Introito
A revolução de 32 é (ou deveria ser)
motivo de orgulho para os paulistas.
E quem desfaz dela é um canalha
sem pai nem mãe.
Oenochato
Pessoas de bem não sisquecem das cortesias que recebem. E as de caráter igualmente não sisquecem de sem-vergonhices perpetradas por patifes, principalmente os que saíram condenados dos corredores da justiça. Nas eleições de há pouco presenciamos uma massa enorme de picaretas sendo descartadas nas câmaras municipais e prefeituras, infelizmente em diversos momentos a favor de iguais calhordas ou incompetentes dos quais não podemos apontar um ganho em eficiência ou qualidade de gestão. A esquerda que tanto prezo saiu-se mal no pleito. Não é para menos, nem injusto: suas principais pautas foram abandonadas há décadas(!) e os mandatários no comando não se esforçaram para manter um mínimo de fidelidade para acom o povo que os elegeu. Esse ente, o povo, continua em grande parte uma massa de otários - com título de doutor, honorário ou não, com PhD na Sorbonne ou com estudo nas Faculdades Santa Piriquitinha da Serra. Nossos intelectuais não mudaram a cara da nação, e aí talvez resida o maior fracasso deste país. Voltando á derrota das esquerdas: dispondo da máquina federal para liberar recursos e da figura do presidente para alavancar apoios, os PTelhos ganharam 66 novas prefeituras com relação a 2020 (fonte aqui) - deveria ter encolhido, isso sim - enquanto candidatos da direita reacionária amealharam praticamente 600 novas prefeituras. É resultado natural de quando biltres vendem a alma e o voto pro diabo - sejam eles políticos ou eleitores. Pedro Bó, acusado por Paulo Boçal de cheirador de açúcar, admite colocar em seu plano de governo propostas do próprio detrator - as quais, não estranhamente, foram copiadas de terceiros. Demonstra a índole de ambos. Ainda há sujeira a ser varrida para baixo do tapete da história, e tanto o candidato quanto o vencido são exemplos contundentes.
Um vinho revolucionário?
Fazer vinho é um negócio relativamente simples.
Difíceis são só os primeiros 200 anos.
Baronesa Philippine Rothschild
A frase acima, atribuída à Baronesa Rothschild, também é citada como sendo da enóloga francesa Anne-Claude Leflaive. Ela é co-gerente do Domaine Leflaive, cuja importância na Borgonha dispensa maiores comentários. Mas ambas não contavam com a inventiva canarinha.
A vinícola Três Batalhas, estabelecida em Águas da Prata, no sopé da Serra da Mantiqueira, traz em seu nome a referência aos confrontos acontecidos na região durante a Revolução de 1932. Tem dois vinhos homônimos, um tinto (Syrah) e um branco (Sauvignon Blanc), ambos de 2023. Provamos do branco, e tinha buquê pronunciado à maracujá e boca com certa mineralidade, um salgadinho (rs) advindo do solo vulcânico da região, e alguma acidez. Mas seu final mostrou-se rápido e rasteiro, a despeito das notas oficiais dizerem excelente acidez, notas herbáceas, refrescante, retrogosto prolongado. Notas herbáceas pode ser verdade, e refrescante, se servir bem gelada, até água o é. O resto, mentira. Com um pingo de licença poética, para bebedores de vinho suave de supermercados, a acidez talvez mostre-se excelente, e o retrogosto, prolongado. Mas duvido que harmonize com comida, pela serelepicidade (sic, rs!) em boca. Sobrou um tanto, e surpreendentemente manteve-se algo atraente no terceiro dia, contrariando o ditado segundo o qual quem pouco tem a oferecer na abertura, menos terá depois. O buquê (cítrico, e mais o quê, rosas?) continuava lá, para completo espanto e invocando a sugestão de como fragrâncias artificiais podem estar atingindo o estado da arte em termos de estabilidade. Convenhamos: não é possível um vinho manter tanto buquê por um período onde grandes franceses teriam declinado. Invocando o conhecimento de pessoas do meio, respeitadíssimas, como a Baronesa Philippine Rothschild e Anne-Claude Leflaive, segundo quem a produção de vinhos é um aprendizado longo, assombra além da credibilidade uma vinícola aparecer com um produto assim na primeira vindima de Três Batalhas - sim, possuem experiência anterior segundo a página eletrônica, mas nada sugere ser próximo a 200 anos... Alguns dos meus leitores possuem espectrofotômetros em seus laboratórios... topariam uma análise desse vinho? O único problema é reunir coragem para desembolsar outros R$ 250,00 na aquisição de uma garrafa - seriam duas, na verdade, uma deixada para controle. Mas por R$ 180,00 tenho comprado exemplares de Chablis francamente melhores... Bem, como mostra a foto também teve meu cachorrinho, o Lemão, e um Juan Gil Etiqueta Plata 2018 em última aparição. Explico: foi minha derradeira garrafa. Está pronto para ser degustado, alegre, frutado, taninos amaciados, madeira discreta, acidez presente, bom conjunto. Aparece por menos de 10 dólas lá fora, embora seu preço mais comum na Espanha seja 13 dólas. Mas isso dá R$ 73,00, e seu valor atual, sem 'promo', a R$ 210,00, mostra a importadora flertando com a tubaronice.
Passadouro, by Quinta do Noval
Escrevo parte da postagem embalado no segundo dia de um Passadouro Touriga Franca 2018, produzido pela Quinta do Noval. Peguei uma bela 'promo' desse e do Touriga Nacional do mesmo ano, degustado recentemente. Enquanto o TN estava mais pronto, este abriu fechado (sic! rs!) e continua fechadão até agora. Apareceu fruta vermelha que despontava singelamente ontem, e pouco mais; a boca continua densa, taninos pegados, acidez, mas não mostra outras notas. D. Flavitxo comentou serem longevos quando recomendou-me a compra tempos atrás, mas imaginava que seis anos, para vinhos simples, seriam suficientes. Necas... Encontra-se por aí a uns R$ 150,00, pouco mais, e para um vinho de 20 dólas em Portugal está cá um preção. Encontra-se o reserva em custo-benefício até melhor mas deve-se ter maior paciência com este; experimentei há algum tempo e estava bem fechado - conferindo agora, noto que não postei... E deve-se sempre ter cuidado, pois - nenhuma novidade - o mercado está repleto de pegadinhas. Por exemplo, há não muito tempo recebi a oferta do Bodegas Ponce PF (Pie Franco) de R$ 276,00 por R$ 193,00. Encontra-se por até 15 dólas (R$ 85,00), o que dá mais de 2x na 'promo'. Se comparar com a diferença no caso dos Passadouro, vemos uma franca vantagem para o honorável consumidor. Não é propaganda, é comparação. O consumidor consciente deve sempre usar o Wine Searcher e comparar o valor do vinho lá fora e aqui. Nossa realidade atual, de vendas baixas, tem domesticado a ânsia furiosa das importadoras tubaronas mas muitas delas continuam com margens altas à guisa de 'promos'. E para não falar apenas de Noval, o Quinta de Chocapalha, bastante comentado neste espaço, de uns 10 dólas lá fora, está por R$ 96,00 na Casa da Bebida.
Juan Gil
Ponce PF
A cada encontro uma nova experiência e em cada leitura das suas postagem meu amigo CA com certeza novos aprendizados para esta “boca torta” assumida!🫣
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