Friday, November 28, 2025

'61 é agora

Introito: é fogo!

Para aumentar a desgraça que nos rodeia, atormenta e grassa, para esvaziar nossa esperança (e nossa taça), desocupando o coreto e a praça, a COP virou fogo, fuligem e fumaça. Poucos dias antes o chanceler alemão Friedrich Merz comentou sobre sua comitiva: Todos ficamos contentes por regressar à Alemanha, sobretudo daquele local onde estávamos, na noite de sexta-feira. Não se dignou a pronunciar o nome do lugar, e fez bem: lembranças ruins, melhor esquecer. Anunciada antecipadamente como fracasso dada a absoluta falta de estrutura, o evento em Belém naufragou na tentativa de alçar a combalida imagem do país a um degrau mínimo de respeitabilidade. O governo federal naufragou junto, claro. Mas não escapa ileso o governo estadual e, por tabela, a população que o elegeu. Bando de idiotas com título de eleitor e QI de ostra, à semelhança de gaúchos, paulistas e cariocas dentre os demais sufragistas. Bem, no contexto citado esses últimos são um pleonasmo... Ainda tivemos outros desvios, por assim dizer: Ali Lulá defendendo os traficantes de drogas como vítimas dos usuários(!), além de confundir urubu com meu louro, Jesus com Genésio, o Pará com o Amazonas e tendo de aturar uma recepção às autoridades estrangeiras, promovido pela primeira drama (sic), onde o comparecimento foi absolutamente zero. Um zero tão profundo e silencioso que lembrou o próprio zero absoluto, aquele onde até as partículas, resignadas, frustradas, desarticuladas, desistem de dançar e se recolhem goradas, como os convidados que jamais vieram. O crédito da foto é este, e apresenta-nos pessoas sem qualquer equipamento de segurança tentando conter as chamas de um incêndio inesperado em seu voluntarismo estoico e com bravura quase incômoda. Se a COP apresentou algo de bom, ficou registrado nesse gesto de heroísmo. Alguém ficou sabendo o nome deles? O presidente foi cumprimentá-los? A primeira drama deu-lhes algum destaque como deu a Caramelo? Assim passou-se a trigésima reunião da COP, sem qualquer acordo efetivo e sem deixar saudades. Alguém minimamente inteligente e dotado da máxima mansidão teria acabado com ela na décima edição. Perdurar até hoje é mais um registro da nossa imbecilidade.

Postagens mais que atrasadas para eventos bem comemorados

Não gosto de Carnaval, mas adoro quatro dias de festas... 31 de outubro passado caiu numa sexta-feira, e, além do Dia de Todos os Santos, comemoramos em 4 de novembro o dia de São Carlos Borromeu, padroeiro municipal, daí que na terça-feira tivemos outro feriado, com direito ao Dia do Funcionário Público na segunda-feira... Então, entre sábado e terça, permiti-me um retiro espiritual dedicado ao deus pagão de minha predileção - desnecessário perguntar qual, certo? Ah, Caravaggio... vale a pena conferir o verbete, principalmente a parte da interpretação; agradáveis surpresas e inesperadas revelações aguardam o curioso leitor. De algum tempo para cá imagens de obras de arte em altíssima resolução estão aparecendo principalmente na Wiki; sempre vale a pena usar a ampliação e gastar um tempo analisando obras clássicas ao som de boa música e acompanhado por um vinho inspirador; leitura prévia de um dicionário de símbolos ajuda, e o comentário de estudiosos torna a experiência ainda mais gratificante. Experimente, e depois me diga...

Depois da reforma na adega - não ousei pintar as paredes mais antigas por medo de respingar tinta nas prateleiras e, pior, em seu conteúdo - as confrarias estavam ansiosas pela inauguração. Os detratores continuam chamando-a de caverna. Respondo, dando o troco: Adorável caverna, é isso? Alguns ainda olham para as garrafas Matusalém em primeiro plano e provocam: Ainda é uma caverna. Bem... é uma caverna de onde tirei uma Philipponnat das mais rebas, a Royale Brut Reserve. Corriqueiramente muito fresca, elegante, nariz com toques cítricos ricos seguidos de fermento e mais ou fundo florais. Demorei para pegar tudo isso, mas depois fica mais fácil identificar. Se tiver oportunidade preste atenção, pois está tudo lá. A boca tem ótimas mineralidade e acidez, e com cinco anos desde a degola está pronta, equilibrada. Não tenho experiência para dizer quanto tempo mais pode durar nessa condição. Seguramente vários anos, mas não é novidade para Xampas de qualidade. Faz tempo desde a última 'pomo', mas estou de olho: foi minha última, e não seria desagradável provar dela mais uma ou outra vez.



Depois tentei - juro que tentei - fazer boa figura. Mas falhei miseravelmente 😥... Servi o Grand Cru Classé Domaine de Chevalier Blanc 2009, tido como um dos grandes ícones de Pessac-Léognan. Essa é  uma das poucas sub-regiões de Bordeaux com brancos renomados a ponto de ultrapassarem em qualidade seus equivalentes tintos. Essa garrafa oxidou um pouco antes, do tempo, e não estava como esperado. Não estragou, não passou, apenas parecer ter miado... sem saber exatamente o que era - servi às cegas - os confrades gostaram. Mas, pensando comigo, tendo a lembrança de um Pape Clement apreciado há alguns anos e comparando o quanto Chevalier branco estava distante dele, eu curtia solitário minha decepção. Não registrei muito as notas, passou. O serviço da versão tinta foi perfeito, e a turma se agitou junto de suas taças. Ainda um degrau abaixo do citado Pape Clement, com 24 horas de aeração estava vibrante, rico, elegantemente encorpado. Não guardei as notas, mas é daqueles vinhos onde sugestões de frutas diversas misturaram-se às de chocolate/café/couro (quais, exatamente?), com taninos já maduros, madeira presente mas bem harmonizada e boa acidez. É daqueles vinhos que, conversando, sentimos como ele permanece em boca. Potente, equilibrado e gracioso. Todos dizem que Chevalier branco supera o tinto. Se estivesse igual, teria sido espetacular. Para acompanhá-lo, a Liu preparou - não sei como - um bifim numa crosta de sal cuja receita deve ter sido tirada de algum manual de bruxaria. Estava ótimo!


