Friday, January 3, 2025

Um bom '25 aos leitores, com postagem de Natal atrasada

Introito

Não fico olhando colunas sociais, nem sigo Sinistros em suas páginas eletrônicas - se eles as têm. Arrisco estarem nas Európias, e não é para menos: como qualquer cidadão decente desta baderna, seguramente adoram flanar na Piazza del Popolo, ou na Champs-Élysées ou ainda na West End londrina, tirando um merecido descanso do Brasio. Pelos impostos excessivos pagos por cá em qualquer viagenzinha interna que se faça, de onde tirei meu conhecido bordão Não tiro férias no Brazio, mas do Brasio, aposto na inteligência dos Sinistros em dar melhor destinação aos seus suados - suadíssimos - Cruzeiros. Só precisa avisar Xandê Xandão: Donald, que não é pato nem nada, assume dia 20. E seu amigo é um molusco - lá também tem! - mas aquele é do gênero Elonus, espécie muskinensis, conhecido pela grande sagacidade, memória elefantina e pujante senso de despique! Deve haver alguma lei norte-americana para enquadrar quem promova prejuízos injustificados a empresas ianques. Então ninguém se assuste se no mesmo dia 20 alguém for levado pelo FBI feito José Maria Marin - quem lembra-se dele? - para conhecer Uóxintown. A característica de estadistas é fazer o necessário, duela a quien le duela. E se é urgente fazer uma faxina no quintal, não se duvide: ela será feita. Portanto...
Oh! Xandê Xandão,
Volte onde (sic) quer que você se encontre,
Volte para o seio de sua amada.
Ela espera ver aquele caminhão voltando
De faróis baixos, e para-choque duro...

Natal

A Débora passaria para uma bebericada e uma saudação de feliz Natal, segundo ela mesma. Precisei caprichar... Xisto Cru Branco 2017 é um corte de Rabigato (principalmente), com partes de Codega, Gouveio, Viosinho e outras cepas nativas de Portugal. Tem um nariz bem pegado à cítricos diversos, difícil de separar para um pobre deficiente nasal, mas seguramente toques de lima/limão. A Débora falou e falou da mineralidade em boca, mas eu não estava pegando. Tentei prestar atenção e a impressão simplesmente não veio. Tinha sim fruta, bom corpo e acidez bem marcada, ótima. Boa permanência, bom final, está fresco e pronto para ser consumido, mas pode ser guardado por mais tempo. Em três ou quatro anos ele terá uma expressão um pouco diferente desta, e cabe ao bebedor escolher quando aproveitar. Quem me dera ter comprado mais algumas garrafas. Mas na época estava centrando força$ no Xistro Cru tinto, também bastante atraente e do qual comprei em maior quantidade. Vejamos se neste início de ano tem alguma queima... só não estou certo da disponibilidade do produto na importadora, a Clarets. Mas vale a pena ficar de olho. No preço cheio, fica difícil...

Meus australianinhos estão acabando... Esse Shiraz 9 2005, da Marquis Philips, é turbinado a 16,5(!) de álcool e encerra uma estória algo triste. Fruto da sociedade do investidor e distribuidor americano Dan Philips e do casal Sarah e Sparky Marquis, a Marquis Philips era uma marca celebrada por seus vinhos de bom preço e alta qualidade. A parceria acabou justamente em 2005, com cada parte processando a outra; enquanto Philips tantava tocar o negócio com outros associados, o casal Marquis afastou-se para fundar a Mollydooker, conhecida por seus rótulos tão lúdicos quanto vibrantes, com personagens carnavalescos que evocam a alegria que deve envolver o ato de compartilhar um bom vinho. Um resumo do imbróglio está aqui. Shiraz 9 abriu nervosão - aerei por meia hora antes de Débora chegar, e ainda bebemos do branco antes dele. Estava rico, encorpado, mas o álcool pegando. Dia 25 fiz um bate e volta para minha terra natal, e não bebi, voltando a ele no dia 26. Temi ter passado um pouco, mas bastou aproximar a taça do nariz para ter certeza do contrário: uma mistura incrível de frutas, chocolate que era chocolate (ao leite), fumo que era fumo e por trás um toque menor de café. Creia, leitor, tinha tudo isso muito bem marcado. Escrevi sobre vinhos de alta classe, certa vez: É fácil descrever um vinho desses, as qualidades estão saltando em nossa frente, a despeito da dificuldade em separá-las adequadamente (aqui). A boca estava potente mas sem excessos, sem o dulçor característicos dos Mollydooker, com taninos muito redondos, acidez elegante, tudo muito encaixado. Nem o álcool assolava os sentidos e muito menos a cor denunciava a idade, veja a foto. Seu rótulo mostra um gracioso grifo australiano: enquanto o original da mitologia médio-oriental apresentava um animal com corpo de leão e cabeça e asas de águia, este é mostrado com o corpo de canguru...


Abaixo, duas garrafas da Mollydoocker, retirados daqui. Bebi o Carnival of Love há bastante tempo, provavelmente em momento quando o blog andava parado, e não foi postado. Lembro de alguém (Flavitxo?) ter apontado o dulçor mais destacado. Australianos faziam mais minha predileção pela sua extração gerando buquê sempre muito evidente, e ajudava sobremaneira se meu nariz estivesse em dias de greve. Depois da septoplastia minha condição mudou bastante, mas o prazer em degustar um vinho desses, ou um Torbreck, um Kilikanoon e outros mais sempre me chamarão para experimentar um pouco mais desses vinhos tão subrepresentados por aqui.


   Aos fiéis leitores, ficam os votos de um ótimo '25. Para a Débora, um agradecimento especial pela visita rápida e pela companhia sempre tão encantadora...

Friday, December 27, 2024

Atenção, Brunello pronto para beber!

