Sunday, September 11, 2022

Encontro com beldades do Camarão com Vinho

Introito

Você acredita em santidade nos dias de hoje? Está bem, cada idiota com sua crença. Dizem que Deus é brazileiro... mas nunca senti tanto este paraíso onde vivemos como o clichê cinematográfico do lugar abandonado pelo Criador, basta ver onde fomos parar às portas desta eleição. Dois quadrilheiros e igualmente mentecaptos - cada qual à sua maneira - nas primeiras posições. Você pode citar um único e singular livro comentado por qualquer um desses idiotas? Dizem que lulalelé leu 1313 livros na prisão. Ou seriam 131? - ei, está próximo a 171... - ou mesmo 13? Leu nada! A prova (como se precisasse...) são suas manifestações desde que veio a público por conta das eleições. Ninguém percebe? Ele cozinhou os miolos enquanto preso, olhando para o próprio umbigo!, porque nada sabe fazer além disso! bolsonésio, então, não pode cozinhar o que não tem. E você pensa em votar em um deles?! 😨 Como já escrevi, existem cidadãos que acreditam ser necessário votar em alguém em vez de anular o voto. Como espaço democrático, respeito. Ainda, recomendo para estes o voto em bolsonésio. Será mais fácil retirar um amador idiota do poder via procedimento legal e republicano - alguém duvida que ele logo logo vai meter os pés pelas mãos, como tem feito regularmente ao longo dos últimos 4 anos? - do que tentar remover um salafrário escolado e conhecedor dos meandros do poder.

Encontro com as beldades

Por algum motivo desconhecido a este articulista, o grupo chamou-se inicialmente Camarão com Pão. Depois e misteriosamente como antes passou a Camarão com Vinho. O fato é: esta reunião aconteceu para combinarmos (risos!) um camarão com vinho de verdade, marcado mas não realizado desde meu último níver. Quase às portas do níver seguinte, acho que, se a barca não virar, chegaremos lá... 😃 Em 'u', a Dayane na foto, a Andréia como convidada, a Renata, este Enochato e a Luciana sentamos para uma noite animada e tocada a muito vinhobão e constatações ou comentários surpreendentes. Escrevo embalado em um Ben King e ajudado por um Faustino I Gran Reserva - aguardem. E depois de muitas tentativas frustradas por agendas conflitantes, estávamos todos ansiosos para uma degustação.

Larguem do meu borgonha!

E olha que o borgonha nem era meu... 🤣 foi oferecido de coração 😍 pela Luciana. O Domaine Glantenet Hautes Côtes de Nuits 2019 recebeu meu comentário inicial: Hautes (alto) é uma região no topo das escarpas das montanhas - acredito mesmo que nos platôs - onde as terras não têm as mesmas características das terras mais baixas, e por isso geram vinhos sem a mesma tipicidade das denominações abaixo. Áreas que sequer contam com zonas Premier Cru, efetivamente não vão além da classificação de AoP. Ainda assim são borgonhas, e se o produtor for razoável estarão acima de tudo o que produzimos em um raio de 5.000 km. Em tintos, brancos, rosés e, principalmente, espumantes; não vem que não tem: quinto colocado do mundo, só se pegar a lista de ponta cabeça 🙃 (sic) e começar do final. Voltando ao vinho: nariz bem cítrico - veio na frente e foi o que consegui pegar; sem outras notas distinguíveis para mim, embora tenham comentado (não anotei 😣). Boca com acidez média, mineralidade - se prestar atenção nota-se um salgadinho - alguma fruta branca ácida, persistente e com bom final. Seu preço aqui, em 'promo' está a R$ 190,00; lá fora encontrei sugestão a... UD 10,00. Digo 'sugestão' porque não vi à venda, tendo encontrado uma página onde a safra de 2008 estava esgotada. Impossível saber desde quando. De qualquer maneira, aliado ao preço do Vivino (USD 14,00) - um sítio muito citado mas que não gosto por motivos que alguma hora comento - fazem uma referência para podermos avaliar seu preço aqui. A Chez France parece estar perdendo a mão e entrando para o time das tubaronas... e o espaço permanece aberto à discussão, desde que devidamente argumentada - o que, vendo a retrospectiva dos comentários perpetrados por energúmenos detratores, não se constitui em uma esperança animadora para o enriquecimento do debate.