   Por sobremesa tivemos um Ice Wine de Cabernet Franc com um cheesecake de frutas vermelhas. Ninguém lembrou-se de fotografar - e servi a conta-gotas, como costumo fazer com esses vinhos canadenses. Justifica-se: são difíceis de encontrar, e sempre tento fazer uma garrafa (500 mL) ser repartida entre 15 a 20 confrades nos diversos encontros. E olha que uma turma teve de contentar-se com apenas com o Doisy-Védrines... Para um primeiro dia, há quase um mês, só não esteve melhor pelo defeito do branco. Aliás, ele chegou à adega bem depois do irmão tinto, evidenciando não ter sido problema de armazenamento. Baco escreve certo por linhas tortas; da próxima vez que tiver oportunidade, farei uma compra carcada (sic) em brancos. Com uma nova garrafa de Chevalier...

Friday, October 31, 2025

Um duelo desigual


Ao som de Vivaldi

Outra beberagem ficou por conta de um bifim preparado pelo Nagib ao som de As Quatro Estações, e com a presença do Lema. Ao lado, e para evitar confusão entre leitores acompanhados de generosas taças de vinho, explico: somente o bifim; Lema na  foto mais abaixo. Lancei mão das compras de algum tempo que repousavam na adega do anfitrião, e abri um Barbaresco do Prunotto na safra 2020, mesmo imaginando poder estar novo. Claro, tomei a providência de descorchá-lo logo de manhã, deixando-o em garrafa após retirar um dedinho. Esse selo pertence à família Antinori. De um lado, gigantesco e tradicional produtor da Toscana - embora Barbaresco fique no Piemonte. De outro, afiado no marketing e nos preços, consegue cobrar bem por seus vinhos, a nível mundial. Pode-se falar mal dele por vários motivos, menos que seus vinhos sejam ruins ou desbalanceados. E aerá-lo com antecedência mostrou-se acertado. Para opor-lhe resistência escolhi o Cabo de Hornos 2021. Foi um dos meus vinhos referidos durante minha fase chilena, junto do Don Maximinano de Errázuriz Founder's Reserve, do Undurraga Founder's Collection e o Tarapacá Millenium; infelizmente a maior parte deles ficou muito cara com o impulsionamento promovido pelo Parker ali por 2008. Cabo foi aerado por três horas em decantador e posteriormente resfriado em um balde na própria vidraria. A diferença de cor entre ele e o italiano chocou os bebedores...


   A primeira graça foi vê-los supondo o embate entre um peso-pesado e um suco de uvas diluído... então puseram-no no nariz. Não anotei essas notas exatamente; a fruta era muito presente acompanhada de madeira - afinal, é um vinho muito novo - e não notei outros toques. Acredito que possam apresentar-se mais evidentes com a idade, tendendo à aparição de algo do popular trio café-chocolate-fumo, mas estava jovem para isso. A profundidade da fruta mostrou-se marcante, e foi divertido notar Nagib e Lema olharem-se deslumbrados. Magide chegou, recebeu uma taça, cafungou e disse por enquanto, basta indo aconchegar-se em um sofá, com os olhos distantes. Parecia maravilhada, olhando para alguma obra-prima de Da Vinci ao som de Mozart. Para meu padrão - e isso é importante salientar - corpo e acidez medianos com taninos ainda novos, um tanto duros, mas não tão pegados. Com ótima permanência e final, como se espera de um bom italiano. Já Cabo de Hornos também tinha muita fruta com madeira e mais toques, estava sim mais rico em nariz e mais pronto para degustar. Seu grande problema era - adivinhe - a boca. Acidez até boa, para um chileno, mas para mim passando quase liso pelo final da boca e garganta, rápido e rasteiro. Então tivemos um contendor com bom nariz (Cabo) e outro com boa boca (Prunotto). O problema foi bebedores poucos preparados para o estilo de boca do Barbaresco - não a Magide, pareceu-me...

   Um parênteses: esses detalhes podem fazer a diferença para este Enochato de plantão, mas de forma alguma são importantes para o encontro em si. Nesses momentos valem a camaradagem autêntica, a amizade sincera, o respeito recíproco e o afeto genuíno entre pessoas cuja companhia cultivo por mais de vinte anos. A foto abaixo, se não traduz tudo isso, dá uma vaga ideia. Da esquerda, Nabigin, Lema, Magide e este Enochato.


   O mais engraçado ficou para o final - e perdi o tempo de uma picardia estupenda! Magide já se recolhera, e perguntei aos confrades sobre os vinhos. Eles baixaram os olhares, como temerosos de me ofender com suas opiniões - jamais! Disseram, Lema primeiro, que o italiano era bom, mas a preferência dele recaia para o chileno. Nagibim confirmou, cheio de caras e bocas. Apenas ri. Olhei satisfeito para o decantador onde permanecia Cabo de Hornos, e guardei meu melhor sorriso. Foi quando a oportunidade escorregou por entre meus dedos! Alguém desviou o assunto, e, prestando atenção, deixei passar. Só quando o Lema foi embora, conversando com o Nagib, lembrei-me de procurar um funil. Fiz questão de deitar mais um bocadinho de Cabo de Hornos em minha taça e aticei o Nagib a prestar atenção. Então verti o chileno cuidadosamente de volta para a garrafa e apontei a comparação entre elas. Envergonhado, Nagib fotografou.

E vou recordar: ainda retirei um teco de Cabo (à esquerda) antes de voltá-lo para sua garrafa. Leitor, veja por si! Como é, mesmo? Preciso recobrar uma máxima deste blog, já citada em diversas outras vezes e cuja versão pode variar um pouco ao ser adaptada para o contexto:

Deixadas soltas, as melhores garrafas sempre encontram as taças primeiro!

   Como é que os confrades gostaram mais de Cabo se eles secaram o Barbaresco?! Tenho certeza do seguinte: Cada um tinha duas taças. Nagib estava na churrasqueira, e inicialmente servi-lhe um tanto de cada vinho. À medida em que ele bebia de uma taça e de outra, eu apenas repunha o seu consumo, segundo seus pedidos. A garrafa do Barbaresco e de Cabo estavam ao lado do Lema, e ele servia-se de cada uma delas conforme o nível de suas taças desciam. Como diabos o Barbaresco praticamente secou enquanto Cabo ficou pela metade?! 😁 Ara, ara, senhores! Nem perceberam como o italiano os seduziu, cativou, enfeitiçou, desarmou convenceu e os envolveu! Os fatos estão aí, divirtam-se, riam, saboreiem, usufruam e se convençam de como nossos sentidos podem nos enganar às vezes, quando bocas e narizes parecem até tornar-se independentes de nossos cérebros! Não há muito mais o que dizer; os fatos falam por si!