Introito: recuperando um passado sisquecido

   Corriam os silenciosos anos de '69. Depois de muito marcar passo - a esquerda nunca deixou passar um dia a mais -, e coincidentemente ou não no mês do cachorro louco, o governo Costa e Silva implementa a lei 5.692/71 instituindo no segundo grau a disciplina Organização Social e Política Brasileira - a famigerada OSPB. Na sequência veio a Educação Moral e Cívica, fechando o ciclo iniciado com a implantação dos Estudos de Problemas Brasileiros (EPB) no ciclo universitário um ano antes. Todas elas focavam no patriotismo, no respeito à autoridade, na disciplina e na obediência às normas sociais, tendo um claro viés de doutrinação da juventude a favor da administração de plantão. Esse período foi um dos mais negros e vergonhosos de nossa história, e não se sustenta nomeá-la ditabranda porque em comparação com os regimes da Argentina e Chile o número de desaparecidos foi muitíssimo menor. A execução ou tortura de um único cidadão sem o devido processo já é suficiente para dizer sanguinário a qualquer regime autoritário. Infelizmente mistura-se o termo autoritário com significado absolutista, despótico, discricionário, mas um Estado tem todo o direito de ser autoritário quando faz-se necessário manter a ordem pública. Usar a autoridade da força em prol da democracia é legal e tem amparo jurídico; não pode haver dúvida. Progredindo com o argumento inicial, os milicos apenas sisqueceram, ao implantar a EPB, que a universidade pública estava na barricada da resistência! 😂 Os professores universitários, especialmente na área de humanas, representavam a fina flor do pensamento de esquerda nacional - ao contrário de barbudos sindicalistas carreiristas e informantes do DOPS - e alí seu domínio era completo. O problema maior reside no fato desses mesmos humanistas falharem miseravelmente em formar uma geração talhada na firmeza de caráter e intransigente para com a corrupção e o desmando. O resultado é visto hoje em um país polarizado onde ambos os lados apoiam corruptos com tendências autoritárias e procuram, no fundo de suas crenças, motivos para continuar a suportar tais crápulas como se líderes! A sensação de ser o seu bandido preferido menos danoso do que o opositor basta para confortar espiritualmente o eleitor de cada tendência. Nossos cidadãos não aprenderam o óbvio: é desnecessário defender até o final do mandato o safado que o enganou com seu discurso cheio de contos de fadas. Nem é preciso ficar envergonhado do voto errado e se fazer de desentendido. Vergonha é persistir em um engano tão bisonho! Se o mesmo erro de interpretação acontece em outros países, pouco me importa e eles que se danem; devemos copiar os acertos dos outros, e rejeitar seus equívocos. Mas aqui acontece exatamente o contrário: copiamos os vícios e desprezamos as principais virtudes, como o tão em falta senso crítico.

Um encontro da confra #émuitovinho

Aconteceu em outubro, ainda, e ficou sem postagem. É claro, as notas ficaram para trás, mas alguns comentários podem ser úteis para o bebedor-leitor. Meu aniversário transcorreu com tantas reuniões, tanta animação e momentos agradáveis que o registro mais preciso perdeu importância. Sinto mesmo não ter-me encontrado com diversas pessoas cuja ausência não passou desapercebida; em alguns momentos provava de uma taça de lembrava-me de alguém cuja presença esteve em falta naqueles dias. Espero revê-las em breve, e algumas festas de final de ano suprirão isso.

A entrada ficou por conta de uma xampa Taittinger - quase certeza de ser essa, rs. A turma aprovou, e valeu. O primeiro tinto foi o Quinta do Vallado Touriga Nacional 2008, nariz ainda com muita, muita fruta, couro e aquele toque que costumo dizer tridimensional. Os taninos estavam bem redondos, boa acidez, corpo médio, tudo bem integrado: álcool e madeira como deveriam, sem arestas. No seu auge, está ótimo para ser degustado. A Grand Cru vem importando o Vallado desde algum tempo - estava na Cantu, se não me engano, e seus preços então eram razoáveis, pois comprei essa garrafa e algumas do Field Blend, e não costumava gastar tanto em vinhos no Brasil lá por 2010, 2011... Hoje está custando R$ 460,00 (R$ 390,00 para 'sócios'), o que é muito para um vinho com valor médio de USD 33,00 segundo o Wine Searcher. Lembremos: considero esse dóla a R$ 6,00 um soluço; ele recuará, em breve ou na próxima gestão do Senhor, tanto faz: eu vou esperar. Para acompanhar um bifim, veio o Brunello di Montalcino 2015 da Donatella Cinelli, à venda nessa mesma safra pela Enoeventos. Lembro de aerá-lo por algumas horas - até ser servido talvez umas quatro - e ter-me surpreendido um pouco pela cor, algo derrubada: está atijolando, embora continue bom; a cereja típica estava lá, conforme conversamos entre os confrades, e tinha mais frutas. A boca mostrou-se equilibrada, taninos e acidez médios chamaram atenção e não impactaram tanto quanto em degustação relativamente recente, de '22. Será que a garrafa estava um tanto miada? Comento no sentido dela ter envelhecido um pouco mais rapidamente, pois o contraste foi claro para quem havia bebido dele na esperança de avaliar suas garrafas em estoque. Enfatizo: o conjunto estava harmonioso e agradável; sua cor é que deixou um tantinho a desejar. Quem comprou mais de uma garrafa poderia fazer um tira-teima; farei isso proximamente. Comprei em '20 a R$ 411,00 com algum desconto - provavelmente a preço de Enoclube por fechar uma caixa - então ficou um pouco abaixo de R$ 400,00. Atualmente está R$ 549,00 com R$ 466,00 (normal/Enoclube), que na média não é ruim para um vinho de USD 60,00 nessa safra. Mas para quem pagou R$ 400,00... Definitivamente é necessário conferir outra garrafa. Qual estava fora do padrão? Aquela degustada em '22 ou esta provada agora? Aquela tinha bastante mais potencial, e esta mostrou-se inferior; como provei não é um Brunello de USD 60,00 lá fora - note, o preço 'lá' é que não está condizente pelo vinho; seu preço aqui, pelo preço lá, até está. Prova à vista, procurando pelo mordomo. Alguém será vítima ou felizardo acompanhando a degustação?

Adendo

O confrade Ghidelli 'liga' logo pela manhã reclamando seus méritos de ter matado a procedência e o ano do Brunello - ambos foram servidos às cegas. Grande verdade, e misqueci de registrar isso! Ele inclusive esteve comigo na degustação acontecida no evento I Love Italian Wine, vide vínculo acima, quando provamos dele pela primeira vez. Comprova como o toscano mantinha suas características claramente reconhecíveis. A questão agora é por quanto mais tempo ele se manterá assim.

