Introito
Nosso Amado Presidente - NAP - é tido por seus detratores como o maior bandido deste país, e o maior corrupto do mundo em todos os tempos. Em alguma realidade paralela eu não sei se eles estão errados na primeira parte, e quanto a quem foi o maior gatuno da história, se pegar os desfalques do Círculo Interno de Hitler (Himmler, Goebbels e Göring) e atualizar o montante para hoje, há uma ligeira chance de fazerem sombra a qualquer um. Note: uma ligeira change. Seja por desvios para fins pessoais ou suborno de altos oficiais nazistas (olhalá as raízes da compra de votos de partidários), rolou muita grana por fora. O documentário da imagem ao lado não aborda a malversação do dinheiro do contribuinte alemão, mas dá uma ideia de quem foram os atores das malandragens. Hoje e aqui, o 7 de Setembro, data quando eu menino aprendia sobre cidadania como a promoção de valores cívicos, vem-se tornando mais e mais uma manifestação política. O civismo nos foi roubado por pulhas em camisetas de diversas cores, acusando-se mutuamente de traidores da Pátria. Se encontramos alguma diferença entre eles, consiste no fato de Bolsonéscio sê-lo há menos tempo, mas convenhamos: inexiste qualquer mérito nisso. O ex-Presidente tirou-nos de uma fase de regozijo - corruptos presos, julgamentos em curso e investigações tirando o sono da raposas do sistema - para uma sequência de patifarias institucionais incluindo o desmonte da Lava-Jato e aprovação de leis para tornar mais complexas quaisquer operações contra fraudes e estripulias para com o erário. O que começou com júbilo terminou em sua melancólica condenação no dia 11 de Setembro último. Por mais mambembe que tenha sido o teatro de sua condenação segundo seus defensores, o resultado líquido é positivo: Bolsonéscio atrás das grades estará onde merece, pagando agora pelos crimes até ser julgado novamente por um tribunal algo isento (como se isso fosse uma solução possível; claramente falamos de um delírio criativo). Não é o melhor exemplo de democracia, mas é a democracia possível tem tempos tão conturbados. O fato de na reunião termos abordado um pouco de política e nada sobre a Pátria reflete o quanto estamos contaminados pelo entorno polarizado de parte da sociedade. Uma pena.
As Malucas no 7 de Setembro
Alijados da companhia da Luciana, as Mulacas reuniram-se em minha humilde choupana e a Liu chegou com seu branquinho da Alsácia, o Wolfberger Riesling 2022, delicado, agradavelmente floral, alguém falou em mineralidade, e tinha. Por conhecer a assinatura da Riesling na Alsácia, fui procurar, e estava lá: para mim vem à óleo Singer. Não qualquer óleo, mas aquele de máquina de costura que nossas mães usavam nos anos sessenta, setenta: Singer. As meninas refletiram e saiu um Agora que você falou... e um Mas não é óleo Singer, é aquele de isqueiro... 🤨 para mim era o Singer, e pronto... a boca também refletia um pouco de fruta branca, a acidez estava elegante, pronunciada, marcando as papilas por um bom tempo. Um vinho bastante honesto, e uma pesquisa rápida indica estar disponível ao custo de R$ 150,00. Importado pela Domazzi, que muitas vezes tem grupos supermercadistas como vendedores finais, possivelmente tenha margens um pouco mais apertadas. Na faixa proposta, é bastante digno.