Ainda teve (sic) uma visita ao Lema. O anfitrião concedeu-me a primazia de escolher dentre seus ótimos exemplares argentinos aquele que me agradasse. Tinha lá (sic! rs!) um novo Gran Enemigo - pedi-lhe a reserva para outra oportunidade - e optei por um produtor - Rutini - muito do meu agrado. Era um corte Cabernet-Syrah na safra 2020, pronto para ser degustado e, aberto ali, no primeiro momento, só evoluiu (bem!) na extremamente prazerosa hora seguinte desfrutada entre piadas, causos e muita prosa. Rutini é um grande produtor argentino; seus vinhos são honestos, equilibrados e vibrantes - para o padrão sul-americano. Já disse e repito: estão abaixo do nível europeu para a faixa de preço, e isso é um problema. Mas ali eu apenas provava do vinho. Não recordo das notas exatas - tomei nota e não encontrei depois! - mas tinha complexidade além da fruta, com mais notas. Pronto para beber, deixa a desejar - somente para quem sabe o que é - pela acidez. Aí o terreno afunda, e quando sabemos comparar, notamos que falta 'boca', como faltou ao Cabo e faltaria a praticamente qualquer produto similar do lado de baixo do Equador. O valor mais comum dele aqui no Brasil é R$ 220,00, enquanto custa R$ 56,00 na Argentina. Pow, dá quase 4x! Cadê os acordos do Mercosul?! Ah, claro, está nas mãos de uma conhecida importadora tubarona... Vocês não vão me cobrar a comprovação, vão?! OK, está abaixo. Chupem! E nem procurei direito! Estes registros fecham a semana mais feliz que vivi ultimamente. Não significa não ter vivido outros dias felizes na companhia de pessoas queridas, mas com tanta duração, de fato, fazia tempo. Nem é mais o ponto de falar de preços dos vinhos aqui, no Chile ou 'lá', onde quer que seja. Mesmo pagando um pouco mais caro pelo Barbaresco - o preço lá é similar ao do Brasil - valeu pela comparação, envolvendo a companhia e o momento de descontração. A mesma experiência aqui talvez não tivesse a mesma satisfação!

Tá, como se precisasse:

Rutini 'lá': 14 mil pesos, ou R$ 56,00.



Rutini 'cá'. Precisa dizer mais? OK, existem ofertas melhores, a 3x. Mas voltando sempre à questão: não é Mercosul? Na Europa esse 3x já poderia ser considerado um estelionato...


Tuesday, October 28, 2025

O caminho dos perfumes

Saudades de companhias e vinhos


Esta ainda é sobre os agradáveis momentos no Chile, quando deixei a vida me levar acompanhando os ensinamentos de Baco, celebrando a harmonia e a reciprocidade, abraçando o bem-viver em seu estado mais puro e desfrutando da hospitalidade de pessoas tão caras e cuja amizade preenche-me há décadas. Nagibin recuperava-se de tratamento, e a recomendação médica para aquela semana era resguardo. Juntos da Magide limitamo-nos a um único encontro mui petit comitezinho, e o restante do tempo dividimos entre provar alguns bons vinhos - outros nem tanto... - e conversas que deixariam o restante dos mortais caindo de sono pelas beiradas. Acompanhados de uma boa peça de Jamón Serrano, dentre diversas quitutes, escoltando garrafas de cantos significativos do Velho Mundo intercaladas por exemplares chilenos. E para quem duvida de quão efetivas foram as fruições, aí está o Nagibin, tão perdido que não sabia exatamente qual taça segurar para o brinde. Foi perdoável pelo volume degustado àquela hora...

Não recordo-me da ordem das garrafas, ou mesmo de muitas notas exatas. E importa? Sei que a dada altura minha taça recebia doses generosas de um Savigny-les-Beaune do Domaine Pierre Guillemot, provenientes do vinhedo Premier Cru "Aux Gravains", da recente safra 2020. Aerou por três horas - esse anotei - e chegou rico, vibrante, com muita fruta e mais toques - especiaria e algo do trio chocolate/café/fumo. Qual? O Mateus, filho do Nabig, foi agraciado com uma taça - não bebe, mas gostou de cafungá-la. Parece o caminho dos perfumes... estão todos aqui... disse num sorriso incontido. Se até para um noviço a impressão foi essa, imagine, leitor, para um provador mais experiente. A boca acompanhava o buquê na fruta bem aparente, um toque herbáceo e outros detalhes. Faltou um pouco de acidez, e estava reticente... precisaria de mais um tempo em garrafa para desabrochar de vez... mas vá sabendo, eu queria mesmo era provar um borgoinha com o anfitrião, e Guillemot mostrou-se à altura. Taninos ainda um pouco pegados mas mostrando convergência, álcool integrado, seria bastante bom para o preço (cerca de USD 55,00 no Chile) se aportasse a tão desejada acidez característica dessa expressão da Pinot. Para um Premier Cru o preço parece não discrepar tanto, mas o conjunto acidez e corpo médios com final algo curto para um Borgonha deixaram um pouco a desejar. Fazendo jus a ele: na falta de melhores opções, e nesse preço, beberia novamente com muita satisfação. Tanto que por R$ 350,00 trouxe mais duas na mala...

Para quem notou da foto do Nagib, ao lado dele estava um Châteauneuf du Pape Vieilles Vignes St Patrice 2016. Esse fora aberto no dia anterior, sob minha suposição de estar pronto. Nem por isso deixei de aerar várias horas em garrafa antes de servir, e a primeira degustação aconteceu naquele mesmo dia. No segundo estava tão bom quanto no primeiro, rico, condimentado, melhor acidez do que Guillemot, como taninos já arredondados, ótimos, falsamente gouleyant, porque, embora fácil de beber, mostrou bastante complexidade. O corte declarado pelo produtor diz simplesmente Grenache, Mourvèdre e Syrah, a típica composição GSM do Rhône. As duas primeiras cepas são clássicas em Xatenêfis, e em St Patrice cumprem seu papel de apresentar um vinho quente, de ótimo corpo sem deixar de perder a ternura (risos!), elegante e de boa persistência. Não anotei maiores detalhes desse, mas a riqueza em frutas e toques de madeira e outras tantas evidenciavam um belíssimo vinho. O valor no Chile é compatível com o do hemisfério Norte, 85,00 dólas. Por aqui está na casa de R$ 1.000,00. Convenhamos, até próximo ao patamar de 2x, mas é uma montanha de dinheiro. Se puder, prove. 