As Malucas

O fechamento do ano com as Malucas - MaLuCaDeLiu é o nome correto, e escrito aqui pela última vez 😂 - aconteceu no Nanmi. A entrada foi a Xampa Taittinger. Garimpei uma oferta dela há algum tempo, e espalhei garrafas entre as confrarias e os membros também adquiriram para consumo particular. Como foi a principal Xampa servida no meu níver, preciso dizer-me devidamente catequizado com seus toques. Não conheço muito de Xampas, mas pagar abaixo de R$ 400,00 foi uma boa compra. É equilibrada, elegante, bem superior às cavas mais comuns degustadas por aqui, principalmente o Cordon Negro. Fazendo contas, esse exemplar da Freixenet custa lá fora uns 10 dólas, contra uns 40 dólas da Xampa. Aqui fica por uns R$ 80,00 x R$ 400,000- (400 menos), e a proporção mais ou menos se mantém, com algum favor para a Cava. Se você pode, para um níver ou final de ano, deleite-se. Se não pode, bem, volte no introito e escolha seu culpado em vez de perder tempo defendendo bandidos; é indecente um trabalhador labutar durante um doze meses e não poder, ao final do ano, experimentar uma garrafa, pelo menos uma vez na vida, de uma Xampa que nem precisa ser boa, bastaria ser razoável. Algo vai muito mal e errado com uma sociedade dessas. 

A turma não perdoou meu duramente garimpado 😓 Chablis Premier Cru 2022 do Domaine de la Motte. Além do cítrico evidente, tipo limão, não lembro exatamente das notas. Claro, as Malucas divertiram-se desvendando-o - acho que a sugestão de limão veio mesmo de alguém. O nariz estava rico, tinha ótima acidez e boa persistência, e encheu a boca. Por R$ 200,00- (pouco menos de R$ 200,00), é ótima compra. Por aí é encontrado a R$ 380,00+, e mostra o quão boa foi a aquisição... A Grand Cru fez uma oferta há tempos, com algumas armadilhas e boas opções. As Maluquetes recorreram aos préstimos deste Enochato e evitaram as primeiras. Entre as boas escolhas estava o Mazzei Tenuta Belguardo 2016, incursão do conhecido produtor de Chianti Classico em Maremma, próxima ao litoral da Toscana. É um corte Cabernet Sauvignon levemente temperado com Cabernet Franc, e a picância das Cabernet não pareceu evidente para mim - só procurei a composição depois. Poderia tê-la notado se soubesse da composição de antemão? Talvez, mas àquela hora o motivo da confraternização particularmente afastou-me de prestar tanta atenção ao vinho. Foi fácil perceber que estava ótimo, fácil de beber, equilibrado: nariz frutado e mais toques - era chocolate? - boca redonda, com taninos quase domados - pegavam um pouco - boa acidez e corpo médio+. Um bom vinho, que agora, fora da 'promo' (R$ 850,00/R$ 720,00 cliente comum/assinante), e custando lá fora uns USD 40,00, fica inviável. Pelos R$ 420,00 pagos, estava no limite dos 2x, boa compra. Foi um bom fechamento de ano, por mais que eu tenha tentado avinagrar (risos!) não os vinhos, mas o próprio encontro, procurando desovar nas Malucas algumas garrafas de minha adega. Se não quiseram, azar delas... 😅. Má foi bom mesmo assim. A companhia como sempre estava muito agradável, destarte minhas impertinências de sempre. Ótimo prenúncio de um bom Natal.

Como se precisasse... o Chablis onde paguei R$ 199,00 e a tubaronice correndo solta por aí.




Wednesday, December 11, 2024

Mais vinhos e o níver da Luciana

Introito

   A vergonha alheia para a esquerda, nesta semana, vai para o congressista Chico Mané, ou algo assim. Defendendo certa pauta em uma comissão, ele veio com essa:
O simples agravamento da pena não vai resolver essa questão de fundo, essa questão estrutural, essa questão que deriva da desigualdade social... a pauta do plenário só quer punir, punir, punir, apenar, apenar, apenar, como muitos projetos que vêm para cá. 

   O deputado Kim Katakoquinho não deixou barato:
Com o voto dos partidos de esquerda desta casa, recentemente houve aumento de pena para feminicídio e  racismo contra mulheres e idosos. Então ou o aumento de pena não resolve em nenhuma hipótese, em nenhum caso, ou ele resolve. É necessário que seja tomada uma decisão de lógica, porque os pressupostos são os mesmos... (meu grifo visa imitar a ênfase do deputado)

   É engraçado - para não dizer repugnante - o uso desse termo, estrutural. Pode cair bem para ignorância estrutural, ou decadência estrutural, advindas das altas camadas do poder. De resto, seu uso plenamente descartável por nada significar. O caboclo leva, isso sim, uma invertida estrutural (sic) perdido nos próprios conceitos tortos de democracia e nos faz passar a todos por idiotas, tendo-o como representante. O conteúdo está aqui. e acontece logo nos primeiros 40 segundos do vídeo. Poderia ser pior, poderia ser como a vergonha alheia da direta - nesta semana e em todas as outras - que fica por conta de sua mera existência. Mas se deseja um exemplo concreto, veja uma mesa-redonda onde o direitopata defensor de bolsonésio, chamado Supernanny - ou algo assim -, conseguiu fugir de todas, absolutamente todas, as perguntas que lhe foram dirigidas. O debate é longo, 3 horas, mas se quer ter uma ideia da lapada (rs), esta aqui dura um minuto e cinquenta segundos. O fato é que, nos últimos 21 anos, tivemos praticamente 16 anos de governo PTlho, e as desigualdades do país não diminuíram; um bom governo desde o início não daria a mínima chance para idiotas criarem termos dispensáveis. E não há ideologia que resista a tal exame.

Ainda meu níver...

Esta reunião aconteceu um dia depois do meu níver, quando degustamos um Barolo '96 e um Brunello '97, aqui. Aconteceu de sobrar um pouco de cada, e as garrafas caíram nas mãos das Malucas (rs!). Nagib, turbinando o encontro, provou mais um pouco deles e não me deixará mentir sozinho. Degustei um fundo de taça, e estavam ótimos naquele segundo dia! Se o leitor tem alguma dúvida, basta ver o sorriso franco da Débora e do Mário, como crianças... mantiveram o nariz rico, com boca complexa e final marcado, longo, não como sugerem pseudocríticos de vinhos sul-americanos. Grandes vinhos normalmente são assim: seguram a onda (rs) de um dia para o outro, quando não melhoram - e muitos apuram-se! O problema sempre é permitir sobrarem (rs); de qualquer maneira várias das minhas experiências, retratadas em 'Segundo dia', comprovam isso. Desnecessário esses tintos vieram depois da entrada...


