Introito: uma lei supérflua(?)
Vereadora da cidade de S. Paulo protocolou lei proibindo a contratação, pela prefeitura, de artistas cujas músicas façam apologia ao crime ou às drogas. Pergunto: precisa? Alguém dotado de um mínimo de honestidade intelectual acredita no Estado, em qualquer nível, imiscuindo-se com o crime organizado? Não seria de esperar que no mínimo Estado rejeite veementemente qualquer sugestão de apoio a atividades ilegais? De saída o Estado tem o dever moral de repudiar o que segue na direção oposta de seus ditames, pois ele representa a Lei - e a reboque, a Moral. Então tal proposta parece peça de ficção, pois sabemos muito bem da lisura de nossos mandatários municipais, estaduais e federais. Tem dúvida? Ora, confira os atos do prefeito de sua própria cidade!
Qualquer administração pode cometer erros, e ninguém em posição de fala é imune a alguma gafe. Assim, confiamos cegamente nas Instituições e em sua capacidade de apartar-se do mau exemplo - sempre cabe a elas, por um óbvio mecanismo de dupla conferência, manterem-se afastadas do assédio de oportunistas e, pior, de criminosos. De modo que volto à premissa: essa proposta de lei seria mesmo necessária? Ela passaria desapercebida, nem seria votada e cairia no esquecimento rapidamente, não fosse a resposta desproporcional de um rapá (sic) que tomou para si as dores de tamanha ofensa:
Mesmo discordando em grande parte das ações do Estado quanto ao treinamento e comando de seus efetivos militares, como cidadão de bem permaneço ao lado dos que repudiam quem recorre à ameaça ou violência como solução de problemas. O companheiro Oruam seguramente meteu os pés pelas mãos em suas declarações e saiu - só desta vez - com a pose de bandido ao ameaçar uma moça. Ei, cadê as cadelas to Mee Too nessas horas? Bom rapaz, ele teve o pai afastado de si desde a mais tenra infância (e até hoje) por um Estado claramente opressor; ele somente clama pela presença paterna no aconchego do Lar e, imerso em delírios oníricos, inocentemente canta querer vingar-se da sociedade que o tiraniza, dizimando por quaisquer meios aqueles cuja função é precisamente protegê-la. Como podemos condená-lo? Reconheço ser Oruam um menestrel algo heterodóxico (sic!), cujo canto é paramar ou parodiar, mas nunca ignorar. Deveríamos sim repudiar essa proposta de lei por desnecessária, não é mesmo?
Sobre o Pix
É assunto menor, sem importância, coisa pouca... Analistas de todos os lados, de todo o espectro político, perguntaram-se qual a razão pelo recuo do Governo na estória do Pix. Se é legal, por que retiraram a iniciativa?, atacavam. Os mesmos noticiários, em outros momentos, tentavam explicar a falta de motivação para o impixe (rs) de Ali Lulá e seu bando. Segundo eles, não há mais clima político para manter o titular no comando. A estória da pedalada fiscal com o Programa Pé de Meia foi apontada pelo TCU. Falta apenas a presença nas ruas de Sua Majestade, O Povo; sem essa componente, não há impixe que decole, dizem. Ora, inocente leitor, tente convencer-me de que o potencial explosivo dessa estória do Pix não poderia culminar com a plebe lotando a Avenida Paulista, a Cinelândia carioca, a Esquina Democrática gaúcha ou a Praça do Ferreira cearense, não para assistir a uma eventual projeção gratuita de Ainda Estou Aqui. Algum estrategista de verdade (Zé? - Saí daí rápido!, veja abaixo) percebeu, e os opositores deixaram passar. Sorte do molusco. E durmam com essa, esquerda pela sorte, direita pela oportunidade perdida.