Mencionei alguma prova não tão boa? Ah, chegamos a uma delas. Vicus Orbis Private Cellar 2021, proveniente de Sagrada Familia, em Curicó, um corte Petit Verdot, Cabernet Franc, Syrah e Carmènere, não negou a procedência pela carga de pimenta à molho de Tabasco. Vem em garrafa avantajada para valorizar o produto, tarefa algo inglória para sua qualidade. Buquê frutado mas sem afastar a impressão de algo artificial, boca com baixa acidez, rápida, ligeira. Nagib comprou direto do produtor a 10,00 dólas - e valor de mercado é de uns 18,00, se lembro-me corretamente. Por 10,00, para citar alguns, compramos em Portugal o Quinta de Chocapalha ou o Cedro do Noval, e esse é o preço de mercado deles. Por quase 20,00, vai um Noval Shiraz ou um Meandro do Vale Meão, quando a competição fica verdadeiramente desproporcional em favor dos europeus. Mais uma vez - pela centésima (milésima - risos!) - comprovamos como os vinhos chilenos estão caros. É até curioso encontrarmos aqui, às vezes, Don Melchor por R$ 800,00, enquanto lá no Chile facilmente atinge USD 150,00. E os (pelo menos) 60% de impostos pagos aqui pelo produto importado? A quanto ele está saindo da origem para chegar aqui por esse valor? Novamente: não compro vinho chilenos, embora não me furte a bebê-los. Quando menos, para 'comprovar' como estão fora de propósito. Tem seus fãs - que ótimo: se tais bebedores olhassem para Aux Gravains ou St Patrice, este Enochato não encontraria com o que divertir-se...

   Mencionei saudades na introdução ao texto? Sim, saudades dos amigos do Chile, brasileiros e gusanos (risos!) que desta vez não pude encontrar. Haverão outras oportunidades. E já já tem mais postagem sobre minha breve estadia por lá.

Esta postagem foi tocada por um Cenerentola 2016, produzido pela Donatella Cinelli. Proveniente da DOC de Orcia, Toscana, corte Sangiovese e Foglia Tonda(!?), tem a clara expressão da cereja e café (chocolate?), com mais notas para divertir melhores narizes; madeira um ponto acima, destacada mas sem atropelar. De cor mais escura do que muito Châteauneuf, a boca surpreende pela acidez muito presente, equilibrada, recheada de frutas na frente e fundo especiado, com dulçor balanceado, longe de enjoar. Bom corpo, boa persistência, mesmo no segundo dia mantinha-se inteiro. Acompanhou bem uns bifinhos ao molho de gorgonzola. Foi comprado há bastante tempo na Enoeventos, onde está esgotado. Da mesma produtora encontra-se na importadora o Brunello di Montalcino 2019, a R$ 900,00 (preço cheio), que não é difícil de achar a USD 70,00 lá fora. Portanto está discrepando bem, como tem acontecido com a casa, infelizmente. Encontrei a nota de 2020, quando comprei a safra '15, creio, a R$ 360,00. O dóla naquela época estava a valor similar ao de hoje... bem, aparecem outras ofertas por aí, basta prestar atenção.

Sunday, October 19, 2025

Uma postagem apressada

Introito

   Uma viagem ao Chile obriga-me a mudar o assunto das postagens e até deixar de lado, momentaneamente, a abordagem das questões políticas sempre presentes no Introito. Repito: o grau de idiotia e apatia de parte da população não permite ao verdadeiro cidadão (sic), digo, aquele comprometido com um mínimo de lei e ordem, permanecer silente face aos desmandos da última meia década, para dizer o mínimo. É inacreditável como existam tantos bolsonéscios e PTlhos fazendo vista grossa para as atrocidades de seus... comandantes... Ainda não descemos à barbárie - como o Khmer Vermelho, o Boko Haram, o ISIS e grupelhos assemelhados -, mas tirando isso a minha percepção da falta de liberdade pela qual passamos supera em muito a da Espanha de Franco e a de Portugal de Salazar, quase igualando-se à do romeno Ceausescu e somente um pouco abaixo da de Maduro. Ou o leitor discorda muito da minha percepção, e então alguém está profundamente errado, ou ele não discrepa excessivamente. E, não divergindo substancialmente, torna-se claro o quanto estamos enterrados na lama. Não há contradição a serviço de outra possível interpretação; poucas vezes a realidade foi-me tão clara. Um longo e árduo caminho até '26.

Uma semaninha no Chile

Pois é, estive lá entre 25 de setembro e 3 de outubro, mais ou menos. Vítima da Covid, já não lembro-me de tantas coisas... 😣. Portando preparem-se para doses cavalares de mentiras grotescas respingadas com algumas pitadas de pura e singela verdade; o que puder, comprovo; desconfiem de todo o resto. O Nagib está bem - e fiquei feliz ao encontrá-lo saltitante e rebolando como uma vestal segurando a garrafa de Châteauneuf-du-Pape que eu havia comprado antes de viajar e requisitado a entrega na humilde choupana de sua família. Yes, agora temos vinhos europeus no Chile: a Lex Dix Vins é uma pequena mas dinâmica importadora de vinhos franceses - principalmente -, europeus de maneira geral e de outras partes do mundo também. O senhor Guillaume é o simpático proprietário, francês da gema (sic!) que por algum motivo perdeu-se nas Américas e abriu sua lojinha (rs) no centro de Santiago enquanto não acha o caminho de volta - espero que demore! Claro, o Châteauneuf não estava sozinho e diversas garrafas da seleção de Guillaume rechearam tanto meus poucos dias por lá como minha mala na volta. A ver...

Visitei a loja física da Les Dix Vins tão logo pude, à procura de algo mais emergencial e disposto a provar vinhos diferentes. Antes de viajar havia confabulado com Don Flavitxo. Ele acompanha muitas novidades que deixo passar, e segue de perto o estado da arte na produção em diversos países. Cochichou-me, quase entredentes, cuidando para não morder a língua, três candidatos a bons brancos. O Aristos Duquesa D'A é uma parceria entre o enólogo chileno François Massoc e dois produtores top da Borgonha: Louis-Michel Liger-Belair e Pascal Marchand. Até encontrei n'alguma loja a 90 dólas; resolvi não apostar. Mais modesto, e disponível na Les Dix, fiquei com o RETA Chardonnay Quebrada Seca 2022; foi o primeiro vinho degustado em terras chilenas. Meu paladar está (mal)acostumado a Chablis de alguma qualidade e outros Borgoinhas rebas de produtores top como os do Drouhin e os do Comte Lafon, para citar alguns, então não será qualquer blefe chegando e pedindo passagem que vai me impressionar, lamento. Reta (isso eu me lembro!) tinha mineralidade - baixa - e toques cítricos à limão bem presentes; em boca, uma vaga lembrança da manteiga como a de Borgonhas menos complexos como um Saint-Véran (aqui); acidez baixa, mesmo para um branco sul-americano, muito rápido na garganta, passando sem deixar marca nem lembrança... Ligeirinho poderia ser seu nome do meio, tudo isso embalado ao preço de USD 40,00. No... no se puede... (sic! rs!). Compra-se um Les Heritiers du Comte Lafon por USD 20,00 lá fora (mas encontramos a R$ 500,00 na Grã-Tubarona Mistral), e um Saint-Véran Deux Roches Tradition por menos; por ele paguei R$ 140,00, ótima compra.  Então Reta confirma, mais uma vez, com louvor e gabo distintos e salientes, como andam caros os vinhos chilenos - uma constatação já antiga deste blog. Poderia custar USD 10,00. O excesso na diferença justifica-se pela falta de comparação dos bebedores. Experiência recente mostra como estamos defasados, tanto política quanto enofilicamente (sic). Por aqui Reta custa uma mordida de Dragão de Komodo direto no fígado: entre R$ 566,00 e R$ 688,00. O mais curioso foi como Don Flavitxo falou bem dele: boa acidez e corpo, vívido. Não foi como se apresentou, nem para mim, nem para Nagib. Magide degustou um gole e pediu licença para lavar roupas, deixando a taça esquentando pelo restante da noite. Nossa garrafa estaria miada? Flavitxo tem gabarito, não daria uma rata desse tamanho. Talvez tire a teima, n'alguma outra oportunidade.

