Introito
Sem citar a Liberdade guiando o povo (Delacroix, 1830) na Revolução de 1789, ela mesma uma musa, a França brindou-nos com Brigitte Bardot e Catherine Deneuve, para ficar por aqui. Além delas, temos Borgonhas e Champagnes a nos inspirarem sempre que os degustamos - tá, não entendo de Xampas... Seus pensadores, como Jean-Paul Sartre, Michel Foucault e Pierre Bourdieu nortearam o ideário de esquerda na segunda metade do século XX, instituindo um novo olhar sobre educação, sociologia e antropologia, e guiaram não somente o pensamento da elite intelectual brasileira como os diversos governos de esquerda franceses (François Mitterrand, Lionel Jospin e François Hollande). A esquerda canalha - quase toda ela, portanto - crucifica Macron chamando-o direitoso sisquecendo de quando ele esteve no Partido Socialista (foi Ministro da Economia do Hollande). A França é lar da Airbus (valor de mercado: US$130 bilhões), enquanto aqui temos a valorosa Embraer (valor de mercado: US$2,8 bilhões) - a Airbus é 46 vezes mais valiosa. Desnecessário continuar as comparações, falando da indústria farmacêutica, dos serviços como o turismo (100 milhões de visitantes lá contra 6 milhões aqui, em 2023; pelo menos dá só 17 vezes, e não 46) e outros pontos onde a economia francófona é vigorosa; seu PIB, de USD 3 trilhões (para 70 milhões de franceses), bate o nosso (USD 2,1 trilhões para 220 milhões de brasileiros). E não sisqueça que a área da França frente à Europa Ocidental é de uns nanicos 22%, enquanto o Brasil representa 47% da América Latina - somos 15,5 vezes maiores: ganhamos uma!, chamem a Alemanha em campo neutro, agora é nóis! À pergunta, então: sendo a influência do pensamento francês de esquerda tão forte por aqui, como os sonhos de nossos pais sobre o gigante adormecido viraram um pesadelo tão sombrio? Como a França deu tão certo - sob nossa perspectiva, pois convenhamos, ela não é nenhum prodígio face aos PIBs americanos e chinês, USD 27,4 trilhões e USD 17,6 trilhões, respectivamente - e nós demos tão errado? A França pelo menos ousou - de maneira destrambelhada, é verdade - implementar políticas mais igualitárias, como o ISF (Imposto de Solidariedade sobre a Fortuna). A exemplo da Linha Maginot, a ideia era boa; a implementação é que foi ruim. Que boas ideias tivemos aqui? Pagar a dívida externa num momento em que os juros em dólas estavam em 0,5% ao ano e a moeda estável, trocando por uma dívida em reais a 22% ao ano de usura? O plano educacional onde o aumento de 400% de investimento em ensino resultou na queda nos exames do PISA por vários biênios consecutivos? Sei que do BRICS (Brazil, Russia, India, China, South Africa) original, mais da metade já alunissou! Considero isso importante desde sempre, veja. O leitor consegue imaginar o quanto estamos longe disso? Se essa última análise não lhe dá o quão estamos distantes de um plano estratégico que nos garanta uma posição de liderança global em algum momento, aposente suas ideias de geopolítica e reconforte-se com uma Xampa pensando em Napoleão: nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário, porque perdemos! Tomei a França como exemplo das comparações um pouco porque nossos vinhos querem parecer-se com os de lá. Nada contra mirarmos em tão distinto produtor, mas não temos condições climáticas para tal. E o que vem a reboque dessas tentativas é mera forçação de barra (sic), assim como nossos não-projetos nacionais não nos tem levado a lugar algum. Discorda? Parte da cidade de São Paulo ficou três dias sem energia elétrica, e o comprometimento do operador era restaurá-la em... até mais três dias. Ali Lulá disse em algum lugar (lá fora) sobre a ideia de renovar a concessão à atual detentora do serviço. Em um país civilizado, algum dispositivo legal já teria permitido ao Estado colocar os representantes dessa empresa na frente de um pelotão de fuzilamento. Assim são tratados espiões, em qualquer lugar do mundo. Para os traidores da pátria, o tratamento é conhecido: a forca. Continuo dizendo: o posto de nosso maior herói desde Caxias está vago.
