Monday, October 31, 2022

Escolha sua tragédia II, ato final

Introito

Para confundir é preciso saber.
O que, convenhamos, é uma raridade hoje em dia.
Dito d'Oenochato


Passamos pela redemocratização sempre escolhendo entre duas tranqueiras e elegendo a menos pior delas. Apenas não percebíamos. O acaso não permitiu-nos julgar Tancredo. Talvez tivesse sido um ponto de virada em nossa história; quem sabe? Se a genética 'funciona', e observando seu neto, diria que não, e não temos muito mais onde nos fiar; acredito que a ciência deva estar correta. Analisando em retrospectiva nossos últimos anos, notando o nível da discussão tanto entre as principais correntes políticas (uhm...) como nas chamadas ruas, não posso dizer que melhoramos. Aliás, pioramos seguramente; basta ver a união em torno das Diretas e o completo desrespeito pelo outro nos dias hoje. Escolhemos o lado entre dois tolos, e portamo-nos como asseclas. A prova disso jaz aqui mesmo neste microuniverso que é blog: reclamações vazias, nenhum argumento, um deserto de propostas originadas em quimeras com corpos de ciclopes e cérebros de ostras bradando por democracia. Nas últimas semanas recebi - por vários meios - mensagens sugerindo voto aqui ou ali. Questionados, PTlhos disseram-me que não impixamos (sic) bolsonésio porque o congresso o protegeu. Acreditam que a esquerda movimentou-se, mas confrontados com a postagem acima, de moça que pode ser rotulada de muita coisa menos por ser de direita, calaram-se. bolsonésios arrumaram algum argumento para configurar seu mito melhor do que lulalelé; alegraram-se com minha concordância para então enfurecerem-se ao ouvir que sim, ele seria um diâmetro atômico melhor pelo simples fato de (ainda) não ter sido condenado. Continuo a reputar que bolsonésio é expulsável (sic?), enquanto lulalelé não o é. Economizando por simplicidade, os simples fatos narrados nos últimos parágrafos reforçam minha absoluta certeza de que não mereço nenhum deles. E eles, por equivalência, nada merecem de mim. Quanto mais meu voto. No final, a bem dizer, a democracia vencerá. Discuti à exaustão com meus amigos - bolsonésios, PTlhos, PSDBelhos/Simones-Palíndromos - e todos permanecemos amigos. Àqueles que clamam por democracia sem respeitá-la, podem ladrar.

O encontro do Gustavo

O Gustavo, do Bistrô Graxaim, voltou a aprontar das mandracarias, desta vez com um jantar a quatro tempos, rolha free (sic) - aí gostei! Aconteceu na última quinta e teve por cardápio:
* Entrada com linguiça de carneiro, com sua intensidade de sabor, introduzirá o jantar na forma de petisco que remete à culinária argentina, com um toque próprio...
* Primeiro prato com Prime Rib de Black Angus é o corte escolhido para o tempo que trará a carne bovina. Grelhado e com acompanhamentos inspirados na culinária francesa, com algo brasileiro.
* Segundo tempo com leitão Red Duroc à pururuca trará o momento da carne suína e o sabor reconfortante da culinária interiorana, com acompanhamentos e temperos que elevam os sabores com ingredientes selecionados.
* Sobremesa, com bacon caramelizado, saindo do convencional, traremos uma combinação que destaca o potencial do sabor defumando e do corte selecionado de duroc em receitas doces.
Combinei a ida com o Ghidelli, pois tínhamos um vinhozinho comprado de ameia (sic! não a do castelo), e estava na hora dele; por não beber - e exclusivamente por causa disso - o Akira foi extremamente bem vindo. 😂🤣

Chateau Magence 2010, já comentado aqui e então imerso em bom confronto entre pares, voltou para dar o ar da graça. É um Graves dos seus 20 dólas (rs), vendido aqui na safra 2014 pela de la Croix a R$ 248,00 (2x, portanto), corte bem bordalês movido (sic) a 13% de álcool, 50% Cabernet Sauvignon, 40% Merlot e 10% Cabernet-Franc, com boca delicada e menos potência, similar a outros da região, mas com muito mais classe. Mantém a fruta - achei que vermelha - especiaria e café/chocolate (qual?), boa acidez, permanência 'adequada' picância esperada (digo, da especiaria) e bom final, foi o vinho que mais combinou com os pratos em geral. O problema é que havia uma pedra no meio de seu caminho... como o encontro fazia parte das comemorações do meu níver, levei um Peter Lehmann Stonewell Shiraz 2009, Xirrazão (sic) australiano de 60 dólas movido a 14,5% de arco mais um tanto de frexa (sic! rs!), que levou no peito tudo o que havia pela frente. Lembra a cena no caminhão com a moto logo no começo daquela porcaria do World War Z, com o bonitinho da bala Chita? Aqui, é a primeira das 'melhores cenas', logo aos 33 segundos. 


