Introito
Diamantes de sangue é como chamamos as pedras preciosas obtidas em uma zona de guerra e extraídos por mão de obra em condições análogas à escravidão. Não temos muitos diamantes por aqui, mas nosso vinho é o terceiro melhor do mundo, com o Champagne em segundo (mentem, claro), e ainda assim precisamos escravizar trabalhadores envolvidos com a colheita das uvas. Consta que em primeiro momento Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton negaram participação e conhecimento da situação a que estavam submetidos 203 de seus trabalhadores terceirizados - as empresas serão ouvidas pelo Ministério Público do Trabalho amanhã, dia primeiro. Só depois vieram as declarações do não vi, não sei, não comungo e similares.
De ontem para hoje
Recebi alguns comentários de leitores via uátizáppi. Do Jairo, da Vinho e Ponto, a declaração abaixo:
Quando eu era o gestor da área florestal da Faber-Castell, todo trabalho de campo era contratado com terceiros. Porém, tínhamos auditorias mensais em documentação (carteiras de trabalho, INSS, FGTS ....), e auditorias de campo (grifos meus) para ver as condições de trabalho (horários, transporte, qualidade de alimentação, qualidade da água, primeiros socorros, etc.)
Pronto. Está dito e exemplificado como tem que ser. Tivessem um mínimo de apego a seus ideais - transcritos na postagem passada - as vinícolas envolvidas não passariam pelo atual carão. Para este articulista, muita coisa ainda não faz sentido. As perguntas que não se calam são as seguintes:
- Diz-se que a falta de mão de obra na região levou à contratação dos trabalhadores baianos. A bolsa farelo - segundo bolsonésio, que a implementou com mais força no final de seu governo - seria a responsável; garantidos 600tinha (R$ 600,00), as pessoas preferiam ficar em casa a trabalhar. Mas segundo as contratantes, o custo por trabalhador era de R$ 6.500,00 por mês! Algo está muito errado nessa estória! Querem me dizer que por um salário de R$ 3.000,00 (a outra metade são custos trabalhistas) não encontrariam alguém? As próprias vinícolas não conseguiriam fomentar em sua própria região uma cooperativa de catadores de uva (sic) por, digamos, R$ 4.000,00? Nada faz sentido!
- Cúmplices - não há o que negar! - em esquema de escravidão, o que causou sofrimento sem igual e inesquecível às vítimas, o que os empresários fizeram para amenizar - e não mais! - a situação dos trabalhadores que já estão voltando para suas casas? Alguma bonificação ou indenização voluntária para os pobres-diabos explorados pela sanha de tranqueiras sem o menor escrúpulo ou compaixão? Não vi (quero dizer: avise-me se souber, para que seja feita justiça!). O que iguala os viticultores aos bandidos.
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