Vinhos e mais vinhos
Em setembro a Malucadaliu (sic!) reuniu-se descompromissadamente para dois Xatefênis rebas e a título de compensar o esforço propus um barolinho de minhas reservas estratégicas. Do começo: apresentei uma cava, a Segura Viudas Reserva Heredad Brut, ganho há algum tempo de uma moça frequentadora da Maluca. Um toque leve de abacaxi querendo indicar o início da oxidação misturado com toques de pão, boca complexa de corpo médio e boa acidez. Um ótimo espumante para acompanhar um entrada harmonizada, mas a quem não temos a devida atenção... uma pena. A brincadeira deveria girar em torno de dois Xatenefinhos, para começarmos a galgar essa região do Rhône. A Lu disse ter o CdP De Vigne en Verre 2016, do Pierre Ferraud & Fils. Havia experimentado dele há muito tempo, junto de Don Flavitxo, em uma degustação na Deliza. Então soara rápido, sem graça nem corpo, decepcionante em comparação com uns poucos que já experimentara então. Entrei de nariz meio torcido quando ela falou qual era - antes da reunião - e confesso ter saído surpreso com sua evolução como produto. Digam o que quiserem, fico preocupado quando um vinho não aparece no Wine Searcher, ou mesmo em seu país de origem em pesquisa via Google - é o caso. Dá a impressão de algo feito para ser desovado em algum lugar onde não entendam da bebida, onde bebam Reservado - reservado para os trouxas - e de preferência não perguntem quem é o produtor. Sendo franco, já provei Barolo assim, sem produtor identificado, e não estava ruim não. Mas tem um quê de suspense nessa estória... O encontro aconteceu há algum tempo, não lembro-me das notas, mas o conjunto estava digno, com alguma harmonia, riqueza e elegância, bem bebível. Aí passa a ser uma questão de preço e comparação com o que há no mercado. Competindo com ele, coloquei um Cellier des Princes 2017, praticamente da mesma idade, mais rico, com um pouco mais de corpo e melhor acidez. Quando paguei R$ 237,00, foi uma ótima compra. Atualmente esgotado no importador - Enoeventos - é encontrado por aí a R$ 440,00. Contra a 'promo' de R$ 300,00 pelo De Vigne en Verre, é de perguntar se vale 50% a mais. O comércio está em baixa, e se procurar em fontes de Instagram e outros, encontra-se ofertas de outros vinhos em melhores condições. Nos dias de hoje, pelos seus preços contra as opções disponíveis, dispensaria ambos. Mas, claro, bebi dos dois com muito gosto. É uma questão de oportunidade; a Lu ganhou um conjunto de três garrafas, então está valendo. O Brovia Ca'mia 2006, da Azienda Agriciola Brovia, fundada em 1863, permanece uma empresa familiar e possui um sítio superdinâmico (risos!) com exatamente uma página. Mas o que economizaram online supriram com generosidade na garrafa: um buquê muito delicado - eu não esperava isso! - com uma mistura de frutas e mais toques, boca sutil com acidez média, taninos amaciados, madeira e álcool discretos, mostrou-se um vinho equilibrado, onde a sutileza sobrepuja a explosão. Minha pouco experiência deu-se com exemplares mais arrebatadores, mas Brovia tinha uma aquele discreto charme da elegância dos vinhos mais refinados. D. Neusa, convidada especial na Maluca, cafungou, olhou de lado e sorriu de felicidade. Isso resumiu tudo... Claro, nem só de felicidade é feita a vida. O vinho está disponível no Brasil, por mórbidos R$ 1.705,25 no Pix. Se disser que falou com Oenochato, sai por R$ 1.705,00 rasos...
Como se precisasse...
Cellier des Princes, conforme esgotou em Enoeventos (R$ 279,00) e o valor atual de mercado.
Encontro de novos conhecimentos, e ótimos vinhos, fazer parte dessas experiências é sensacional, obrigada CA!
ReplyDeleteExperiências novas... 😏 sempre boas...
DeleteObrigado