Monday, September 30, 2024

Habemus vinum

Introito

Ali Lulá e bolsonésio 
são culpados de muita coisa.
Menos da estupidez alheia.
Oenochato

   Como se manifesta sua ambição? Ser rico? Ser famoso? Muitos ricos preferem a tranquilidade do anonimato (conhece o Sucupira? Pois...), e muitos famosos são ricos porque construíram a riqueza em função da fama, então pense bem antes de escolher ambos. E não duvidarei se alguém preferir fama à riqueza, pois o ego funciona diferentemente para cada um de nós. A ambição é um impulso natural do ser humano, e torna-se uma força positiva se regada com ética, consciência e moral - é onde o chão normalmente afunda, já que em países pouco educados como o nosso tais conceitos são vagos e imprecisos; não fazem parte da formação de boa parte da população. Apontei aqui, e mantenho: o posto de maior herói da nação desde Caxias está vago. Você pode não perceber, ou mesmo acreditar, mas há pessoas cuja ambição é ocupar essa precisa posição, que outros deixaram escapar por entre os dedos mais afeitos a segurar junto de si a tolice, a ineficiência e a queda pela corrupção. E agora vou meter o louco: se não enxerga isso, o leitor entregou-se à adoração de ídolos e perdeu a noção de nação; emociona-se com o bodum de seus venerados mas seguramente não conhece uma única ideia defendida por eles - até porque tais ideias quase seguramente não existem. Vários estão preparados para defender seus corruptos de estimação até o final de suas forças, mas são um deserto intelectual no momento de apresentar um posicionamento construtivo que possa ser dito projeto de país, pois passam a maior parte do tempo defendendo-os de acusações ou explicando seus vínculos suspeitos. Uma nação não pode se erigir com ídolos e idólatras; ideias e cidadãos são o único suporte viável para essa caminhada. Quem desistiu de procurar líderes verdadeiros, que não se rendem à sedução da corrupção, não percebe, mas faz parte do problema. No passado, abandonei meus preferidos na primeira pisada no tomate. Continuarei fazendo assim, trocando o errado pelo certo, e jogando no lixo o duvidoso.

Habemus vinum

Se não me engano, foi o Duílio. Ele disse que viria fervendo. 🙄 Venga... Sim, foi tudo às cegas. Seu Marqués de Tomares Crianza 2014 tinha uma borda ligeiramente alaranjada, mas o nariz ainda entregava fruta e outras notas - chocolate? Um pouco de acidez, nada que encantasse, dava o ar da graça; corpo médio com boca um pouco ligeira completava o conjunto da obra: minimamente digno. Não lembro-me quanto ele pegou, mas disse ter consultado no Wine Searcher e encontrado dentro do 2x, daí sua aposta. Encontrei safras mais novas dele, até por R$ 90,00, embora oscile a uns R$ 160,00 (sítio do importador). É um vinho de 8,00€ lá fora, ou R$ 50,00 (sem nosso IOF, etc.) e arredondando R$ 100,00 é o limite da compra; acima disso é tubaronice. Bem, se um caboclo me diz que vem fervendo o mínimo que posso fazer é sacar um combatente dos seus 20 dólas, e a questão não são os dólas, mas quanto paguei aqui. Claro, 20 dólas contra 8,00€ dá uma diferença facilmente traduzida em sova: surra, coça, vareio. Passadouro Touriga Nacional (TN) 2018 é um duriense produzido pela... Quinta do Noval, que tem desfilado por aqui com alguma constância, seja pelo seu simples mas valente Cedro do Noval quanto pelos irmãos maiores, os Quinta do Noval (Syrah, TN) e o Noval Reserva. Ainda: está pronto para beber. Nariz com boa complexidade de frutas, um pouco de madeira e mais notas. Perto do Tomares, arrepiou - mas ora, a diferença de valor é flagrante. A boca também marca, embora a acidez não esteja tão presente; são seus 14% de álcool e madeira elegante os responsáveis pela boa impressão. Tem bom final, e brilha sobre sul-americanos do dobro do preço - mas cuidado aqui, como veremos. Reclamo: os sul-americanos estão muito caros. Azar deles. Passadouro é um vinho de 20 dólas lá fora? Isso. Aqui, anda de R$ 250,00 (chega a R$ 336,00) por R$ 155,00, e acredite: paguei menos de R$ 130,00 em ótima 'promo', ano passado, ou anterior. Se soubesse, tinha pego mais algumas garrafas em vez de preferir meia dúzia do Reserva. Não que devesse deixar de comprar o Reserva, mas teria pego mais do TN. Recobremos seu valor: 20 dólas, grosso modo R$ 100,00, chega a custar praticamente 3x. A importadora enfiou em algum lojista desavisado a preço cheio e à socapa desova parte do estoque a preços reduzidos. Ao pobre do parceiro só resta vender a compradores desavisados. Esse é o atual estado do mercado, e vem perdurando por anos. Já apontei como grandes tubaronas - as maiores importadoras do país dentre eles - entraram na brincadeira, evidenciando a perda de fôlego por anos e anos de economia cambaleante, melhorando em um mês para perder terreno quinzenas e mais quinzenas seguidas depois. Repito: sou a favor de prestigiar o lojista local. Mas ele precisa fazer sua parte. Ou o mercado é uma via de mão dupla, com benefícios mútuos, ou (óbvio!) alguém vai perder sempre. A parte derrotada está deixando de ser o consumidor, por mais idiota.


