Introito
Empobrecemos. Ainda não percebemos o quanto. Temos 'pistas', mas acho que ainda não caímos na real. Ou apenas eu não percebi, quem sabe? Sei mesmo que vi nessas bléquis por aí um Pagodes de Cos pela bagatela de uns R$ 700,00. Deixei de comprar por uns R$ 300,00, há dois anos. Não me arrependo - estava caro mesmo. Mas o que estava caro a R$ 300,00 com dóla a uns R$ 4,00, imagine agora, a R$ 700,00 e com um dóla muito menor do que R$ 8,00... A não-compra do Pagodes aconteceu junto da compra do Prélat de Pape Clément e está narrada aqui. Enquanto não volto a enriquecer - junto da maioria dos brasileiros - vou mantendo-me com meus estoques reguladores. Felizmente ele tem algum tamanho; posso passar anos sem comprar vinhos...
Estoques reguladores
Comentei há algum tempo ter comprado várias garrafas de Bordeaux a ótimo preço na rede Savegnago. Esse ótimo preço aconteceu após as garrafas mofarem mas prateleiras por uns dois anos ou mais por causa de preços exorbitantes, quando a rede se convenceu do engano e queimou tudo, na faixa de R$ 120,00-150,00. Este estava mais na faixa dos R$ 120,00. Comprei umas 10 garrafas de diversos Bordeaux que ando queimando estes tempos. Invariavelmente, safra 2011. Não foi uma grande safra - alguns detratores dizem que foi verdadeiramente ruim. Opiniões mais abalizadas dizem que foi uma boa safra, mas eclipsada por duas excelentes safras anteriores, o que quebrou um pouco a magia da coisa. Como se a coisa tivesse magia para ser quebrada... Ainda tenho alguns exemplares... parece que nem o tempo ao 'relento' na prateleira do Savegnago comprometeu sua qualidade. E é hora de desfrutá-los mais e mais...
Fleur de Pedesclaux 2011
Segundo rótulo do Chateau de Pedesclaux, pertence à região de Pauillac, no Médoc. É um quinto vinhedo da classificação de 1855. Quinto vinhedo é mais ou menos assim: se a safra for ruim, de repente o vinho pode não ser 'grande'. Mas jamais será ruim. Não que eu conheça muito sobre esses vinhedos; antes é a certeza de que hoje em dia não temos mais vinho 'ruim' vindo de produtor que 'sabe fazer', e que seja 'responsável'. Quem sabe, sabe: sempre vai tirar o melhor da produção descartando uvas, ou não lançando o rótulo para não comprometê-lo. Assim, se você um vinho dessa estirpe, sabe que ele terá aquela qualidade mínima. É o caso. Com 9 anos, Fleur de Pedesclaux tem fruta vermelha bem marcada, e tabaco (chocolate?) 'evidente'. Não sei se um ou outro (rs), mas está lá, bem vibrante. Difícil para este enochato é identificá-lo corretamente 😔. Boca equilibrada, corpo médio, taninos pegando um pouco, ainda, sem comprometer. Tem boa persistência e bom retrogosto. Agrada bem. É um Cabernet mais 'clássico', mais fácil de reconhecer. Digo, mais próximo do Cabernet 'rústico' a que estamos habituados, nada a ver com a delicadeza de um segundo vinhedo. Não sei - não sei tipo... nem tenho ideia - do que tem entre um quinto e um segundo vinhedo... Mas dá para dizer que Pedesclaux é bom 'o suficiente' como vinho em si.