A Xampa Premier Cru Brut do Barbier-Louvet, um Blanc de Blancs (só Chardonnay, portanto) foi servida com morangos. É uma combinação conhecida, e agradou. O nariz à fermento (pão) estava lá, assim como o cítrico; sua acidez combinou com a da fruta, e o casamento foi feliz. Morangos doces aliados à própria acidez pareiam bem com Xampas - ou mesmo espumantes -, experimente. Na sequência tivemos um Chablis Premier Cru da La Chablisienne que faiô (sic), e foi substituído por um Puligny-Montrachet Vieilles Vignes 2014 do Vincent Girardin. Bebi desse produtor pela primeira vez quando pegamos Don Flavitxo de surpresa em seu aniversário lá pelos idos de '14, quando levei um Corton-Charlemagne 2010, novo como ele mesmo atestou - somente no nariz e às cegas, literalmente, pois o vendamos com uma daquelas máscaras que a turma usa em avião - mas que estava bem bebível. Esse Puligny estava bom, com notas cítricas, principalmente, e ótima acidez. Quem tem deve mandar ver, está no ponto. O vinho principal - e para acompanhar meu indefectível filé ao molho gorgo - havia sido escolhido pela turma havia algum tempo.


Parece que o Pascal Lachaux era genro de um tal de Robert Arnoux (cabra macho da Borgonha, proprietário do conceituado Domaine Arnoux-Lachaux) e trabalhava ainda como pequeno négociant produzindo bons vinhos. Com o falecimento de Robert, em 2007, ele assumiu o Domaine junto de sua esposa, e focou-se na marca. Seu Bonnes Mares Grand Cru 2004 foi areado por cerca de duas horas e mostrou-se rico, equilibrado, corpo médio com ótima acidez. Não lembro-me dos detalhes, mas havia fruta e mais toques, e em boca os taninos bem redondos denunciavam seu auge. Bebi um bom Borgonha mais novo (um Henri Gouges Nuits Saint Georges Premier Cru Clos des Porrets 2017) em 2023, e os estilos são bem diferentes. Bem, Borgonhas são muito diferentes entre si conforme a região, e daí advém sua riqueza, mas meu ponto é o seguinte: beber Borgonhas mais envelhecidos é uma experiência, e bebê-los novos é completamente outra. Não advogo ser grande conhecedor, mas reputo serem aprendizados complementares. Quem já degustou de duas garrafas da mesma região, uma mais nova e outra mais velha, seguramente terá muito a dizer. Apenas chamo atenção para essa possibilidade. Você já tentou?
   Duas fotos da Liu registraram bem o encontro.

   


O Níver da Luciana

No níver da Luciana teve sessão de fotos com os convidados e seus presentes. Como eu havia levado somente um cinto na forma de Sinto muito, Luciana, acabei me enfiando de bicão em uma delas com cara de quem não sabia o que fazia lá. Bem entendido, foi um Sinto muito, Luciana, escolhi esse Margaux para você, e quando começaram a registrar a chegada dos convidados, eu, primeirão de todos, já vira minha recordação ser guardada em sua adega. Má melhor teve mesmo a Xampa Vollereaux Réserve Brut: o pessoal divertiu-se com seus aromas - preciso começar a  registrar tudo no momento... Estava rico no nariz, e a boca deixou um pouco a desejar: faltou um pouco de acidez, mas nada é perfeito... Os trabalhos mais sérios foram abertos com um tinto de Ribera, o Pipeta Tempranillo, corpo médio, cheio de vida por um pouco jovem e potencial para envelhecer mais um tanto. Também não tinha tanta acidez, mas seus 14% de álcool estavam equilibrados com o conjunto da obra e fez bom par com as entradas, principalmente embutidos. No rótulo não constava a safra, mas no sítio do importador (Chez France) a atual é a 2021. O melhor estava por vir, e... chegou!

Xavier Châteauneuf-du-Pape Cuvée Anonyme 2017 aerou por algumas horas antes de chegarmos nele. Não tanto quanto deveria, talvez, mas fiquei-me perguntando como um grande vinho, jovem, poderia exprimir tanta fruta e mais toques numa complexidade tamanha ainda tão cedo. Cuvée Anonyme é um Xatenefão, boca frutada tocada a taninos médios a encorpados, boa acidez e fruta viva, mas percebe-se que quase tudo nele está se segurando na borda da taça, um tanto contido. Estará bom para 2030, e se você tem, resista à tentação. Ao contrário do que sugeri para Borgonhas, de onde alguns grandes exemplares podem ser bebidos mais cedo, penso que o mesmo não ocorra no Rhône. Minha recente experiência com um ótimo Hermitage 2009(!) serve como base, assim como um Beaucastel 2015 degustado em 2021 cujos Fechado, Fechado ecoaram na minha cabeça por quase um mês. A Maluca (rs) é uma confraria nova e embora seus membros consumam vinho há algum tempo, a percepção da qualidade dos grandes vinhos vem sendo galgada em confraria. Com um Enochato por falador-mor em todas as reuniões, ela há de aprender... ou mudar-se de S. Carlos para Timbuktu com os ventos da próxima estação... A reunião, além das Malucas, contou com os casais Eustáquio e Miriam, e Flalrreta e Gustavo. Mais um níver onde tudo teve bão...



Thursday, December 5, 2024

Outros vinhos 2 - A vingança (rs)

Introito

Um dos melhores e mais poderosos Chiantis que já bebi.
Don Flavitxo, após degustar um Felsina Berardenga
1999, em 2021. Degustação aqui; declaração aqui.

   Na postagem passada escrevi sobre o Barolo e o Brunello envelhecidos, mas faltou um comentário importante, apontado pelo Duílio na reunião de ontem. Tal qual os demais, Don Flavitxo lambeu e relambeu os beiços ao degustar dos vinhos. Servidos às cegas ele teve dificuldade de identificá-los como tais, mesmo sendo os italianos seus vinhos preferidos e os mais apreciados em toda sua vida. Novamente ele assombrou-se com a qualidade e expressão dos exemplares envelhecidos e ainda frutados, com larga complexidade. Assumiu estarem entre os melhores Baroli e Brunelli alguma vez usufruídos por suas nobres papilas... 🤣 Repetindo, há algum risco em deixar vinhos envelhecerem, mas bebedores de mais idade não podem dar-se ao luxo de comprar vinhos tão bons na juventude e aguardar o tempo fazer sua parte. Se puderem, devem procurar por safras mais antigas e pagar um tanto mais caro. Minha pouca experiência diz que vale muito a pena. A alternativa é escolher opções mais simples, dispensando tanta guarda.

