Friday, August 8, 2025

Um ligeiro atropelamento

Introito

Qual país pode ser pior do que um onde roubam seus velhinhos?
Aquele onde roubam os velhinhos duas vezes.
Oenochato

   Poucos se lembrarão do Caso Jorgina de Freitas, perpetrado contra a previdência entre 1988 e 1990. Foi um desfalque de mais de 300 milhões de dólas (à época; corrigindo o valor, hoje seriam 777 milhões de dólas, ou R$ 4,22 bilhões). Foi dinheiro de aposentadoria - dos velhinhos - indo para o bolso de gente jovem. Em abril passado a Operação Sem Desconto foi deflagrada para "combater um esquema nacional de descontos associativos ilegais em aposentadorias e pensões". Ou seja, novamente os velhinhos foram aliviados em alguns tostões (8 bilhões). O que fez Nosso Amado Presidente (NAP)? Nada(!). Em vez de repor imediatamente os valores desviados ao longo de todo seu mandato, sua administração entrou com um pedido junto ao STF para que os processos de indenização fossem suspensos. Um governo verdadeiramente voltado para os pobres deveria  antes de tudo proteger os pobres. Em vez disso, NAP simplesmente negou-lhes o direito de processar o Estado em busca de reparação. Gostaria de perguntar ao eleitor de NAP: foi nesse projeto de país que você votou quando fez o 'L'?

O Passadouro e o Valduero

A Débora enviara mil desculpas pelo não, mas na hora fatal voltou atrás e foi direto ao ponto: - Aquele convite ainda está em pé? Claro que estava... e para não se fazer de rogada, chegou dez minutos mais cedo e com uma taça na mão 🤣. Alguma entradinha sem preocupação em harmonizar, e constatamos: um tanto fechado; embora exibisse fruta, sua manifestação era contida. Algo como pimenta também presente, mas não era aquela pimenta de madeira. Boca com taninos nervosos, acidez média, álcool (14,5%) sem incomodar, mas faltava harmonia ao conjunto. Don Flavitxo avisou, quando comentei-lhe sobre a oferta (R$ 200,00): é um vinho longevo... Passadouro Reserva 2016, duriense, não está dando mostras de ter amolecido - provei dele alguns anos atrás por ocasião da compra, acho que não postei, e lá estava fechadão mesmo. Note: foi aberto na noite anterior. Dormiu na geladeira, e alguma suavizada deveria ser observada. Qual nada... mais alguns anos de repouso para as garrafas restantes. Antes de seu final havíamos acordado: faltaria vinho. Desci para a adega, à procura de alguma opção de serviço rápido. Preocupado, coloquei a mão em um escaninho e para alívio e surpresa sai um Valduero Crianza 2016. Acreditava ter bebido a última garrafa, mas havia uma derradeira. Salvo! No pouco tempo de aberto já dentro do balde com gelo, saiu com aromas muito agradáveis roubando da Débora um sorriso alegre e feliz, seguido de um Isso sim... E concordo: fruta, um toque herbáceo, madeira (de leve) e outras notas (chocolate?) com ótima boca: acidez adequada, taninos redondos, álcool discreto, dulçor discreto, tudo certinho, como se espera de um bom vinho. Ótimo momento para ser degustado; se o tiver, vá em frente. Ambos foram comprador em ótimas 'promos', com preços bastante convidativos. Sem gastar muito tempo comprovando os dados, Passadouro Reserva é um vinho uns USD 45,00 em Portugal e aqui pode ser encontrado por algo como R$ 240,00 (eventualmente não informam a safra), ótima compra. Mas teje avisado: se for posterior a 2016, fatalmente estará menos pronto do que o exemplar degustado. Valduero pode ser encontrado a R$ 370,00. A versão Crianza deu lugar à Valduero 2 Maderas, e custa lá fora uns 25 dólas.  Está um tanto tubaroneado...

Um ligeiro atropelamento

Era quase aniversário da Liu, e ela passou num domingo para uma confraternização adiantada. Com um encontro para início das comemorações programado para o sábado seguinte, declarei aquele dia como festivo, e escolhi uma peça digna do momento: o Brise Cailloux 2015, um Cornas do Domaine du Coulet. Aerado algum tempo - não lembro quanto, talvez uma hora - chegou explosivo, com muita fruta negra, especiaria e mais toques. Boca ótima por conta da estrutura casando com a acidez, taninos redondos e álcool à 14% bem integrado ao conjunto, com um dulçor discreto. Pegado e elegante, faz meu tipo de vinho. Se o leitor considerar a postagem passada, onde reflito sobre a questão do vinho mais elegante e do mais encorpado, Brise Cailloux está na categoria fora da curva por apresentar ambos. Tem longa permanência em boca, longa mesmo: conversando, rindo e aproveitando aqueles ótimos momentos, notamos como ele permanece atiçando as papilas, fazendo-se presente, estimulando o próximo gole. É um 100% Syrah proveniente de Cornas, norte do Rhône, onde essa cepa realmente alcança um dos pontos altos de sua expressão. Sobrou um tanto, e não bebi na segunda-feira. Adivinhe. Sim, os Paduquentos caíram de joelhos enaltecendo Baco com fervor e devoção renovadas quando um tantinho caiu em suas taças, e o primeiro buquê subiu-lhes pelos narizes, na terça-feira: Brise Cailloux ainda estava inteiro, maravilhoso - foram eles quem opinaram sobre a fruta mencionada anteriormente. Para não fazer feio (não?), ofereci-lhes um Sassoalloro 2021, produzido pelo Jacopo Biondi Santi em seu Castello di Montepo localizado em Maremma, região costeira da Toscana, mais precisamente na DOCG Morellino di Scansano. A cepa principal por ali é a Sangiovese (mínimo de 85%), e parece seguir a mesma base de corte presente em Chianti e Vino Nobile di Montepulciano (Canaiolo, Colorino e outras). Em Sassoalloro, bem apontaram os confrades, a fruta era vermelha, com boa complexidade. Boca equilibrada, alegre, mas notas abaixo de Brise Cailloux; ficou um toque anticlimático, pois normalmente servimos o vinho mais simples primeiro. Ainda assim tem suas qualidades; podemos dizer que é um vinho para ser apreciado, eventualmente. Mas é inegável: Sassoalloro tomou uma amassada de Brise Cailoux e não foi de leve não senhor; deu-se quase como o atropelamento de um Fusca por um FeNeMê carregado com 200 toneladas, uma diferença de qualidade extravagante. Uma análise dos valores elucidará a questão, bem como deixará exposto algum constrangimento. Não é culpa minha...

   Brise Cailloux é importado pela De La Croix e em sua safra 2018 está custando R$ 588,00. Nos EUA, a safra 2021 custa USD 70,00. Dá R$ 380tão. Curiosamente encontrei um Sassoalloro na mesma loja e na mesma safra degustada, e ele custa algo como USD 38,00, ou R$ 206,00. Fazendo aproximações generosas, Brise está em uma relação 2 x 1 em valor; cumpre sua tarefa de ser um vinho bem melhor pelo dobro do custo. O problema é que por aqui Sassoalloro está R$ 488,00, o que dá 2.33x (nem é uma margem tão alta, mas para mim está acima do limite aceitável; como apareceu em 'promo' e há algum tempo por R$ 245,00 - ótimo preço! - comprei 3 garrafas). Então a ladainha se repete: o consumidor, desavisado, compra mal. Paga uma fortuna pelo vinho e de repente seu representante é massacrado por um de valor somente 20% maior. Fica evidente como a boa compra em uma importadora honesta valoriza nossos suados cruzeiros face a compra do produto de uma importadora tubarona. A comparação via Wine Searcher nunca falha, não é mesmo?

Comprovando...

   Sassoalloro e Brise Cailloux encontrados na mesma loja, nos EUA. Diferença próxima a 2x. Confesso ignorância sobre o Domaine du Coulet com base em minha escassa literatura; o produtor não é referenciado por ela. Comprei o exemplar confiando na curadoria do sempre cuidadoso Geoffroy De La Croix, que não conheço mas sobre quem ouvi algumas estórias do Daniel quando ele era gerente da De La Croix. Parece que a nova direção não seguiu a tradição de bom atendimento, infelizmente, mas recomendo o importador acima desse problema.




