Sunday, June 23, 2024

O Giusto di Notri

Introito - Covert ops

   Oenochato também é cultura; covert ops/undercover ops (operações encobertas ou secretas) é uma tática de despistamento cujo objetivo é desviar a atenção do público ou do exército inimigo enquanto uma importante operação é levada a cabo no momento em que atenções estão voltadas para outro ponto. É a estória de subtrair debaixo dos nossos narizes. Não entendeu? Ficarei feliz em dar-lhe alguns exemplos. Imagine - apenas imagine - o corpo recém-encontrado do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, ainda esfriando às 7:00 da manhã, com a polícia ao redor e as principais tevês em cobertura ao vivo. Eu vi isso quanto acontecia em época quando acordar e ligar a televisão antes de levantar era rotina diária. Presenciei o digníssimo deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh descendo do carro e sendo abordado pelas câmeras para uma declaração. Ele foi enfático: É um crime comum, já está comprovado. Ou algo assim.


   Então continue imaginando-o como membro de uma facção criminosa cujo assassinato fora bem executado. Com sua declaração - óbvia, aliás; quem acreditaria em motivação política nesse crime hediondo? - ele desviaria a atenção da quadrilha e todos nós passaríamos a ver um caso de descalabro institucional (sic) ligado à falta de segurança. Se nem pacatos cidadãos em carros blindados estão a salvo da sanha raptacionista (sic) de bandidos, o que dizer do cidadão comum.

   Covert ops podem ser mais complexas, ao melhor estilo de filmes como Missão Impossível, contando com a participação de várias pessoas em postos-chave para disparar mais e mais falsas informações, confundindo a tudo e a todos. Nem uma inteligência artificial policialesca escaparia. Lembra-se da trágica morte de Dona Maria Letícia, ex-Primeira-Dama? Imagine - apenas imagine - que ela tenha sido assassinada com um veneno indutor de AVC hemorrágico. Ora, monóxido de carbono pode estimular tal reação, e nem é um veneno, veja aqui, e trata-se de comprovação recente - apenas tente convencer-me de que bandidos profissionais já não sabiam disso há muito mais tempo. Ademais, veneno de cobra também pode desencadear AVC. Adivinhe de qual cobra brasileira vem o mais perigoso. Exatamente, jararaca! Se tivéssemos matado todas as jararacas do país na primeira paulada, por essa tosca teoria da conspiração D. Marisa poderia estar viva até hoje. Voltando das divagações... a seguir, uma série de eventos vão prendendo a atenção do público e das autoridades: o suposto vazamento de imagens da tomografia na internet. Comentários sarcásticos. Médicos despedidos. Na esteira, órgãos respeitados como o Cremesp e a OAB são arrastados para uma discussão ética, jogando mais discussão à questão. Enquanto isso, a real causa do falecimento passa desapercebida de todos. Deu para entender? Essa seria uma covert ops bem sofisticada, pois dependeria de vários atores disparando gatilhos bem planejados ao longo de uma sucessão de acontecimentos. Acha impossível orquestrar tal sequência? Quem se lembra da Guerra das Malvinas? Os britânicos enviaram um comando para tentar destruir os mísseis Exocet argentinos - eles já haviam feito uma vítima, o HMS Sheffield; arma de mais alta tecnologia do arsenal platino, eles eram uma ameaçara real aos porta-aviões da frota de Sua Majestade. O helicóptero caiu em território argentino. Outro saiu em suposto resgate, e assim foi veiculado: uma nave de patrulha caíra e a tripulação fora resgatada. Quero lembrar-me de uma reportagem mostrando os felizes combatentes descendo do helicóptero em algum porta-aviões, mas não estou tão certo. Tudo mentira: os destroços do primeiro helicóptero foram encontrados pelos argentinos em seu solo poucos dias depois, quando a tripulação já havia cruzado a fronteira com o Chile. Quer mais? Assista a Donnie Brasco, baseado na história real do envolvimento do policial Joe Pistone com a máfia de Noviorque, no plano da polícia para desbaratar os quadrilheiros. Por onde andará o Joe Pistone brasileiro? Teremos algum herói desse tipo, algum dia? Alguns notabilizaram-se involuntariamente, recordam-se? Um deles tem nome começando com F, de Francenildo... Mas como disse, foi involuntário. Pow, acabou ficando longo, mas espero que mais leve e divertido...