   Aproveitei a ocasião para um doelo (sic); embate entre dois vinhos; se fossem três seria trielo, e assim por diante. O Château Le Bernet 2015, da região de Graves, foi degustado recentemente; e preciso começar dizendo ter achado esta garrafa melhor do que a anterior. Não surpreende tanto: em vinho, cada garrafa é uma garrafa. Se esperamos que na média as garrafas sejam iguais, também não podemos nos admirar tanto quando duas destoam. Esta apresentou fruta mais viva, toque de chocolate/café (qual?) mais presente mas ainda não distingui com precisão; boca equilibrada, taninos amadurecidos, acidez adequada, só um pouco ligeiro no final. É trazido pela Vinho e Ponto, e seu preço sem 'desconto' fica fora do padrão custo/benefício em que estou acostumado a comprar: acho que cerca de R$ 280,00/R$ 190,00 sem e com 'promo'. É um vinho de €13,00 lá fora, conforme atesta a postagem. Não há mistério: reposicione-se o preço com margens mais honestas e posso ser comprador regular. Château Chantemerle 2016 é um Cru Bourgeois produzido no Médoc - próximo a Graves, portanto - e importado pela Enoeventos. A 'curadoria' dessa casa é competente - muito mais do que a de Vinho e Ponto e de muitas outras. Chantemerle apresentou-se vivo, recheado de frutas, especiaria e algo mais que não distingui, na direção de algum couro/estrebaria ou terroso. Madeira como deve ser, presente com discrição, taninos ainda pegando um pouco, acidez média e álcool adequado; aportou sabor de fruta, especiaria e madeira. Corte 40% Merlot; 50% Cabernet Sauvignon; 5% Cabernet Franc; 5% Petit Verdot com bom final e permanência, achei bem completo, embora alguém tenha gostado mais de Le Bernet; isso apenas reflete a diversidade do grupo. Para constar, a Dayane declarou textualmente que sentia-se surpresa por ter apreciado mais o branco. Ah ah ah... prepare o bolso, e bem-vinda aos borgonhas... Valor: meu último comentário sobre a importadora foi claramente desabonador, no quesito custo/benefício. Vejamos agora o que os dados nos mostram. O preço desse vinho no sítio do produtor é, curiosamente, €13,90; praticamente o mesmo de La Bernet. Não tenhamos ilusões: o produtor vende em seu sítio já com uma margem, que ele dará às lojas e importadoras de outros países que comprarem dele. É um equilíbrio de mercado necessário e bem vindo. Se o Château achar-se o bonitinho da bala Chita e precificar seu vinho a €20,00, terá de encarar a dura concorrência dos vinhos nesse preço. Pode até achar seu nicho, mas nunca será uma boa compra. É assim que o preço se autorregula. Bem, seu preço 'lá' aponta para cerca de R$ 85,00. Aqui está R$ 195,00/230,00 em Enoclube e preço regular. No Enoclube, dá 2.3x, diria que o limite da compra. Sem esse desconto dá 2.7x, um flerte muito perigoso com a tubaronice desavergonhada. E não é ser bonzinho ou malzinho, são apenas os dados. E estão abaixo para reflexão (ou ira profunda 😂) do leitor.

PS: Luciana, cancele a assinatura do clube do vinho da Chez France! Fiquemos somente com as promoções. Vamos para a próxima importadora, que somos (sic) fiéis ao vinho, somente. Ufa...






10 comments:

  1. A história se repete. Algumas importadoras começam praticando preços razoáveis e em pouco tempo, aumentam os preços. Por que?

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    1. Olá, obrigado pela leitura. E pela informação, de que a história se repete. Explico: do meu lado, não consigo ver isso, porque não acredito que as atuais tubaronas de mercado tenham começado com preços razoáveis para depois terem aumentado. Sei que em minha primeira viagem ao Chile, ali por 2002, já trazia vinhos de lá por 1/3 do preço daqui. Mas lógico, a importação de vinhos começou muito antes, e falta-me esse dado.

      Há ainda um fato novo advindo da pandemia: é verdade que o preço do frete subiu. Por outro lado, há a seguinte conta: aumentar 1 USD de frete em um vinho que vale 2 USD é um aumento de 50%. Mas para um vinho de 10 USD, são apenas 10%... assim, acabamos ficando com mais perguntas do que respostas.

      De qualquer maneira, mantenho o ditado: o preço da liberdade é a eterna vigilância. O blog continua comentando e comparando os preços dos vinhos como uma da principais pautas.

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    2. Não falo das grandes, e sim, das menores, como a Chez France, Barrinhas, Martini. Elas tinham bons preços tempos atrás, e agora, estão caras. Não tem a ver com dólar.