   Brise Cailloux e Sassoalloro por aqui. O primeiro em 1,55x comparado ao preço , outro em 2.33x. De quebra, o perfeito exemplo de quando o marketing sobrepuja a qualidade. Particularmente, acho tudo isso excelente! Enquanto houver pessoas idiotizadas - em todos os sentidos! - mundo afora, os adoradores de vinho que buscam informações sempre provarão do melhor pagando menos. O chato é quando a estupidez não mexe somente com o bolso do otário, contaminando decisões cruciais para a própria civilização.





Saturday, August 2, 2025

Don Flavitxo e as Malucas

 Introito. São Luiz do Anauá, RO. População: 7.300.

   Dizem que a imprensa é corrupta, vendida, pelega, fala mal do governo de plantão quando não recebe (generosas) verbas de propaganda, portando-se de maneira oposta caso contrário. Posso falar por mim, e apresentar a trajetória do blog: denuncio a tubaronice de importadores de vinhos há anos, mesmo sob ataque (risos!) de puxadores de samba saco cujos comentários até tempos atrás apareciam na moderação. Sempre foram combatidos com argumentos, menos quando tentaram falar de política, já que por princípio esse assunto não está em debate. Um, mais criativo, perguntou se determinado vinho 'ia bem com lula'. A resposta despertou seu senso de honestidade intelectual, e ambos rimos com a situação. Trégua passada, voltamos a nos digladiar. Recobrando a primeira frase deste parágrafo, ofereço a reflexão: já ouviu falar de São Luiz do Anauá, em Roraima? Se ouviu, então está óbvio: a imprensa está cumprindo seu papel... porque o menor município desse estado, com apenas 7.300 habitantes, recebeu, entre 2021 e 2024, a bagatela de R$ 109.000.000,00 em emendas parlamentares, tornando-se a cidade que recebeu o maior valor de verbas por habitante em todo o país. Ainda assim, e em um imbróglio mal explicado, a posição atual da cidade é falimentar, devedora de débitos acumulados em R$ 52.000.000,00. O assunto é antigo (março de 25), e a própria Assembleia Estadual abriu uma CPI para apurar o caso. O ex-prefeito e pivô da ação é do Partido Solidariedade - até ontem na base do Governo Federal -, e atualmente capitaneado pelo Paulinho da Força, impoluto cidadão de conhecida trajetória política: candidato a vice-presidente e diversas vezes candidato à Prefeitura da cidade de São Paulo, além de vitoriosas campanhas ao Legislativo Federal. Não tenho TV, mas repito: se a imprensa mostrou o Presidente do Solidariedade manifestando sua preocupação quanto aos fatos - a falência municipal é incontestável; a apuração dos culpados é outra estória - então ela novamente cumpriu seu papel. Paulinho não se pronunciando voluntariamente, a obrigação dos jornalistas seria apurar os fatos - onde está a tal imprensa investigativa? Agora... 🙄 se você não está sabendo do que falo... pelo menos recorde-se comigo: já ouvimos muito mais barulho por muito menor escândalo. E nesse caso possivelmente a imprensa não está fazendo seu trabalho. Nosso Amado Presidente (NAP), que prometeu, dentre tantas coisas, acabar com sigilos de gastos presidenciais herdadas da administração anterior não o fez. Mas foi pródigo em juntar-se a pessoas de currículo duvidoso, e os escândalos - como o dos velhinhos, para citar outro e poder usar o plural - avolumam-se. Onde está NAP agora, para bater no peito e dizer aos brados: Mea culpa, mea maxima culpa? Bem... sabemos que português não é com ele - nem com o Xandão! -, o que dizer de latim? Enquanto isso, enfraquecida em um leito hospitalar possivelmente digno de Anauá, a Pátria definha. Foi nesse projeto de país em que você, que fez o 'L', votou?

Outros vinhos

Há não muito tempo provei um Terra di Lavoro 2010, e sabia da existência de outro exemplar na safra 2009 - a estória do colecionador desfazendo-se de sua adega. Não foi difícil convencer as Malucas a entrar na brincadeira, e a aceitar Don Flavitxo como convidado especial deste Enochato: leitoras assíduas do espaço, estavam verdadeiramente curiosas para conferir a existência do mítico bebedor que volta e meia menciono como meu principal mentor nas sendas a Baco. E no dia marcado estava lá o lépido Flavitxo com seu sorriso generoso, cativando a todos com suas estórias. Para agradar a tão ilustre companhia, a Maluca ofereceu uma xampa do Philipponnat, a Royale Brut Reserve. Sempre uma ótima escolha, facilmente eclipsa os concorrentes mais simples como Veuve Clicquot, Piper-Heidsieck e  Taittinger, embora custe sim um tanto a mais. Mas em uma boa 'promo' a diferença pode cair a níveis onde vale investir pela pequena diferença, então fique atento. Philipponnat é muito elegante, combina toques bem cítricos com notas florais e fermento; tem belo equilíbrio e nesta safra 2015, com dégorgement em agosto de 2019, está ótimo e apto para ser degustado. Não conheço tanto sobre xampas, e por isso não arriscarei quanto tempo mais pode envelhecer. Mas está em ótimo momento para consumir...

Como pode ser conferido, nessa safra foi um corte Pinot Noir (65%), Chardonnay (30%) e Pinot Meunier (5%) - a composição varia de safra a safra - e por alguns momentos as Malucas refletiram se não valeria a pena Philipponnat sobre as opções mais simples, como já comentado. É isso mesmo, foram de encontro à minha reflexão de que, em 'promo', a diferença pode não ser significativa. Está este Enochato incumbido de ficar atento à próxima oportunidade. Missão que será levada a cabo com o maior denodo e respeito pelas preferências das confrades. Sem esquecer do Mário como parte das Malucas, além deste escriba, quando uso o nome genérico Malucas para o grupo...

   O Terra di Lavoro 2009 estava como 2010: explosivo, pegado, muita fruta e outras notas, encorpado e estruturado. Recupero sua prova aqui, pois os resultados são similares. Don Flavitxo nos encantou com um Viña Arana Gran Reserva 2015 da La Rioja Alta, grande produtor espanhol. Também tinha bom corpo, acidez viva mas estava visível como a pegada era mais leve e graciosa. Frutas em camadas, especiaria, aquele toque chocolate/café (qual?), madeira discreta e integrada, tudo muito elegante, com maravilhosa persistência a alegrar os bebedores, e recordei-me de como o Il Bosco do evento anterior mostrara-se um vinho superior. Sim, Arana - junto da experiência prévia - raiou como um ponto de virada em minha percepção de vinhos mais elegantes sobre aqueles potentes. E tenho mais uma abordagem a validar: já escrevi em algum momento sobre como bons vinhos defenderem-se bem quando encontram outro igualmente significativo pela frente. Repete-se o mesmo entre Arana e Lavoro: o segundo tacou sobre o primeiro toda sua esplêndida potência mas não o sobrepujou; em uma cinesia discreta Arana alojou-se em um ponto mais alto e brilhou sozinho. Vivo e aprendo. Explico melhor: conscientemente, trocarei os vinhos pegados pelos elegantes, de agora em diante. Eles podem ser bons, ter seu apego, mas quando o bebedor percebe essa sutileza como algo mais palpável, a lembrança do maior requinte de fato sempre permanecerá na lembrança. Tento explicar melhor ainda: simplesmente caiu a ficha.

   Por sobremesa levei um passito que há tempos aguardava a oportunidade de molhar gargantas dignas... e encontrou nas Malucas a hora perfeita. Scacco Matto 2007, produzido com a variedade Albana pela Fattoria Zerbina, na região de Emília-Romagna, mostrou toques cítricos, damasco e mais notas. Alguém teria dito mel? Acidez adequada contrabalançando o dulçor e boa persistência completaram bem a noite. Como disseram os confrades, teve bão. 