O Giusto di Notri

Já pensava nele havia tempo. E tinha dúvida de quem chamar para bebê-lo. Pensava nos vaticínios de Don Flavitxo, sobre meus vinhos terem envelhecido demais, e não queria passar vergonha. Resolvi bebê-lo sozinho, oras! Por acaso mandei uma mensagem para a Liu. Ela tinha uma reunião de combinação para o próximo passeio - lá vai a safadinha novamente, lépida e ligeira, para a próxima excursão do Edu Viagens. Tonta que não é, prometeu uma passada tão logo pudesse sair do encontro.

A Azienda Agricola Tua Rita é um produtor novo (fundado em 1984) da Toscana centrado em produzir cortes bordaleses e varietais de cepas italianas ou francesas. No evento I Love Italian Wines provei seu Rosso di Notri e gostei bastante; o preço dele, contudo, não era convidativo. Na safra 2006 é um corte 50% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot, 15% Cabernet Franc e 5% Petit Verdot. A proporção Cabernet-Merlot em primeiro, seguida por CF e PV é característica das regiões de Pauillac e Saint-Estèphe, denunciando bem a intenção do produtor. Sua cor estava um tanto deslocada para a idade mais avançada, mas a fruta estava lá. Ele já teve dias melhores sim, mas ainda mostrava-se potente no nariz. A Liu chamou atenção para as lágrimas: elas demoravam para aparecer, depois de girar a taça. Bastante fruta vermelha, café/couro/chocolate - dois dos três, pelo menos - rico, profundo. Boca com taninos bem macios, algo herbáceo, acidez bem presente, fazendo a boca salivar, e boa permanência. A Liu disse compota? Acho que sim. Segundo o Wine Searcher, estaria dentro de sua janela de beberagem - 2009-2026 - então achei sua decaída um tanto prematura. Bem, como diz Don Flavitxo, cada garrafa é uma garrafa. A despeito da cor um pouco atijolada, as características do bom vinho estavam lá: bom nariz, boca equilibrada, permanência longa, aquela sensação de algo tridimensional no olfato e no paladar. Se pudesse, experimentaria uma safra mais nova - convenhamos: é mais fácil encontrar safras novas. A safra 2006 custa USD 115,00 lá fora, pelo menos, enquanto safras recentes saem por USD 70,00-USD 80,00 - nem é tanta diferença. Seu preço cá é proibitivo: a safra disponível, 2016, custa imodestos R$ 1.578,00 no importador - se dizer que falou com o Enochato, sai por R$ 1.570,00. Lá fora custa uns USD 85,00 = R$ 461,00, o que dá 3.42x, tubaronice acabada. Ótima pedida para trazer de fora, exercendo nosso Sagrado Direito de Cidadão (sic! rs!) e mandando essas importadoras enfiarem tais preços no meio de suas taças. A Liu observou bem a cor atijolada, e disse nunca ter bebido um vinho daquela cor. Mais uma experiência para ela.

Precisa 'comprovar' os preços? Isso nunca é problema... vamos lá:





2 comments:

  1. Ah o tempo, este sim oferece oportunidades, e as vezes tudo junto! Nessa noite estava compromissada com amigos para também experienciar novos paladares juninos, delícia de noite! Mas a noite ainda se alongou por parte do CA e a tempo nova experiência de um vinho envelhecido e notas frutadas fechou mais um “novo” vinho indicado, adorei!

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