americanos. O razão dela é a tão comentada acidez, característica muito valorizada nestas páginas.
[]s,
Carlos
Olá Carlos,
DeleteEu andei buscando no professor google e vi que a safra 2001 foi excepcional. Veja este link que achei: https://www.winespectator.com/vintage-charts/region/rhone-southern
Eles dizem que entre 90 e 94 é outstanding. Naquela outra revista a Wine Enthusiast, pontuam com 93, que eles classificam como excellent.
Pena que este vinho não é encontrado aqui no Brasil. Eu fique curioso para conhecer.
[]s
Eduardo
Olá, Eduardo.
DeleteBem, puxei pela cabeça sobre a safra, e não estava tão certo. Sim, conheço o sítio do endereço, aliás frequento-o sempre. Também tem este, do Parker, https://www.robertparker.com/resources/vintage-chart
A questão na verdade é conhecer CdP, acho, e não um em específico. Tem vários muito bons. O problema é o preço deles aqui on Brasil. É escorchante; compensa trazer de fora. Um Beaucastel é vendido aqui por uns R$ 1.900,00, mas lá fora você paga uns USD 80,00 (safras novas, claro). Veja, 80,00 x USD 6 = R$ 480,00...custa cerca de 4x vezes o preço 'lá'... não dá...
O Google também oferece boas listas de '10 Best Chateauneuf du Pape', e dá para pegar qualquer um, no preço que você queira. Mas, pegando novo, tem que guardar. É uma década de paciência...