O níver com a Paduca

Os Paduquentos reuniram-se para celebrar meu níver após a volta do Paulão, com o Fernandinho ameaçando no grupo de uátiz: Levarei um vinhão às cegas... Havíamos acordado um Hermitage para a comemoração algum tempo antes, e deveria dar suporte ao indefectível filé ao molho gorgo. Eu separara outra garrafa do Apontador para apresentá-lo aos demais confrades - só o Duílio bebera dele -, mas diante da advertência Fernandesca achei melhor recolher-me à minha insignificância... os Paduquentos só estão sabendo disso agora... Entrei com a Tattinger para iniciar os trabalhos, e os confrades preferiram-na à Xampa do Barbier-Louvet Cuvée D'Ensemble Grande Cru degustada no níver do Paulão. Estão abusados, esses Paduquentos... que memória... Fernando fez seu serviço às cegas. Com um tantinho de vinho em boca - o buquê já adiantara tudo -, olhei para um lado, e para outro. Baixei os olhos, depois tapei-os com as mãos. Duílio e Paulão prenderam a respiração, e o Fernando riu. Disse não merecer aquilo, não no meu aniversário... Amitié Tannat Colheita de Verão 2020 vem da Campanha, no Rio Grande do Sul, e pronto! Não há muito mais a dizer, porque pouco há de resto. Mais simples, rápido e ligeiro se comparado a seu irmão Cabernet Franc degustado em um evento da Mercearia 3M, é um vinho de 50 moedas que pode ser evitado por bebedores de vinhos nacionais um pouco melhores, e desprezado por todos os demais. Não trata-se de má vontade; ele não oferece qualquer qualidade, e sua expressão para uma Tannat em nada lembra exemplares robustos do Uruguai. Além do proprietário creio ter sido o único a repetir quando ele refrescou mais, clementemente aberto a captar alguma nota algo sofisticada. Repito sempre, não é preconceito - eu apenas não pago as moedas pedidas pelos produtos nacionais com a palavra Vinho escrito no rótulo. Pagaria R$ 20,00 no Lote 45, por exemplo, e o levaria todo alegre para o Chile, colocando-o na competição com um Leon de Tarapacá (preço similar lá), e em quem Lote 45 possivelmente daria uma boa... lição... Está bem, como os impostos cá são bem maiores, pagaria também a diferença na taxação, uns 50%: R$ 30,00. O resto é brincar com a cara do bebedor.

   Para redenção de todas as almas, chegou o Delas Frères Domaine des Tourettes 2009, um Hermitage de peso, aberto lá pelas 17:00 e dos quais lembro-me um pouco. Nem pela aeração mostrou-se menos austero: no nariz tinha muita fruta, mas ela parecia agarrar-se à borda da taça, não querendo ir para o nariz. E mais complexidade, na direção de couro e toques herbáceos, sem explodir apesar de presentes. Mesmo aos 15 anos, acusava-se jovem aos quatro ventos! Havia consultado o Wine Searcher, e a safra '09 era dita pronta para 2024... Para o Parque, sua janela de beberagem estaria entre 2019-2059(!). No 2059 eu acredito, mas suspeito que sequer 2029... Conquanto a boca igualmente contida, tinha permanência verdadeiramente longa, e impressionou os bebedores. Mas os taninos - potentes - estavam, se não verdes, adstringentes; madeira e álcool (13,5%) sobressaíam-se menos. Emocionou os confrades e seguramente marcou uma nova etapa em suas experiências, mas ela poderia ter sido verdadeiramente impressionante. À venda na Grand Cru na safra 2011 - boa, mas não excepcional - pela bagatela de R$ 1.550,00 (assinante, R$ 1.315,00) e a um custo de USD 100,00 lá fora - contemos o dóla a R$ 5,00, pois assim que esse governo for enxotado do comando ele cai - dá a venerável margem de 3x. 

  Sobremesa? O leitor já sabe, o mesmo painel de vinhos de sobremesa. Fico devendo.

Mais da bléqui

   Procurando alguma oferta realmente decente na bléqui, visitei a Enoeventos. Interessei-me pelo bom Baron de Ley Gran Reserva, um Rioja degustado em meio à pandemia com dóla a R$ 6,00 e preço cá em 'promo' a R$ 275,00 naquela época. Na bléqui, veio de R$ 360,00 a R$ 260,00. Wine Searcher o cota agora a USD 20,00, e não a USD 25,00 como anteriormente. Mesmo com o dóla a R$ 5,00 e os USD 25,00 de então, daria R$ 125,00. Contra os R$ 269,00, seria o limite da compra. Enoeventos já fez melhor, e deixei passar.



   A Mistral, sua importadora de todas as horas (rs) pretendeu regassar (sic! rs!) com sua 'promo' de 25% e ofertou o Mácan Clasico 2018, um Rioja bem comentado nas bocas, de R$ 800,00 por R$ 600,00. O que você não sabe é que para os bacanas estava saindo a R$ 440,00 - ficou bom, pois é um vinho de uns USD 50,00 lá fora. Minha postura tem sido evitar as tubaronas mesmo em seus preços bacanas - até porque o Ghidelli trouxe um Mácan (Mácan 'Mácan' - rs - não o Clasico) na mala, então qualquer hora proponho-lhe um doelo (dois vinhos - rs), ou mesmo um trielo, e promovemos um festão (rs). Duvida dos dados? Veja aí...





   Há algum tempo peguei um Tondonia Reserva tinto 2008 com contrarrótulo da Mistral, então não pode haver erro. O Tondônia Reserva 2010 esteve na bléqui de R$ 760,00 por R$ 570,00. 


   Mas para os bacanas... R$ 430,00...


   É um vinho de USD 40,00-USD 50,00, então estava a bom preço, também. Só um detalhe: o meu Tondonia saiu por algo muito próximo R$ 400,00, e nem era bléqui. E a questão aqui não é ser bacana... é ser um Enochato (rs!). Consumidor, previna-se. Instrua-se. O preço é uma questão de tensão pela compra versus o desejo do comprador. Se o freguês resistir, o valor cai. E nem é o caso de trocar a picanha pelo músculo...