Virada de ano com a Maluca
Aconteceu quase sem querer: alguns compromissos foram falhando em favor de outros arranjos, e de repente a Maluca quase completa reuniu-se no dia 31 de Dezembro. Fiquei feliz ao receber confrades em data tão especial, e a responsabilidade levou-me a escolher algumas garrafas com mais atenção. A Débora chegou com uma Xampa Taittinger Brut Reserve, com a qual brindamos para a foto. Aconteceram duas 'promos' durante 2024 e as turmas não perdoaram, de maneira que literalmente nadamos em xampa até literalmente este final de semana - a confra #émuitovinho aguarda a postagem. Não há muita novidade a dizer sobre ela: para meu padrão (rebaixado) é bastante redonda e elegante, nariz com toques de pão, cítrico, bastante rico; a boca fica cremosa, a acidez é vibrante e é sempre um delírio beber dela. Ainda tenho duas garrafas, e quando elas se forem parece que terei de apelar para as poucas Philipponnat ainda em estoque... 😔
Como estão lembrados, salvei a Liu (🤣) de perder um convite (caro!) no Road Xou da Qualimpor, ano passado. Lá, degustei um Principal Grande Reserva 2011 com a Débora; ela havia gostado muito, mas desmaiou com preço (prá lá de milão). Bem, tinha um Grande Reserva da grandiosa safra 2007, e mandei ver. Produzido na Bairrada, nessa vindima é um corte Merlot, Syrah, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, mas não estou certo se nessa ordem. O sítio do produtor está fora do ar e não consegui informação mais confiável. Não lembro-me exatamente das notas, mas a recepção foi a de um ótimo vinho: equilibrado, nariz rico, bom corpo, taninos já arredondados e boa persistência; álcool (13,5%) bem integrado no primeiro serviço, mas tinha respirado pelo menos uma hora. Lembro de ter pago nele (idos de 2011, 2012...) algo como R$ 260,00, daria uns USD 100.00. Agora está quase USD 200.00... Ele ficou caro lá fora (o preço da colheita de 2011 atualmente está em 140 € ou R$ 850,00, e a safra mais nova disponível, 2015, está no mesmo valor). É sim um bom vinho, mas pergunto-me se vale tanto. Uma pesquisa rápida na Lay & Wheeler indica um Barolo Cannubi do Paolo Scavino 2009 a 71.00 £ (in bond; com a nova taxação deve aumentar uns 25%, o que daria 89.00 €). Bebi um Paolo Scavino há bastante tempo, e digo que é ótimo! Um grandioso Châteauneuf-du-Pape do Château de Beaucastel está a 56 € (in bond; vai a 70.00 €). Mesmo por aqui, em tratando-se de um Merlot, preferiria desembolsar R$ 753,00 no Château Meylet, disponível na de la Croix; é pelo menos tão bom quanto. O leitor de S. Carlos pode tropeçar com o Principal, e talvez devesse pensar duas vezes se a aquisição compensa. Competindo com ele tivemos um Chateauneuf-du-Pape Domaine des Senechaux 2009 em ótimo momento para se beber: bem redondo, frutado, é um corte 60% Grenache, 20% Syrah, 18% Mourvèdre e 2% uma mistura de Vaccarèse-Cinsault. É um vinho de menor corpo mas mais elegante do que o Principal, mesmo potenciado a 14,5% de álcool. Como bem notado pela Débora, conforme a temperatura diminuía pela permanência da garrafa em água gelada, sua cor mudava de um atijolado (quando mais frio) a um tom mais escuro quando esquentava um pouco, alterando a percepção de sua idade de mais velho para mais novo. Nunca havia notado isso em um vinho! Domaine des Senechaux foi comprado há tempos no nosso Frixópi, e lembro-me de ter pago USD 50.00. Atualmente está mórbidos USD 71.00 (o tinto). A Wine (com.br) está vendendo o branco a USD 74.00, e pergunto: esse nosso Frixópi é livre de taxa onde? Já faz muito tempo que passo por essa loja de nariz empinado e deixo o estoque para os desinformados.
Nota final
A safadinha da Débora tem-se mostrado ótima aluna: no dia 25 de Dezembro ela passou para uma bebericada e provou do Xisto Cru Branco. Disse tê-lo notado bem mineral, e eu não havia percebido. Dias depois, por acaso conferindo seu preço lá fora, encontrei a avalição: "Vinho austero e mineral com aromas de flores brancas e notas cítricas...". Não é que ela estava certa? E já havia bebido dele e observado sua mineralidade (aqui). Preocupado, fico pensando se em alguns momentos meu nariz e boca não estão com baixa funcionalidade. Nos tempos de desvio de septo, era nítido. A fase atual seria manifestação tardia e crônica do Covid? 😣
Sobre os vinhos...
Domaine des Senechaux lá fora e aqui, retirados do Wine Searcher. Nota-se o valor do branco alterando-se de USD 38.00 a USD 44.00, e um valor do tinto a USD 44.00.
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