Introito: VTNC
Não é culpa de quem nasceu sem oportunidades ser ignorante.
Mas quem estudou e continua ignorante é plenamente culpado - de tudo.
Oenochato
As convicções são inimigas mais perigosas da verdade
do que as mentiras.
Nietzsche, mas bem poderia ser
qualquer brasileiro sensato
dos dias de hoje.
Notícias metafísicas alertam que o Espírito Santo está ausente; dirigiu-se a uma dimensão paralela corrigir o equívoco onde Nosso Amado Presidente (NAP) foi acusado injustamente de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em ação penal envolvendo um triplex em Manhattan, defronte ao Central Park. Por aqui, a capa da revista Crusoé de umas poucas edições atrás retrata NAP como apresentador de circo, clara referência a um programa dominical onde Sílvio Santos oferecia dinheiro aos participantes de suas competições valendo-se do bordão Quem quer dinheiro? A reportagem comenta como NAP supostamente prepara um auxílio de 30 bilhões entre linhas de financiamento e redução de impostos para alguns empresários valendo-se de critérios não muito claros na escolha dos beneficiados. A ajuda aos amigos do Rei é uma prática milenar, uma tradição por assim dizer, e ante a força do hábito não há muito do que reclamar, se o leitor não morar em um país moderno e civilizado. Crescer e ganhar o mercado internacional é uma opção do empresário. Mas é uma opção de risco, e o empreendedor deve estar ciente das ondulações inerentes a esse tipo de operação: bloqueio por parte das superpotências, pirataria, tempestades, fechamento de rotas por outros motivos. Na dificuldade de exportar, o excedente pode ser desovado no mercado interno e adjacências, a preços mínimos e em benefício da população local - seria até um reforço a relações de amizade, indispensáveis para com países fronteiriços. Um governo verdadeiramente de esquerda abriria mão de parte dos impostos - cobrados diretamente do consumidor - em vez de abrir linhas de crédito a quem já tem muito, favorecendo quem vem primeiro em seu discurso, o excelentíssimo povo. E se alguma parte da cadeia não fizer sua parte, ora, nesse momento a tão odiada Medida Provisória, com validade entre 60 e 120 dias, mostra-nos sua face honesta, digna e útil enquanto ferramenta legal para o próprio governo enfrentar tempos difíceis e promover justas punições a quem tenta ganhar mais tem tempos de crise. Assim, ouvir a ideia de NAP financiar tal dificuldade como vem propondo obriga-me a reagir com asco e veemência, recomendando-lhe um sonoro VTNC! NAP, aproveite-se da ausência do Espírito Santo causando uma Vacância Trinitária na Natureza Celeste e, como a alma mais honesta deste Universo em todos tempos, ocupe seu lugar à esquerda do Pai - posição claramente mais elevada do que a direita (rs!). Até aponto o lado porque se deixar és capaz de dirigir-se para a direção errada, senil que estás. É isso: Lula, VTNC, dá até adesivo de carro! Diga aí, PTlho de plantão: foi nesse projeto de país perdulário em que você votou? Deveria NAP mandar 30 bi para empresários abastados ou reduzir os impostos dos cidadãos comuns?
O Níver do Ghidelli
Aniversariando com cada vez mais empenho e dedicação, o Ghidelli comemorou seu sexagésimo sétimo aniversário em grande estilo e prometendo ser apenas o primeiro de vários skenta para o septuagésimo. A ver.
O início dos trabalhos transcorreu sob uma Xampa, a Barbier-Louvet Cuvée D'Ensemble Grande Cru, engarrafada em 2020 e entregando muito frescor e equilíbrio, tudo bem balanceado e sem arestas. Não sou conhecedor de Xampas, mas comprá-la a uns R$ 252,00 na pandemia foi grata oferta. Quisera perdurasse... Atualmente a Enoeventos pede R$ 397,60 pela Premier Cru - paguei 231,00. O dóla valia R$ 5,40, não muito diferente de hoje. Uma pena ela ter descambado para a tubaronice. Mas se procurar com cuidado sobram algumas garrafas a bom preço lá. Wine Searcher, nunca sisqueça! O camarão com Mascarpone - já tradicional em nossas reuniões de gala - acompanhou um Tondônia Reserva 2012 Branco. É sempre um prazer abrir um Lopez de Heredia, e se for da linha reserva a felicidade só aumenta. Nariz cítrico com mais notas a desvendar e toque herbáceo, boca com aquele oxidado, marca registrada, boa acidez, persistente, deixa saudades quando a taça chega ao final. É ótima pedida para acompanhar camarões. Seu preço por aqui é proibitivo - a menos que o leitor encontre um desses vendedores de redes sociais que desovam algumas garrafas da importadora-tubarona, mais não é muito comum achar o branco. Esse foi trazido de fora.
Aqui começam uma das bolas divididas do encontro. Se entendi bem, Masdache 2023 é produzido pela Puro Rofe, uma vinícola fundada em 2017 nas proximidades de Lanzarote, Ilhas Canalhas (sic! rs!). Devido aos ventos fortes as vinhas são conduzidas rente ao solo e amparadas por providenciais muretas de pedra. O sítio está em construção, mas aqui tem outras belas fotos do local. Composição de vinhas centenárias, Masdache é um corte não linear (sic rs!) de Malvasía, Diego, Listán Blanco, Listán Negro, Negramoll... tirando a primeira cepa, já ouviu falar de alguma outra? O toque mineral está lá - veja a cor do solo! - cítrico, acidez muito (muito mesmo) presente - safra nova? - ótima boca, no sentido de persistente, e bom equilíbrio, com 13% de álcool e madeira discreta. Se não lesse na ficha técnica não diria ter... Um vinho surpreendente; merece ser degustado. Não é barato (50 dólas), mas está numa faixa que pode ser posto na mala e trazido para compartilhar com confrades incautos... porque pelas cepas do corte um bebedor mais conservador passaria longe. Walew, Ghidelli! Ah, sim: o aniversariante declara as Ilhas Canárias como terra de seus ancestrais, de algumas gerações atrás. Ele curtiu muito quando falei das Ilhas Canalhas, apresentando uma paronomásia em forma de trocadilho.