Uma experiência diferente

Na compra realizada na Les Dix, o sr. Guillaume ofereceu-me a título de desconto a escolha entre um vinho novo, não lembro-me qual, e um exemplar de lote limitado que ele conseguira: um Tarapaca Gran Reserva 1983! Comentou sobre a prova de algumas garrafas por clientes, e elas não apresentaram-se arruinadas. É claro que eu não deixaria de topar uma bola dividida dessas, ainda mais depois de uma breve olhada na cor do vinho. Já apreciei diversas garrafas de portugueses oxidados beirando os 50 anos, e um deles, com apenas 40, exibia fruta(!). Seguramente não esperaria o mesmo desempenho de um vinho chileno principalmente por questões climáticas (latitude é apenas uma delas), mas a curiosidade espetou-me o espírito como a lança de Odin: ela nunca erra seu alvo. A graduação alcoólica - apenas 12% - testemunhava de maneira inequívoca como as mudanças nos últimos 30 anos fizeram-se sentir no amadurecimento das uvas: hoje ele chega a 14%. Retirada a cápsula, mais uma surpresa: a rolha - de boa qualidade - não estava infiltrada. Pensei comigo: seria uma pena se estivesse avinagrado... merecia (sic) algo ter sobrevivido... Com um saca-rolhas de garfo, ela saiu sem esfarelar, inteira.

  

   Não vinha avinagrado. Toque herbáceo bem ralo, não consegui detectar outras notas. A boca seguiu o nariz: pouco a apresentar, e faltou-me capacidade para distinguir alguma outra característica senão aquela sensação de terra húmida; fora isso, insosso. Os detratores dirão: estava morto, apenas não sabia e não tinha caído!  A surpresa continuou no dia seguinte: mantendo a mesma percepção de insipidez, não desceu a algo intragável, como já tive oportunidade de provar em outros exemplares. Acompanhar per se a evolução de um vinho é, sempre, mais interessante do que ler qualquer narrativa. O coração do provador bate mais forte e a expectativa é sempre mais intensa. Valeu.


Como se fosse necessário...


O valor de Reta no Brasil





E no Chile... pelo câmbio atual, 34.000 Pesos valem praticamente 34 dólas.



Tuesday, September 23, 2025

Maluca na traição: 1

Introito

Teve uma manifestação hoje, quando começo a escrever a postagem. Não estava sabendo - a informação dessa insignificância chegou-me via Chile, na observação do Nagibin, o bom Palestino. A esquerdalha perdeu completamente os pudores e receios, tomando as ruas com a altivez dos canalhas. Isso foi pavimentado em paralelepípedos dourados pelo bolsonéscio filho fugido para os EUA, cujas medonhamente estúpidas estratégias só fazem melhorar a imagem de Nosso Amado Presidente - NAP. PTlhos sisquecem de diversos parlamentares seus votando a favor a medida, para assegurar a aprovação. Esses irrefutáveis traidores passaram ilesos ao julgamento da malta. Encerrada a votação da medida, idiotas de primeiro escalão tentaram justificar suas escolhas de diferentes maneiras. Um pretendeu mesmo voltar atrás da decisão, recorrendo a algum Supremo para alterar sua deliberação inicial. Kim Kataguiri comentou sua decisão caso fosse juiz da corte: "Indefiro, pois o impetrante alega ter sido coagido por sua própria mão a votar sim no projeto..." (risos!) Outra apareceu dizendo ter recebido telefonemas de colegas ameaçando-a(!) com retaliações caso não mudasse seu voto no segundo turno. Não sei do leitor, mas a covardia em quem eventualmente escolhi como representante (não foi o caso) é imperdoável! Quis ir lá defender uma causa? Vai defender até o fim, ou morrer tentando! A desonra e o esquecimento são o destino do covarde! E não parou em desculpas tão esfarrapadas. Veja mais aqui e cubra-se da mais pegajosa vergonha alheia.

   As recentes manifestações de PTlhos e bolsonéscios são pretendidas grandes por seus respectivos defensores. Ora, vejo-as claramente minúsculas quando comparadas às de 10 ou 12 anos atrás! Sobrou um restolho de otários cuja representatividade limita-se a grupelhos ideológicos de quinta categoria, e de maneira alguma representam o povo brasileiro. Existe pesquisa direta demonstrando isso, e foi registrado aqui: boa parte das pessoas de bem da esquerda repudiam NAP e seus sequazes, e número similar de eleitores de direita rejeitam Bolsonéscio e bolsonéscios em geral. O símbolo dessa insânia toma corpo na voz de um homem caquético que perdeu a oportunidade de (mais uma vez) calar-se. Ele saiu-se assim: A PEC da bandidagem - que é o que é - tem que receber da sociedade brasileira uma resposta socialmente saudável... uma manifestação de que grande parte da população brasileira não admite um negócio desses. Esse mesmo sujeito disse isto:


   Os bilhões da Petrobrás são nada, comparados a esse projeto... Não conheço exemplo de confissão  mais explícita sobre algum evento... Foi nesse tipo de governo em que você votou? Por longo, faço uma pausa, mas o assunto não se esgota. Terá mais.