   Esta postagem foi tocada a um Passadouro Reserva 2016. Havia provado uma garrafa há algum tempo, e estava bem fechado. Seus exemplares mais simples, Tourigas Franca e Nacional 2018 estavam bem prontos no ano passado, mas não ele. Passadouro Reserva está chegando a seu ponto, embora tenha evolução pela frente. Aerou por mais de duas horas e agora, entrando na quinta, mostra fruta contida e especiaria, com acidez e corpo médios. Ficará um tanto para amanhã. Vejamos a conclusão.

Sunday, July 27, 2025

Momentos felizes e tungas infelizes

Introito: juros mórbidos

Há algum tempo - 24 de março - veículo de comunicação não oficial anunciava, em claro tom de boa notícia, o plano do (des)governo em uma modalidade de empréstimo segurada pelo FGTS do trabalhador. O caboclo tem uma dívida com juros altos, faz o empréstimo a juros menores e a quita, trocando por outra com juros menores. Uma boa ideia? Ótima! Se os juros fossem mesmo civilizados como supõe o Andrada, aquele sujeito que colou para passar em economia, ou algo assim, e hoje é o sinistro (sic) da dita pasta de Nosso Amado Presidente (NAP). Os juros, se comparados ao padrão mundial, são absurdamente altos. Tem até dono de importadora de vinho tubarona pensando em mudar de ramo e abrir uma instituição financeira para financiar os endividados país afora.

A NAP não falta desrespeito (sic) ao cidadão. Lembram-se dele dizendo do brasileiro "não levantar o traseiro para buscar juro menor"? Tá fazendo aniversário de 20 anos! Como os próprios meios de comunicação apontaram à época, NAP poderia simplesmente ordenar aos bancos oficiais a baixa geral de juros para forçar todo o mercado a seguir a tendência. E agora, passadas duas décadas dessa triste declaração, no ano da colheita, e uma geração de brasileiros tão ignorantes quanto a anterior, o trabalhador é obrigado a sacrificar seu sagrado FGTS para amortizar dívida engendrada em um governo tão natimorto quanto o último. Sim, essa nova geração de ignorantes e idiotas é bucha de canhão para a gestão de turno, que nela se esfalfa de tanto passar o conto do vigário. Não tentem enganar-me sugerindo termos uma administração governando para o povo. Governa cada vez mais para os ricos, então urge ser expulso do posto o mais rapidamente possível, para o bem da nação - claro, os deputados discordam: deixe sangrar. Termino com a reflexão de que a ótima ideia do Andrada seria absolutamente desnecessária se o país estivesse em situação de pleno emprego, competitivo internacionalmente, atraindo investimentos e portanto com a mão de obra valorizada, e assim as pessoas não precisariam de empréstimos e, antes disso, sequer precisariam contrair as dívidas que agora tenta-se minimizar. Para quem se esqueceu, os maiores aumentos salariais foram concedidos a quem já ganha (muito) bem como os juízes, por exemplo. Turma de sorte, essa. Nas mãos de um governo verdadeiramente de esquerda estariam cada um em seu quadrado.

Diversas provas, sempre bem acompanhado

   Passou-se bom tempo desde a última postagem, e o assunto da introdução ficou velho, pois foi soterrado pelo escândalo seguinte, e este pelo próximo, e... Provo: o leitor que ainda não se deslembrou da triste piada acima saberia dizer qual seguiu-se a ele? Eu, que acompanho um pouco o assunto, estou em dúvida! Acho que foi a caterva das Forças Armadas se juntando para tentar dar um golpe de estado e imprimindo e distribuindo minutas da proposta aos quatro ventos. Mas posso estar errado, e o assunto agora e vinho. Se alguns problemas impediram-me de levantar a pena para tornar vossa vida miserável, raro seguidor deste espaço, não me faltaram degustações sempre muito bem acompanhado pelas confras, sejam a Paduca, a Maluca, a #Émuitovinho e outras reuniões. Listarei algumas garrafas compartilhadas sem a preocupação do momento ou da companhia.

Essa foi por conta do níver do Mário. Ele apareceu com o Châteauneuf-du-Pape do Domaine Juliette Avril 2016, um CdP como eu gosto (muito!): encorpado, com bons taninos e acidez. Buquê rico em frutas e mais toques - não registrei - e agradou a todos. Boa persistência e volume de boca, custa seus USD 50,00 lá fora, faixa de preço para exemplares já bem respeitáveis do Rhône. Era trazido pela Evino, mas encontra-se esgotado e não encontrei referência de preço por aqui. Embora bom para ser degustado, ainda segura a onda por mais alguns anos; se cruzar com uma garrafa perdida, vá com fé. Junto dele tivemos um Chablis Premier Cru 2017 do William Fevre. Creio ter vindo de fora, mas não era meu. Estranhei sendo um Premier Cru não trazer o nome do vinhedo. Mas tinha aquela mineralidade característica, toques cítricos e marcantes, boca com ótima acidez. Outra garrafa cuja qualidade provocou suspiros entre os bebedores, eu dentre eles. Não sei exatamente quem traz os vinhos do WF, mas se topar com eles em alguma oferta, mande ver. Este 2017 está ótimo para consumo.


Devo ter falado de um consumidor desovando sua adega. Felizmente o motivo não é de saúde! Nem necessidade financeira, mas não entremos nesses detalhes. Alguém n'As Malucas comprou um Quinta do Carmo 2011 talvez com minha indicação da safra, que é icônica, e estava com receio (risos). Bebi um Reserva 2007 (outra grande safra) em 2020, e estava inteirão; esse não tinha motivo para seguir caminho diverso... e sim, ótima fruta, mais toques, complexo, foi outro bom ator em noite de conversas animadas. Para um vinho de 18 Euros em Portugal, não está tão fora aqui se o leitor encontrar na faixa dos R$ 300,00. O problema são diversas outras ofertas muito melhores!  Procure, por exemplo, pelos Quinta do Noval... Estão até R$ 100,00 a menos e custam o mesmo lá fora, configurando melhor compra. Consultando o grupo no Whats, sou recordado (rs) que nesse evento apareceu também um Albarinho da Família Deicas, o Cru D'Exception 2022, cujo nome algo capcioso em português fez jus ao prenúncio. Certamente foi trazido pelas confrades em viagem ao vizinho Uruguai. Custa lá 80 dólas, e está lejo de fazer-lhe justiça: um Chablis de WF custa a metade (em seu país de origem, a França) e acaba com ele. Não é culpa da uva, mas de 200 anos a mais de experiência... Não gastarei tempo procurando e comprovando esses preços; o blog tem moral para tais afirmações.

Tungas

Estamos apenas começando. Nossa maior bandeira, a Malbec, ainda está em seu início. Creio que o desafio nas próximas décadas será comunicar como a Malbec se identifica com cada zona, como é o Malbec de La Consulta ou o Malbec de Agrelo... é a evolução normal de uma região vitivinícola. Como na Borgonha, todos sabem que os tintos são Pinot Noir, mas o que interessa saber é de qual comuna e produtor. Estamos falando de um trabalho de muito anos, mas que deve ser feito. E me refiro especialmente aos vinhos. Eles devem manifestar a tipicidade de diferentes regiões.
Alexandre Vigil
Entrevista à revista DiVino, Edição 18, Ano III, p. 34-40

   Não apenas políticos tungam seus eleitores; juízes também! O Parmera tem mundial? Só pode ser tunga... O Xandão - não o de Brasília, o de Ribeirão! - até levantou o dedo em prenúncio de advertência temendo-me desbocado, mas estes tempos tenho sido comedido até na bebida, o que dizer nas opiniões políticas. 

