Sunday, October 25, 2020

Chateau Teyssier: agora um Grand Cru

Introito

   Já bebi um Teyssier. Não era o de entrada, estava um teco acima. Agora, em fase de aquecimento de motores, outro degrau foi galgado. Experimentar diversos vinhos de produtores franceses por aqui não é muito fácil. Muitas importadoras não trazem a linha toda. Às vezes, uma importadora traz parte da linha (a superior) e outra fica com a rabeira. Não é um demérito; vinhos em diferentes faixas de preços atendem a diferentes consumidores. E também atendem àqueles que querem simplesmente variar, sabendo o que esperar de uma linha e de outra.

Legislação: uma chatice

   A primeira palestra sobre vinhos que assisti foi proferida pelo Manoel Beato, há muito, muito tempo. Mais de 15 anos. Quem me alertou para o evento, trazido para S. Carlos no contexto de eventos culturais, foi o Romeu. Lá, Beato já avisava: Conhecer vinhos é estudar legislação e mapas. Essas coisas são uma chatice. O único problema é que trata-se de uma chatice necessária. Assim como mapas. Quem já leu Armas, Germes e Aço do Jared Diamond sabe do que falo. Quem não leu, leia. Depois vai se interessar por mapas também! Mas ei!😝 isso é muito diferente do Sheldon com suas bandeiras!
   Sobre legislação, e falando de Bordaux, França, a primeira é a de Médoc (1855), que elencou os bordozões dos quais só ouvimos falar, e que nunca chegarão às nossas taças. Bem, Never say never (again) é título de filme de James Bond, e somos livres para sonhar. Além da classificação de 1855, apareceu, em 1955, a de Saint-Émilion (veja vínculo dentro desta página). Assim, é preciso tomar cuidado ao ver vinhos rotulados como Grand Cru, Premier Grand Cru, Grand Cru Classé e quetais: tratam-se de vinhos de padrão (e preço) bem diferentes. O leitor iniciante não deve temer esses nomes, e precisa saber de apenas uma coisa: se qualquer um desses for vertido em sua taça, não reclame se a quantidade estiver miguelada: será sempre um bom vinho. Erga os olhos aos céus, recite com reverência o (bom) nome de Baco e agradeça a oportunidade.

Chateau Teyssier Grand Cru 2011

   A safra de 2011 não foi das melhores em Bordeaux. Segundo a tabela de safras da Wine Spectator, não foi das piores. Por exemplo, é bem melhor que as safras 2006, 2007 e 2008, que infestam nosso mercado, nas mãos de algumas importadoras tubaronas (sic), que parecem ter uma predileção mórbida em trazer safras ruins para pagar USD 2,00 a menos na garrafa e virem oferecendo-as a 3x, 4x, 5x vezes o preço desses vinhos lá fora. Xô, bacurau. 
Em sua versão Grand Cru Chateau Teyssier costuma ser um corte 85% Merlot, 15%  Cabernet Franc, com passagem por carvalho. O carvalho nos vinhos franceses, pelo pouco que conheço, costuma ser muito diferente daquele que outrora foi utilizado nos vinhos chilenos. É muito mais comedido e integrado, enquanto nos chilenos estava presente em tal dimensão que rotineiramente levava os iniciantes (eu, inclusive) a confundir madeira com potência. Poucas coisas poderiam ser mais tolas. Votar no Bolsonário? (sic). No Dória? (sic). No Boulos? Falemos de vinho. Chateau Teyssier Grand Cru está pronto para ser degustado. Casa muito bem com um bifim ao molho gorgo. Depois de duas horas - abriu bem! - , exibe bom nariz com fruta vermelha e couro sutil - preste atenção. Boa boca: não é pegado, não chama comida, mas casa muito bem com ela. Digo: pode ser degustado, consumido sem comida, mas pelo menos um salame fará boa figura. Com um bifim, só melhora. O leitor já desconfiou: sim, corpo médio. Ainda, taninos macios, acidez presente, que é mais do que suficiente para destroçar sul-americanos na faixa de preço. Tem boa persistência, bom retrogosto. Atualmente está em 'promo' na Lovino por R$ 220,00. É um preço excelente para esse tipo de vinho, pos lá fora aproxima-se dos USD 25,00. Finalizando: preço (dispendioso, para meu bolso), qualidade, características... se tivesse um pouco mais de corpo, seria felicidade engarrafada. Bateu na trave.

12 comments:

  1. Conclusão: Meia-boca

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    1. Conclusão corajosa... tanto quanto tola, claro... Afinal, se bateu na trave de ser classificada como felicidade engarrafada, deve ter suas qualidades. Senão, basta argumentar.
      [],
      Oeno

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    2. É um bordeaux para iniciantes, que desconhecem a região. É fraco e de uma safra fraca. Ele está muito longe de representar um bom St Emilion. Falta-lhe estrutura, mesmo em safras melhores, como a 2000, 2005 e 2009. A 2000 talvez tenha sido a que mais me agradou. Entretanto, para mim, nenhum deles pode ultrapassar a barreira dos 90 pontos, o que para seu preço, mesmo nos EUA, é decepcionante. O que você achou dele em outras safras?