Traições: 1

A cada troca de fotos pós-reunião da Maluca, a Luciana, em trânsito, envia reclamações iradas no grupo de Uátizzápi. Traidores! tem sido a palavra mais frequente. Se é assim 😈, façamos com gosto... 😱 Nunca é demais repetir: a Maluca é uma confraria que deu muito certo. Surpreende por serem pessoas unidas pelo mesmo interesse, participando dos eventos Vinho e Turismo organizados pelo Shot Café e pela Caminhos do Turismo, cujas afinidades foram convergindo rapidamente. Hoje a falta de algum confrade é sentida por todos... 😜 mas não deixamos de comemorar a alegria de viver quando alguém está distante! Nessa  reunião aproveitei para uma experiência; chegarei a ela. A Liu compareceu com um Champagne Brut Blanc de Blancs, o Elegance, da Peterlongo. Existe uma estória acerca da permissão por escrito que o produtor recebeu, no início do século passado, de algum consórcio francês autorizando o uso do nome Champagne em uma categoria de seus vinhos. Some-se a isso uma lembrança afetiva dela para com a marca, e por liberdade poética justificamos sua compra de um lote de produtos até sem olhar o valor; o coração não se incomoda com certos detalhes. Já este Enochato... Elegance mostra perfuminho à cítrico e ligeiras notas de pão/fermento, e pode ter bom efeito inicial, principalmente se o provador estiver vendado. À vista, as borbulhas são grossas/grosseiras; não enchem a boca à menor quantidade degustada, mas não a poupam de algum desconforto estufatório (sic! rs!). Logo na primeira prova comentei algo como "Posso dizer algo que esta Champagne não tem",  enfatizando bem o 'não', e a Liu foi a primeira a responder, na sequência do vácuo: "Acidez..." Não tinha mesmo. Nenhuma. Isso limita seu frescor e impacto, tornando o produto muito desbalanceado, rápido em boca, sem graça. As bolhas estavam lá, não há de se falar em produto passado ou algo assim. Portanto é fraco mesmo, e ao custo de R$ 230,00, segundo o Google - esgotou(!) no sítio da empresa e existem ofertas entre R$ 199,00 e R$ 280,00 na internet. Há alguns dias compramos uma Xampa de verdade (Pommery) por R$ 310,00. Pense o que quiser...

Como entrada tivemos uma 'saladinha' com camarão e mais alguns elementos diferentes preparada pela Liu: deliça! 😋 (rs! sic!). A Débora sacou seu Drouhin Mâcon-Villages 2022, vinho reba de produtor top (rs), opção, segundo este Enochato, sempre preferível ao vinho top de produtor reba... nariz com cítrico óbvio representado por frutas brancas algo discretas, sem tanta força. Melhor em boca, com acidez 'média-menos', mas ainda assim bom corpo e persistência. Sem tanta complexidade, fica fácil de beber e 'entender'; casou bem com o camarão. O preço entra em jogo com força... ofertado por notória importadora tubarona a mórbidos R$ 375,00, apareceu em liquidação nesses distribuidores de redes sociais pela bagatela de R$ 199,00. É um vinho de 20 dólas lá fora, e seu valor de 'promo' fica um pouco inferior a 2x! Existem muitas ofertas mais atraentes a R$ 375,00, mas a R$ 199,00 ele torna-se matador. Nosso mercado é complexo... Mantenho a foto do contrarrótulo se algum detrator tentar provocar sugerindo ser contrabando...

   Depois de aerar por mais de quatro horas antes de ser resfriado - essa foi a proposta -, o Korem 2015 da Argiolas chegou com tudo: parrudo, nota primária de (muita) especiaria, madeira e toques à chocolate/café com mais complexidade. Boa acidez, taninos bem presentes, álcool à 14,5% sem incomodar, apenas parte da estrutura da bebida, integrado, denunciando aos ventos um vinho em seu esplendor e com possibilidade de permanecer nesse estágio por mais uns bons anos. Mas está pronto e ótimo para beber, com esse serviço. O produtor é consagrado, nunca bebi um rebento de suas adegas que decepcionasse. Antigamente importado por alguma tubarona, chegou a custar USD 120,00, contra USD 30,00, à época. Hoje custa um pouco mais (USD 35,00), e por aqui anda a R$ 480,00 na Enoeventos, a preço cheio. Quando o proprietário escolheu não vender-me uma caixa (12 garrafas) a preço de Enoclube, à vista, fui procurar outras alternativas no mercado. Claro, as encontrei. Não parece-me inteligente perder uma venda à vista de 12 unidades com um desconto praticado para 'assinantes' que são contemplados com abatimento similar comprando uma única garrafa, mas cada empresário cuida de seu negócio como bem entende. Desde então recheei a adega com diversos Novais quando poderia ter escolhido Crus Bourgeois, Capellanes ou Barons de Ley, cujos preços eram atraentes à época. Não sei agora. Wine Searcher para preservar a saúde de sua carteira! Não podemos ter de tudo... e escolher com sabedoria, tanto vinho quando candidatos a cargos eletivos, é-nos sempre uma prática salutar. Quem a pratica, soa-me inteligente. Mas como já repetido aqui milhares de vezes, o brasileiro contenta-se com lavagem no café da manhã, porcaria no almoço e estrume à noite. Sem aparente interesse em melhorar. Saúde para quem escolhe bem!

O Drouhin Mâcon-Villages 2022


Na oferta, a R$ 199,00. Lembre-se: 20 dólas lá fora.


Lá fora. USD 'quase 17,00' + 1,7 de impostos, encosta em 20 dólas. Achou que eu estava mentindo, né carcará... Sabi di nada, inocente...


Aqui, a preço cheio, como para tirar uma dos idiotas/inocentes. Uma indecência completa.


Um brinde às amizades!

Tuesday, September 16, 2025

Uma Paducada perdida no níver do confrade Duílio

Introito

A certa idade, os próvidos se permitem alguns prazeres. Outros, apenas a idiotia.
Oenochato

