Introito
O demônio mora nos detalhes.
Alguém. Mas bem poderia ser este Oenochato.
Goethe era relativamente bom. Claro, em nome da honestidade intelectual preciso dar-lhe a precedência quando a assunto são minúcias, embora ele próprio não tenha sido o autor da epígrafe (às vezes é-lhe atribuída por engano) nem o primeiro a preocupar-se do tema: Aristóteles, Léo(nardo), Buonarroti e Galileu vieram antes dele. Atual e localmente, pelo que tenho visto de estúpidos encarregados da defesa de bocós e boçais, ser o portador desta causa cabe ao Enochato a vos escrever. Recentemente, convocada por uma Comissão Parlamentar, a Sinistra do Meio Ambiente foi curralada (sic), ou algo assim, por um bando de idiotas direitosos cujo QI aparenta ser 90, no máximo. Diz pouco sobre os parlamentares, eleitos por gente de inteligência inferior às deles, mas diz muito sobre a Sinistra deixar-se enredar por essa choldra. Um trecho do debate está aqui (11 min); observe que o mérito nem de perto está na qualidade das críticas à Sinistra, mas na autodefesa esboçada pela própria, com pouca competência ou sentido. No minuto 8:30 diz-nos que mais de 80% dos 'focos de calor' estão controlados. Mas como se iniciaram?! Onde estão leis rígidas e medidas eficazes para coibir esses malfeitos, ou pelo menos para punir exemplarmente os bandidos depois de feito o estrago? Não seria um dever de Sinistro de Estado encaminhar para o Congresso propostas nesse sentido? Onde estão elas, paradas no Congresso, na gaveta da Sinistra ou sequer foram alguma vez escritas? Que Deus dê o veredito de culpada à malandra. E ao seu superior, por ainda não tê-la demitido antes, para o bem da Nação.
Paduca
Teve um encontro da Paduca, ambos os vinhos às cegas. Ninguém acertou a procedência dos atores - ou acertou?, mas valeu (risos). Paulão, nosso membro mais adepto à experimentação e novas descobertas, chegou com um Beronia Crianza 2019, riojano corte Tempranillo (83%), Garnacha (15%) e Mazuelo (2%), dizem (rs), frutadão (não é uma crítica!) e mais notas na direção de chocolate, bem agradável no nariz. Boca alegre, fácil de beber, equilibrado, taninos e madeira discretos, alguma acidez. Beronia é um bom produtor, embora às vezes possa meter os pés pelas mãos - aqui. Seus Crianza e Reserva ficam atraentes nas numerosas 'promos' encontradas nos quatro cantos da internet, e quando isso acontece são interessantes de se provar. Usar o Wine Searcher e comparar seu valor na Espanha com o da oferta daqui é primordial. Jamais pague mais de 2x, sob pena de alimentar um mercado francamente explorador do consumidor. E, nos dias correntes, com crise e tudo, teje esperto (sic): podem aparecer pechinchas melhores. Use o Wine Searcher sempre! Na esteira veio um italiano, o IGT da I Giusti & Zanza Belcore 2019. Corte 80% Sangiovese e 20% Merlot, tem mais pegada se comparado ao Beronia: o nariz vem marcado à fruta vermelha e notas como fumo/couro, a boca é mais complexa pela melhor acidez, taninos mais pronunciados - mas já bem redondos - e maior permanência. A Merlot é uma ótima uva para ser usada em cortes, e ajuda bastante a amaciar a Sangiovese - quem já leu sobre o Brunellogate (1, 2, 3), escândalo onde os vinhos 100% Sangiovese supostamente foram cortados com justamente a Merlot - sabe muito bem. Declarado como IGT, Belcore atesta a presença da cepa francesa em seu vinho e não engana o consumidor. Ele é amplamente melhor, mas tem a obrigação de sê-lo, pelo preço: custa 50% a mais, USD 19,00 contra USD 13,00 de Beronia Crianza. Por aqui seu preço tem variado muito, entre R$ 160,00 e R$ 287,00(!), oscilante entre boa oferta e tubaronice. Mas repetindo: para o 2x de Belcore, o consumidor atento pode encontrar melhores opções.