Como disse, comprado a uns R$ 120,00 estava a muito bom preço na época. Um vinho de cerca de USD 25,00-30,00, com dóla a R$ 3,50, seria ótima compra a R$ 120,00. Estaria ainda dentro do conceito de 'boa compra' mesmo a R$ 150,00-160,00. É aí que vem a decepção, a constatação do nosso empobrecimento. Veja só:
De R$ 479,00 por R$ 375,00(!) No... nooo... nooooo..... no se puede... percebe o leitor quando digo que empobrecemos? Não consigo ver-me comprando um vinho como esse nesse valor em 2020... ainda mais tendo pago R$ 120,00 em algum momento da minha vida... O tempo da inflação ficou para trás... e que não volte...🙏Impressões da bléqui
Vim recebendo uma miríade - não, um Googleplexo - de mensagens das principais importadoras já bem antes da bléqui. Por 'principais' entenda-se as tubaronas (sic) de sempre e aquelas que habituaram-se a, depois de subir os preços, a cada quinze dias aparecerem com ofertas dignas de bléqui antecipada. Quase tudo, enganação pura. Deveria haver uma lei contra isso... houve uma proposta, uma vez... tipo... primeiro parágrafo da Constituição - parece que não vingou, foi retirada do texto final:
As pessoas precisam, antes de mais nada, ter vergonha na cara
Pois é, não vingou, e assim estamos hoje: empobrecidos.
Duas 'promos' causaram boa impressão: Enoeventos, já com margens apertadas, ofertou alguns rótulos com descontos de 30%-40%. Preços já admiráveis ficaram espetaculares. Não resisti e peguei dois borgoinhas (sic). A Vinho & Ponto em S. Carlos, dentro do grupo Shot Café, ofertou 70% de desconto na segunda garrafa de cada vinho comprado. Isso significa levar duas garrafas com 35% de desconto cada. A Vinho & Ponto é uma franquia com fama de careira. E é verdade. Acontece que com a crise econômica dos últimos anos, ela segurou os preços - leia-se: queimou sua margem. O preço dos vinhos estacionou, a despeito das altas consecutivas do dóla. 'Prova' disso é que os vinhos não sofreram reajustes desde que a loja abriu em S. Carlos, há uns 4 ou 5 anos. Com preços nessa situação (congelados), acrescidos de um desconto de 35%, as opções ficaram verdadeiramente atraentes. Sem desconto, a franquia ainda mantém boas compras. A grande pergunta é: quanto tempo vão durar esses preços, e quanto eles subirão no reajuste? Por hora, e mesmo no preço normal, vários produtos são muito boas oportunidades. Exemplo: os Torre Oria.
Carlos, muito legal tua postagem. Como sempre !
ReplyDeleteDessa vez, quero agradecer vc ter citado a V&P e gostaria de postar um comentário sobre o que escrevestes. Sim, a V&P vem, ao longo do tempo, lutando bravamente para manter os preços de seus produtos o mais constantes possível. Ela tem como uma de suas metas "democratizar o consumo do vinho" e trabalha duro para isso. Qd a loja de Sanca foi inaugurada, haviam 10 ou 12 lojas V&P no país. Hoje já são 30 ou um pouquinho mais, o que levou a V&P a ser a 2a maior rede de lojas de vinhos da América do Sul. Com o aumento do número e lojas, o faturamento aumentou, o que fez com que os custos e despesas fixas caíssem proporcionalmente. E essa redução foi passada ao consumidor, o que explica a constatação dos preços sem alteração ao longo do tempo que vc citou.
Assim, vamos ficar na torcida para que a V&P cresça ainda mais e consiga praticar preços ainda mais competitivos do que pratica atualmente.
Um grande abraço !
Olá, Jairo, como vai?
ReplyDeleteO reconhecimento dos bons preços de V&P foi dado - não há dúvida quanto a isso - e é muito bem-vindo.
Sua explicação do porque - a franquia passou de praticamente 10 para 30 lojas - elucida o motivo dos preços terem se mantido estáveis por tanto tempo.
Como consumidor, dou 'vivas' a qualquer opção de mercado que apresente a tão falada 'boa relação custo-benefício', desejando a ela mais e mais sucesso. Como já argumentei com alguns detratores do blog, eu jogo no time dos 'bons'. Sempre que V&P apresentar bons preços falarei que eles são bons. Claro, o contrário também deve valer.
Sucesso e boas vendas de final de ano,
Oenochato