Thursday, December 5, 2024

Outros vinhos 2 - A vingança (rs)

Introito

Um dos melhores e mais poderosos Chiantis que já bebi.
Don Flavitxo, após degustar um Felsina Berardenga
1999, em 2021. Degustação aqui; declaração aqui.

   Na postagem passada escrevi sobre o Barolo e o Brunello envelhecidos, mas faltou um comentário importante, apontado pelo Duílio na reunião de ontem. Tal qual os demais, Don Flavitxo lambeu e relambeu os beiços ao degustar dos vinhos. Servidos às cegas ele teve dificuldade de identificá-los como tais, mesmo sendo os italianos seus vinhos preferidos e os mais apreciados em toda sua vida. Novamente ele assombrou-se com a qualidade e expressão dos exemplares envelhecidos e ainda frutados, com larga complexidade. Assumiu estarem entre os melhores Baroli e Brunelli alguma vez usufruídos por suas nobres papilas... 🤣 Repetindo, há algum risco em deixar vinhos envelhecerem, mas bebedores de mais idade não podem dar-se ao luxo de comprar vinhos tão bons na juventude e aguardar o tempo fazer sua parte. Se puderem, devem procurar por safras mais antigas e pagar um tanto mais caro. Minha pouca experiência diz que vale muito a pena. A alternativa é escolher opções mais simples, dispensando tanta guarda.

O níver com a Paduca

Os Paduquentos reuniram-se para celebrar meu níver após a volta do Paulão, com o Fernandinho ameaçando no grupo de uátiz: Levarei um vinhão às cegas... Havíamos acordado um Hermitage para a comemoração algum tempo antes, e deveria dar suporte ao indefectível filé ao molho gorgo. Eu separara outra garrafa do Apontador para apresentá-lo aos demais confrades - só o Duílio bebera dele -, mas diante da advertência Fernandesca achei melhor recolher-me à minha insignificância... os Paduquentos só estão sabendo disso agora... Entrei com a Tattinger para iniciar os trabalhos, e os confrades preferiram-na à Xampa do Barbier-Louvet Cuvée D'Ensemble Grande Cru degustada no níver do Paulão. Estão abusados, esses Paduquentos... que memória... Fernando fez seu serviço às cegas. Com um tantinho de vinho em boca - o buquê já adiantara tudo -, olhei para um lado, e para outro. Baixei os olhos, depois tapei-os com as mãos. Duílio e Paulão prenderam a respiração, e o Fernando riu. Disse não merecer aquilo, não no meu aniversário... Amitié Tannat Colheita de Verão 2020 vem da Campanha, no Rio Grande do Sul, e pronto! Não há muito mais a dizer, porque pouco há de resto. Mais simples, rápido e ligeiro se comparado a seu irmão Cabernet Franc degustado em um evento da Mercearia 3M, é um vinho de 50 moedas que pode ser evitado por bebedores de vinhos nacionais um pouco melhores, e desprezado por todos os demais. Não trata-se de má vontade; ele não oferece qualquer qualidade, e sua expressão para uma Tannat em nada lembra exemplares robustos do Uruguai. Além do proprietário creio ter sido o único a repetir quando ele refrescou mais, clementemente aberto a captar alguma nota algo sofisticada. Repito sempre, não é preconceito - eu apenas não pago as moedas pedidas pelos produtos nacionais com a palavra Vinho escrito no rótulo. Pagaria R$ 20,00 no Lote 45, por exemplo, e o levaria todo alegre para o Chile, colocando-o na competição com um Leon de Tarapacá (preço similar lá), e em quem Lote 45 possivelmente daria uma boa... lição... Está bem, como os impostos cá são bem maiores, pagaria também a diferença na taxação, uns 50%: R$ 30,00. O resto é brincar com a cara do bebedor.

