Saturday, May 25, 2024

Bacalhau pós-Páscoa

Introito

Corra Scadufax, mostre-nos o significado de pressa.
Gandalf, em O Retorno do Rei

O texto da última postagem saiu defeituoso (sic). Havia escrito um pequeno roteiro - como sempre - ligando o título, Sobre homens e éguas, ao vinho, mote principal do blog. Sem querer apaguei a nota, e na hora de formalizar os pensamentos acabei deixando passar a conexão. Esse deslize sempre empobrece a escrita; a coesão é um dos pontos básicos da boa composição. O comentário focaria na invocação de algumas postagem recentes comentando os preços da Chez France e da Enoeventos: eles andam soltos como éguas na planície, cavalgando à frente de uma manada de cavalos. Os garanhões, querem fazer-nos crer as tubaronas, são os clientes abrindo suas carteiras com toda a virilidade e desembolsando suas notas em troco de vinhos de qualidade inversamente proporcional ao seu valor de face. Durante um café na padaria, leitor aventou se eu referia-me às políticas citadas como éguas. Em função do comentário acima, posso dizer: - Meu caro, errou...


   Sim, a  Marina Silvia não escapou de críticas. Mas seu passado a condena. Dentre muitas, ela votou contra a liberação de pesquisas em células-tronco embrionárias, lembra? Não lembra? Ah...

   Da Janja, eu falei muito bem!, basta voltar lá e ler direitinho. E vou falar mais bem agora, veja:


Notou seu desapego e desinteresse a quem estivesse em volta, chorando aos prantos quando recebeu em seus braços animalzinho tão simpático, adotando-o como mais um ser de estimação para seu harém sua casa? Alguns a acusarão de estar protagonizando ato político. Se é assim, apoio! Janja 2026! Depois vou cobrar...


Aos vinhos.

Reunião da #émuitovinho

Estava marcada há muito tempo, e finalmente aconteceu. Elvira ofereceu-nos um bacalhau pós-Páscoa, e tentamos harmonizar esse difícil pescado. Em sua humilde choupana, ela recebeu a Liu comandando a foto, este Enochato, Luidgi,  D. Neusa, ela própria, Márcia e Salete. A primeira e a última foram convidadas da confraria. No início dos trabalhos, para agradar os presentes enquanto não chegavam todos, começamos com um espumante brut rosé da Casa Perini. Esse produtor teve seu moscatel eleito como o quinto melhor do mundo, em 2017, por um painel de jornalistas. Ah, jornalistas... chicoteie-os do nada. Você pode não saber porque bate, mas eles sabem porque apanham. Experimentei na época; achei que poderia ser o quinto pior espumante do mundo pelo doce nauseativo. Este não fugiu à regra, não sendo tão doce: mais ligeiro que o Andrada para aumentar imposto, passa pela garganta sem deixar lembrança nem saudades. Tem lá um buquezinho do tipo para dizer que tinha, e pronto. Não é má fé. Faça assim: compre, junto de uma Cava, e experimente ambos. Até imagino os detratores do espaço misturando dos dois em cada taça para dizer terem-nos achado bem similares... Voltando... pelo tanto de pessoas, avaliei ser prudente duas garrafas iguais de entrada, para que pudessem ser bem apreciadas em uma quantidade razoável. Tapada do Chaves Branco 2018 foi o escolhido. Lavra de ótimo produtor, comprei algumas garrafas e fui degustando uma aqui, outra ali. Corte Arinto, Antão Vaz, Assario, Tamarez e Roupeiro, fez a alegria da galera e o Ghidelli elogiou seus toques cítricos vindos de... lima de casca amarela(!) a lembrar um Late Harvest, e mel. Ainda viu lichia... Está com medo de ser excluído da confraria, e vem mostrando serviço... 🤣 Não consegui fazer essa conexão de lima a partir dos óbvios toques cítricos, fiquei bastante satisfeito com a acidez sempre presente e com a ótima persistência em boca. Comprava a uns R$ 190,00 em 'promos', agora está R$ 210,00. Para um vinho nos seus USD 20,00 em Portugal, está com bom preço. As confrades, desnecessário dizer, adoraram.