Como se precisasse, 

Marqués de Tomares, lá



Marqués de Tomares, cá



Passadouro, lá



Passadouro, cá




Sunday, September 29, 2024

Surpresas na Paduca

Introito

O isentão (sic) (é quem) foge da discussão.
Renan Santos, aqui, minuto 48,
em comentários que começam no minuto 37

   Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freire, e Raízes do Brazil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, são tidas como obras fundamentais para explicar a formação e desenvolvimento do país. Não as li, mas sei do básico: a primeira explora o Brasil colonial, analisando a organização do estado patriarcal e a miscigenação do nosso povo. Já perguntei aqui por qual motivo essa mistura dá bons resultados em cães, por exemplo, mas para nós fez surgir apenas uma sociedade cujo QI médio é 87. Parece ser pior ainda: 90% da população teria essa média. Sobra muito pouco espaço para gente mais inteligente à direita dessa nova gaussiana - e imagine-se a situação de quem está à esquerda... Voltando: a segunda obra tenta explicar a falência da nação (já naquela época...) pela figura do homem cordial, onde regras sociais prevalecem no trato da coisa pública, sobrepujando o conceito de impessoalidade, normativo em democracias mais robustas. O problema é que, parece-me, os autores falham miseravelmente ao propor qualquer solução prática para nossas mazelas. Então - como adoramos fazer - as querelas dão-se sempre sobre quirelas...

   Já comentei: idiotas de plantão apontam Andrada, talvez o ministro mais longevo de nossa história, e seguramente o de maior permanência contínua na pasta da Educação como competente. Sua gestão foi marcada pelo fato da verba do ministério ter sido quadruplicada, enquanto o brasio despencava nos testes do Pisa (comentado aqui, aqui e aqui, pelo menos). Em 2022 saiu outro resultado. Adivinhe... Então gostaria muitíssimo de chamar a atenção para esta transmissão do sr. Renan Santos, líder do MBL. A razão para que eu, declaradamente de esquerda, peça a atenção das pessoas para tais reflexões, dá-se principalmente pela constatação de que a ideologia acabou-se em janeiro de 2004 (quem aí lembra-se do  Waldomiro Diniz?).  Troquei-a por qualquer projeto de país. Votei até em bolsonésio, no segundo turno, contra uma turma já conhecida nas lides de gambiarra e da falcatrua. Fácil constatar: como um governo para o Povo encerra um ciclo de 14 anos no poder sem conseguir produzir uma mísera reforma agrária, presente em seu discurso de fundação? A falta de todo o resto (economia pujante, instituições sólidas, boa qualidade de ensino e sistema de saúde só um pouco acima do precário) apenas confirma a premissa.

   Voltando novamente... quer entender um pouco do brasio atual? Recomendo enfaticamente a transmissão. Toda ela, que é longa (2 horas), mas pelo menos o trecho do minuto 20:40 até o minuto 28:00, onde é feita uma discussão dos resultados do Pisa 2022. Uma das constatações da análise gráfica dos resultados é (mais) estarrecedora:

A nota em matemática dos mais ricos do Brasil foi igual à da classe média da OCDE... e dos pobres do Vietnã!