Um agente da lei jurado de morte foi assassinado hoje, na Praia Grande. O delegado Ruy Ferraz tombou na luta contra o crime organizado. Você, PTlho idiota, saiba que sua residência está menos segura. O governo federal, em quem você votou, negou-lhe uma nota qualquer até as 20:30 desta terça-feira. A esta hora, um comentário já será considerado oportunismo e o silêncio soará ao descaso. Vacilos dessa monta não podem ser permitidos. Nem tolerados. Aliás, o partido que tinha um diálogo cabuloso com a mesma facção criminosa que vitimou o delegado aceita seus ministros submetendo-se às leis do tráfico, adentrando favelas onde a polícia só vai de Caveirão sob segurança mínima e sem roupas de combate(!) como colete a prova de balas ou capacete. Para mim, um Ministro é a personificação do Estado: deve proteger e fazer cumprir a Constituição, deve combater o crime (em suas diversas formas, como corrupção) e deve ser fiel para com a coisa pública. No tocante ao combate às transgressões, espera-se a luta resoluta. Ou que morra lutando - se pensar em fugir da batalha, não tem predicados morais para tornar-se Ministro; continue em vida mundana e se esqueça de servir à Pátria, que é tarefa para gente de fibra e onde dispensam-se pulhas. Voltemos ao assunto principal. A vítima normalmente usava carro blindado, mas então dia dirigia um veículo comum. E justamente nesse momento seus algozes resolvem emboscá-lo? São pelo menos duas falhas: uma de segurança, pois ele nunca poderia deixar de usar uma condução protegida. Outra, de inteligência: como é possível uma informação dessas chegar aos bandidos sem a devida interceptação? Estamos presenciando criminosos sendo soltos mesmo após 20 detenções - ou mais. Apenas para ficar nesse tipo de problema. Um governo sério já teria tomado medidas contra esse disparate. Mas o atual comando foi justamente quem patrocinou as bases legais para esse desplante ocorrer, portanto a conivência do Estado com essa situação absurda não pode mais ser ignorada. Pergunto novamente, PTlho otário: você votou na atual administração? Em 2001 eu tinha votado em outra bem diferente daquele cuja história começou em 2002 já com o escândalo do Waldomiro Diniz. Continuo sendo de esquerda, mas patetas mancomunados ao que há de pior não mudarão minha percepção ideológica, nem levarão meu voto.

Umas Paducadas por aí...

Esta vem bem atrasada. Logo quando fundamos a Paduca, o Duílio começou a se ligar com mais atenção em vinhos um pouco melhores. Tanto é que acompanhou-me na compra em ótima oferta de um Faustino I Gran Reserva 2009. O tempo passou, e em seu aniversário - junho passado - ele nos presentou com uma prova às cegas. Chegaremos lá. Em ocasiões especiais, brincadeiras especiais: levei dois espumantes às cegas, e servi primeiro o Cordon Negro da Freixenet. Tem sido nossa carne de vaca para alguns momentos um pouco mais formais, e não decepciona: fresco, leve, aquele toque de fermento no nariz e acidez combinando com o conjunto da obra. O divertido foi olhar as sobrancelhas dos confrades elevando-se em surpresa e os sorrisos se abrindo de satisfação. Carlos Andrééééé... isso é diferente..., teria dito o anfitrião. É uma Champanhe de buquê clássico: cítrico e notas de pão na frente, seguido de frutas brancas. Acidez média, ótima permanência em boca, comparada com a Cava - mas convenhamos, custa 5 ou 6 vezes mais, tem obrigação. Chegou-nos em oferta a R$ 310,00, custando no mínimo R$ 450,00 por aí. Nesse valor é uma boa compra. Por R$ 450,00, esperaria uma 'promo' da Philipponnat mais reba, a uns R$ 500,00. Tinha também um Marquês de Tomares Crianza 2014, já degustado. Entrega fruta e mais toques; não faz feio e o corpo médio ajuda a combinar com embutidos menos pegados como um lombinho, e é fácil de beber. A postagem anterior faz-lhe jus quanto à qualidade e preço. Vi hoje no Mercado Livre a R$ 116,00. Se encontrar o Chocapalha a preço similar, ainda acho mais vinho. Mas ele deu uma sumida... Então o Duílio, às cegas e fazendo cara de paisagem, serviu a primeira taça de seu campeão cuja aeração mostrou-se bastante benéfica antes de ir para o balde resfriar. Hum... como estava bom... Tirando um 2001 oferecido pelo Dr. Marcão (rs) há muito tempo, foi o melhor Faustino I que já bebi. Sabidamente longevo, está ótimo para degustação: o buquê permanece rico, frutado e com mais notas à chocolate/café/tostado (quais?), taninos domados, elegantes, boa acidez e final. Sei ter algumas garrafas dele, talvez uma da ótima safra 2005, e outra da 2009. Devem estar, nas palavras de Don Flavitxo, um mel... Estes dias apareceu uma 'promo' (não lembro a safra - '14?) a R$ 250,00. Seu preço normal, se procurar bem, começa em R$ 300,00. É um vinho dos seus USD 25,00, nos EUA. Cuidado ao sair comprando, pois pedem até R$ 400,00 por uma garrafa, tubaronice desenfreada. Ao final fiquei admirado com o coelho tirado da cartola pelo Duílio. Ele disse ter aberto pensando em deixar-me espantado. Conseguiu, com louvor.

Monday, September 15, 2025

Uma postagem de emergência

Introito: uma grave distensão social

Charlie Kirk, ativista de direita, foi assassinado nos EUA no último dia 11. Inicialmente supôs-se alguém de esquerda, e a direita brasileira foi rápida - até demais - em declarar encerrado o diálogo com ela. As suspeitas recaem agora sobre um rapaz de direta, que acusava Charlie de extrema direita (sic!). Charlie Kirk era um jovem de 31 anos, conservador e cristão. Portanto, sem nenhuma combinação comigo, nessa primeira visada. Já o vira debatendo muitos anos atrás. Vivaz, eloquente, duro e direto mas nunca desrespeitoso: o adversário que valoriza qualquer evento onde valham a troca de ideias e a honestidade intelectual. Acompanhei pouco sua trajetória, porque provavelmente alguém trazia esquerdopatas retardados para debater com ele, tornando o massacre previsível. Não é possível que a esquerda norte-americana seja tão descerebrada. Bem, a nossa não é tão melhor. Mas lá tem Ha-Ha-Harvard, e outras... voltemos ao Charlie. Seus defensores diziam-no absolutamente contrário a qualquer forma de violência - eu também, até quando sentir-me sob ameaça. É fácil tirar essa dúvida sobre ele: se alguém me enviar um vídeo do canal dele promovendo ódio, eu vou assistir e manifestar aqui. Outras fontes - possíveis edições - não serão aceitas. Charlie Kirk foi assassinado enquanto buscava o diálogo - é impossível contrariar isso, ele estava 'lá' justamento para promovê-lo! Foi um ato baixo, e é-me difícil imaginar como alguém possa descer tanto vibrando com esse fato. #soquenao. Tranqueiras humans fizeram exatamente isso. O vídeo é um pouco longo (2 minutos) mas deve ser assistido; tem por bônus, além de uma declaração nojenta, uma resposta a altura. Creio que a fonte dispense os créditos. Quem não o conhece - é um estúpido, mas não vem ao caso - , saberá dele em breve.