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    3. Entendi que você falou das menores. A minha consideração é que, antes disso, eu particularmente não tenho registro de que as grandes algum dia tenham praticado 'bons' preços. Realço: apenas não tenho esse registro.

      Voltando às menores. Sim, isso é o que eu mesmo tenho constatado: elas estão subindo os preços. E é a sua pergunta inicial. Certo, o frete possivelmente contribuiu para esse aumento, mas isso também não explica tudo, conforme meu comentário. Por outro lado, pode sim ser uma mudança de atitude dessas pequenas importadoras. Não sei explicar, mas seguirei atento.

      No resumo: o dólar não explica esses aumentos (concordo consigo!). O aumento do frete explica parcialmente essa subida (meu ponto). Sem querer fechar o assunto - talvez necessário mais reflexão - vamos continuar a aventar o que possa estar acontecendo.

      Como sugestão: se conhece alguém na Barrinha e Martini (é a Cada do Vinho de Minas?), convide-os a participar da discussão. Vou convidar o sr. Oscar da Enoeventos e tentarei o contato da Chez France - quem me atende é uma vendedora.

      obrigado!

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    4. A questão que fica é a seguinte: Subiram os preços por conveniência ou necessidade. Eu não descartaria esta última. Não é fácil manter empresas no Brasil. Só quem tem é que sabe os problemas. No caso, pode sobrar apenas duas opções, que é aumentar os preços, ou fechar. Note que algumas que tinham preços mais baixos, não conseguiram se manter.

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    5. É uma argumento bastante válido.
      Apenas não me parece muito inteligente da parte do importador proceder assim. Ora, já estamos em uma crise muito forte; aumentar os preços porque vende-se pouco é a atitude do gerente cansado.
      Ademais, o que tenho visto é justamente o contrário: tubaronas abaixando o preço, mas vendendo em outras lojas que não as próprias. E, curiosamente, baixando o preço para as margens próximas a 2x!, que era a margem das importadoras mencionadas aqui.

      O argumento de que ter empresa no Brasil não é fácil é verdadeiro, mas precisa ser descartado. Vejamos:
      * É difícil para todos os ramos (eu mesmo sou empresário);
      * Ao entrar na importação, o empresário já sabe de antemão, dada nossa longa história das dificuldades burocráticas, câmbio, etc.
      * Ao fim e ao cabo, é difícil ser empresário em qualquer lugar!, com as particularidades de cada país. Nos EUA, a concorrência é medonha, e os grandes sites de internet são fortes mesmo (preço, entrega e disponibilidade de safras antigas), apenas para ficar em um exemplo.

      Enfim, continuamos a procurar outros motivos.
      obrigado.

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    6. A discordância é livre. E uma via de mão dupla.

      Do meu lado, vou reposicionar a sua primeira frase sob o ponto de vista das tubaronas. Elas não fazem questão de dormir sobre os estoques. Mas se pudessem vender tudo em uma semana (ou duas - risos!), com margem de 4x, seria o melhor dos mundos. Não vendendo, podem segurar o produto porque algum fluxo alimenta a máquina. Afinal, para cada R$1,00 que sai, entram R$ 4,00...

      Depois, vinho pode ser perecível, não é morango (risos!). Mesmo vinhos mais simples possuem vida útil de pelo menos um ano. Tá, Beaujolais nouveau não, mas já vi garrafas com mais de um ano à venda - e isso tem nome: sacanagem. Então, acredito que seja por isso mesmo que muitos importadores aproveitem-se da longa vida do vinho para tentar obter ganhos maiores. Aí sim, se não vende, a partir de dado momento, chegam as 'queimas'.

      Ainda acho que sim, bons preços estimulam vendas. Eu mesmo praticamente só adquiro e recomendo os vinhos que sejam boas compras. Se não funcionasse, as citadas importadoras não estariam aí durante vários anos só enfiando dinheiro em um poço sem fundo. Elas quebrariam antes. Portanto, é sim viável trabalhar com margens menores e estimular o consumo.

      Não concordo tanto que as importadoras tenham de ter tanta variedade. A Chez France só tinha franceses. A De la Croix ainda só tem desses. A Enoeventos já foi muito forte em portugueses quando era fraca, talvez, em espanhóis, ou italianos. Com sua recente importação de muitos franceses, ficou forte nessa país. Acompanhei todas essas ondas, mandando ver com fé e sem noção nem distinção (rs) o que tinha a bom preço.