Tuesday, December 3, 2024

Outros vinhos

Introito

Andrada aprontou novamente. E se Andrada apronta, o dóla sobe. É o mantra preferido dos idiotas cuja memória não vai a além de uma semana, não por deficiência mental mas por retardados que são. A estória de quem chega a quanto primeiro é antiga:


   Notou? Já em 2015, primeiro ano do segundo mandato da estocadora de vento, os memes circulavam serelepes. E nem pretendo ser essa a primeira aparição desse tipo de piada. Em 2019, (logo o meu) PC do B em sua infinita sabiduría cutucava (recuso-me a fazer propaganda para vagabundo): 


Nascida quando Minerva estava de férias, Simone Palíndromo pretendeu em 2022 dar mostras de sapiência igual à dos esquerdopatas a quem se aliaria logo em seguida:


Por último e crentes em seu ineditismo - eles são estúpidos quanto à cronologia de eventos, mas não estão sozinhos nisso - bolsonésios acreditam inovar. Ah, tá...


   E ficamos assim: projeto de país, de qualquer das partes atuantes no governo federal - agora ou antes -, é absolutamente nenhum. Ações para colocar-nos da rota do crescimento, esqueça. Preocupação com a educassão? Com a educassão, toda! Já com educação... Basta de gente covarde, sem caráter, sem inteligência e sem propostas viáveis, sejam direitóides ou esquerdopatas. Por um projeto de país - um bom! - de qualquer ideologia. Não temos mais tempo a perder com essas tolices.

Uns vinhos algo exclusivos...

Foi no dia 28 ou 29 de outubro: deveria ser uma reunião da Paduca sem o Paulão, com viajem marcada havia semanas, mas no final o Fernando também não compareceu. E perdeu. Servi às cegas para o Duílio um Quinta da Romaneira Syrah Apontador 2016. Ele ficou abismado, logo de saída, com o buquê. Perguntava-me repetindo como um manta: O que é isso?! a cada cafungada, e antes de prová-lo. Quando finalmente levou-o aos lábios precisou fechar os olhos, como se estes interferissem em sua... avaliação? Não, em sua satisfação... engoliu devagar, e piscou junto de um sorriso, maravilhado. Não lembro-me bem das notas, mas sobravam fruta e mais toques na clara constatação de um vinho amadurecido e próprio para ser degustado. A boca estava pegada - no sentido de potencializada a 14% de álcool bem integrados, acidez presente e boca complexa com final longo de verdade...Tanto um quanto outro parávamos no meio da conversa para comentar o quanto o vinho permanecia em boca depois de engolirmos e enquanto conversávamos. A foto mostra o entusiasmo do bebedor com a experiência. Apontador era vendido pela Lovino, braço eletrônico do grupo supermercadista curitibano Cia Beal de Alimentos, infelizmente descontinuado. Por indicação de Don Flavitxo paguei módicos R$ 199,00 por algumas garrafas, e pois de experimentar uma delas em modo infanticídio (rs), R$ 259,00 por outras poucas, para um vinho dos seus 45.00€-50.00€, uma ótima compra. Infelizmente ele esgotou-se e parece ter passado para a concorrência. O valor pornograficou-se, indo a R$ 750,00 - tá, entrou em 'promo' por mórbidos R$ 600,00. 




Para o Duílio ficou a experiência de um novo patamar em qualidade de vinhos; Apontador sem dúvida está um degrau acima (dois?) do melhor vinho português que a Paduca provou até hoje, o Chocapalha Vinha Mãe. Aos poucos os Paduquentos vão-se emendando. 

Vinho véio

No dia 31 de outubro fomos para Campinas, Duílio e eu, buscar Don Nagibin, o bom palestino. Amigo dos tempos de graduação - 40 anos - Nagib veio do Chile para meu níver, o que muito enfelicitou-me (sic). Chamara Don Flavitxo, nosso contemporâneo de UFSCar, e o próprio Duílio, depois de aturar-me por quase 400 km, mereceu uma participação especial, mesmo com a reunião da Paduca marcada para um pouco mais adiante. D. Neusa havia prometido saudar-me pessoalmente no dia, e como saí cedo ela veio à noite, após uma reunião com amigas. Sortuda, chegou no melhor momento. O sorriso aberto do Duílio prenuncia ao leitor o que veio...

A Xampa Grand Cru Cuvée D'Ensemble do Barbier-Louvet foi a saudação para os convidados. Ótimo corpo, boa acidez, foi bom par com frutas secas, harmonização sugerida pelo Flávio. Novamente, pelo tempo passado não vou lembrar-me de muitos detalhes, mas o sorriso de felicidade da turma foi suficiente para convencer-me de como a proposta funcionou bem. Depois vieram os tintinhos. Comprados lá fora em oportunidades ímpares, estavam destinados à minha prova pessoal do velho aforismo: bons Barolos e Brunellos realmente envelhecem bem. Claro, nunca estamos 100% livres de um problema de percurso como uma rolha defeituosa, e guardá-los por bastante tempo envolve algum risco. Aldo Conterno Barolo Riserva GranBussia 1996 provém de excelente vinhedo da propriedade de ótimo produtor do Piemonte. E 1996 foi uma safra magnífica. Conti Costanti também é grande produtor de Montalcino, e a safra 1997 na toscana foi tão grandiosa quando a do ano anterior no norte da Itália. Abri ambos tão logo cheguei, e era um pouco tarde, por volta das 17:00. Levei as rolhas ao nariz a certeza da qualidade cristalizou-se em aromas discretos e agradáveis. Estavam ambos ótimos! Foram servidos por volta dos 21:00, depois da Xampa. O Barolo estava no padrão do Brovia, degustado com a Maluca há pouco: elegante, gracioso, fruta ainda presente, sem a menor nota de oxidação(!), taninos redondos... o Brunello não ficou atrás, igualmente arrebatador com grande equilíbrio. Não fosse suficiente, ainda evoluíram durante a degustação. D. Neusa chegou um pouco tarde, e colheu os melhores frutos. Nenhum deles tinha borra! Até onde sei, a borra é em parte o tanino precipitado, e se nenhuma havia, ele estava lá, misturado ao vinho. Domado, arredondado, tranquilo... simplesmente... um must! (risos!)

   A sobremesa foi antecipada para os convivas de todas as confrarias para evitar que alguém trouxesse alguma sobremesa que não combinasse, e fez parte de uma teima nutrida por este Enochato há tempos. Já fizemos com todas as confrarias uma brincadeira sempre entre um colheita tardia (chileno, normalmente) e um Sauternes 'reba' - o DV by Doisy-Védrines, até onde sei, é o terceiro vinho do produtor. Minha ideia era oferecer aos convivas um painel de diversos vinhos de sobremesa em espiral ascendente. Se deu certo? Precisarei de uma postagem para falar só disso...


