Introito: é fogo!
Para aumentar a desgraça que nos rodeia, atormenta e grassa, para esvaziar nossa esperança (e nossa taça), desocupando o coreto e a praça, a COP virou fogo, fuligem e fumaça. Poucos dias antes o chanceler alemão Friedrich Merz comentou sobre sua comitiva: Todos ficamos contentes por regressar à Alemanha, sobretudo daquele local onde estávamos, na noite de sexta-feira. Não se dignou a pronunciar o nome do lugar, e fez bem: lembranças ruins, melhor esquecer. Anunciada antecipadamente como fracasso dada a absoluta falta de estrutura, o evento em Belém naufragou na tentativa de alçar a combalida imagem do país a um degrau mínimo de respeitabilidade. O governo federal naufragou junto, claro. Mas não escapa ileso o governo estadual e, por tabela, a população que o elegeu. Bando de idiotas com título de eleitor e QI de ostra, à semelhança de gaúchos, paulistas e cariocas dentre os demais sufragistas. Bem, no contexto citado esses últimos são um pleonasmo... Ainda tivemos outros desvios, por assim dizer: Ali Lulá defendendo os traficantes de drogas como vítimas dos usuários(!), além de confundir urubu com meu louro, Jesus com Genésio, o Pará com o Amazonas e tendo de aturar uma recepção às autoridades estrangeiras, promovido pela primeira drama (sic), onde o comparecimento foi absolutamente zero. Um zero tão profundo e silencioso que lembrou o próprio zero absoluto, aquele onde até as partículas, resignadas, frustradas, desarticuladas, desistem de dançar e se recolhem goradas, como os convidados que jamais vieram. O crédito da foto é este, e apresenta-nos pessoas sem qualquer equipamento de segurança tentando conter as chamas de um incêndio inesperado em seu voluntarismo estoico e com bravura quase incômoda. Se a COP apresentou algo de bom, ficou registrado nesse gesto de heroísmo. Alguém ficou sabendo o nome deles? O presidente foi cumprimentá-los? A primeira drama deu-lhes algum destaque como deu a Caramelo? Assim passou-se a trigésima reunião da COP, sem qualquer acordo efetivo e sem deixar saudades. Alguém minimamente inteligente e dotado da máxima mansidão teria acabado com ela na décima edição. Perdurar até hoje é mais um registro da nossa imbecilidade.Postagens mais que atrasadas para eventos bem comemorados
Não gosto de Carnaval, mas adoro quatro dias de festas... 31 de outubro passado caiu numa sexta-feira, e, além do Dia de Todos os Santos, comemoramos em 4 de novembro o dia de São Carlos Borromeu, padroeiro municipal, daí que na terça-feira tivemos outro feriado, com direito ao Dia do Funcionário Público na segunda-feira... Então, entre sábado e terça, permiti-me um retiro espiritual dedicado ao deus pagão de minha predileção - desnecessário perguntar qual, certo? Ah, Caravaggio... vale a pena conferir o verbete, principalmente a parte da interpretação; agradáveis surpresas e inesperadas revelações aguardam o curioso leitor. De algum tempo para cá imagens de obras de arte em altíssima resolução estão aparecendo principalmente na Wiki; sempre vale a pena usar a ampliação e gastar um tempo analisando obras clássicas ao som de boa música e acompanhado por um vinho inspirador; leitura prévia de um dicionário de símbolos ajuda, e o comentário de estudiosos torna a experiência ainda mais gratificante. Experimente, e depois me diga...
Depois da reforma na adega - não ousei pintar as paredes mais antigas por medo de respingar tinta nas prateleiras e, pior, em seu conteúdo - as confrarias estavam ansiosas pela inauguração. Os detratores continuam chamando-a de caverna. Respondo, dando o troco: Adorável caverna, é isso? Alguns ainda olham para as garrafas Matusalém em primeiro plano e provocam: Ainda é uma caverna. Bem... é uma caverna de onde tirei uma Philipponnat das mais rebas, a Royale Brut Reserve. Corriqueiramente muito fresca, elegante, nariz com toques cítricos ricos seguidos de fermento e mais ou fundo florais. Demorei para pegar tudo isso, mas depois fica mais fácil identificar. Se tiver oportunidade preste atenção, pois está tudo lá. A boca tem ótimas mineralidade e acidez, e com cinco anos desde a degola está pronta, equilibrada. Não tenho experiência para dizer quanto tempo mais pode durar nessa condição. Seguramente vários anos, mas não é novidade para Xampas de qualidade. Faz tempo desde a última 'pomo', mas estou de olho: foi minha última, e não seria desagradável provar dela mais uma ou outra vez.
Depois tentei - juro que tentei - fazer boa figura. Mas falhei miseravelmente 😥... Servi o Grand Cru Classé Domaine de Chevalier Blanc 2009, tido como um dos grandes ícones de Pessac-Léognan. Essa é uma das poucas sub-regiões de Bordeaux com brancos renomados a ponto de ultrapassarem em qualidade seus equivalentes tintos. Essa garrafa oxidou um pouco antes, do tempo, e não estava como esperado. Não estragou, não passou, apenas parecer ter miado... sem saber exatamente o que era - servi às cegas - os confrades gostaram. Mas, pensando comigo, tendo a lembrança de um Pape Clement apreciado há alguns anos e comparando o quanto Chevalier branco estava distante dele, eu curtia solitário minha decepção. Não registrei muito as notas, passou. O serviço da versão tinta foi perfeito, e a turma se agitou junto de suas taças. Ainda um degrau abaixo do citado Pape Clement, com 24 horas de aeração estava vibrante, rico, elegantemente encorpado. Não guardei as notas, mas é daqueles vinhos onde sugestões de frutas diversas misturaram-se às de chocolate/café/couro (quais, exatamente?), com taninos já maduros, madeira presente mas bem harmonizada e boa acidez. É daqueles vinhos que, conversando, sentimos como ele permanece em boca. Potente, equilibrado e gracioso. Todos dizem que Chevalier branco supera o tinto. Se estivesse igual, teria sido espetacular. Para acompanhá-lo, a Liu preparou - não sei como - um bifim numa crosta de sal cuja receita deve ter sido tirada de algum manual de bruxaria. Estava ótimo!
Por sobremesa tivemos um Ice Wine de Cabernet Franc com um cheesecake de frutas vermelhas. Ninguém lembrou-se de fotografar - e servi a conta-gotas, como costumo fazer com esses vinhos canadenses. Justifica-se: são difíceis de encontrar, e sempre tento fazer uma garrafa (500 mL) ser repartida entre 15 a 20 confrades nos diversos encontros. E olha que uma turma teve de contentar-se com apenas com o Doisy-Védrines... Para um primeiro dia, há quase um mês, só não esteve melhor pelo defeito do branco. Aliás, ele chegou à adega bem depois do irmão tinto, evidenciando não ter sido problema de armazenamento. Baco escreve certo por linhas tortas; da próxima vez que tiver oportunidade, farei uma compra carcada (sic) em brancos. Com uma nova garrafa de Chevalier...