Tuesday, February 20, 2024

Dois eventos em uma postagem

Introito

No princípio Deus criou o céu e a Terra.
Gênesis, 1: 1

No princípio Deus criou o céu e a Terra, e o Chocapalha Reserva (tinto) já estava lá. Depois a Terra continuou, mas o Chocapalha Reserva (tinto) sumiu... Existe uma versão Reserva em branco (os vinhos produzidos pela Quinta estão aqui), e já faz um tempo temos o Vinha Mãe; o que se passou entre um sumir e o outro desabrochar, desconheço. Bebi do Reserva (tinto) certa vez, com Don Flavitxo; está aqui - ótimo vinho. E como o leitor atento sabe, provei algumas garrafas do Quinta de Chocapalha, um tintinho valente de USD 10,00 a USD 12,00, eventualmente comprado aqui por R$ 100- (observe o sinal de menos!). Não é o preço desejado pela importadora tubarona que representa a marca, mas parece ser uma exigência de mercado, atualmente. Na última reunião da Paduca lançamos mão de um Vinha Mãe, na safra 2016. Corte 65% Touriga Nacional e 35 % Tinta Roriz, aerei por umas boas três ou quatro horas na garrafa, e o buquê chegou rico em frutas - vermelhas e escuras? - e mais toques, algum couro ou chocolate. Boca pegada, taninos firmes, também algo à chocolate, mas acidez um pouco abaixo do esperado para quem conhece o Quinta de Chocapalha e, pelo preço, antevê um degrau acima para Vinha Mãe. Tem álcool (14%) contido, madeira presente mas discreta, bom final, persistência adequada para o conjunto da obra como se apresenta, e satisfaz. O problema foi termos recente na memória um Quinta do Noval Syrah 2016, que os Paduquentos, puxando pela memória, disseram ter gostado mais. Vinha Mãe beira dos 30 dólas em Portugal; seu preço aqui ultrapassava os R$ 300,00, mas atualmente pode ser encontrado a até R$ 199,00 - uma ótima compra. Ainda assim, os Quinta do Noval possuem preço similar lá e estão aqui na faixa de R$ 170,00; o pessoal insistiu preferir o Noval sem saber desse detalhe. Não sei se a garrafa poderia estar um tanto miada (rs) a ponto de não desenvolver seu potencial, e da minha parte concordei com eles. Tenho mais duas ou três garrafas, de diferentes safras, para tirar a teima. Tivemos concomitantemente um Argiano Non Confunditur 2020, supertoscano corte Cabernet Sauvignon, Merlot e Sangiovese, 14,5% de álcool um pouquinho saliente, aportando boa fruta no nariz mas boca mais simples pela acidez esforçando-se para alcançar Vinha Mãe - sem conseguir. Taninos ligeiros, final um pouco curto, madeira discreta tudo convergindo com alguma qualidade mas tendendo a mais simples - especialmente ao lado do português. Surpreendeu-me negativamente, quando tento puxar pela memória minhas impressões do I Love Italian Wines, de 2022. Certo, aquela safra era a 2019, mas a diferença pareceu-me grande. Não sei o quanto o Vinha Mãe pode tê-lo eclipsado, mas no evento eu também estava bebendo outros (bons) vinhos... Seu preço está na faixa de USD 15,00 'lá', e pode ser encontrado por R$ 115,00 aqui - outra boa compra, se alguém se dispuser a correr o risco. Seria ele páreo para um Quinta de Chocapalha? 🙄 quem entra com a garrafa no NC?