   Recebi estes dias (22 de abril) correspondência acerca do lançamento do The Birth of Cabernet 2021, obra da Catena, ao preço de R$ 1.442,13. Provavelmente os R$ 0,13 representam a margem de negociação para com o consumidor. Ligue lá, teste e diga-me se estou errado. Segundo o representante-patrono oficial no país, é feito com uvas provenientes dos vinhedos Angélica Sur e La Pirámide. Fui olhar o sítio do produtor. La Pirámide foi plantado em 1983, enquanto Angelica Sur tem como registro 2005... uma criança! É quando olho para a epígrafe da seção, leio o próprio enólogo dizendo quanto tempo demora para comunicar como a Malbec de cada zona se identifica no vinho - décadas! -, um trabalho que precisa ser feito (concordo ab-so-lu-ta-men-te!) e comparo com o marketing do importador, para quem o Birth of Cabernet já nasce como um dos melhores vinhos do país (Argentina). Isso simplesmente desdiz o mesmo enólogo em sua entrevista de 2011... esse pessoal de propaganda deveria ser enforcado sem direito de indenização à família. O problema (como sempre) é o preço. Ele custa exatos 300 cruzeiros. Dá uns 50 dólas. Compro ótimos barbarescos e Xatenêfis por esse valor! Ou seja: estamos pagando adiantado pelo trabalho que, reconhecidamente, levaria décadas para ser realizado e justificar o valor do produto!

   Birth... chega-nos, independente dos benefícios fiscais do Mercosul, a mais de 4x(!) do seu valor do outro lado da fronteira. Não bastasse o acinte, na mesma semana recebo via contato de alguma plataforma social a oferta desse exemplar por modestos R$ 440,00. É o representante do qual comprei, ano passado, por R$ '400,00-', o Tondonia Reserva 2011 (preço do site, R$ 850,00). E não se engane: o contrarrótulo vem com o logotipo do importador oficial. Assim vai o brasileiro, otário de todas as horas, de tunga em tunga e pagando o preço cheio no sítio do importador enquanto ele próprio desova alguns exemplares para consumidores mais ligados nas plataformas sociais - não sou eu, mas recebo muitas dicas de leitores atentos. Se prestar atenção, notará que diversas importadoras tubaronas estão praticando expediente similar; descontos de 50% não são incomuns. Quanto ao pobre e pretensioso Birth of Cabernet, lembrando-me da degustação com o Gran Enemigo, posso dizer: não provei, e não gostei!

Oferta da importadora: R$ 1.442,13.

O preço na Argentina: R$ 300,00.



Oferta de fornecedor baseado em Instagram que fornece contato de Whats: R$ 440,00. Inspeção de contrarrórulo em compra anterior de outro vinho comprovou que a pessoa despacha vinhos do importador de ambos os produtos que constam no sítio da última. Não pode ser coincidência... pode?



Sunday, April 20, 2025

Portuguesinho marrento

Introito: não apenas 10 anos perdidos

Confrade envia-me a ilustração ao lado, sem dizer a fonte. Para o tema em pauta não tinha importância, e também não foi difícil encontrá-la.  É sempre bom manter na página a figura ou filmagem quando ela é fundamental para a discussão. Claro que a mídia pertence ao produtor, e por isso a crédito é sempre fornecido. Ademais, estas considerações jornalísticas estão disponíveis gratuitamente e não visam lucro - esta página sequer é monetizada. O que a informação nos diz? Vamos traduzir para um país onde a média do QI é 83.38. Mas antes, um parênteses: se a média é essa, imagine a sagacidade intelectual da turma distante um sigma do lado esquerdo da gaussiana. O valor, divulgado por algumas fontes internacionais, deve ser tomado com cautela, dizem alguns. Concordo plenamente: basta conversar com algumas pessoas próximas, que você considere de boa instrução, para concluir que estão superestimados. As pessoas próximas podem ser de esquerda ou de direita; o QI não escolhe viés político. Fechemos o parênteses e comecemos a explicação adaptada ao grande público, como proposto.

Imagine uma pista em linha reta onde todos os competidores alinhem-se lado a lado. Isso, a pista tem, por exemplo, espaço para 20 carros. Não há ultrapassagem, tudo o que se precisa fazer para ganhar a corrida é acelerar e chegar na frente. Na primeira figura, a terceira coluna, "% Change", ou porcentagem de variação, mostra a potência do motor de cada automóvel. Para nossa completa vergonha, o carrinho que pilotamos é o penúltimo em potência. Só ganhamos do Japão. Aquela figura mostra ainda a riqueza dos países, por assim dizer (o PIB). Se o Japão está em uma posição vexatória quanto ao crescimento econômico, também podemos observar que é um país que gera o dobro da riqueza do que nós geramos, e eles têm apenas a metade da população, comparado ao Brasil. Os dados referem-se aos últimos 10 anos. Vemos pela potência do motor como nosso desempenho nessa corrida tem sido deplorável. A tal Nova Matriz Econômica, implementada pela Dilma - expulsa do cargo de forma legítima para o bem da nação - começou em 2011. Nosso baixo crescimento pode ser dito herança maldita dela, mas ele em raízes mais antigas. Quão antigas?

Não sei quão antigas tais raízes são, efetivamente, mas aqui tem uma ferramentinha bem legal (sic), com dados acumulados do PIB, compilados desde 1988 até 2022. Você pode colocar os países que desejar, e traçar o gráfico do crescimento de cada um em comparação com os demais. Sei que na figura ao lado pode ficar difícil distinguir quem é quem, então coloquei um pontinho vermelho à direita, para mostrar onde está o Brasil em comparação com Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, China e Índia. Não precisa ter QI muito alto para procurar o ponto na parte mais baixa do gráfico. Em conjunto, os dados apresentados abarcam toda a redemocratização e até hoje, desde FHC 1 e 2, Ali Lulá 1 e 2, Dilma 1 e 2, Temer, Bolsonéscio e Ali Lulá 3. Agora eu quero ver qual pateta conseguirá me convencer de que não estamos imersos, desde sempre, na mais completa e absoluta falta de proposta para o país. Dá até para entender a ocorrência de um ou outro voo de galinha, como se diz, breves períodos de algum crescimento econômico seguido de retrocessos. Bolsonéscio, o Breve, foi eleito deputado em 1990 - desde o início da série histórica. Ele está lá desde sempre; é parte do problema, portanto. Idiotas acreditam-no solução. Nada mais estúpido.

   À guisa de conclusão, fiquemos com o óbvio: falta-nos projeto de país (apontando com dedo a 45 graus). Eles todos já se engolfaram demais em escândalos diversos de corrupção. Se não confiamos mais na Justiça para dar-lhes a devida punição, pelo menos podemos desempregá-los, a todos eles. Comece a escolher melhor seu próximo candidato. Desde já. Na última eleição votei em pessoas com tendências nas quais jamais contava apoiar, pelo simples fato de que todos os esquerdistas - então esquerdopatas - apoiavam uma candidatura inidônea, para dizer o mínimo. Não estou vendo motivos para mudar. A esquerda perdeu-se em sua própria idiotice e pagará por isso na próxima eleição da maneira mais indigna. Com muito prazer, terei minha bota apertando sua garganta um pouco mais.

Um portuguesinho marrento

Faz tempo, mas lembro-me como se fosse hoje: a Débora comentou de uma 'promo de fechamento' 😣 da Grand Cru de S. Carlos - no final parece que não fechou, mas mudou de endereço. Pensando talvez em fazer uma mudança mais sossegada, estavam queimando parte do estoque com desconto um pouco acima daquele então ofertado pela cadeia. Chamada, a Maluca prometeu comparecer em peso. Dito e feito: encontramo-nos lá apenas eu e ela, olhando-nos e perguntando-nos o que fazer. Conjuntamente rolava uma degustação, e elas são ótimas ferramentas profiláticas para espantar de nossos bolsos tudo quanto é (sic) escorpião, medo e inibição... Maquininha na mão, fomos (ela) pesquisando alguns preços no Wine Searcher, e descobrindo alguns na média de 2x. Discretamente levei a mão ao peito, estava apertado: havia um portuguesinho marrento dando sopa...