   Está lá, basta acompanhar o raciocínio. Se recomendo a transmissão toda, é pelo encadeamento de ideias e suas conclusões. Os dados apresentados dão-nos a real noção do nosso país de hoje, algo seguramente não imaginado pelos primeiros grandes estudiosos citados no início do texto. Veja (1h6min40s): As apostas online, cuja expressão máxima parece ser um certo Jogo do Tigrinho, consomem anualmente a bagatela de R$ 24 bilhões, ou 0.22% do PIB. Duvida?


   E de qual camada da população o crítico leitor acredita ter vindo a maior parte das apostas? Acertou! De quem recebe o Bolsa Família! Ou seja: o sujeito ganha um dinheiro que já não é muito (R$ 682,00) - mas advindo dos nossos impostos! - para fugir da pobreza extrema, e gasta quase 15% desse valor jogando contra um algoritmo preparado para depená-lo, sem desconfiar disso.


   Deixarei outras reflexões importantes da transmissão para quem for curioso descobrir, e abordarei outro ponto: nesse contexto, quão importante é uma educação financeira básica para essas famílias? Alguém falou em educação financeira? 

Reproduzo o  texto:
Ridículo. Não há outra definição a um projeto que determina a obrigatoriedade de educação financeira nas escolas públicas. O problema das famílias gaúchas de baixa renda é de falta de dinheiro, não de administração financeira. Dei meu voto contra essa proposta constrangedora.

   Como já escrevi, em S. Paulo e deputado estadual Guto Zacarias briga pela introdução do tema na grade curricular básica desde antes de sua eleição, quando os dados descritos acima não estavam disponíveis! Mas ele já tinha a percepção dessa agora obviedade. A isso, chamo projeto de país. É muito diferente de quando esquerdopatas e direitóides discutem (no sentido de defender) pessoas; poucos defendem ideias de fato. Por isso aliás a ideologia acabou-se, e sobrou o culto às personalidades, sinal evidente de ainda estarmos na fase da mais autêntica República Bananeira. E não chegamos no pior. Sabe com qual velocidade o Brasil integrou-se ao circuito mundial de apostas? Demoramos um pouco para entrar nesse triste caminho, mas a ascensão foi avassaladora, inversamente proporcional ao nosso desempenho no Pisa. O vídeo abaixo traz uma animação do quanto as nações gastaram em apostas ano a ano. O brasio não fazia parte dos principais atores, mas a um dado momento (segundo 32) aparece na parte de baixo da tabela e em segundos assume o topo. É preciso prestar muita atenção (há uma seta vermelha mostrando, e ainda assim é difícil acompanhar).


   E você achou que isso era o pior? Não, ainda não estamos lá! Observe: o estado de elevação supremo é dado pelo Sétimo Céu, mas para o pior não há limites, como dizia meu amigo Tatuí. E acrescento: não mesmo, à medida em que sempre podemos jogar mais um quilo de m... me... meleca(!) à situação já suficientemente ruim. Ecco!:


   Sim: em vez de preocupar-se dos mais pobres, ensinando-lhes como proteger seu (nosso!) pobre e suado dinheiro, o (des)governo prefere tentar captar para si o dinheiro destinado à jogatina! Alguém consegue achar essa abordagem do problema saudável? Repito, sou de esquerda. Mas se tiver oportunidade de opinar, não continuarei a sustentar perdulários (pela ignorância, é verdade) cuja atividade é divertir-se em jogos de apostas em vez de qualificar-se como um cidadão produtivo. Nem a apoiar (deixei de fazê-lo há muito) uma caterva que não prima pela formação de sua gente. Sei que o texto ficou longo, lamento. Mas diga-me não ser digno da sua reflexão. O tema não está aberto à discussão. A pauta principal do blog é vinho.