Impressões da bléqui

   A bléqui deu o ar da graça este ano. Quem comprou, quase invariavelmente @sidanou. A menos, claro, que o leitor esteja nas listas dos bacanas de alguns vendedores da internet profunda, que desovam vinhos das tubaronas em condições melhores do que as da bléqui. Acredito, mesmo, em condições melhores daquelas ofertadas aos lojistas-representantes, uma verdadeira facada nas costas dos comerciantes. E tem lojista-otário defendendo a parceria com as importadoras. Estúpidos, não percebem o quanto a parceria com o cliente é de longe a mais importante. Não acredita? Veja por si...

   A Zahil é representante exclusiva (até onde sei) da Viña Alberdi Reserva desde que conheci o vinho, muito bom. Agora ela não mais  divulga o preço dos vinhos em seu sítio; é necessário escrever para eles. Se procurar na internet, encontra entre R$ 349,00 e R$ 510,00, passando pelos R$ 377,00 da VinhoBR, loja conhecida por conseguir boas negociações com as importadoras - um eufemismo para desovar com algum desconto, na maioria das vezes reposicionando o produto na margem de 2x. Ele é facilmente encontrado nos EUA por USD 17,00 (com taxas). Não farei conversão a R$ 6,00, mas, até para arredondar, a R$ 5,00; essa flutuação - que pode até permanecer alta - distorce muito a estatística (sic). Ora, USD 17,00 x R$ 5,00 dá R$ 85,00(!). Ainda se fosse R$ 6,00, daria R$ 102,00. O menor valor, R$ 349,00 dividido por R$ 85,00 dá... 4,1x! Ainda se fosse por R$ 102,00, ficaríamos com margem de 3,42x. Veja os dados abaixo.







   Mas hora, não há (muitos) motivos para você cair aos prantos se estiver no clube dos bacanas:


   E convenhamos: dá 2x se fizer a conta do dóla a R$ 6,00! Até tive cócegas de comprar, mas deixei sobrar na prateleira, optando por quem tem apresentado ofertas melhores desde sempre

   O Viña Arana Gran Reserva, da mesma importadora, varia de R$ 599,00 a R$ 939,00, passando por R$ 699,00. O primeiro valor dá USD 120,00 (ou USD 100,00), para os valores propostos do dóla. O mais caro dá USD 187,8 (ou USD 156,53), novamente para dólas a R$ 5,00 e R$ 6,00.




   Em algum lugar a versão paga do Wine Searcher diz custar USD 33,00. Não sabemos onde, então fiquemos com a versão de USD 36,00 dólas. Dá R$ 180,00 (ou R$ 216,00). O menor valor aqui está em margem de 3,33x (ou 2,77x), e o valor mais alto dá incríveis 5,22x (ou 4,35x).


  Se o comprador for bacana...


Ainda está caro! R$ 540,00 pelos R$ 180,00 dá exatos 3x, e pelos R$ 216,00 (dóla nas alturas) fica em 2,5x, além do limite da compra. Taí um ótimo vinho para trazer na mala, compondo preço médio com opções mais caras, eventualente.

Nem tudo são lágrimas...

   A de la Croix ofereceu o seu Domaine Charles Joguet Chinon Clos de la Dioterie a R$ 546,00. Ele custa USD 54,00 na França, o que dá R$ 270,00 (ou R$ 324,00). Não precisa ser gênio para constatar: com o dóla a R$ 5,00 (preço desejável), a margem está em 2x. Se tomarmos a R$ 6,00, ela cai a 1,68x(!). Basta comprar as margens dela com as registradas acima e aperceber-se de quem respeita o honorável consumidor.




   Claro, vai aparecer algum defensor anônimo (e covarde) promovendo sua mentira preferida (ou desinformação) e achando que repetir sua fábula mil vezes transformará tal cantilena em verdade. Ledo engano, não passará.

   Enfatizo: a importação no Brasil é (sempre foi) um negócio perigoso; o importador ousar descarregar toda a variação do câmbio para cima do consumidor desavisado é só mais uma mostra do quanto somos uma sociedade desprivilegiada no quesito senso crítico. Não deveríamos aceitar. Importação - em qualquer lugar - é negócio de risco. E a insegurança é para quem importa, não quem para vai comprar a posteriori. Não está satisfeito? Comece a se virar para melhorar o país, ou vá negociar esterco nas plantações de café, laranja e soja.

Continua...

Monday, November 25, 2024

🤗 60 anos de vinhos

Introito

As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira 
do que numa mentirinha.
Adolf Hitler

A mentira resolve um momento e estraga uma vida inteira.
Ditado popular



 


É impressionante a quantidade de trapalhadas em um mês, protagonizadas tanto pela situação quanto pela oposição: Janjapaluza - o nome diz tudo; novo ataque à democracia em plena Praça dos Três Poderes; Ali Lulá como um tonto tomando passada de mão do Macron enquanto este portavozeava (sic) a discordância com acordo comercial UE-Mercosul cuja costura vinha de longa data, deixando aquele falando sozinho acerca dos países pobres; Andrada enfiando o pacote fiscal no meio de sua ideia do que venha a ser gestão econômica... Sobre o pacote, vejamos se agora vai. Porque se não for, o próximo ano não será apenas difícil como possivelmente iniciará uma espiral de descontrole grave o bastante para comprometer nossa economia pela próxima década. Nada diferente do esperado sob a gestão do Posto Ipiranga - se eu fizer muita besteira, o dóla vai a R$ 5,00 - e o seu paspalho-patrocinador. Tirar essa turma do comando - assim como fizemos com a Dilma - seria um favor à nação. Claro, não há a menor esperança disso acontecer. A esperança - embora não devêssemos tratar a questão nesses termos - deve recair sobre quem quer ocupar o posto de maior herói da Nação desde Caxias. Eles estão vindo aí, para desespero dos esquerdopatas e regozijo dos patriotas de verdade. Torcendo para não ser atropelado pelo bonde da história, e vendo seu projeto de país, eu apenas os aceito de bom grado. Os completos idiotas, reclamem à vontade.

Na casa do Ghidelli

Depois de encontrar-se com Nagibin na minha humilde adega, em uma noite repleta de risadas e recordações dos tempos de graduação, acompanhados pelo Paduquento Duílio e de D. Neusa, Don Flavitxo propôs um vinhozinho de sua nobre despensa. Don Ghidellito, por acaso ouvindo a conversa, ofereceu uma garrafa de sua parte, e a acolhida; fiquei com o encargo de um branquelo. Acreditei ter algo à altura do momento. Tolinho... A literatura ensina sobre os Grand Crus de Chablis: maturação de 10 anos, para bons exemplares. Claro, cada garrafa é uma garrafa, e algumas podem miar no meio do caminho. Não estou certo se foi uma miada ou um pouco a mais de guarda... vejamos...