Quinta do Mouro Touriga Nacional é o irmão menor do Quinta do Mouro Rótulo Dourado, e em sua safra 2017 estava ali quietinho na prateleira, olhar baixo, tímido, descontente com seu valor de face - pornográfico - embora algo animado com a etiqueta de desconto, mas sem que esta lhe sobrepujasse a depressão insuspeita. Fiz algumas sugestões para a Débora - ele tinha algum crédito para gastar - e optamos por rachar o Mouro no meio (sic!) quando chega atrasado o Mário. Ela e eu olhamo-nos discretamente, cúmplices no pecado, sorrisos contidos, companheiros de um futuro prazer, e deixamos o pobre confrade escolher outras garrafas sem nos preocupar em sugerir-lhe a divisão do alentejano. E na sexta passada, alguns meses depois da aquisição, resolvemos ser a hora dele. O bifim ao molho gorgo - preparado por ela - estava muito, mas muito melhor do que o meu 🙄. Agora entendo o motivo das confrarias preferirem coxinha, cachorro-quente, pizza ou simplesmente jantar na casa de outro confrade... 😣. Curso intensivo de cozinha. Projeto futuro. Para a próxima gestão do Senhor. Bem, voltando ao vinho: minha sugestão foi abertura com uma hora de antecedência, ou algo assim. O problema é que a garrafa permaneceu na geladeira... a baixa temperatura retarda a velocidade de oxidação, e a primeira prova apresentou-nos um vinho algo sem graça, poucas características perceptíveis, ligeirinho e sem força. Comentei estar muitas notas abaixo do irmão maior, degustado nos idos de '21 - que também não estava lá grande coisa embora mostrasse ótimas características e potencial, e igualmente foi serviço. Aconteceu da segunda rodada vir um tanto melhor e a terceira começou a surpreender: observamos a acidez tornando-se mais e mais presente, os taninos integrando-se e o álcool compondo-se magnificamente ao conjunto. Em algo como uma hora e pouco de ótima conversa e muitas risadas, o vinho pareceu moldar-se ao nosso humor e ao final éramos três brindando o prazer de partilhar taças e a expectativa antecipada de seu aniversário, logo à frente. Débora notou toques de framboesa e ameixa. Para mim era apenas fruta vermelha, não conseguia distinguir - sujeito ruim de nariz. Muito mais facilmente identificável, o conjunto total chegando na segunda hora com muito equilíbrio, elegância e presença marcante entre tanino e acidez, provocando as papilas com notas de chocolate e um repique herbáceo. Estava maravilho... então sim durava em boca, ótima persistência, e tinha mais complexidade ali, faltou mesmo provador para destrinchar seus componentes. A safra '17 foi ótima em Portugal, e seguramente esse exemplar tem longos anos à frente para evoluir, embora possa ser consumido agora com a devida aeração. Uma pena seu preço estar tão alto no país: entre R$ 686,00 e R$ 1.100,00, de acordo com sua importadora tubarona preferida. Mesmo entre importadoras, é muita diferença! Onde estão aqueles calhordas especialistas em defendê-las neste momento? Como explicar uma diferença desse tamanho? Mentindo muito, claro! A despeito disso, foi uma ótima experiência, e não sobrou testemunha desse encontro... 😗.


Como se fosse preciso...

Escolha sua importadora tubarona preferida, Mistral e Grand Cru...



...e compare com o preço lá fora...


Saturday, April 12, 2025

Postagem em atraso, mas deu bom...

Introito

Quando um homem mente, 
ele assassina uma parte do mundo.
Merlin, em Excalibur (1981)

Néscio: Que ou aquele que é falho de instrução, 
de conhecimento ou de inteligência; 
demente, estúpido, ignorante.
Qualquer dicionário
Neste caso, verbete do Michaelis

Sim, invoquei o significado de néscio recentemente. Estará no contexto. No mais, é bom falar besteiras de vez em quando, e já fiz o suficiente, anteriormente. Por uma vida... Às vezes chamamos a isso ironia, mas não importa tanto, pois tenho certeza: o leitor entendeu a mensagem, e o mérito a mais dele. Volto a falar de Excalibur (1981), resenhado em 2021. É um filme forte, com diálogos ricos, poderosos, aliados a uma estética visual deslumbrante - como as armaduras reluzentes em prata impressionam! Nicol Williamson literalmente rouba as cenas interpretando Merlin, e Helen Mirren no papel Morgana é a antítese perfeita da honestidade e da fidelidade representadas pelo mago, deixando o pobre Nigel Terry (Arthur) apagado em sua interpretação de um personagem às vezes beirando a inocência juvenil advinda de sua criação como filho de um nobre de menor escalão. Do muitos momentos arrepiantes, aponto três. A primeira quando Arthur, recebendo a cura ao beber do Graal, recobra a iniciativa e sai em cavalgada para combater as tropas de Mordred, ao som de O Fortuna. Acompanhamos em linda cena a própria terra recobrar-se de seus ferimentos, conforme anuncia Perceval no início, Você e a terra são um. Eis o diálogo, com um trecho que antecede a cena apontada acima:
Perceval: Você e a terra são um. Beba.
Arthur: Estou definhando. Não posso morrer. Não posso viver.
Perceval: Beba do cálice e você renascerá, e a terra com você. (Arthur bebe) 
Arthur: Perceval... Eu não sabia o quão vazia estava minha alma... até que ela foi preenchida.
Kay: Arthur...
Arthur: Prepare meus cavaleiros para a batalha. Eles cavalgarão com seu Rei mais uma vez. Deixei que outros carregassem o peso da minha vida por tempo demais. Lancelot carregou minha honra, e Guinevere, minha culpa. Mordred carregou meus pecados. Meus Cavaleiros lutaram por minhas causas. Agora, meu irmão, eu serei... Rei!
Kay: Guardas, Cavaleiros, Escudeiros! Preparem-se para a batalha!
e então a tropa sai em cavalgada.

   A segunda cena é a abertura seguida da batalha inicial, travada na calada da noite. Ela evoca um tempo de violência e brutalidade, sem ser (tão) violenta. É fácil notar que a armadura atingida pela lança está vazia, mas não faz muita diferença: a mensagem está dada. Ambas as cenas, citei naquela resenha feita quando o filme chegava ao seu quadragésimo aniversário. Acrescento a terceira: quando a corte está reunida com o Rei Arthur, e Merlin é chamado:
Arthur: Qual é a maior qualidade da cavalaria? Coragem? Compaixão? Lealdade? Humildade? O que você diz, Merlin?
Merlin: Hmm? Ah. Ah. Ah, o melhor. Uh, bem, as qualidades se misturam, como os metais que misturamos para fazer uma boa espada.
Arthur: Sem poesias. Apenas uma resposta direta. Qual é?
Merlin: Tudo bem, então. A verdade. É isso. Sim. Deve ser a verdade acima de tudo. Quando um homem mente, ele assassina uma parte do mundo. Você deveria saber disso.

   Excalibur é um filme para ser visto e revisto. Preciso revê-lo - a última vez foi em '21 - e, assim como Arthur ao beber do Graal curou suas chagas, pretendo ao assisti-lo novamente reafirmar para mim mesmo valores de honestidade, fidalguia (no sentido de nobreza dos sentimentos mais elevados), de compromisso para com a terra (minha nação). Ao contrário de Bolsonéscio, sou movido por uma integridade inegociável, por um respeito extremo ao povo cujos impostos suados com sangue - muitas vezes sem que soubessem - custearam minha educação, e para com quem estou ligado pelo mais profundo respeito e gratidão. Este é o recorte que dá suporte à reflexão de hoje. Esta imagem foi usada pelo candidato para vender-se ao eleitor:


Ele (Sérgio Moro) vai pescar (corruptos) com rede de arrastão de 500 metros...

   Esse sujeito mentiu para todos. Não foi o primeiro; NAP (Nosso Amado Presidente) também. E antes dele o idiota anterior o antecipava em iguais atos, ao deixar de lado os cinco compromisso da mão aberta para dedicar-se à própria reeleição. Todos eles receberam um e apenas um voto meu. Ninguém enganou-me pela segunda vez - se o fizesse, o idiota seria eu mesmo. Veja aí a 'comprovação' (como se necessário fosse...) de como ele tratou a corrupção.