As ofensas se escalaram com os tintos. Nojento, Don Flavitxo trouxe seu vinho embrulhado. A mulherada sugeriu um Pinot(!); passei longe da cepa, tendo chutado espanhol amparado numa vaga lembrança do Mas Borràs (Pinot!), mas sem fazer a devida conexão. A expressão da Pinot à qual estou acostumado não é aquela; o palpite foi pelo estilo, e não pela uva! E para piorar tudo, era mesmo um Pinot... Incursão da prestigiada Maison Drouhin no Óregon nos EUA iniciada em 1987, imagino que o Vale do Willamette tenha sido escolhido após alguma pesquisa em diversos estados cuja característica comum seja a latitude, bem similar à da Borgonha (Oregon, Washington, Idaho, Michigan, Vermont e Nova York gozam dessa característica). Para mim, a questão se resume assim: o (bom) produtor sabe, e ponto. Se os Drouhin escolheram o Oregon como ponto para suas prospecções, a este idólatra de Baco resta provar e aprovar a oportunidade que veio pelas mãos generosas de Don Flavitxo. Vou abrir um parênteses.
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Até beber um Borgonha legal, a Pinot nunca me convencera; a postagem Meu Primeiro Valisére (2013) mudou minha percepção sobre ela em definitivo. Antes disso, eu havia trazido do Chile o Leyda Lot 21. Pagara no mercado regular uns USD 40,00, valor próximo aos ícones Don Melchor e Don Maximiano no frixópi de saída do Chile (USD 50,00), sob o comentário do vendedor dele ser o melhor Pinot do Chile. Abri algum tempo depois com o confrade Cesar Matemático (rs), rapá de boa índole tanto quanto bom gosto, e nos olhamos com certa decepção: Esperava mais - dissera um. Eu também, retrucara o outro. A amizade até continuou (risos!), apesar do abalo - ele também nutria boas expectativas para com o Lot 21. O tempo passou e reposicionou o blefe: presentemente paga-se USD 25,00 por ele no Chile (mas se procurar, encontra por USD 15,00). O preço não apenas não se sustentou, ele caiu, passados uns 20 anos, a inflação pela qual atravessou o país e a (super)valorização dos vinhos chilenos em geral. Corta a cena, vamos para o Oregon, um produtor de primeiro nível viaja literalmente meio mundo, se estabelece em um lugar alienígena, abraça a tarefa de produzir um vinho e suas versões mais recentes de Dundee Hills estão à venda por... USD 35,00-USD 40,00! Tem qualidade muito superior ao que se produz do lado debaixo do Equador, sem dúvida, mesmo não alcançando a similaridade com a Borgonha. Talvez o tempo comprove a proposta do produtor - serão décadas(!); o próprio enólogo da Catena, Alejando Vigil, admite isso -, e nenhum leitor estará aqui para conferir, mas pouco importa; produzir vinho é um projeto de gerações, digno somente dos maiores sonhadores. Drouhin é mais honesto em sua proposta do que 105% de todos os produtores da América do Sul. E Dundee Hills sequer figura entre os vinhos mais caros da região. Aqui, a métrica é diferente: querem cobrar-nos o valor de um vinho acabado pulando toda a etapa da evolução de cinquenta anos ou mais necessárias para um projeto de monta decolar. Estão certos, afinal este é um país de estúpidos onde as exorbitâncias não são reconhecidas.
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Para felicidade geral o Imperial Gran Reserva 2017 chegou para resignificar (rs) a palavra elegância: muita fruta madura, café ou chocolate (qual?) com mais notas e madeira com presença. Os taninos amaciaram, a expressão geral é de corpo médio amparado em boa acidez, permanência acima da média recheado de frutas e mais toques. Custa uns 70 dólas na Espanha, e R$ 990,00 por aqui, na Grand Cru (R$ 850,00 para assinantes). Dá um pouco mais de 2.6x, um tanto acima do razoável; existem muitas opções melhores. Apenas por curiosidade, a Gran Cru também traz o Lot 21, a R$ 530,00 para meros mortais e R$ 450,00 para assinantes. No Chile, como dito, acha por até USD 15,00, o que dá R$ 82,00 e aí a proporção (preço cheio) salta para 6.46x(!). Isso sim é tubaronice! Tal discrepância sugere registro, mais abaixo.
A postagem está demasiado grande - e excessivamente atrasada. Termino na próxima.
O que se pede pelo Lot 21 aqui...
Leyda Lot 21 Pinot Noir, preços no Chile e no Brasil. Varia bastante por lá, entre 16.000 e 28.000 Pesos, o que dá entre 16 e 28 dólas. Aqui, R$ 530,00.
Realmente esses branquinhos nojentos deixam uma saudade semelhantes aos anos que já se vão...kkkk. E os das Ilhas Canárias sempre me encantam. Salute Carlão!
ReplyDeleteMeu meu primeiro Canalha, mas gostei muito. Obrigado pela leitura!
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