Introito
O blog tem leitores que não se manifestam nos comentários da plataforma, mas comunicam-se diretamente comigo. Recebi a ponderação abaixo do Jairo Cantarelli, proprietário da Vinho e Ponto de S. Carlos via uatizápi no grupo Vinho e Viagens, que é coordenado pelo Eduardo da empresa Caminhos do Turismo. Diz respeito à Postagem dois em um, cometida (sic) há poucos dias.
O comentário
Lidos rapidamente, logo pela manhã !!!
Sempre faço uma comparação entre a nossa capacidade de avaliação gustativa e a precisão dimensional que algumas profissões usam ou alcançam. Quando conversamos com um carpinteiro, a conversa gira em torno do cm (centímetro) e ele ainda usa aquela régua de medição amarela de cerca de 1 m e que dobrada nas articulações, fica em uns 20 cm de comprimento. Nem precisa dizer que a escala desse instrumento de medição é bastante imprecisa.
Quando conversamos com um marceneiro, a conversa já evolui para o mm (milímetro) e o instrumento usado para medir já é uma trena com maior precisão ou até app de celular.
Se vamos falar com um mecânico sobre uma determinada peça, muito provavelmente, a conversa vai girar em torno do décimo de milímetro e se vamos a um mecânico de precisão, então a conversa passa para o centésimo de milímetro.
Nada impede que um carpinteiro fale em mm. Mas nunca confiem em um mecânico que estiver com a régua amarela do carpinteiro na mão 😳
Creio que o nosso paladar se comporta mais ou menos assim. Se somos iniciantes na apreciação, estamos mais para carpinteiros e não enxergamos detalhes de décimos de milímetros. Mas podemos fazer um trabalho de carpinteiro muito bem feito.
Nossa, isso está muito comprido 😬
Conforme vamos evoluindo no conhecimento e na degustação, vamos trocando o nosso instrumento de precisão e assim por diante, para encurtar um pouco a conversa.
Isso não quer dizer que quem tem o melhor instrumento de medição, seja melhor profissional. Já cruzamos com mecânicos muito ruins e carpinteiros excelentes em nossas vidas, certo ?
Por que me veio tudo isso ? Pela votação no Cabra Cega.
Isso reflete um pouco o nível em que estamos em termos de capacidade de medição.
Muito provavelmente, eu teria votado nele também.
Vou ficar por aqui !
Deu pra entender o ponto ?
Se o nosso paladar é Cabra Cega, vamos ficar extremamente felizes bebendo um, mas talvez não fiquemos tão felizes bebendo algo mais sofisticado.
Ah, e tem pessoas que, por questões genéticas talvez, nunca passam do cm para o mm e assim por diante.
😬😬😬🍷🍷🍷
Comentário sobre o comentário
Particularmente, acho que nada mais correto; concordo 100% com a reflexão.
É muito difícil formar grupos heterogêneos em qualquer atividade humana.
Sentava-me para beber com Akira e Flávio (Akira não bebe mais, apenas isso mudou; ele continua 'cafungando'). Os dois conhecem muito mais do que eu, porque trabalham profissionalmente com fermentação. Enquanto estou tentando identificar se a fruta é vermelha ou negra (quando não está evidente), eles já estão na lichia, blue x black berry (sic) e passos mais adiantados.
Os confrades d' As Noivas de Baco estão, assim como a trindade (sic) Akira-Flávio-Carlos em níveis diferentes de conhecimento. O Akira reconhece que eu tenho conhecimento teórico muito maior do que o dele, pelo simples fato de que eu leio alguma coisa, e ele lê praticamente 'zero'. Ler sobre vinho não é do interesse dele. Beber, era.
Da mesma maneira, os confrades d' As Noivas de Baco possuem conhecimentos diferentes e até mesmo interesses em diversos níveis quando o assunto é vinho. Ninguém pode impor que outras pessoas conheçam ou dediquem-se a um assunto que lhe é particularmente interessante. É um comentário óbvio mas que precisamos tomar por 'régua' na hora de medir não apenas o conhecimento mas também o interesse de cada um sobre o tema. Meu interesse por vinho vem de uns 20 anos. Nada mais normal que sejam um pouco maiores do que das pessoas que, como eu, não são profissionais, mas tenham interesse similar há, por exemplo, apenas 10 anos. Para um 'interesse igual', se pudéssemos metrificar isso, aquele que estuda o tema, qualquer tema, há 20 anos, deve conhecer mais do que aquele que o estuda pela metade do tempo. Ou o primeiro é um paspalho...😂. Assim, entre 'interessados' por vinho, se tenho 20 anos de estrada, é praticamente um 'obrigação' que eu conheça um pouco mais. Observadas todas as aspas deixadas pelo caminho!
Por isso sei que sim, em alguns pontos conheço um pouco mais de vinho do que vários dos nossos confrades. O conhecimento sobre vinho não resume-se apenas a experimentar e identificar notas e características, ponto no qual sou bastante fraco. Estende-se também a conhecer processo, regiões, mapas, rótulos, estória, evolução, produtores, o próprio 'mercado'... Aliás, qual o sub-título desto blog, mesmo? Resmungos de um deficiente nasal que sabe pouco para iniciantes que sabem menos...
Junto d' As Noivas de Baco, sei que estou lá para ensinar muita gente. Mas tenho a completa certeza de que há muito a aprender com essas mesmas pessoas, também.