Friday, June 2, 2023

Dois vinhos brasileiros

Introito

Alguns leitores perguntaram-me, sobre a postagem passada, acerca da correção dos dados apresentados ao lerem as loas traçadas para o estadista Maduro. Reclamo meus 12 anos de fidelidade à verdade diligentemente plantadas neste blog e questiono a habilidade em lermos um simples gráfico. Ora, se a curva está subindo, as coisas (sic) estão indo bem. Ao contrário, indo mal. Aproveito a questão de 'leitura de gráficos' para desmistificar mais uma falácia contra o estadista Maduro, acerca da suposta hiperinflação em seu país. Lendo o gráfico abaixo - e é de fonte claramente detratacionista (sic), o FMI, veja informações completas aqui -, observamos uma inflação de praticamente zero se comparada ao ligeiro pico registrado em 2018, perigoso ano pré-pandemia


   A questão de educação é profundamente importante para o cidadão de bem não se deixar enganar por conversas mentirosas ou preparadas para desviar o assunto mais importante da pauta. Nesse ponto a companheira Luciana Genro dá exemplo de firme determinação ao lutar contra propostas vazias e sem a menor importância para o dia a dia da população.


   Afinal, responda: por qual motivo nossas crianças devem ser ensinadas acerca de educação financeira se dinheiro é algo quimérico e inexistente para elas, seus pais e seus avós? Soa ridículo, assim como a outra proposta dos detratores do governo Bolivariano, quando pretendem comparar o tanto de dinheiro necessário para comprar algum produto básico naquele país antes do corte de uns 300 zeros na moeda local.


   Será possível?! Nunca ouviram falar de cartão de crédito? - outra invenção imperialista cuja invocação apenas ajuda a desmentir os detratores de Maduro e seu regime. De seu trono, digo, de sua cadeira presidencial, Nosso Guia faz sinal de positivo-operante e manda um abraço a todos.

Duas ocasiões, dois vinhos nacionais

Encontrei-me com as confrades Renata e Dayane duas vezes, nos últimos dois finais de semana. Como as postagens andam atrasadas! Digo, como as últimas semanas foram.. foram... foram... produtivas! A primeira ocasião aconteceu em minha humilde choupana, quando reunimo-nos para um bifim ao molho gorgo - única especialidade da casa - com vinhos trazidos pelas meninas. O Chianti Podere Primo já provado não apresentou muita novidade - não anotei a safra. Fácil de beber, fruta imediata, acidez presente sem marcar tanto, não fez feio com o bifim. O segundo foi servido às cegas e fui convidado a avaliá-lo. Notas de fruta bem claras, fáceis de pegar. Boca com acidez baixa mas presente, sem dulçor. Final sem comprometer. A falta de dulçor fez-me descartar Portugal. Italiano, não seria. Achei poder ser um espanhol desses mais simples a inundar nossos supermercados e cuja degustação não refugo quando alguém põe na mesa. Ledo engano, era um vinho nacional, o Família Carra Linha Prime Tannat! Não anotei a safra. Ver alguma acidez - mesmo baixa - em um vinho nacional, depois de experimentar os não-Vin(nhos) do Bueno, algum Encruzilhada mundo afora e outros exemplares de não-vinho soou como uma grata surpresa. O preço - comparado ao valor mais comum de muitos nã-vinhos segundo ouvimos por aí, R$ 200,00 ou mais, surpreendeu pelos modestos R$ 50,00. Ainda é muito por um produto nacional, se comparado aos similares em outros países, 3 ou 4 moedas. Agora sim, convertendo, estamos entre 15 e 20 'moedas nacionais'. Esse teria de ser o preço. Certo, o imposto pega. Mas o imposto deve incidir sobre o valor inicial. Reajustando, estaríamos entre 22 e 30 moedas. Nossa população não é rica, e mesmo nesse patamar o montante ainda está alto. Ora, se uma Brahma duplo malte está, digamos, R$ 8,00, dá para comprar 3 garrafas de 600 mL e sobre para o buzanfa. E, para quem conta moedas para chegar ao final do mês, uma garrafa de cerveja já basta... dessa maneira, a conclusão é rápida e imediata: o vinho nunca será popularizado por aqui.

A segunda garrafa foi provada uma semana depois, no salão de degustações onde moram as meninas. Família Carra Linha Prime Merlot não surpreendeu tanto - nem a mim, nem a elas. Tem lá sua fruta no nariz, mas em boca é mais ligeiro, tem acidez muito baixa e final curto. Não notei o álcool - o Tannat tinha 12,5% - mas não sobressaiu e ficou bem abaixo do Tannat. Podem detratar este Enochato dizendo-o gostar de apelar de vez em quando, mas levei um Pago de los Capellanes Joven 2019, de Ribera del Duero, com nariz algo complexo a muita fruta e mais notas - chocolate? Alguém teria sugerido couro, estrebaria? Pois é. Boca onde os 15% de álcool apresentam-se balanceados, madeira muito contida - não percebi mas tem, segundo o sítio da importadora, a Enoeventos -, acidez e final médios, bem saborosos. Não harmonizou mesmo com a pizza de calabresa porque sua estrutura passou por cima da carne e ele reinou sozinho na boca. Parece que bati um pouco forte... Custa USD 20,00 por aí, mundo afora, e está por R$ 200,00 (preço cheio, ou R$ 170,00 no Enoclube); dá 2x. Pechinche, comprando uma caixa de vinhos e negociando desconto. Coloque uma ou duas garrafas dele na sua dúzia e saia para o abraço.

   Então uma reflexão sobre as cepas: elas pouco dizem, se pensarmos em comparar, por exemplo, com o Tannat típico do Uruguai, todo pegado, com o Tannat do Família Carra. Todas as cepas possuem expressões diferentes de acordo com o terroir onde são cultivadas, e o bebedor não pode comparar a 'força' de um Shiraz da África do Sul com aquela apresentada por exemplares da Austrália. Um bom vinho sul africano deve conseguir defender-se contra um australiano, em uma degustação. Mas terá de fazê-lo via qualidades fundamentais do vinho, via... sua estrutura: balanço entre álcool, acidez, açúcar e tanino. Além disso, o sul africano deste caso deve ter a classe dos bons vinhos, dada pela força - ou graça - de seus componentes. E a graça funciona sim; veja como um Borgonha 12,5% de álcool defende-se de Brunelões amparado em sua magnífica acidez, mesmo com seus taninos não indo além de médios. O assunto é complexo, apenas acredite o leitor que é como descrevo. Voltando dessa digressão, temos de aceitar o vinho nacional com suas características expressas por nossas terras e condições climáticas - nosso terroir. Estamos condenados à baixa acidez por causa de acidentes geográficos, e poderemos fazer pouco contra isso. Querer cultivar vinhas em lugares onde a chuva excessiva leva os bagos a apresentarem-se inchados de tanta água na colheita é uma condenação a vinhos de pouco álcool também. Falta álcool, falta acidez... resta-nos competir no preço. É onde estamos afundando.

No comments:

Post a Comment