Então, com Stonewell foi bem assim. Vinho de muita extração - quando o mosto é deixado em contato com a casca das uvas por mais tempo, gerando muito tanino e cor bastante escura, principalmente nos exemplares australianos - tem o atributo dos bons vinhos ao marcar suas características de maneira indelével, tornando fácil até para os deficientes nasais o reconhecimento de suas notas e peculiaridades. A fruta é claramente negra, o toque é de chocolate, a especiaria está bem distinta. Acho que o Ghidelli comentou 'compota'. Boa madeira, até um pouco aparente, mas os outros aspectos também são superlativos, então o conjunto se harmoniza em alto nível. Ótima acidez e permanência, seu grande defeito é um adocicado forte e acima de tudo isso. Para mim, impediu qualquer perspectiva de harmonização com os pratos - e o bifim (sic) foi Angus... não, não é um vinho para comida, é um vinho para ser degustado a seco (sic), sozinho ou com um par igualmente potente. Senão o risco é amassar - Hulk smash - o concorrente, como fez com o pobre Magence. Em defesa deste, ficou claro seu potencial de harmonização superior. 

O Eduardo, guia e proprietário da Caminhos do Turismo, estava lá com uma turma. Sentei-me com eles por alguns instantes, e minha taça com o Stonewell passeou ligeiramente entre algumas bocas. Completamente surpreendente foi uma das opiniões, não lembro se da Tatiane ou de sua amiga (não guardei o nome 😔): 'entra doce e termina salgado'. Eu não pego tantos detalhes no primeiro gole; sou um tanto limitado e preciso de um momento distinto para analisar cada característica (rs amarelos): entrada, meio de boca, final (permanência e retrogosto). As mulheres são muito melhores para tais percepções. Daí que muitos reclamam do mercado andar repleto de sommerdiers (sic). Todos homens... Voltando... entre as diversas garrafas disponíveis na mesa deles, escolhi provar um pouco do pomposo Casa Valduga Arte Forza Blend Tinto 01 safra 2020 - nominho, heim!?, um blend Cabernet Sauvignon e Merlot. O gentil Eduardo foi até nossa mesa e serviu-nos generosamente dele, de modo que pudemos prová-lo em duas taças. Não há o que surpreender. Já declarei, não compro - não compro porque não compro - vinho nacional. Tenho-os de partida como uma porcaria e preço ridículo. Vejamos esse: estava, em um sítio m... m... melequetrefe, de 70 por 42 moedas. Também segundo o sítio - não encontrei no do próprio produtor! - tem por descrição Elegante, Taninos macios, Intenso, Persistente (escrito exatamente assim!). 
   Vamos lá. Nariz: bastante fruta vermelha, que desapareceu completamente depois de uns 15 minutos em taça. Boca rápida e rasteira, acidez quase zero - já vi comentário similar em algum lugar como elogio(!); cada bebedor sabe o que... bebe! - não deixa traço ou lembrança em boca. O Ghidelli notou que foi para o azedo, o Akira observou um toque de meia cura, beirando à podridão. Surgiu o comentário - um pouquinho maldoso - que o vinho morreu ao cair na taça. Até faz sentido, já que em 15 minutos ele transformou-se de algo próximo a vinho para algo pouco tragável. Não tenho motivo para desfazer de maneira tão gratuita do vinho nacional. Ele apenas é o que ele é; como crítico somente promovo minha apreciação técnica do produto. Já escrevi e repito: gostaria muitíssimo de levar um produto nacional para o Chile, onde tenho amigos, puxar um Leon da Tarapacá da prateleira deles e compará-lo com meu exemplar nacional. Mas para tanto precisaria gastar uns R$ 250,00 num Lote 43, enquanto o Leonzinho custa USD 3,00 nos melhores supermercados chilenos. Preciso, para registro, dizer que a crítica vai para vinho, e não dirige-se nem a quem o levou e nem a quem o bebeu ainda que com gosto. Mas se está jogando dinheiro fora pagando R$ 70,00 por 'isso', pegue uma boa compra do português Chocapalha por cerca de R$ 90,00, coloque de cada um deles em uma taça e compare!

Post-scriptum

A primeira parte desta postagem foi escrita antes da eleição. Lulalelé está eleito, com margem de 1% sobre bolsonésio. Foi quase um voto (sic), o meu, conforme comentei anteriormente, que faltou para o outro, bem feito (rs). Não há o que falar sobre o ganhador. Mas talvez fale sobre o perdedor, somente pelo gosto de tripudiar sobre seu cadáver - às vezes tenho certos prazeres mórbidos, reconheço. O tranqueira que perdeu, merece. Poderia ser lulalelé, tanto faz. Só não estou certo de valer a pena gastar meu tempo com isso. Direi depois de usar meus sais de banho.

   Sobre o... o... o... qual o nome, mesmo? Ah, sobre o vinho nacional,



2 comments:

  1. Big Charles, eu gostei da harmonização dos pratos principalmente com o Magence. Acho que caiu muito bem com a linguiça de carneiro. Mas como voce falou, o Lehmann (degustado as cegas por nós) como voce falou, atropelou tudo. Just for the records, eu chutei que o vinho que estava sendo degustado as cegas seria um Xirrazão canguru... Quando senti os aromas e depois na boca, ele me remeteu ao Dead Arm da vinícola d'Arenberg, acho que o dulçor dele é mais pegado, o resto ta bem próximo.. Muito bom. Abc

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    1. Luidgi, verdade seja feita, você disse mesmo que era um Xirrazão, e eu sisqueci de registrar! 🙄 Falha grotesca, mas agora registrada.
      Obrigado pela leitura.

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