Saturday, April 25, 2020

A verdade sobre uma degustação que foi 'forte': Barolo Rocche dei Manzoni Big 'd Big 2001, La Rioja Alta 904 2009, Cain Five 1998 e El Vinculo Paraje La Golosa 2003

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Introito

  Há muito, muito tempo, em uma galáxia distante... Não! Isso é outro assunto... também faz tempo que aconteceu, mas nem tanto... e está documentado pelo Don Flavitxo Gambero aqui. Foi quando o João Paulo chamou seleta comitiva - não tão seleta assim, já que eu estava lá, como neófito - para apreciar um Barolo Paolo Scavino Carobric 1997. Havia experimentado poucos Barolos até então - e mesmo depois (risos!). Coincidentemente, conhecera o Big'd Big no Wine Tour da Interfood poucos meses antes! Voltando... o João chamou para o Paulo Scavino, fato que mais tarde rendeu-lhe o apelido João Paulo Scavino e até gerou uma comparação engraçada... não! Voltando de vez, agora! Com poucos vinhos prontos para beber, levei um modesto ViBO'07. O encontro foi memorável, e, senso de gratidão, ao sair senti que ficara em débito com o João. Demoraria para retribuir, mas o mundo dá suas voltas, os vinhos envelhecem, e em uma galáxia distante... Chega! Diabos (sic), preciso exorcizar algum demônio!
   Está bom, eis que, em algum momento de 2018, dou de cara bom um Big'd Big 2001. Lembrei da experiência que tivera na Interfood e pensei que seria uma ótima retribuição para o outro evento de tantos anos. Como chamaria o Akira, decidi que levaria a segunda garrafa pela cota dele: maquinara uma comparação que, acreditava, seria interessante. Conversei com Don Flavitxo Gambero sem adiantar quais seriam os vinhos. Ele ouviu a proposta com toda a ponta e circunstância para emendar no final:
   - Mas claro, meu jovem. Façamos sua vontade... Se você tem como diz, há, há, dois bons vinhos para molhar nossas gargantas, vamos nos reunir.
   - Sim, Don Flavitxo, sim, então no restaurante para um bifão. Espero surpreendê-los positivamente...
   - Vamos tentar, meu caro, vamos tentar... Até lá, então...

A motivação da brincadeira

   Desde há muito, muito tempo, em uma galáxia distante... não! Não é isso! De volta! Desde há muito tempo ouvimos dizer que o Velho Mundo é a "casa" do vinho. Os melhores vinhos do mundo seriam, na ordem, os produzidos na França, Itália, Espanha e Portugal; depois, o 'resto' que se degladiasse pelo quinto lugar. A despeito, claro, do incômodo resultado do tal Julgamento de Paris, quando dois americanos (tinto e branco) venceram vinhos franceses em degustação às cegas e com a maior parte dos jurados - quase todos, parece - francófonos. A discussão na época foi que os vinhos eram novos, e os franceses precisam de mais tempo para desabrochar. Reza uma lenda sobre nova prova uns dez anos depois, com outra vitória americana. Estariam no júri o Saci e a Mula Sem Cabeça (como ela provou?!), parece. Tendo a não acreditar.
   Bem, na mesma compra do Barolo eu havia pedido para a Alexandra Harner, da Benchmark Wine, a sugestão de alguma gema norte-americana. Ela sugeriu o Cain Five 1998, um vinho de USD 99,00, ao qual o Parker dera parcos 91 pontos.  Lembrei de um Châteauneuf-du-Pape de 98 pontos que eu comprara anos antes, pelos iguais USD 99,00. Franzi a testa por apenas um segundo, poque acima disso lembrei-me de outra dica muitos anos antes, em NY, quando o sommelier de uma lojinha da 98 com a Segunda me sugerira assim:
   - Se o senhor quer  gastar USD 30,00 em um vinho, então gaste USD 36,00 e leve este Slow Lane Cab.
    E foi uma experiência maravilhosa, até porque eu levara também o vinho de USD 30,00, e, apesar de bom, estava degraus baixo. De maneira que não tive um pingo de dúvida:
   - Alexandra, coloque o Cain Five na minha caixa, por favor... - e paguei para ver...