Rescaldo

Esse encontro foi um rescaldo do meu níver de 60 anos, acontecido no último 31. E em grande estilo, diga-se. Levei um Chablis Grand Cru Les Preuses 2008, do Willian Fevre. Grande produtor, boa safra e cujo buquê surpreendeu a (quase) todos pelas notas de pêssego - Ghidelli e Márcia sugeriram outras mais - ótima acidez - como a boca salivava... - e boa permanência. D. Flavitxo rebaixou nossas expectativas para o rés do chão: Na descente, disse. Nós três nos olhamos surpresos, talvez algo tristes. Afinal, se aquilo era uma descente, como teria sido em seu auge? Já provara de um exemplar desse vinhedo no início de '21 (aqui), mas não consegui fazer uma conexão entre as obras. Sei que sim, ambos estavam ricos e foi um prazer degustá-los, mas não veria o William Fevre como declinante; ah, quanto por aprender... Minha memória ainda definitivamente ruim, se não anotar as notas no momento fica difícil recordar-se posteriormente, e não consigo oferecer melhor descrição dele. Às cegas, Ghidelli serviu seu escolhido. Vi-me remetido aos dias de australianos potentes - esse não tinha tanta extração - e, embora com um pouco menos de força, ele ganhava pela elegância, um vinho de camadas no nariz: fruta, madeira, aquela combinação café-chocolate-couro que nunca distingo corretamente (rs) e mais. Boca pegada, taninos prometendo arredondar-se em breve (alguns anos), em nível bem acima de seus similares que classificaríamos como bons(!), ótima permanência, final longo... Instado a opinar, senti-me seguro para ir direto na região: Rioja. Don Flavitxo deu umas 10 explicações de porque seria Ribera del Duero... Hacienta Monasterio 2018 era dessa região... Claro, o Enochato contra Don Flavitxo é o mesmo que Goytacaz contra Vasco da Gama... 😑 sabemos que sempre dará Goytacaz... 😂🤣.  Em tempo: o Flávio é vascaíno... 

   Encerrando os tintos, também às cegas, o segundo exemplar não estava abaixo, embora a pegada fosse bem outra: tinha a elegância discreta dos grandes vinhos, pântano onde este deficiente nasal costuma afundar sem deixar a menor ondulação de sua passagem na superfície da água. Na vez de opinar, precisei ligar todos os sentidos e tirar pó dos neurônios para não fazer feio. Tinha boa fruta, mas não era só, e custava-me distinguir o que fosse; não eram aquelas notas claras de café e similares. Estava tudo nas entrelinhas, inclusive algo de herbáceo. Em boca, uma live picada à Cabernet remetiam a Bordeaux como o Montrose ou o Langoa Barton. O especialista dirá: má (sic) você tá confundindo tudo! São regiões diferentes! Claro, são. Mas a pegada é similar; são vinhos calcados na elegância sobre a potência, um quê apontando para uma macrorregião mais ou menos reconhecível: boca com aquela pimenta muito discreta, taninos macios, corpo médio, boa acidez e permanência... A cor - sempre uma incógnita, pois vinhos antigos podem tê-la brilhante - denunciava alguma idade. Sugeri abaixo de 2010. Enquanto isso, ao meu lado, Ghidelli repetia como um papagaio: Parece francês, mas não vou por esse caminho não... Ele sem saber exatamente o que mais dizer, ficou por aí. Fui direto na opinião de um Bordeaux de alto nível 😃... e errei bisonhamente... 😥 Le Macchiole Paleo 2004 é um Bolgheri, toscano 100% Cabernet Franc que mostra como a Itália pode produzir vinhos de alta qualidade mesmo com cepas importadas. É indiscutível o quanto espécies autóctones são fontes de excelentes vinhos, mas é igualmente inegável: quem sabe de vinho são os maravilhosos e loucos italianos em suas ousadas fantasias de gerar grandes exemplares de vinho a partir de castas bordalesas - ou de outras regiões - e não críticos de araque reclamando ser um desperdício de terroir a Bota render-se a modismos ou quetais para competir com a França valendo-se das linhagens nativas da concorrente. Ora, a Itália o faz bem(!), e (rindo muito!) queria ver a França meter-se a fazer o inverso!, produzindo bons vinhos com Nebbiolo, Sangiovese, Cannonau, Nero d'Avola, Bovale e outras! Franceses, venham! Será como em Agincourt! Quem já experimentou um Migliara (Syrah) sabe...

Chave de ouro

   O anfitrião estava preocupado em como harmonizar seu manjar de coco com calda de ameixas e abriu seu arsenal atômico, de onde retirou um Jerez das Bodegas Lustau, o Vors 30 anos Pedro Ximenez - PX é a cepa. Nos dias de comemoração fiz uma brincadeira da qual todas as confrarias participaram, um painel com colheita tardia sul-americano (bom), Sauternes reba (rs), Moscatel de Setúbal (médio), Ice Wine (médio), Tokaji (bom) e 'Sauternes bom'. Decidira - de caso pensado - deixar os Jerez de fora: pretendia uma competição honesta (rs), e minha impressão era de que um mero Jerez razoável já levaria todos no peito. Então um Vors no meio deles seria como um Fenemê arremeter sobre uma barricada de espantalhos: quanta intensidade - nariz e boca! -, riqueza e equilíbrio. Um balanceado em alto nível, nariz muito proeminente com notas lembrando frutas secas diversas - precisa de nariz para separar, mas é claro como estão lá, juntas e misturadas 😂 - o indefectível figo também dá as caras, e tem mais notas saindo pelo ladrão. Boca com acidez quase pegajosa (rs), firme, com mais frutas secas, profundo com a intimidadora cor de petróleo e um final espetacularmente largo. Ainda bem que Jerez não fica em Sauternes; um vinho como esse tranquilamente custaria mais do que um Château d'Yquem. Bebi a primeira taça, a segunda, e, quando o anfitrião não estava olhando, a terceira! 😅 Felicidade engarrafa como não experimentava há muito tempo. E veio coisa boa nesses últimos tempos... mas serão outras estórias...

   Não falei da comida... estava ótima... a foto comprova...