Saturday, September 6, 2025

Nos finalmentes do Niver do Ghidelli

Terminando o níver do Ghidelli


Trocando uma ideia com Flavito, peguei a conversa do último vinho já adiantada: a Elvira comentava algo sobre Cabernet Sauvignon e vinhos franceses. Argumentei - como já fiz aqui várias vezes - sobre a delicadeza da expressão da CS em Bordeaux em geral e principalmente em exemplares mais especiais, e como sua expressão é diferente daquela que os bebedores dos chilenos amadeirados do início do século estão acostumados. Àquela hora meu nariz estava meio pifado, e quando um nariz meio-pifa (rs) a tendência do cérebro é confundir a fruta com Maizena, o chocolate com chicória e o herbáceo com abobrinha. Até pensei em falar sobre uma ligeira picância de meio de boca ser referência à Cabernet Franc, mas deixei passar. A boca estava identificável, com boa acidez e taninos, mas para mim - e só para mim - estava um pouco impenetrável. Os confrades acharam muito rico de nariz e boca, elegante. Não duvido. O Château Gloria 2015 é um Saint Julien - as principais cepas são a Cabernet Sauvignon e Merlot, complementadas por Cabernet Franc, Petit Verdot, e ocasionalmente Malbec e Carmenère. Segundo o sítio do produtor, nessa safra o corte foi 60% Cabernet Sauvignon, 27% Merlot, 6% Cabernet Franc e 7% Petit Verdot; veja o sítio aqui; uma descrição histórica do vinhedo está aqui. O proprietário nunca o inscreveu para ser reconhecido como Cru Bourgeois, demonstrando sua confiança no produto; Gloria tem a fama de ser um bom vinho per se, dispensando outras formas de impulsionamento. Seu valor de mercado na safra 2015 começa em USD 60,00 nos EUA, enquanto o Chateau Cantemerle, um Quinto Vinhedo na Classificação de 1855 está cotado em USD 40,00. Curiosamente comecei a falar do Cantemerle. Ele e Gloria podem ser encontrados na mesma importadora (não são exclusivos, parece), e Cantemerle custa um tanto mais caro: na boa safra de 2008 está R$ 1.020,00, enquanto Glória na ótima safra de 2019 está R$ 990,00... Parece-nos uma revelação: por aqui - terra de tatus, bolsonéscios e PTlhos idiotas (soa redundante, mas eles dividem-se principalmente entre idiotas e gatunos) - valoriza-se alguma rotulação do vinho antes de sua qualidade intrínseca. Lá fora a categoria parece vir primeiro, pois Gloria custa mais em todos os lugares onde olhei. E a diferença entre as safas disponíveis aqui é gritante... 

Por sobremesa - e falando apenas dos vinhos - tivemos um Taylor Fladgate 20 anos, garrafa já apreciada pela confraria mas talvez não postada. Portos 20 anos são sempre um prazer, pois nessa idade as frutas secas dão o tom principal, com outras notas bem presentes - mas já estava faltando cheirador.  Boca agradável, equilibrada, acompanhando o nariz, acidez presente, bom final, persistente. Foi mais fácil de apreciar se comparado com o Gloria; a boca pareceu ressuscitar... E mudou de vez com o Vin de Constance 2020, um sul-africano típico de sobremesa 100% Muscat de Frontignan (já ouviu falar?) botritizada, com buquê muito pegado à flores - a Elvira constatou com uma exclamação de satisfação plena -, mel e mais complexidade. Bastante doce em boca, mas a acidez igualmente alta deu-lhe um equilíbrio espetacular, apresentando fruta branca e damasco: inesquecível. Esse exemplar veio na mala da Cínthia, filha da D. Neusa que precisou visitar o país por conta de algum compromisso profissional e foi instada a encher uma mala para a confraria (risos!). Esse estilo de vinificação é muito antigo: conta a lenda que Napoleão teria pedido uma taça dele em seu leito de morte. Os Pais da Nação (EUA) também o apreciavam muito, e eu estava curioso por degustá-lo. Valeu até a última gota, e espero ter outra oportunidade antes de comparecer à próxima gestão do Senhor...

   Walew, Ghidelli! Wallew, Don Flavitxo! Walew, Confraria!

Tirando a prova


Château Gloria e Cantemerle, pela mesma importadora tubarona. Custando mais lá fora, Gloria aparece aqui por preço menor. Ainda assim está cerca de 3x... melhor trazer de fora.



   
Gloria lá fora... os dados não mentem...


2 comments:

  1. Só para registrar the day after, o Gloria estava ainda muito bom, resultado das horas extras de oxigenação.. Sempre é bom ver o dia seguinte dos vinhos. O Constance ainda tinha um dedinho, e tambem foi valente até o final..kkk. Excelente rodada de vinhos e papo.

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    1. Penso ter registrado que todos gostaram do Gloria... meu nariz é deu PT mesmo. Teve bão, em tudo. Obrigado pela leitura e comentário.

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