Encontro com a Ariane e turma

Há algum tempo a Ariane foi para a Argentina e trouxe algumas garrafinhas. Guardou uma delas por uns bons anos, jurando estar destinada a ser aberta junto deste Enochato - agradeço tanta atenção! Reunimo-nos no Barone com sua prima Simone e seu namorado, o Cláudio. Ela levou um Premier Rendez-Vous Cinsault Rosé 2021 para abertura dos trabalhos. É um languedoquês (rs) simples, 12% de álcool, frutado, refrescante, com baixa acidez, leve e bastante ligeiro, para ser bebido sem compromisso. Já disse, rosés não figuram entre meus preferidos muito mais pela dificuldade em entendê-los e menos por qualquer má vontade. Experimento, e pronto. A estória ficou mais séria quando fomos para o Quimera 2012, da Achaval Ferrer. Ela é uma das melhores vinícolas da Argentina - não conheço tanto, embora já tenha degustado de alguns bons produtores platinos, como diversos Cobos, Dona Paulas, Pulentas, Zuccardis, Trapiches e Colomés. Estava bastante bom para seus 12 anos: boa fruta vermelha, algo como couro e madeira; boca sem aquele doce que levou-me a desgostar dos argentinos mais simples - e mesmo alguns mais complexos de outros produtores - acidez tendendo a média, taninos redondos, álcool sem se notar, apesar dos 14,5%, boa permanência. É um vinho relativamente caro na Argentina - 24.000 Pesos, R$ 142,00, USD 29,00 no mercado local, embora a própria bodega venda a 35.000 Pesos, R$ 208,00, USD 42,00, protegendo demais os lojistas e distribuindo ótimas margens para todos. Curiosamente, nos EUA custa os mesmos 29,00 dólas, e fica a pergunta inescapável: saiu (da Argentina) por quanto?! Aqui anda na casa dos R$ 330,00, em 'promo', mas gostariam de vendê-lo para você a R$ 400,00. Sabe aquela cena dos desenhos animados, do sujeito que pega a vítima e a vira com as pernas para cima, chacoalhando até caírem-lhe os últimos centavos? Mesma coisa... Não bastasse, só reforça minha ladainha (risos) acerca do vinho sul-americano estar demasiadamente caro. Em minha defesa (risos) levei o Titular Edição Sem Nome 2015, do Dão; ele repetiu a ótima fruta, bons taninos, mas na primeira rodada não estava tão resfriado e valeu uma impressão inicial mais favorável para o Achaval. Foi realmente necessário deixá-lo na água com gelo para ele encontrar meu melhor momento, com acidez mais evidente e bom conjunto, como já descrito aqui. Achei que Titular esteve melhor, embora a Ariane talvez não. Já escrevi isso: ao final, cada um levantou sua taça acima da cabeça e bradou: 
   - O meu vinho foi o melhor! 
   Ganhamos todos...

Preço do Quimera na própria bodega e no mercado local: disparidade...



Quimera no Brasil

Quimera nos EUA


4 comments:

  1. Fala, Big Charles!
    Faz tempo que não bebo o Quimera. Costumava ser bom. Mas o preço atual, não dá. Com a grana dá para pegar CdP, Brunello e uns bordozinhos melhores. Até mesmo sulamericanos. Eu acho o Aliara, Petit Clos Apalta, Lazuli, Unânime etc, melhores que ele.
    Abraços,
    Flavitcho

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    1. Don Flavitxo, grato pela leitura e pelos comentários. Sim, lembro como possível alternativa ao Quimera daquele Cuvee Alexandre 2001 da Apalta que bebemos há muito, e estava legal - mas ele também está beirando os 400tão... o pequenininho Clos (rs) é ainda mais caro, não? O Lazuli - olha a tubaronice! - também andava por volta disso. E caímos na mesma: mesmo por um pouco mais, pegamos Xatenêfis, Brunellinhos e outros. Só reforça a estória: os vinhos sul-americanos estão muito caros.
      Obrigado!

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    2. Então, Big Charles, o Cuvee Alexandre subiu demais. O Petit Clos Apalta já peguei por 300. É um vinho muito bom. O Lazuli, peguei 2018 recentemente por 190. Acho muito justo se compararmos com conterrâneos dele, que como vc bem disse, estão muito caros.
      Abraços!

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    3. 😮 pegou o Petit e o Lazuli a bons preços, mesmo... Mas fico pensando em outras ofertas, como o Apontador comprado há algum tempo (tá, alguns anos). O Vinha Mãe está R$ 200,00, é outra possibilidade... 🙃 sei lá...

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