   Dá para notar o cinismo no sorriso do sujeito? A Lava Jato começou em 2014, no governo da Dilma, e investigava fatos pretéritos! Acabar com a operação significou barrar a investigação de fatos passados que, naquele momento, até poderiam chegar ao início da própria gestão Bolsonéscia, mas davam contas de gestões anteriores. E ele acabou com tudo? Ora, a promessa foi combate à corrupção. O esperado era fazê-lo, ou morrer tentando. Ao fugir desse compromisso - dentre outros - passou a governar pelo engodo, não pela verdade - e quando um homem mente, ele assassina uma parte do mundo. Seus seguidores são inspirados pelo alarde de suas alegações, não pelo seu bom exemplo. Ele claramente servia-se do país em vez de servir ao país, e não pode haver dúvida:


   A pergunta a ser respondida é simples: quanto tempo mais bolsonéscios precisarão virar a cara para a realidade, tentando encobrir as colossais falhas de seu 'líder'? Eu sei, é difícil admitir erros. O problema é o quanto mentimos para nós próprios, para nossos vizinhos e pessoas queridas até em algum momento termos coragem de aceitar o fracasso de nossas crenças. Siga esta sugestão: quanto mais rápido, melhor...

Deu bom na Maluca

A Maluca já reuniu-se - felizmente - algumas vezes, e esta não é exatamente a última reunião... na verdade, aconteceu no dia seguinte ao encontro na Ghidelândia - faz um tempinho. Não faz mal: vale sempre a memória do encontro. Aliás, o registro é merecido, pois foi o primeiro encontro da turma em 2025, acontecido quando março já encaminhava-se para seu final. Viagens de um(a) e outro(a), compromissos, convalescência... o Universo conjuminou muitas e diversas alternativas e fusão de múltiplas realidades para manter o grupo afastado. Sim, algumas reuniões aconteceram aqui e ali com membros separados, mas a nossa primeira grande mesa de 2025 só se materializou quando as circunstâncias finalmente permitiram. E como deu bom! Rimos como se não houvesse meses de distância desde o último encontro; brindamos a Baco e a nós mesmos, e nos deixamos embalar pelos sabores acolhedores da comida e taças partilhadas. Foi mais do que um jantar: foi a celebração da amizade que resiste ao tempo e se rega, sempre, de vinhosbões (sic! rs!) e generosas doses de companheirismo. A Maluca é uma confraria que vem dando muito certo.

A Débora deve ter lido alguma postagem mais antiga do blog, tipo esta, pois chegou com um vinho embalado e uma venda para testar este Enochato. Enquanto permanecia de olhos cobertos, lembrei-me do trecho escrito em 2014 acerca da opinião de algum importador sobre degustações assim conduzidas, bem como do triunfo de Don Flavitxo ao matar, vendado e apenas no nariz, a procedência de um Borgonha branco, grande e novo. Era um Corton Charlemagne... Não tinha a menor esperança de chegar próximo, mas também não poderia ficar logo na primeira avalição, se branco ou tinto, não? Confesso: ali (imaginei todos me olhando), às cegas, de mim para mim, como me sairia? Calma, pensei comigo, enquanto evocava a famosa frase de Duna, O medo é o assassino da mente. O medo é a pequena morte que conduz à destruição total. Ah, mentira!, estava é apavorado, isso sim!  🤣 E talvez o pavor não tenha-me permitido notar o toque claramente cítrico logo na primeira cafungada. Mas na segunda ele estava lá, cristalino. Não tive dificuldade em identificá-lo como branco, mas foi o limite. E aqui vai a conclusão da brincadeira: faça isso com sua confraria, não se furte a testar-se. E faz diferença estar vendado. Chamado a opinar às cegas (mas não vendado) sobre o Le Macchiole Paleo, senti-me bastante mais à vontade para sugerir um Bordeaux fino (exatamente assim) - embora fosse italiano, é um Cabernet Franc que derrotou diversos bordaleses em degustações às cegas entre especialistas. O mundo vinho é assim: pode gerar experiências novas e diversão a cada encontro; depende do nosso desprendimento. Quanto menos o caboclo achar-se Robert Parque dos Infernos e mais espelhar-se no Goofy, mais engraçado será.

Mandolin Roussanne 2022 era o branco da conversa. Roussanne é, junto da Marsanne, uma cepa característica do Rhône presente como corte em excelentes Xatenêfis. O melhor que já bebi foi o Vinhas Velhas 2007 do Beaucastel. Nesse nível, é marcante. Mandolin, notas abaixo (claro...) era rico em frutas brancas e (não lembro de onde veio) toques de mel. Boa acidez e volume em boca, não percebi madeira - mas tem, segundo a ficha técnica do importador. Com álcool a 14% - imperceptíveis  - tem um conjunto equilibrado e agradou a todos. É produzido na AVA (Área Vitivinícola Americana) de Lodi, Vale Central. Chegam-nos poucos vinhos mais distintos dos EUA; esse é um deles. A Luciana trouxe-nos em vinho degustado em Ribeirão Preto, num evento onde a Maluca esteve presente em peso, a menos deste Enochato. Paxis 2020 mostrou-se rico em frutas no nariz, e algum melaço. Ligeiro, taninos bem leves, acidez pouco presente. Achei doce demais, e a segunda taça, bem regrada, demorou para descer. Só agora, escrevendo a postagem, noto um 'Medium Dry' no rótulo 🙄, e fico me perguntado se é um meio seco... A estrela foi mesmo o final do Il Bosco 2006 que sobrara do dia anterior e levei para casa pensando em compartilhar. Mantido simplesmente arrolhado e na geladeira, estava ótimo! Como sobreviveu bem, a despeito dos 20 anos nas costas! As Malucas curtiram... Por sobremesa, servi o Oremus e o Guiraud, mas já falei sobre eles anteriormente. 

Escolta

Depois de algum tempo tentando terminar esta postagem, e decidido a fazê-lo desta vez, descobri perdido na adega o Conde de Guião Reserva 2013, comprado há muito tempo em algum evento da Casa Deliza em parceria com a importadora Orion. Não foi servido então, mas a linha mais simples soou honesta. Este ícone estava à venda em uma caixa individual de papelão até bonita e não era muito caro; resolvi arriscar. Produto da Caves Santa Marta, uma cooperativa estabelecida no Douro com mais de 1000 associados, tem um portfólio com aguardentes, espumantes, Portos e uma gama de vinhos desde bag in box até a linha reserva onde Conde de Guião aparenta ser o mais refinado. Corte de Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca, toques de frutas secas e geleia indicando claramente aromas terciários. Algo herbáceo também. Corpo médio, taninos arredondados mas um tanto ralos, uma ponta de ácido - além da acidez - com um final de chocolate amargo. Um pouco de álcool sobrando (14,5%), perfez um vinho não tão equilibrado, embora não ruim. A safra 2013 não contribuiu muito, mas tenho dúvida se os problemas apontados dependem tanto da colheita ou se trata-se mais de processo. Tenho impressão de que custaria, hoje, um Noval TN ou Shiraz mal comprado (R$ 250,00), e não compete com ele. Não se pode ganhar todas... serviu para escoltar o final desta escrita, que arrastou-se por tempo demais. Tenho saudades de muitos vinhos, mas não sentirei nenhuma de Conde de Guião.