A Paduca, outras turmas e outras oportunidades

   O número de bebedores de vinho em S. Carlos vem aumentando. E percepção é direta: relembro certos círculos que deixei de frequentar - continuam ativos - e com qual facilidade apareceram outros, com absolutos neófitos no assunto. Alguns onde minha frequência nem anda constante renovaram-se completamente, como por geração espontânea (sic), e gente oriunda deles quiçá encontrou novas oportunidades algures. Apenas não estou seguro desse desenvolvimento acompanhar a prosperidade dos lojistas. Lembro-me de Don Flavitxo, quando ele morava em um condomínio mais central. Relatou-me sobre o começo da década de '10: chegando na portaria, recebia sua caixa de vinho comprada pela internet, e só havia a dele. Passados cinco ou seis anos, o número de caixas empilhadas era visível para quem aproximava-se motorizado, e não raro o porteiro entregava o pacote errado, tamanha a profusão de embrulhos. Para mim, isso diz muito: o lojista se esforça para formar o bebedor, mas logo perde-o. As pessoas encontram informação ao acaso, principalmente nas mídias sociais - invariavelmente começa com curiosidades ou coisinhas engraçadas - mas também no boca a boca. Some-se a isso um Enochato tóxico alardeando precauções como o Wine Searcher e uma parcela de culpa dos próprios empresários do setor, como repetição de estilos, mesma abordagem comercial, degustações muitas vezes fracas e está feito o convite para o degustador aventurar-se em outras plagas. Leitor distante: por coincidência os vícios descritos aqui repetem-se em sua cidade? Suas casas especializadas ainda tentam competir com a internet ou com os supermercados? Tindi...

A confraria Malucadeliu (foto ao lado: MÁrio, LUciana, CArlos, Débora e LIu) não substituiu Nix e as Moiras; esta existe mas a Dayane e a Renata estão em Araraquara. Pelo menos Débora e Liu bebiam descompromissadamente; atualmente são frequentadoras de excursões junto da Luciana e do Mário. Compram algo na cidade, mas não perdem uma boa oportunidade fora. A Paduca (Paulo, Duílio e Carlos, agora com o d'Artagnan Fernando por quarto membro) começou - e continua, eventualmente - degustando vinhos comuns de supermercado, mas aceitaram rapidamente a toxicidade radioativa deste Enochato, e hoje não hesitam em comprar pela internet, seja em grupo ou em aventuras solo. Estão aprendendo a usar o Wine Searcher, pesquisam e tentam, à socapa, trazer às cegas vinhos para superar aqueles humildemente ofertados por este confrade. Fato engraçado: mencionei aqui quando um argentino, o Raíces Malbec, foi o melhor vinho em uma degustação - quando ofertado por mim - e o pior em outra, trazido pelo Paulão, para seu completo desespero e tristeza. Ele não se tocara, entre um evento e outro, o quanto a percepção do grupo - e o padrão dos vinhos também - aumentara. Isso aconteceu muito rapidamente, quando saímos de um certo marasmo inicial que durou seis meses para uma disparada no semestre seguinte. O próprio Duílio comentou como ele sente a falta de atrativos em vinhos simples apreciados por ele há não muito tempo. Tem dificuldade em repetir produtos que para sua esposa ainda estão em um patamar muito atraente. O mesmo ocorre com Dona Cláudia e Paulão. A evolução deles ficará mais clara agora, e por isso apresentei a introdução deste parágrafo.

Várias às cegas

Esta primeira foi bem interessante, e encontrará reflexo abaixo. O Duílio trouxe um Casilllero del Diablo Malbec 2019 embrulhado no papel alumínio, à temperatura ambiente. Resfriou um pouco e foi servido, com buquê frutadinho, agradável. Acidez baixa, mas dando ar da presença. Não pesquei que fosse um sul-americano, embora não dita sugerido Velho Mundo. Se não consigo identificar o vinho, não chuto. O Paulão, com seu Pata Negra Tempranillo 2021 mostrou uma de suas incursões solo à procura de diversidade. Outro vinho com fruta direta, alguma acidez, fácil de beber. Para quem não conhece e está começando, boa opção; seu preço anda bem razoável. Toquei pra cima deles um Cave des Hautes-Côtes Morey-Saint-Denis 2015, borgoinha comprado a bom preço anos atrás, e que talvez estivesse no bico do corvo. Só talvez; não estava. Boa fruta, se não em engano Paulão falou algo à vegetal antes de disparar - tentando rebaixar meu concorrente - que lembrava os vinhos usados por sua avó para fazer sagu, enquanto tentava segurar a risada. Tinha acidez diferenciada, proporcionando melhor presença em boca. A surpresa ficou por conta do Casillero, quando resfriou mais: fedeu a pimentão! Reflito o quanto os vinhos chilenos podem estar reféns da temperatura: baixou um pouco a mais, vem a pirazina infestando tudo. Confesso nunca ter reparado nisso! Nas degustações por aí os lojistas também não fazem distinção, vai tudo para o gelo até o termômetro quase congelar-se ele próprio. Preciso prestar atenção como é a volta, da temperatura mais baixa para o ponto onde a pirazina eventualmente desapareça. 