Servi então o Arínzano Gran Vino 2016, do qual já havíamos provado em março do ano passado. Ele fizera boa figura então, mas desta vez notei o Ghidelli segurando a taça com cuidado e olhando para dentro dela, como se o universo estivesse sendo criado ali, naquele instante. Tem algo de Jerez amontillado aqui, disse. Cafunguei e disse notar algum óleo. Não o Singer, característico de muitos Rieslings da Alsácia, mas ainda assim óleo. Fluido de isqueiro..., disse ele. Alguém sugeriu mel. Claro, o cítrico bem presente e notas mais complexas. Não sei se essa garrafa simplesmente estava muito melhor do que a anterior ou se esse ano a mais fez-lhe bem, ou ainda se ela respirar - sem resfriar! - enquanto nos divertíamos com o espumante e os Tapada não fizeram a diferença. Nunca sisqueço (sic) de um Condrieu que bebi com o Akira, postagem com o sugestivo título Brancos também evoluem depois de abertos..., de abril de '21, relatando nossa sublime experiência com o  La Chambée comprado pouco antes da Cellar trocar de mãos. Voltando ao Arínzano, sua acidez também estava ótima, assim como sua persistência e final. É mesmo um ótimo vinho, apesar de caro lá fora. Observe naquela postagem o comentário do leitor Dionísio; talvez ele tenha incorrido em erro similar nosso, não deixando sua garrafa respirar. Vida de enófilo não é fácil... 😓 O Falcoaria Vinha Velhas 2016 é um Fernão Pires (casta!) do Tejo algo simples mas bom para acompanhar um bacalhau, aquiaqui. Seu ponto alto é a mineralidade; ela dá um salgadinho à boca, e sua acidez também agrada. Ele não chamou tanta atenção porque estava entre Vinhões, com "V". Junto dele veio um Tapada do Chaves branco Vinhas Velhas 2008, um corte similar ao irmão menor mas com um grau a mais de álcool (14%) e muita, mas muita complexidade. É realmente outro padrão de vinho, e também ofuscou o Falcoaria. Excelente boca, verdadeiramente longo ao final, foi comemorado pelas confrades. Comprei em uma 'promo', alertado por Don Flavitxo. A safra em oferta era a 2018, mas, para grande surpresa, ao abrir a caixa, veio o 2008. Até escrevi para o Fábio da VinhoBR e ele disse que eu fora sorteado; com o excesso de pedidos naquela promo as garrafas da safra 2018 se esgotaram e o meu pedido - um dos últimos - foi agraciado com a safra mais antiga. Olha... até as notas algo oxidadas estavam lá. A galera não reclamou...

Por sobremesa tivemos um Vale de Lobos Colheita Tardia 2014 feito de Riesling e tocado a 11% de álcool. Já havia bebido um bom tanto, e não anotei nem lembro-me de seus detalhes. Defendeu-se bem (rs) da voracidade geral. O bacalhau estava ótimo, combinou bem com os vinhos. Claro, ficou melhor com o Tapada, mas seu preço é muito superior ao Falcoaria. Esta infelizmente parece esgotado no Verdemar, grupo supermercadista de Minas. Lembro de ter visto a R$ 115,00, quando havia comprado em Araraquara por uns R$ 90,00, um preção para esse vinho. Se acabou, não há o que chorar. Vamos para o próximo.

Turbinado

Esta postagem foi tocada a um Torrione 2012, minha última garrafa desse toscano produzido pela Petrolo, já apreciado em várias oportunidades mas do qual falei apenas uma vez. Teve bão (sic), mas comentarei dele amanhã - deixei meia garrafa...

3 comments:

  1. Carlão, gostei mais do intróito com a cena do 2012, o que me lembra mais a condição política, ops; da politicagem atual e futura.
    O peixe ficou bom com o Tapada 2008, mineralidade e frutas; e sua complexidade que envolveu o Bacalhau, mas o Arínzano lembrou bem um Jerez...

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    1. Oi, obrigado pela leitura e pelo comentário. Pois é, o Tapada '08 teve bão mesmo. E viu a questão do serviço no Arínzano...?

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  2. Acho que a respirada do Arínzano ajudou muito a ele mostrar a que veio. MAS, acho que devemos tirar a prova com mesmo procedimento... Luidgi

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