Malucadeliu
Por ocasião de algum encontro da Maluca (rs), provoquei os confrades sobre um desafio explícito Sul-americano versus Europeu. A turma aceitou e nos reunimos alguns dias depois, para uma prova às cegas. Trouxe alguns bois de piranha em minha última viagem para o Chile, e tenho feito algumas brincadeiras, como esta na Paduca, ou esta na #Émuitovinho, onde todos identificam, sem muita dificuldade, a diferença de qualidade entre os vinhos. E nunca é o caso de se colocar vinhos díspares - pelo menos não no preço! - na mesa, pois assim torna-se claro que, para produtos do mesmo valor, a diferença de qualidade torna-se abertamente observável, para bebedores com um mínimo de traquejo. A questão, então, gira em torno da possibilidade do leitor promover com seus confrades comparações adequadas: é necessário colocar vinhos de valores similares em seus respectivos países de origem, e para isso nada como o Wine Searcher. E sempre lembro: um vinho de valor 'x' em seu país de origem pode custar no Brasil 1,8x, 2.5x, 3.2x ou 4.8x. Esteja atento! Nunca pague algo superior a 2x! Nunca! A presente brincadeira envolveu um vinho já degustado aqui, entre um ilustre representante da desconhecidíssima cepa Monica, o Iselis Monica di Sardegna Superiore 2019, da Argiolas, e um dos vinhos que já esteve entre meus prediletos, o Tarapacá Etiqueta Negra CS, safra 2020. Degustado inicialmente em maio deste ano, Iselis não teve dificuldade em amassar o Tarapacá; pelas degustações relativamente recentes (siga os vínculos), creio-me dispensado de comentar as notas de cada um deles. Como nota, de propósito deixei o Tarapacá resfriar um pouco mais para ver se empesteava com buquê à pirazina, mas não aconteceu, ao contrário do ocorrido com um Casillero recentemente degustado. Comento mais abaixo.
Mercearia 3M
A Mercearia 3M promoveu uma rapidinha estes dias. Não estava sabendo, mas o sr. Cristian Olate Rojas, representante da Calcu, ligou-me avisando. Nos conhecemos em maio de '23 quando tive a grata surpresa de provar seu ótimo branco, o Calcu Branco Gran Reserva. Conversamos mais um tanto sobre o estado do preço (sic) dos vinhos chilenos, e ele concorda que de maneira geral estão caros. Atribuiu parte do custo à evolução e cuidados dos produtores com o processo. Depois fiquei pensando, e não me convenceu que tais custos justifiquem os vinhos triplicarem de preço... ademais, as comparações com as confrarias demarcam a qualidade dos vinhos como o oceano demarca a distância entre Américas e Europa... Calcu Branco 2023 está com a acidez marcante, frescor e final marcado como da safra anterior, e cairá bastante bem com um sushi. Os tintos mais simples de Calcu agradarão os consumidores de vinhos chilenos, mas para mim faltou-lhes acidez. A Ravanal estava lá, mas não lembro-me do nome de seu representante 🙄. Os toques de pirazina revelaram-se mais discretos - como nos Calcu tintos - e a explicação foi a alteração da época da colheita para um momento onde esta pronuncia-se com menor força. Parece estar dando certo, pois não a notei como em safras provadas há uns poucos anos. Falta resolver o problema da acidez. E do preço.
O inesperado atacou novamente na figura da Bodega Albaflor, com seus Merlot (2019) e Syrah (2020). Ambos com mais de 14% de álcool, mostraram acidez surpreendente com boa persistência - para sul-americanos, bem entendido. Gostei mais do Syrah pela expressão de fruta mais marcante e toques chocolate ao nariz, bom corpo, taninos já arredondados, pronto para beber. Se o preço for mesmo cerca de R$ 150,00, bem... sabemos como eles seriam alvos fáceis numa competição com europeus. Penso por exemplo no Quinta do Noval, cujo Syrah 2018 embalou a parte inicial desta postagem... não se compara... o mais engraçado é que havia sobrado um pouco dele, quando convidei a Débora para dar-lhe cabo. Mas achei pouco meia garrafa para dois, e acabei abrindo também um Valduero Crianza 2016, e adivinhem... sim, sobrou meio Valduero para o dia seguinte - o mesmo a embalar o final destes comentários... como o leitor percebe, postagens bem atrasadas. E não espero dar conta, esta semana a programação promete ser intensa.