      O procedimento de importadoras venderem o produto mais caro para o revendedor ter margem não parece-me correto, porque normalmente vendem o muito mais caro e propiciam também altos ganhos. O correto - para o consumidor - é trabalhar com margem honesta e dar um desconto compatível. Se o lojista quiser margem maior, é livre para concorrer com a importadora. E muitas vezes acontece justamente o que não deveria: essas mesmas tubaronas realizam ofertas com preços até menores do que vendem para os lojistas! Isso sim é um absurdo. Lojista já me reclamou disso. Quando perguntei por qual razão continuava com tal importadora, mudou de assunto. Qual seria o motivo, senão margens pornográficas?

      Empresa nos EUA: é mais fácil sob a ótica burocrática e legal (menos ações trabalhistas), mas a concorrência é grande. Vá lá competir com a Wallmart... E muitas lojinhas com porta de entrada de 1 metro - literalmente - existem em Manhattan. Os preços continuam bons, e vendem 'por oportunidade': o sujeito passa no final da tarde e leva um vinho. Porque os preços de uma maneira geral por lá são honestos: com poucas moedas compra-se um vinho.

      Em tempo: minha área é tecnologia da informação. Meus concorrentes, além dos nacionais, são mãos de obra barata da China e Índia. Mesmo assim, consigo competir até com esses últimos. É a realidade do meu negócio. Portanto, sei o que é concorrência e sei o que é dificuldade de trabalhar...

      obrigado,
      Oeno

      PS: na verdade não consultei - faz tempo que não passo lá - os preços da Martini, se for mesmo a Casa do Vinho de Minas. Passarei por lá, dar uma conferida. A Barrinhas confesso nunca ter comprado.

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    7. Então... chega de polemizar sobre uma sociedade dinâmica enquanto a nossa é empedernida. Ficaremos até amanhã nisso.

      O leitor começa a se confundir. As importadoras pequenas são pequenas justamente por terem (relativamente) poucos rótulos, e assim algumas focam-se em poucos países - ou um só: De la Croix, Taste du Vin, Chez France (até pouco tempo), Uvavinhos (até pouco tempo), Cava de Vinhos, etc. Claro que precisa de alguma variedade, mas se tiver diversificação de regiões e rótulos, então não é mais pequena! Por outro lado, vemos importadoras com carteiras modestíssimas de vários países. Será que são essas as que fecham? Um bom ponto a se pensar...

      De la Croix - para citar uma que conheço relativamente bem - varia pouco no sentido de quase não trocar fornecedores, apresentando-nos um e outro novo produtor às vezes, o que demonstra o real crescimento da empresa. Tem vinhos excelentes e mantém a tradição de bons preços. Está no mercado há mais de 15 anos e supostamente já deveria ter fechado, se o raciocínio do utente fosse válido. Assim, comprando 'aqui e ali', o consumidor é quem pode variar!, sem alimentar mal administradores iludidos com sonhos de grandeza.

      Parece-me que importadoras com bons produtos e bem administradas recebem naturalmente seus clientes de volta. Podem crescer devagar sim, mas crescem. As outras precisam matar um leão por dia, porque aos poucos  seus clientes vão tomando consciência do achaque, e migrando. Portanto, precisam sempre renovar o esforço de formar novos clientes/consumidores que serão presas por um tempo e novamente migrarão, fechando o círculo do custo alto para as tubaronas e crescimento orgânico para as pequenas. Acho que isso explica um pouco mais do alto custo das tubaronas! Mas parece óbvio que a discussão do motivo para a disparada de preço dos vinhos em algumas importadoras ficou para trás. Como esse deve ser o foco, abreviemos a discussão por aqui.

      Obrigado.

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  2. Não acredito que importadores irão abrir e discutir a planilha de custos... Mas o que eu sei é que a parte tributária fica em até 80% (II e outros, Alíquotas alfandegárias, certificado de análises, armazenamento, transporte, etc).. Ai tem a parte dessa discussão, amplo leque de preços e margens..

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    1. Também não acredito que abram. Mas não é o ponto. O ponto é: por qual motivo importadoras já nomeadas - Chez France, Enoeventos, Barrinhas e Martini aumentaram a margem.

      Um dos pontos aventados - por mim - seria a alta no frete, embora particularmente eu acredite que não explica tudo.

      A tributação não mudou. Então, o que mudou? Estamos vendo que as margens estão mais altas - ou, em outras palavras, a relação 'custo lá vs. custo cá' aumentou, de um tempo para cá.

      obrigado!

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