O tinto para acompanhar a pizza foi o Donna Maria Cabernet Sauvignon 2016, servido inicialmente às cegas. Foi divertido, o pessoal ficou inicialmente perdido, refugiando-se no perigoso argumento de O Carlos não serviria isso... Foi apreciado por todos os confrades, e não fez feio na harmonização com pizza. Buquê com fruta misturada a toques de especiaria, e na boca repetia o olfato do pimentão típico de vários chilenos, mas sem desarmonizar. Alguém comentou compota também; a madeira estava lá, discreta, e tinha mais detalhes, mas a dificuldade geral foi fazer a conexão. Agradou e as meninas perguntaram onde tinha, desejosas de eventualmente adquirir alguma garrafa. Antes fácil de encontrar no Chile, não vi outras garrafas nos últimos anos. Também não é encontrado em nosso mercado com facilidade, mas aparece em alguma busca do Google, embora sem mostrar o preço. Se mudou de importador, há chance de estar a preço mais razoável; anteriormente estava em uma grande tubarona e Don Flavitxo reclamava de ser muito caro. Acima de R$ 150,00 o bebedor pode encontrar algum Noval Syrah sobrando por aí por alguns reais a mais, e a competição fica desproporcional a ponto de não valer o investimento. Volta e meia existem opções de espanhóis, como o Ramón Bilbao Edicíon Limitada a R$ 170,00, ou o australiano Peter Lehmann The Barossan Syraz 2021 a R$ 180,00, e a competição fica difícil para o que se pedi por chilenos na maior parte das vezes. Se encontrar por R$ 90,00, vá com fé (só não acredito se será o caso).
Novamente a Maluca
Mesmo com baixo quórum a Maluca reuniu-se novamente no dia 12. Com a Liu e o Mário, e o restaurante Barone como fundo, resolvi realinhar meu quociente de vinhobão no sangue então perigosamente baixo. Enquanto o Ramón Bilbao Edición Limitada 2020 do Mário era servido em quantidade mínima para início dos trabalhos, o meu vinho resfriava um pouco mais. Com a temperatura mais equilibrada, pudemos aproveitar melhor deles. A segunda rodada do Ramón Bilbao chegou pleno de frutas - achei que vermelhas - e uma picada de especiaria. 100% Tempranillo, acho que esse detalhe é proveniente da madeira, presente mas não agressiva. Boca com taninos pegados: talvez amaciem em 3-5 anos, sugerindo potencial de guarda maior. Acidez média com boca redonda, bom equilíbrio entre álcool, madeira, tanino e açúcar revelam um bom vinho. O valor mais baixo na Espanha, via Wine Searcher, é USD 13,00, e nos EUA a USD 21,00. Pagar R$ 170,00 por ele aqui é uma boa aquisição, não resta dúvida. É um produtor 'médio' de Rioja, embora seu Mirto destaque-se; bebi dele uma vez, por obra e graça de Don Flavitxo, em evento não postado. O Fontodi Chianti Classico 2010 chegou fechadão - malditos italianos - mesmo sendo 2010. Denorou para abrir, e inicialmente estava tímido. A cereja eu já esperava em um Toscano, e a certo momento apareceu chocolate ao leite. Ao leite: identificável assim mesmo, como cabe a um bom vinho. Durante boa parte do tempo ficou equilibrado por baixo, sem nenhuma exuberância. Ela começou a chegar no final da noite - acho que os confrades já não estavam bebendo dele, eu fui quem insistiu em uma taça, e explodiu no dia seguinte, ontem. O olfato encontrou o paladar, ambos ricos, boa acidez, taninos domados, madeira discreta, enchendo a boca e com ótimo final, marcando bem as papilas. É vendido aqui por importadora tubarona a mórbidos R$ 624,15 - é um bom vinho, mas existem ótimas compras nesse valor, como o Brise Cailloux, Cornas do Domaine du Coulet postado recentemente.
PS: para quem me acha um mentiroso quando recobro fatos passados, fica um tira-teima: estão aí este Enochato e o Mirto.
Sexta longa , e bora chamar a MaLuCaDeLiu para um jantarzinho! Hum ..Comunicação!
ReplyDeleteBora relaxar …Verdadeiro para quem “não arrisca”, “não beberica”! … adorei valeu CA.
Madame (rs!), obrigado pela rápida leitura e comentário. E sim, quem não arrisca, não beberica. Para nós, walew o risco...
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