Friday, March 28, 2025

Cara de paisagem

Intoito: ainda NAP e o ovo

   Volte na postagem passada e reveja o vídeo de abertura. Nosso Amado Presidente (NAP) está querendo descobrir aonde é (sic) que tem um ladrão. Não surpreenderia se achasse-o no próprio bolso. Mas toquemos. Ele gosta de ovos. Eu se cumê dois ovos por dia, eu adoro um ovinho só com arroz... às vezes eu prefiro isso do que comer qualquer comida boa (sic!), e veja, o povo... o povo come ovo. Tá! Volte lá na conta que fiz: 260 ovos/ano x 211 milhões de brasileiros (OK, bebês não comem ovos, é só uma aproximação) dá... 54.86 bilhões de ovos! E o consumo per capta é de apenas 260 ovos/ano... já pensou 2 ovos por dia por habitante (desconte os recém-nascidos) durante o ano todo?! Ora, esse estrumela fez um estudo e não percebeu que os brasileiros maiores de cinco anos não têm à sua disposição dois ovos por dia! (a fonte da pirâmide etária abaixo é esta). Os menores de 5 anos são cerca de 7 milhões, o que dá uma população comedora de ovos de 204 milhões, a dois ovos por dia demandariam um consumo de 74.46 bilhões de ovos/ano, contra a produção de 59 bilhões de ovos/ano!



   Então não conseguimos comer dois ovos por dia, se nos guiarmos pela produção interna. O Brasil importa ovos? NAP não falou nisso - até disse que exportamos 0,8% da nossa produção! - Mas espere...


   A nossa classe media ostenta, e mais do que a classe média europeia (cujo rendimento médio anual, vamos deixar barato, é cerca de R$ 170.000,00). 


   Nosso rendimento médio é (tentemos não passar vergonha, então peguemos o rendimento da classe 'C1', seja o que for) R$ 48.000,00. O trabalhador europeu ganha em média 3.6X a mais do que o brasileiro - parece margem de importadora tubarona!). A fonte é esta, e não sei bem de onde tiraram uma média de 4 milão/mês, porcada (sic! rs!). Se fizer a conta na C2 dá uns 7x - aí faz sentido! Deixemos como está.


   E assim ficamos: ostentamos porque uma tevê só não basta, precisamos de uma em cada sala. E o governo - a mola motora da economia de qualquer país - não propicia um mercado que nos garanta a produção de dois ovos por dia. Dá para começar a entender porque o povo passa fome, não é mesmo? Dentre outros motivos, é porque mesmo o preço velho (sic) do ovo na verdade já era caro demais. Percebeu?!

Mais um ótimo final de semana...

Estávamos tentando marcar há algum tempo, e desta vez rolou. Reunidos da Ghidelândia em 22 último, recepcionados pelo casal comandado pela Márcia, estávamos Don Flavitxo e este narrador felizes da vida. Havíamos comprado a bom preço dois vinhões. Encarregado do serviço, abri um deles às 17:30, para receber uma mensagem irada de Don Flavitxo: Po##@, não era meia hora antes? 🙄 Tenho minhas fontes, tá sabendo? 😒, e alguns depoimentos no CellarTracker eram enfáticos sugerindo pelo menos algumas horas de aeração. Como não tenho taças superpoderosas, que aeram o vinho em segundos (rs!), fiei-me nos palpites de lá. O resultado? Vamos por partes...

Um branquelo, para abrir os serviços...

Don Flavitxo chegou com ele debaixo do braço, empacotado e pronto para ser servido às cegas. Abriu, tirou - o líquido, para nossas taças - e cheiramos. Oh Lord, have mercy... que aroma! Quantas fragrâncias! Não consegui distingui-las(!), mas estavam lá, potentes. Abundante em frutas brancas a inundarem meu nariz e confundir outras notas, mostrou boca com excelente acidez, toque mineral, muito frescor e uma permanência de causar desconforto(!). Há tempos não bebia um branco com tamanho equilíbrio e complexidade. Don Flavitxo pediu indicações de procedência. Particularmente não aprecio chutar por chutar; se não consigo sequer imaginar a procedência, prefiro o silêncio. Foi assim quando o mesmo Don Flavitxo apresentou-me a Savagnin pela primeira (e segunda!) vez. Pressionado - sob pressão até pato bota ovo - o Ghidelli sacou um 'Português' não sei de onde, e acertou. Já experimentei alguns  bons brancos portugueses. O Private Selection do Esporão agrada, mas não lhe faria sombra. O Tapada do Chaves Vinhas Velhas é ótimo, mas não tão misterioso. Bem mais simples, o Falcoaria Vinhas Velhas delicia as papilas, mas está notas abaixo, em termos financeiros e qualitativos. Antonio Madeira Branco 2019 é um corte estranhíssimo (rs) composto por Síria, Bical, Arinto e Cerceal, e surpreende muito gratamente. É um vinho do Dão, região de onde conhecia mais os exemplares tintos. Estou começando a ficar fã dos brancos, também... A entrada, figo roxo com geleia de figo, Jamon e Roquefort é ótima por si. Com Antonio Madeira, ficou ainda melhor.

Cara de paisagem

Causador de tanto desconforto espiritual para Don Flavitxo porque o abri um tanto mais cedo, Galiardi Terra di Lavoro 2010 aerou por umas 4 horas e chegou com buquê explosivo. Ghidelli olhou para mim e fez uma careta de satisfação, enquanto o elogiava. Don Flavitxo fez cara de paisagem... Já tive o prazer de experimentar algumas vezes dele. O produtor vinifica apenas esse vinho, um corte não linear (rs!) de Aglianico e Piedirosso rico, com muita fruta misturada à toques de piche, petróleo... cinzas, disse alguém. Tudo a ver com a região de solo vulcânico, bastante bem expressa ali. Tinha ainda notas algo como chocolate/tabaco, como sempre confundo, e mais. A boca mostrou-se pegada, ótimos taninos, acidez média, herbáceo, com permanência longa, muito corpo, aquele vinho tipo 'paulada'. Tão seco que pode lembrar... um uísque sendo degustado! É quando o bebedor precisa ser esperto (rs) e fazer um movimento de mastigação para salivar e perceber como ele permanece em boca! Para um prato principal composto de costelinha de porco assada no forno com vinho branco, temperada ao alho, alecrim, pimenta preta, e escoltado com batatas cozidas, combinou 120%! Como os taninos misturavam-se com a gordura! Combinação inesquecível. Na outra ponta do espectro estava Il Bosco Syrah 2006, um Toscano produzido em Cortona muito elegante: ainda com fruta de sobra - Flávio e Ghidelli sugeriram trufas e gás de cozinha(!) - boca com chocolate amargo, café e mais notas, chama atenção de como o chocolate é mesmo amargo, e não ao leite! Taninos macios, grande equilíbrio, e se recupero agora o comentário de Il Bosco estar na outra ponta do espectro é pela elegância, ao contrário da discrição quase troglodítica (rs!) do Terra di Lavoro. Mesmo apreciando vinhos mais encorpados, Il Bosco é de fazer balançar a preferência pela simples potência... potência elegante (sem me faço compreender) é outra estória. Difícil mesmo é encontrar vinhos com essa qualidade! Só posso dizer que este março tem sido maravilhoso... Sem fôlego para falar da sobremesa...

Thursday, March 20, 2025

Surpresa na Paduca e a Confraria do Dardo

Introito

Alguém está sacaneando as galinhas
Nosso Amado Presidente (NAP)

Alguém está sacaneando o povo brasileiro
Oenochato

   NAP fez um estudo e descobriu que em janeiro de 20?3 (inaudível. 2013? Acho que '23) 30 dúzias de ovos custavam R$ 144,15. Em janeiro de 2024, o valor era R$ 143,09. Em janeiro de 2025, R$ 144,15, o mesmo que custava em janeiro de 20?3 (13?). E em fevereiro de 2025, absurdos R$ 210,00! 😱  Por partes. Analfabetos confessos não fazem um estudo...* 

[Abre parênteses


   Não pode haver dúvida, o pateta proclama-se um analfabeto. Ser analfabeto não é demérito, e ser um analfabeto bem sucedido é extrema virtude, e da mesma maneira não vejo o menor problema em um analfabeto ser presidente da República. O problema é quando esse analfabeto - de pai e mãe - sisquece dos anseios da população que o elegeu, deixa de lado suas promessas e senta-se - literalmente! - no colo dos poderosos. Comentado com dados aqui.
Fecha parênteses]

   Voltando a mais enganos: presidente competente não gasta tempo fazendo estudo... Ele chama o responsável pela pasta relativa àquele assunto e pergunta. Se competente, o sujeito terá os dados na ponta da língua. Por que não perguntou ao Andrada o motivo da alta? Antes, até - um ministro supostamente é um sujeito ocupado - poderia simplesmente ter perguntado para o Google!