Em outra degustação às cegas, tivemos o Pata Negra Reserva 2018, que o Paulão inadvertidamente acabou entregando. Discutíamos a procedência: português estava descartada, mas a acidez apontava como velho mundista. Ele deixou escapar um 'reserva'... mais corpo se comparado ao irmão menor da degustação anterior, cuja apreciação tinha agradado mais, por estar redondo na taça. Às vezes vinho é momento... A surpresa aconteceu com o Quinta de Chocapalha 2017, já degustado aqui diversas vezes. Paulão e Duílio experimentaram e se olharam. Já bebi disso, disse o primeiro, e teve a completa concordância do segundo. Paulão disse português, acho. E aqui o ponto: Chocapalha é um vinho que mostrei recorrentemente às confrarias, dado o ótimo preço (USD 10,00 lá, encontra-se até por R$ 100,00 aqui; está R$ 96,00 na Casa da Bebida (loja online). Então um ponto digno de nota: bebedores neófitos como eles já estão se emendando e percebendo quando bebem do mesmo vinho. Claro, quando ele tem uma qualidade mínima para ser reconhecido. Não bastasse, em outro encontro coloquei um Aldeia de Irmãos Reserva 2019 - não tirei foto desse momento - e os mesmos bebedores invocaram a impressão de já tê-lo bebido. É um vinho de corpo médio, boa fruta, fácil de beber e reconhecível pelo dulçor mais ou menos típico dos portugueses. Infelizmente o Fenando quase não participou dos encontros recentes pela sobrecarga de trabalho, e não tivemos a opinião dele. Mas fica claro como os Paduquentos estão evoluindo e reconhecendo cada vez melhor o que lhes cai na taça. O nível não está muito alto, embora às vezes tenhamos bebido algo superior aqui e ali. O conhecimento vem sendo adquirido em espiral, e eles vão se convencendo pouco a pouco como vale a pena investir alguns reais a mais em produtos de melhor qualidade. O problema é que mesmo esses bebedores novos já estão de olho em ofertas da internet, reservando cada vez menos reais para os lojistas locais. 

Finalmente, na última semana, e também às cegas, o Duílio chega com um Luccarelli Primitivo de Manduria - a safra ficou no contrarrótulo. Igualmente envolto em papel alumínio, os poucos minutos na água gelada retardaram seu resfriamento. Servido dessa maneira, exalou açúcar no nariz e na boca. Enjoativo ao se aproximar na nariz, pensei num daqueles portugueses desacertados de três Euros vendidos aqui a  R$ 40,00. Passei para meu resfriado em geladeira (rs) Petit Vega 2021, um Ribera del Duero melhor balanceado, com nariz bem mais completo se comparado aos demais exemplares citados nesta postagem - a menos do Borgonha. O preço do Petit Vega tem indo e vindo em diversas promoções, e é necessário ficar atento. Não bastasse, precisa reparar no envelhecimento: tem versões de 8, 18 e 28 meses, se ainda não existirem outras intermediárias. Cuidado! Mas chamo atenção ao fato complementar ao do Casillero: deixado esquecido na água gelada, Luccarelli resfriou bem. O nariz arredondou e o paladar encontrou o buquê: equilibrou mais, embora com o dulçor presente. Mas ficou bastante palatável e com complexidade além de 3 Euros (risos!). Pelo ligeiro equilíbrio face a outros meio secos degustados recentemente, o Duílio safou-se do título de Príncipe dos Meio Secos. Mas foi por pouco... Por conclusão, a questão da temperatura no serviço. Às vezes acabamos errando bastante, e não percebemos. E onde a temperatura baixa é adequada para alguns vinhos, não o é para outros. Beber das fontes antes de beber dos vinhos faz toda a diferença. Saúde!