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    3. Agora sim, argumentos. Argumentos são a base de um debate. Vamos a eles, por partes.

      * O leitor não conhece a proposta do blog. É indesculpável... afinal, está lá, no título: "Resmungos de um deficiente nasal que sabe pouco para iniciantes que sabem menos". Não espere muito mais. Não espere um profissional falando. Espere apenas alguém com coragem para opinar, e fiel à própria percepção. Nada mais, e principalmente nem um milímetro a menos. Essa, sim, é parte da proposta.

      * O blog tem um viés comparativo, principalmente no quesito qualidade e preço. Nosso mercado é inundado pelos produtores sul-americanos, cujos vinhos <>outrora<> foram baratos. Basta ler. Em várias e várias postagens comparo e aviso o leitor, 'vinhos sul-americanos estão caros, compare a qualidade com os europeus"... Antes de falar de safras antigas deste, já comparou Teyssier a R$ 220,00-290,00 com chilenos do mesmo preço? De chilenos posso falar um pouco, já bebi muitos, e muitas vezes. Na maioria, não se comparam.

      * Claro que deve ser um Bordeaux pra iniciantes. O preço já 'denuncia'. O senhor viu exemplares muito melhores por aqui? Procure na lista ao lado. Tem Puycarpin, tem Clos Floridene e coisa (talvez) levemente melhor (Pontesac); nada além, em se tratando de Bordeaux. É isso aí, é o meu limite, fora alguma experiência aqui e ali, que não 'anotei'.

      * Recuperando o ponto: por que o utente, após dizer que é um Bordeaux para iniciantes - nem discordo! - quer perguntar se experimentei outras safras, citando ainda algumas tão antigas? Já não supôs que sou iniciante? (e acertou!) Não faz muito sentido querer - aparentemente - comparar-me consigo, sendo supostamente bem mais experiente...

      * Teyssier "não pode ultrapassar a barreira dos 90 pontos"? Entendo. Bem, falando em pontos, e olhando o que tem no mercado, então pode (não fui eu quem fez as avaliações). Mas se um Casillero del Diablo é 90 - agora sou eu avaliando - , então Teyssier é 96, 97. Pelo menos. Tá, vamos estender o sistema até 120 pontos (risos!), a fim de fazer justiça aos vinhos que estão acima destes. É o que digo sobre o James Sucks (sic): a régua dele vai até 126. De qualquer maneira - agora vem o importante - o sistema de pontuação tradicional (sobre o que falamos, imagino) indica que:
      Vinhos excepcionais pontuam de 96 a 100
      Vinhos excelentes pontuam de 90 a 95
      Vinhos muito bons pontuam de 80 a 89.
      O próprio utente diz que não ultrapassam 90 pontos, mas até 89 o sistema considera os vinhos como "muito bons"! E perceba lá (rs!), nem o classifiquei nesse nível, 'muito bom'... E ainda concordo com sua opinião de que trata-se de um vinho para iniciantes. Mas mesmo estes podem ser degustados, até por especialistas, certo? E, para iniciantes, ele é bem adequado... Qualquer hora bebo um Bordeaux um pouco melhor. Aí te conto.

      []s, e obrigado
      Oeno

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    4. Aguardo então.

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    5. Ow, ótimo. Só acho que vai precisar de paciência.

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    6. Big Charles,
      Nunca tomei esse Teyssier. Mas não deve ser ruim, é?
      abs,
      Falaveo

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    7. Don Flavitxo... não, nem um pouco ruim. Na 'promo' a 220,00... é de dar risada. Se olhar o Zh.D. (acima de P), vai parecer que não vale muito a pena. Mas... um Pontesac - acho um pouco melhor - está quase 400,00... O que mais posso dizer? Tenho outra garrafa, abro qualquer hora.

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    8. Então, Big Charles. Por esse preço é dificil achar algo bom. aliás, bons tempos em que encontrei o Potensac 2010 por 210 pilas no Savegnago...
      abs
      Falaveo

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    9. Sim, lembro disso mas... um pouco depois paguei cerca de 130,00 por ele! E por volta desse valor, experimentei um monte de outros 'bordozinhos' (Pédesclaux, não o Grand Cru, o 'Flor', e mais). A galera, D. Neusa, profs. Daniel e Liane, o André e o Paulo, todos compraram várias garrafas nesse preço e gostaram dos vinhos. Recentemente vi um 'Flor' de Pédesclaux a 300 e fumaça... Pois é, bons tempos mesmo... Por hora, o Teyssierzinho (rs) é uma das melhores opções na faixa de preço, para franceses.

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    10. Pagou 130 no Potensac 2010? Não foi o Chapelle? 130 e preço do Chapelle de Potensac... Eu nunca mais vi o Potensac 2010 lá...

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    11. 😔 foi nesse aqui... https://oenochato.blogspot.com/search/label/Ch%C3%A2teau%20Pontesac%202011
      desculpe qualquer confusão...

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