Saturday, January 1, 2022

Esbórnias de fim de ano I e a estupidez dos Ph.D.

Introito

Final de ano chama esbórnia... e quem não gosta? 😉 A galera reuniu-se aqui em casa para renovar os votos de felicidade e próspero ano novo, além, claro, de honrar a Baco uma vez mais. Rê na cozinha (risoto), Carol no salomão (salmão 😂) e Dani no bombom de morango; o escriba na foto e o Akira em algum canto, tentando abrir o espumante com sua técnica zero noise. Ele consegue... não se ouve o menor shhhh... e de repente a rolha está na mão dele. O pessoal passou o ano um tanto recolhido, e não sem motivo: todos a menos de mim possuem pais em idade avançada. Como o grupo acredita na ciência, e ninguém é estúpido - é necessária essa ressalva, porque o que temos visto de Ph.D. estúpido por aí não é brincadeira - vai daí que nossos encontros resumiram-se a algumas poucas ocasiões, como o aniversário de alguém, e pouco mais. Não há problema; haveremos de tirar o atraso em algum momento.

Espumantes como prenúncio de ano novo

É tradição usarmos espumantes para momentos de comemoração. O hábito vem da nobreza europeia do século XVIII, e recentemente (50 anos para cá) é a forma como o pilotos de Fórmula 1 comemoram a vitória após uma corrida. Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário, teria dito Napoleão acerca do Champagne. Prefiro esta: O Borgonha faz você pensar besteiras, o Bordeaux faz você falar besteiras e o Champagne faz as pessoas cometerem besteiras (Jean Anthelme Brillat-Savarin, político e cozinheiro francês). Esse hábito para mim é recente. Comprar Champagnes é algo proibitivo, no Brasil. Franciacortas estão nas mãos das importadoras tubaronas, o que as tornam mais caras que as Xampas, proporcionalmente falando. Cavas são boa opção, apenas as que experimentei são sim legais... mas não me seduziram. Há relativamente pouco tempo encontrei alguns espumantes italianos com qualidade e preços razoáveis e que não senti-me envergonhado ao apresentar para as pessoas. Pelo contrário, em todas as ocasiões elas gostaram muito... 

Vinho e comida...

Encontrei em uma 'promo' - a bléqui da Enoeventos - o Bacio della Luna Spumante Cuvée Brut, da Schenk, produtor do Vêneto. Já havia provado o Blanc de Blancs, que achei legal - o travo um tanto doce para um Extra Dry chocou-me um pouco - mas todo mundo gostou. Eu é que devo estar errado... bem, achei que poderia apostar algumas garrafas desta outra opção, dado o preço convidativo: R$ 60,00. Faz bom par com queijos - Maasdam e Gruyère mais, Bree menos. Notas bem cítricas - o Akira desvendou bem, mas não recordo - acidez média, boca mais ou menos simples - se você compara com Xampas - boa perlage, sempre no sentido de que, ao contrário de muitos espumantes brasileiros, sua boca não estufa de tanto gás ao menor gole. Sei que existem espumantes brasileiros melhor equilibrados, mas não, para mim não valem R$ 100,00+. É um produto nacional. Deveria custar, e olhe lá, o que custa um Bacio della Luna mais simples "lá": 5 moedas. Custar 100zão é uma razão de 20x. No... (sic) Bem, concluindo: é um bom aperitivo, e o leitor não vai se arrepender ao experimentá-lo.

Brancos e salomão

O salomão da Carol estava no ponto. Nem para mais, nem para menos: como deve ser. Um pouco antes, havia servido o QP Chardonnay 2014, comprado também em 'promo' de bléqui na Vinho e Ponto. Experimentei há pouco tempo, está aqui, e esta repetiu a dose: nariz com toques cítricos e fruta branca; boca com algum frescor; acidez pegando um pouco. O Akira considerou que esta garrafa estava um tanto mais oxidada - essas variações vão de garrafa a garrafa, mas é bom ficar atento - mas no geral causou boa impressão. Pedi para as meninas chutarem a uva, e a Rê disse Chardonnay. Na mosca... Na sequência veio o Jaffelin Chardonnay 2019. Nariz delicado, floral, cítrico, boca com acidez muito equilibrada, boa permanência, final agradável. Não é longo; mas o conjunto faz boa presença. As meninas gostaram mais do QP. Discutimos isso. A presença da madeira neste chamou-lhes mais atenção, marcando mais a boca no primeiro contato. Como é mesmo, a primeira impressão? Isso conta, e, embora não por isso, Borgonhas são ditos vinhos para quem já trilhou um pouco mais do caminho desse aprendizado. Aliás, a Rê acertou a uva de novo... 

   Esta postagem foi tocada a um filé ao molho gorgo com Xisto Cru 2014. Mais sobre ele, depois.

Resenha de filme

Watch Don't Look Up (Não Olhe Para Cima), produzido pela Netflix, começa com uma aluna de Ph.D. descobrindo um cometa dentro de nosso sistema solar. Alerta seu orientador, um obscuro professor que ainda assim calcula manualmente sua trajetória e descobre que a rota é de colisão com nosso planeta. A partir daí eles iniciam um périplo passando pela Casa Branca, jornais e mídias sociais na tentativa de alertar as pessoas para a catástrofe. Aparecem então influenciadores digitais que nada sabem sobre o assunto tentando angariar público, Ph.D.'s estúpidos com propostas esdrúxulas, discursos obscurantistas e tudo mais que se possa imaginar, menos objetividade. A crítica à administração anterior (dos EUA, claro) é bem caracterizada, e o que mais choca à audiência brasileira é o grau de similaridade para conosco, quando trocamos 'cometa' por 'covid' de maneira particular e mesmo por 'administração' de maneira geral. Para ficar igual, só faltou mesmo mencionar as milícias digitais, presentes em toda parte do espectro político e que, por óbvio, nada acrescenta à discussão, uma vez que não querem ouvir o contraditório; só interessa-lhes espalhar agressões gratuitas em doses cavalares. Ainda se argumentassem... É um bom filme se você assiste atento à denúncia de até onde pode chegar a idiotice humana. Para tanto, esteja preparado a uma miríade de situações absurdas e quase sem sentido para seres pensantes.

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