   Como vemos, o problema não é ser analfabeto! O problema é ser pra lá de burro! (com o devido perdão ao animal pela ofensa comparativa, mas o equino nessa incômoda posição é tido como tal pela sabedoria popular). O festival não para nisso. Segundo NAP, o consumo médio do brasileiro é de 260 ovos/ano, com uma projeção estimada para 2025 de 59 bilhões de ovos. Para quem não é burro, 260 ovos/ano x 211 milhões de brasileiros (OK, bebês não comem ovos, é só uma aproximação) dá... 54.86 bilhões de ovos! O excedente não dá 10%! E o caboclo diz que o brasileiro nem come tanto ovo assim, não dá um por dia! Mal produzimos o suficiente para prover o brasileiro de um ovo diário! Alguém parou para calcular o risco alimentar que corremos, falando apenas em ovos? E vem no final... vocês podem ter certeza que vocês vão voltar a comer picanha outra vez (rindo!), diz. Tem gente mais burra do que NAP por aí. Aos milhões...

Surpresa na Paduca

A Paduca reuniu-se completa depois de algum tempo, com o Fernando conseguindo um sossego com suas crianças. Ter pais nonagenários(!) - e lúcidos - é uma bênção. Amiga confrade também tem a mãe, e todos da confra sentem-se orgulhosos por ela. Por isso, sabemos tratar-se, quase, de crianças... requerem o cuidado constante dos rebentos (rs), sempre concedidos com grande generosidade e carinho. Tradições não são ruins, às vezes... Mas bem, Paduca completa, vinho do Paulão e deste Enochato a postos, O Quinta de Chocapalha 2019 servido primeiro. Creio ser o primeiro exemplar dessa safra degustado por nós. Tinha sim um pouco do dulçor algo típico dos portugueses, mas encontrei algo diferente. O buquê, logo de cara, tinha algo que ligo com aromatizantes artificiais. Não estou dizendo que Chopalha os tenha - ou que os tenha agora - mas tive a impressão. E, afinal, vinho é impressão, correto? Então tem mesmo, que não sou de ficar com meias palavras à menor suspeita de algo! É uma pegada com doce diferente, e isso às vezes pode ser perigoso...  que se liga, sabe...


   Voltando, na boca continua ser o nosso conhecido Chocapalha, razoável para seu preço e bom se bem comprado aqui, pelos R$ 100,00, +/-. Muito mais, é tubaronice. Ofereci às cegas um Zuccardi Q Malbec 2018, que causou furor e confusão entre os confrades. Bom corpo, bem frutado, agradou muito na primeira impressão. Opiniões diziam ser superior ao Chopacalha, mas ninguém palpitou num primeiro instante. Duílio deu uma sugestão errada, Paulão oscilou para lá e para cá, e foi o Fernando quem matou a charada, indo direto: Um Malbec argentino. Sim, ótimo palpite! Um vinho com boa fruta, acidez discreta mas presente, não sei como ele pegou logo de primeira. Só um problema: sorvendo doses pequenas e alternando entre um e outro - eu estava no serviço, garantindo (rs) doses modestas e contínuas para todos - na terceira taça já não conseguia bebê-lo com o mesmo gosto: apresentava-se com um doce demasiado enjoativo, e sinceramente não descia! Não é má vontade, foi apenas a percepção daquele momento. Quando voltei ao Chocapalha, o doce não se pronunciava tanto. Comentei com os confrades, eles não perceberam. Não bebi mais dele, enquanto os colegas sorveram-no de bom grado. Achei tudo muito... curioso... Seu valor aqui oscila bastante, entre R$ 250,00 em importador de reputação estabelecida e R$ 120,00 em outra loja que encontrei ao acaso em pesquisa rápida na Internet. Isso sugeriu uma busca no país vizinho, e o resultado de uma única consulta qualquer retornou o valor de R$ 80,00. Cadê a estória de Mercosul? Sim, aqui temos impostos totais mais altos... mas estamos mais próximos, e enquanto Chocapalha, vindo de lugar bem mais distante, mantém-se numa média de 2x, Q insiste em apresentar-se com um preço 3x com relação ao seu valor no país de origem... Para isso NAP não está nem aí... Decididamente, ele não governa para mim, enquanto cidadão. Governa para uma parcela menor de brasileiros. Governa para os tolos. Dizê-lo melhor do que Bolsonéscio, por isso ou por aquilo, apenas confirma a tontice do crente.

A Confraria do Dardo

Marco (esq.) nos chama à sua casa. Havíamos nos encontrado na humilde adega antes do Carnaval, e o Márcio (dir.) estava indócil por mais uma reunião. Enquanto o último não chegava, o anfitrião confidenciou-me uma lacuna na formação afetiva de sua mocidade. Afirmou, antes de dizer qual era, ser tempo de saná-la de uma vez por todas, e a providência fora tomada naquela semana, estando a caminho: comprara o jogo War, do qual jamais jogara quando jovem. Lembre-me - e contei-lhe - de episódios dos meus tempos de república: quando os republicanos estavam voltando a se falar, silêncio mútuo causado pelas desavenças da última rodada desse jogo, alguém surgia com uma brilhante ideia: - Ei, que tal uma partida de War para comprovamos que somos adultos e não vamos mais brigar? E começava tudo novamente...Quem conhece, sabe: War jogado em 3 é um pouco chato. Talvez chamemos alguns membros de outras confrarias para degustar ótimos vinhos e lançar os dados em busca da sorte...

Quem bate os olhos nas garrafas pode ter um insight: o Marco é assinante do Clube do Vinho da Mercearia 3M. Representantes do produtor argentino Familia Cassone, com linha de produtos relativamente grande, seus vinhos volta e meia aparecem nas seleções mensais. Deixarei como exercício para o leitor procurar no Wine Searcher - ou mesmo no Google - o valor desses vinhos no país vizinho e aqui - quem aposta na média de 3x? Ambos são vinhos fáceis de beber, bem frutados, sem o enjoativo travo do Q. Obra Prima Reserva Malbec 2019 pareceu melhor acabado, um pouco mais encorpado, e já amaciado; tem seu equilíbrio - relativo, falta acidez - e pode agradar o público na faixa de preço, talvez uns R$ 100,00. Achei um degrau acima do Cassone Malbec Reserva 2022. Mas o que seria da comparação com um exemplar um pouco mais envelhecido? Para mim, Quinta de Chocapalha 2020, mesmo com a sugestão de batizado por algum aromatizante, ganha pela acidez e melhor conjunto, e não por pouco. Não é tanto interesse dos confrades - ao menos neste momento - fazer comparações mais profundas. E mesmo Chocapalha está ficando fora do meu horizonte de vinhos; se tenho algumas garrafas elas servem para mostrar a bebedores de sul-americanos, como os confrades do Dardo. Estes dias até peguei uma e outra garra em qualidade similar, de outros países, para poder apresentar-lhes algumas opções diferentes. Depois de termos acertado uns 30 dardos na parede, o Marco ainda aparece com um Tarapacá Cosecha Cabernet Sauvignon 2022 que abria no dia anterior. Esse é o vinho de entrada do produtor que mais consumi em minha vida. Infelizmente não tantos Etiquetas Negras, mas pelo menos diversos Reservas comuns. Saudades dessa época.. era boca torta e não sabia... mas pelo não gastava tanto com vinho... Voltando, um vinho mais simples, já aberto, até surpreendeu por sustentar um pouco de fruta e serviu para terminar a noite. Sempre digo e repito: não compro mais sul-americanos, mas provo deles com muito gosto. Afinal, só se pode critica o que se conhece.



*(o crédito do corte é pertence ao Poder360, que por sua vez o pegou em fontes oficiais, canal.gov. É importante demais para ser perdido, razão pela qual duplico aqui. Ainda, está em canal aberto do Youtube).