   Para redenção de todas as almas, chegou o Delas Frères Domaine des Tourettes 2009, um Hermitage de peso, aberto lá pelas 17:00 e dos quais lembro-me um pouco. Nem pela aeração mostrou-se menos austero: no nariz tinha muita fruta, mas ela parecia agarrar-se à borda da taça, não querendo ir para o nariz. E mais complexidade, na direção de couro e toques herbáceos, sem explodir apesar de presentes. Mesmo aos 15 anos, acusava-se jovem aos quatro ventos! Havia consultado o Wine Searcher, e a safra '09 era dita pronta para 2024... Para o Parque, sua janela de beberagem estaria entre 2019-2059(!). No 2059 eu acredito, mas suspeito que sequer 2029... Conquanto a boca igualmente contida, tinha permanência verdadeiramente longa, e impressionou os bebedores. Mas os taninos - potentes - estavam, se não verdes, adstringentes; madeira e álcool (13,5%) sobressaíam-se menos. Emocionou os confrades e seguramente marcou uma nova etapa em suas experiências, mas ela poderia ter sido verdadeiramente impressionante. À venda na Grand Cru na safra 2011 - boa, mas não excepcional - pela bagatela de R$ 1.550,00 (assinante, R$ 1.315,00) e a um custo de USD 100,00 lá fora - contemos o dóla a R$ 5,00, pois assim que esse governo for enxotado do comando ele cai - dá a venerável margem de 3x. 

  Sobremesa? O leitor já sabe, o mesmo painel de vinhos de sobremesa. Fico devendo.

Mais da bléqui

   Procurando alguma oferta realmente decente na bléqui, visitei a Enoeventos. Interessei-me pelo bom Baron de Ley Gran Reserva, um Rioja degustado em meio à pandemia com dóla a R$ 6,00 e preço cá em 'promo' a R$ 275,00 naquela época. Na bléqui, veio de R$ 360,00 a R$ 260,00. Wine Searcher o cota agora a USD 20,00, e não a USD 25,00 como anteriormente. Mesmo com o dóla a R$ 5,00 e os USD 25,00 de então, daria R$ 125,00. Contra os R$ 269,00, seria o limite da compra. Enoeventos já fez melhor, e deixei passar.



   A Mistral, sua importadora de todas as horas (rs) pretendeu regassar (sic! rs!) com sua 'promo' de 25% e ofertou o Mácan Clasico 2018, um Rioja bem comentado nas bocas, de R$ 800,00 por R$ 600,00. O que você não sabe é que para os bacanas estava saindo a R$ 440,00 - ficou bom, pois é um vinho de uns USD 50,00 lá fora. Minha postura tem sido evitar as tubaronas mesmo em seus preços bacanas - até porque o Ghidelli trouxe um Mácan (Mácan 'Mácan' - rs - não o Clasico) na mala, então qualquer hora proponho-lhe um doelo (dois vinhos - rs), ou mesmo um trielo, e promovemos um festão (rs). Duvida dos dados? Veja aí...





   Há algum tempo peguei um Tondonia Reserva tinto 2008 com contrarrótulo da Mistral, então não pode haver erro. O Tondônia Reserva 2010 esteve na bléqui de R$ 760,00 por R$ 570,00. 


   Mas para os bacanas... R$ 430,00...


   É um vinho de USD 40,00-USD 50,00, então estava a bom preço, também. Só um detalhe: o meu Tondonia saiu por algo muito próximo R$ 400,00, e nem era bléqui. E a questão aqui não é ser bacana... é ser um Enochato (rs!). Consumidor, previna-se. Instrua-se. O preço é uma questão de tensão pela compra versus o desejo do comprador. Se o freguês resistir, o valor cai. E nem é o caso de trocar a picanha pelo músculo...

2 comments:

  1. A honra de vc CA estar no seu aniversário degustando vinhos especiais em dias de comemorações, ficaram memórias das companhias especiais ao seu lado! Eu fui! Parabéns

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    1. Olááááááá... (rs)
      Teve bão mesmo, e foi uma satisfação compartilhar vinhos e momentos com as confrarias.
      Walew!

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