Introito
Esta degustação aconteceu antes do níver do Paulão, mas a festa oficial teve preferência na publicação por motivos óbvios. E vamos logo, pois já estamos atrasados... Parafraseando e contrariando o Ghidelli, pode ter sido muita festa, mas nunca que foi muito vinho!
A Paduca aquecendo os tamborins
Paulão mandou um zápi tocando o terror e anunciando um embate até a morte entre o vinho dele e o meu, ao que eu dei de ombros. Sei como tratar fanfarrões assim; meu 1/4 de sangue calabrês não nega as origens. Paulão chegou com seu justiceiro embrulhado, e encontrou o meu da mesma maneira. Experimentei o dele notando bastante fruta no nariz, mas sem arriscar um palpite de onde seria. Tentei encontrar alguma nota diferente, mas parece que meu nariz - para variar - ultimamente anda muito arredio. Acidez um pouco baixa, algo ligeiro em boca, final rápido, também. Quando revelado, descobri tratar-se de um Ramón Bilbao Reserva 2016, Riojano das Bodegas Ramón Bilbao que completam 100 anos em 2024, com 14% de álcool só um pouco detectáveis, e comprado em ótima 'promo'. Meu escolhido pareceu ter sido reconhecido pelo Duílio, mas depois ele mudou de opinião. Já comentei em todas as confrarias: não tente chutar a procedência o vinho apenas por chutar. Procure as características que você reconhece, ative sua memória olfativa e faça o seu melhor. Errar não é um problema, faz parte da diversão. Os confrades notam o quanto erro em nossos encontros, e é muito mais do que acerto. Bem, o Gattavecchi Riserva dei Padri Serviti 2013 é um Vino Nobile di Montepulciano produzido ao redor da cidade de mesmo nome, localizada no sul da Toscana. Um vinho 100%, Sangiovese, produzido pela Societá Vinicola Toppetta, não deve ser confundido com a cepa Montepulciano plantada ao redor da cidade de Abruzzo, na região central da Itália. Gattavecchi podia não ter a fruta tão abundante quanto Bilbao, mas estava bem mais complexo: além da fruta tinha terra, ou algo herbáceo; sobravam mais notas. Fumo? Chocolate? Algo assim. Talvez meu nariz não estivesse tão ruim assim... Acidez melhor, contribuindo para boca mais marcada, com final longo. Os Paduquentos ainda não estão acostumados com essas sutilezas, o que é compreensível. Há menos de um ano estávamos bebendo vinhos portugueses - ou sul-americanos - na faixa de R$ 50,00-R$ 70,00, às vezes bem comprados, às vezes não... Para eles, Bilbao Reserva esteve melhor. Para mim, não. O leitor decide (risos). Acabaram-se os vinhos, o entusiasmo não. Perguntaram-me o que eu teria se fosse abrir algo para o cachorro. Disse-lhes que abriria algo que sequer serviria para o cachorro - uma canalhice se paga com outra, certo? O Torre Oria Shiraz (😣 a safra estava no contrarrótulo) foi comprado há algum tempo, antes da pandemia, creio, e é produzido pela Bodegas Torre Oria, estabelecida em Utiel-Requena. Para quem não sabe de onde já ouviu falar desse nome, é a mesma procedência do famigerado Toro Loco. Lembram-se das reportagens de 2012 dizendo-o um dos melhores vinhos do mundo por R$ 11,50? Aqui e aqui. Claro, depois a blogosfera repetiu ad nauseam... bem, conforme este Enochato, ele era apenas um vinho honesto para o valor. Torre Oria repete a fórmula: fruta na frente, sem muito mais, baixa acidez, algo ligeiro, com com um dulçor agradável para iniciantes ou para beber apenas uma taça bem comedida. Depois disso, fica enjoativo. Boas bocas pegam esse enjoativo de saída. Os vinhos da Torre Oria chegaram a ser campões de vendas quanto o Shot mantinha a franquia com a Vinho Alguma Coisa, mas parece que em algum tempo o público simplesmente desistiu deles. Uma palavra sobre a foto: ela não tenta imitar a Crucificação. Não! O Salvador não está ladeado pelos salafrários! É o contrário!
Pode ser. Mas talvez não seja exatamente isso. É algo subjetivo. Mas há sim a possibilidade. Questão de ponto de vista.
ReplyDeleteNão há dúvida. Embora gere algumas discordâncias, às vezes. Mas nem sempre. Não controlamos o futuro - o passado, eventualmente. Desnecessário (dizer) mas vá lá: onde está o ponto do ponto de vista?
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