   Como é isso? Alguém rindo e comemorando o assassinato de quem, até o momento, nada desabona senão ter ideias dissonantes das de outros, minhas inclusive? Não é o que meus valores morais ditam. Repito: não tinha qualquer combinação com Charlie Kirk; na primeira visada tínhamos ideias opostas. Mas alguém comemorar sua morte só seria justificável - embora nunca aceitável - se o caboclo pertencesse à facção cuja missão fosse sua execução. Fora isso, trata-se de vileza em seu estado mais puro e acabado, intolerável, ato digno de mais definitiva reprovação. Registre-se: eu seguia o cidadão no Youtube há muito tempo. Seus comentários sobre Santos Dumont soaram como uma afronta à historiografia mais básica, mesmo para um alienígena na área como eu, e tive certeza de que ele mudara sua alimentação para bosta, com os devidos efeitos deletérios em sua percepção. Decididamente, não estava errado em abandoná-lo. Por comentário final, vai uma para os bolsonéscios-raízes. Os mais próximos a mim nada disseram a respeito da monstruosidade. Não surpreende: estúpidos defensores de personalidades teriam de ficar alheios a esse fato, pois eles não discutem ideias. É clichê, mas é o que tenho por encerramento: vamos de mal a pior.

PS: perdi o crédito da imagem de abertura. Sei que o autor me perdoará.

A Paduca correndo por fora

Nesse meio tempo a Paduca realizou várias reuniões. Venho iniciando meus discípulos em branquinhos nojentos, e eles estão apreciando as experiências. Essa não foi a primeira, preciso até recuperar a anterior. E dá uma ideia de como as postagens estão atrasadas: Deux Roches Saint-Véran 2023 foi degustado inclusive com as Malucas, e volto nesse ponto ao longo do texto. Saint-Verán é uma região simples na Borgonha: sequer tem algum vinhedo Premier Cru. Seus vinhos são frescos, frutados e invariavelmente chegam prontos para serem desfrutados. E este 2023 não é exceção: pense em um vinho simples mas sem arestas. Por branco, cítrico esperado - estava lá! -, em boca mineralidade discreta como um bônus, gracioso com a ausência da madeira (ela não comprometa a graça, efetivamente), com notas de frutas brancas, acidez combinando com a estrutura até algo modesta, complementando-a bem. Esse é o retrato de Deux Roches, um vinho descompromissado mas alegre como diria o Akira, bom para uma entrada com queijos leves. Não tem grande final ou permanência - mas queria o quê, para um borgoinha que deve valer uns USD 12,00, algo assim? Comprei a R$ 130,00; o leitor tem alternativa de Borgonha para me indicar, nesse valor? Vi outro dia uma 'promo' de Saint-Véran a R$ 180,00, na safra 2018. Para mim está passada - são vinhos de consumo rápido! Enviei a oferta de Deux Roches para as Malucas, explicando o que se podia esperar de um Saint-Véran. Acostumadas com Chablis, elas passaram, de nariz empinado. Experimentamos em algum momento e perguntaram-me se eu tinha alguma garrafa sobrando. Como é? Nuts!


   Carcarás! Depois que me f#d! pra pagar? Agora é meu! 😆 Já não estou seguro se na segunda compra ofereci novamente a oportunidade para as  Malucas... mas suspeito não deixaram passar não senhor. Ah, bom... Aprenderam? 😒

   O tinto foi uma armadilha artimanhosamente (rs) preparada para os Paduquentos. Fez parte de uns vinhos menos ruins (Meandro do Vale Meão e Braccale) ofertados em kit especial a R$ 499,00, e os convenci a comprar. Na primeira taça, ergueram as sobrancelhas em espanto e regozijo. Na segunda, olharam em direção ao firmamento - mesmo com dois pisos de concreto sobre suas cabeças. Na terceira, miraram ostensivamente este Enochato a vos escrever, e visivelmente seguraram imprecações. Essa foi a trajetória do blend Alma Negra 2022 em suas bocas: para mim enjoativo em primeiro momento, a eles agradou na primeira abordagem mas não foi muito longe; eles logo enjoaram e se enojaram com a sua composição: dulçor excessivo sem a devida acidez para compensar, baunilha escorrendo pelas bordas da taça e sobrepujando outras notas. Boca num doce desequilibrado comprometendo toda a estrutura, facilmente perceptível para quem está um pouco acostumado com vinho, mas possivelmente na crista da onda para tudo quanto é boca torta, tudo o que é nego torto, errantes, cegos, retirantes... se me entendem... Essa porcaria de produto é como descrevo, jornalisticamente, Alma Negra. Algum picareta deu-lhe 93 pontos quando não deveria ter ido além de 39, e os Paduquentos perceberam isso rapidinho; não se fizeram de rogados em socar-lhe as devidas críticas sob a recomendação de eu nunca mais pegar qualquer oferta onde ele entrasse. Com desconto, saiu a uns R$ 166,00 - o Capiroto quase vibrou (faltaram outros 500 - risos!), batendo nervoso na mesa ao notar o fracasso em captar para seus domínios almas honestas de bom coração como os Paduquentos. Mesmo com preço majorado, encontra-se o bom Chocapalha a uns R$ 125,00 e para quem está jogando fora R$ 150,00, o Ferraton Cotês Du Rhone Villages Plan de Dieu está aí por R$ 180,00, basta Googar. Detalhe: o preço cheio dessa ofensa engarrafada chega aos escorchantes R$ 215,19 - se levar uma versão impressa desta resenha na loja garanto que deixam por R$ 215,00. Azazel - o do Asimov - em meu ombro sugere que sairia de graça. Quem leu alguns dos contos do Grande Mestre sabe que a estória pode acabar bem mal...


   Se for para comprar no preço cheio, Googa "Ferraton Crozes Hermitage", e encontre o La Matinière por R$ 260,00, mas se prestar atenção em algum Empório tem a R$ 199,00. Não dá! Alma Negra é ótimo produto para bolsonéscios e PTlhos mais abonados, pois se soubessem escolher alguma coisa - vinho, no caso - acabariam em ofertas melhores e deixariam-me na berlinda sem muitas opções. Também vai uma provocação aos detratores do blog - por onde andarão? Não que façam falta... mas ficam aí a defender o preço cheio das importadoras tubaronas com argumentos obtusos, enquanto, na porta dos fundos, a mercadoria é desovada com 30% de desconto. Fazendo a conta, significa que vem de 3x para 2x... Não podem sugerir contrabando - como tiveram o desplante de fazê-lo um dia. Mais cuidadoso, agora registro a procedência e provoco: como é mesmo que tentam justificar tanta diferença entre o preço 'lá' e o preço 'cá'? Uma parte está em seus bolsos(néscios) de alguma maneira, diretamente como grana em caixa ou indiretamente com descontos mais generosos ainda. Espero que seja como desconto, e em vinhos como este.