O encontro

   Finalmente estávamos os quatro à beira de uma mesa, dois vinhos devidamente embalados, cada um com duas taças servidas. O Barolo, havia aerado umas 4 ou 5 horas. Tive medo de aerar o Cain Five mais de duas horas. O João pegou a taça que ele não sabia ser de Barolo. Fez uma careta de satisfação:
   - Bom vinho... olha só - olhando direto para mim - que bom...
   - Barolo - ditou Don Flavitxo  assim sem mais, de primeira, logo após levá-lo ao nariz.
   - Na hipótese de ser, é Barolinho, Barolo ou Barolão? - provoquei.
   - Oohh... Barolão... belíssimo Barolo. Acertou meu gosto em cheio, jovem...
  Cada um provou um pouco, comentamos sobre as características, e voltei a provocar:
   - Agora vamos ao segundo.
   Don Flavitxo cafungou. Cafungou novamente, e abriu um sorriso largo. Disse que aquele garrafa também estava espetacular. E, para surpresa geral, começou a dançar em passinhos na volta da mesa, quase cantando uma melodia:
   - Carlão trouxe um Barolo e um Bruné-lô... Carlão trouxe um Barolo e um Bruné-lô... - e enquanto caminhava em pulinhos de dança batia palmas e jogava o rosto de um lado para o outro de tanta felicidade. - Carlão trouxe um Barolo e um Bruné-lô... Carlão trouxe um Barolo e um Bruné-lô...
   Descrente, Akira pega a garrafa do que seria do Brunello e a tira do embrulho. Justo quando Flavitxo estava cantando às nossas costas, ele mostra a garrafa para o João, que lê, olhando para o feliz dançarino:
   - Cain Five, Napa Valley...
   Akira e eu olhamos para trás rindo e emudecemos. Flavitxo havia sumido! Como um fantasma. Nem um traço! Encaramos um ao outro surpresos, depois olhamos para o João. Fazendo uma cara de reprovação ele levantou a toalha e olhou para baixo da mesa:
   - Flavitxo, saia daí... - depois, voltando-se para nós e ainda balançando a cabeça como numa negativa - Ele sempre faz isso quando dá essas bolas foras...
   Akira e eu nos olhamos novamente, espantados, por um breve momento. E ao nos voltarmos para o João lá estava Flavitxo, ao lado dele, já com uma taça nas mãos:
   - Bons vinhos, meus jovens...
Os felizes confrades: à esquerda Don Flavitxo, depois
Akira, este Enochato e o João Paulo 'Scavino'
   O evento aconteceu há um bom tempo. Não fixei nas paredes da memória os detalhes dos vinhos tão bem quanto gostaria para falar mais profundamente sobre eles. Mas se preciso recordar de sensações mesclando equilíbrio, elegância, boca muito boa com persistência e final longo, então é desses exemplares que me lembro. E o Parker, com seus 91 pontos... o que aconteceu, não recebeu?
   Depois vieram o La Rioja Alta 904 2009 e o El Vinculo Paraje La Golosa 2003. Ambos também muito bons. O La Rioja surpreendeu pelo fato de abrir muito bem. Logo depois de desarrolhado, foi para a taça e não fez feio. O El Vinculo apresentou melhor evolução durante a brincadeira - não lembro se Don Flavitxo já havia aerado do danado. O La Rioja, menos. Por isso gostei mais do El Vinculo. E, para surpresa, ao longo do encontro o Cain Five evoluiu bem, como foi apontado pelo Akira. Mas olha lá (rs)! Naquele momento o Cain Five estava no final. Se eu concedesse-lhe a mesma oportunidade do Barolo, teríamos ao final um duelo talvez mais igualitário. Como já mencionado, Don Flavitxo fez um depoimento bem interessante e muito mais completo sobre os vinhos em si.
   O João perguntou "de onde eu tinha tirado" aquele vinho, e contei-lhe a história.
   - Que coragem, apostar assim em uma indicação.
   O que comentei depois encontrou ressonância nos conhecimentos dos confrades: vá ao Chile, e peça sugestões em alguma renomada loja. Ouvirá: "Este é o melhor Carmenère do Chile". Ou "Este é o melhor Merlot do Chile". Vinhos na faixa de USD 20,00-25,00 até USD 30,00-35,00. E, para piorar, todo ano muda. Será que um produtor não consegue manter-me hegemônico por dois míseros anos seguidos? Ou seria esse o "mistério da desova de vinhos que estão nas prateleiras"? Oh, dúvida... Leitor, eu ia ao Chile quase todo ano, há algum tempo. Sei do que estou falando. Quanto aos Chardonnays, então, todo ano tem "aquele novo", para chamar a atenção. Quem teve a coragem - ou a insensatez - de entrar em algum deles, e pensa em prová-lo qualquer hora, faça uma comparação simples. Procure um Borgoinha - nem precisa ser Premier Cru - bem comprado em alguma loja legal, e faça um duelo. Constate a diferença de qualidade entre um mero AOC e um "top" chileno. Está bem, para alguns não torcerem o nariz, concederei que o top chileno seja "levemente" melhor. O único problema é que ele custará no Chile o dobro do vinho AoC na França. Faça a comparação via wine-searcher. No Brasil é pior. No Brasil o (pseudo) vendedor sai-se com algumas como "Esse vinho sai bastante"... Moral da estória (ou, de outra maneira, Complexo de Vira-lata): Dá pra acreditar nas sugestões dos gringos. Nos sul-americanos, não. Claro que existem desonestos lá, assim como existem os bons aqui. Na razão inversamente proporcional, é claro.
  Ao final, Don Flavitxo saiu comentando:
   - Bom, esse americaninho. Por um instante até achei que poderia ser um Brunello...
   Quase encerro esse depoimento, que é verdadeiro e extremamente rigoroso em seus mínimos detalhes. Preciso, agora sim, exorcizar um demônio.

Resenha de filme

Star Wars: A Ascensão Skywalker
Fui procurar o nome certinho do filme, para não fazer feio. Porque costumo referir-me a ele como A M... Voadora. Bem, a primeira "notícia" que chega no Google é que o filme teve o menor lucro da última trilogia. Pois é...
Bem, A Ascensão Skywalker é um dos filmes de ficção científica mais anti-científicos que vi nos últimos tempos. Está bem, perde longe para o novo Perdidos no Espaço, outra decepção que poderia ter sido esquecida tão logo a proposta foi apresentada ao estúdio. Mas este é uma seriezinha para tevê, enquanto aquele seria o fechamento com chave de ouro de uma saga iniciada há quarenta anos! Ara, merecia um pouco de respeito por parte dos dinheiristas sem vergonha que estão na produção há... está bem, meros 36 anos... Fiquei pensando que tipo de vinho seria A Ascensão Skywalker. Argentino? Chileno? Não! Brasileiro, mesmo! Quem quiser, que compre. Ainda bem que não paguei o ingresso.

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